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domingo, 20 de julho de 2025

Movimento espírita brasileiro

 REFLEXÕES SOBRE O MOVIMENTO ESPÍRITA BRASILEIRO 

Uma pessoa me perguntou…

Vi um comentário na rede vizinha que o Espiritismo está estagnado, que não há novos adeptos, que não cresceu, e que há muita arrogância entre os espíritas. O que você acha Hugo Lapa?

Difícil falar em termos de generalizações desse tipo. Mas de um modo geral, eu concordo em boa parte com essas afirmações. Infelizmente o espiritismo de fato se estagnou… parou no tempo… não está mais inspirando as pessoas a se tornarem espíritas… talvez por falta de uma liderança como o Chico Xavier ou talvez pelos erros e ortodoxia de uma parte significativa dos membros. Os centros espíritas geralmente colocam milhares de regrinhas bobas e sem sentido, como por exemplo, só pode sair tal horário (Centro Ramatis), não pode tirar foto dos quadros na parede (aconteceu comigo no Templo Tupyara no Rio de Janeiro), homens sentam de um lado e mulheres de outro (Centro Ramatis do Rio de Janeiro), não pode vir de roupas curtas (Vários centros têm essas regras), isso acaba desgastando as pessoas e faz com que se afastem. A ortodoxia de alguns centros também é um problema… só estudam Kardec e não aceitam mais nenhum autor ou nenhuma doutrina… só aceitam de forma rígida o que Kardec falou. Nem termos como karma ou projeção astral eles querem debater… só falam lei de causa e efeito e emancipação da alma. Técnicas maravilhosas como a Apometria, por exemplo, que traz diversas inovações e desenvolvimentos para as técnicas mediúnicas clássicas, a maioria não quer nem estudar… Mesmo que muitas pessoas tenham relatado melhoras e efeitos muito mais rápidos e precisos, eles preferem ficar com a desobsessão clássica ainda dos anos 50, que em quase 70 anos em nada mudou. A projeção astral que é outra técnica muito boa, que permite um contato direto com o plano espiritual, a maioria dos espíritas não querem nem estudar… e já saem logo adiantando que é uma prática com vários perigos. O mesmo fazem com a terapia de vidas passadas, uma técnica maravilhosa onde se pode resgatar memórias de outras vidas, também testada por mim, cujo efeito terapêutico é bem robusto… a maioria nunca leu um livro sequer, nunca a praticaram… e já se sentem no direito de dizer que é uma técnica “muito perigosa”, assim como a apometria e a projeção astral… Dessa forma, eles reduzem absurdamente o espectro do estudo e limitam de tal forma o alcance do espiritismo que este fica cada vez mais engessado dentro das mesmas ideias, os mesmos “dogmas”, falando sem exagero. Infelizmente, uma parte expressiva do movimento espírita criou um viés bastante fundamentalista… só aceitam a interpretação que eles dão ao espiritismo e todo resto eles bradam aos quatro ventos que “não é espiritismo”. Dizem que o espiritismo não tem símbolos… o que é falso… pois o espiritismo crê em Jesus e Jesus ensinou muito por meio de parábolas, que nada mais são do que contos simbólicos que expressam verdades universais sobre a vida. Muitos acham a Umbanda atrasada e os umbandistas idólatras e supersticiosos, quando eles também idolatram a figura de Kardec. Muitos ainda acham que as entidades da Umbanda são ignorantes e não sabem de nada… como disse, por exemplo, Divaldo Franco em uma de suas palestras. Divaldo disse o seguinte sobre os pretos velhos: “Um espírito que se apresenta a um grupo como Preto Velho ou Preta Velha e se diz orientador de sofredores, além de amigo ou amiga do grupo, pode ser levado a sério? Não pode, é preciso compreender que, apesar de ser um espírito possivelmente bondoso, ele ainda demonstra ignorância sobre sua própria condição espiritual. E a nossa tarefa, como seres em busca de evolução, é ajudá-lo a superar essa ignorância. “

Essas palavras, além de demonstrarem uma certa prepotência, querendo dizer que nós é que devemos ajudá-los a superar sua ignorância, ainda mostra um desconhecimento total sobre o papel exercido por um preto velho na religião da Umbanda.

Além disso, o espiritismo brasileiro, através da FEB, proibiu o contato do público com os espíritos. Isso significa que nenhum centro pode mais abrir uma sessão com médiuns quando o público estiver presente. Ao longo dos últimos anos, muitas pessoas têm notado que os espíritos praticamente desapareceram da maioria dos centros espíritas. Antes, era comum haver sessões abertas em que qualquer pessoa podia presenciar e até mesmo interagir com os espíritos. Hoje, essas comunicações costumam ocorrer apenas em reuniões fechadas, restritas a alguns participantes, enquanto o público em geral só tem acesso aos ensinamentos por meio de palestras. Com isso, os palestrantes passaram a ser a principal fonte de conhecimento, substituindo a comunicação direta com os espíritos. O que antes era transmitido por eles mesmos, agora chega por meio de interpretações e discursos humanos. Essa mudança vem acontecendo há décadas e contrasta bastante com o que ocorre na Umbanda, onde qualquer pessoa pode conversar diretamente com os guias espirituais, como Pretos Velhos, Caboclos e outros. Dessa forma, a Umbanda permite uma conexão mais próxima entre os espíritos e aqueles que buscam orientação. Alguns argumentam que evitar manifestações abertas dos espíritos é uma forma de proteger o Espiritismo contra o exibicionismo e o sensacionalismo. De fato, não se pode transformar a mediunidade em um espetáculo, mas isso não significa que seja necessário excluir os espíritos dos centros. É possível realizar sessões abertas de forma respeitosa e sem exageros. Muitos médiuns conseguem incorporar guias espirituais sem nenhum tipo de ostentação, então por que os centros espíritas não poderiam fazer o mesmo? Muitos espíritas sentem falta desse contato direto com o plano espiritual. Afinal, quem decidiu que os espíritos não deveriam mais se manifestar abertamente? Por que esse afastamento foi imposto? Não seria mais útil se as pessoas pudessem ouvir diretamente os ensinamentos dos espíritos, assim como ocorre na Umbanda? Ler livros e ouvir palestras é importante, mas isso não deveria substituir a presença direta dos espíritos nos centros.

Conversando com um espírito incorporado em um médium, perguntei por que os espíritos estavam sendo esquecidos nos centros espíritas. Ele respondeu que, se os espíritos passassem a orientar diretamente os frequentadores, alguns dirigentes poderiam perder o controle que exercem sobre os grupos. Isso me fez refletir: será que essa mudança ocorreu simplesmente por uma questão de poder? É preciso repensar essas regras e permitir que os espíritos voltem a se manifestar abertamente nos centros, oferecendo suas orientações e conselhos a todos que buscam ajuda. Eles conhecem nossas dificuldades e podem nos guiar de forma muito eficaz. Reservar essas comunicações apenas para reuniões fechadas, onde poucos têm acesso, não parece justo. Todos deveriam ter a oportunidade de aprender e se beneficiar dessas mensagens espirituais.

Outro aspecto que na minha visão atrasa o Espiritismo é a FEB. Muitos espíritas afirmam que a FEB exerce um controle excessivo sobre a doutrina, determinando quais interpretações do Espiritismo são “corretas” e promovendo uma visão mais restrita, que nem sempre condiz com a diversidade de pensamentos dentro do movimento. Isso geraria uma padronização doutrinária que desconsidera outras abordagens e estudos mais amplos sobre o tema. Uma das críticas recorrentes é que a FEB enfatiza demasiadamente a figura de Jesus e a moral cristã, aproximando o Espiritismo de um viés quase religioso, em detrimento de sua proposta original de ciência e filosofia espiritualista. Muitos apontam que essa tendência teria desviado o movimento da visão mais universalista e progressista proposta por Allan Kardec. Diferente de outras tradições espiritualistas, como a Umbanda, que permite o contato direto do público com os espíritos, a FEB tem restringido cada vez mais as manifestações mediúnicas públicas, deixando a comunicação espiritual em segundo plano. Muitos espíritas acreditam que isso enfraqueceu a essência do Espiritismo, afastando a experiência direta com os espíritos e priorizando estudos teóricos e palestras. Há relatos de que a FEB teria interferido na publicação de obras psicografadas, tanto de Chico Xavier quanto de outros médiuns, realizando edições para alinhar os textos à sua visão doutrinária. Alguns autores espíritas acusam a instituição de selecionar quais mensagens devem ser publicadas, impedindo o acesso a conteúdos que possam ser considerados divergentes. Alguns grupos espíritas argumentam que a FEB coloca um peso exagerado na obra de Allan Kardec sem abrir espaço para novas descobertas e abordagens. Para esses críticos, o Espiritismo deveria ser uma doutrina em constante evolução, incorporando novos conhecimentos científicos e espirituais, ao invés de permanecer rigidamente preso à codificação do século XIX. Muitos espíritas criticam a estrutura da FEB por ser burocrática e por se afastar da simplicidade pregada pelo Espiritismo. Alguns veem a instituição como excessivamente centralizadora, dificultando a autonomia dos centros espíritas independentes e impondo normas que nem sempre condizem com as necessidades locais de cada grupo. A FEB tem sido acusada de evitar discussões sobre temas contemporâneos, como reencarnação em diferentes culturas, relações entre Espiritismo e física quântica, e até mesmo questões sociais como diversidade de gênero e novas formas de espiritualidade. Para alguns, essa resistência impede que o Espiritismo se mantenha atualizado e mais acessível a novos públicos. Apesar de o Espiritismo ter sido originalmente apresentado como uma doutrina com base científica, muitos espíritas criticam a FEB por não investir o suficiente em pesquisas sobre mediunidade, reencarnação e outros fenômenos espirituais. Em vez disso, há uma priorização da moral cristã e do aspecto religioso.

Foi revelado recentemente por um palestrante espírita chamado Alamar Régis que a Federação Espírita Brasileira (FEB), que detém os direitos autorais sobre muitas obras de Chico Xavier, teria impedido que seus livros fossem traduzidos para o inglês. Segundo ele, em 1969, uma grande editora dos Estados Unidos veio ao Brasil com um forte interesse em publicar as obras de Chico para os países de língua inglesa. Quando soube da notícia, Chico ficou extremamente feliz e considerou isso uma grande bênção, pois seus livros poderiam alcançar milhões de leitores no mundo inteiro e transformar muitas vidas com o conhecimento espiritual. No entanto, ao procurar os dirigentes da FEB para obter a autorização, a editora teria recebido uma negativa. A justificativa da FEB foi que a tradução poderia causar “sérios danos ao Espiritismo”, pois haveria dificuldades em adaptar certos conceitos para outro idioma. Por causa dessa decisão, os livros de Chico Xavier não foram publicados no exterior naquela época, impedindo que sua mensagem chegasse a um público ainda maior. Há relatos de que Chico teria se arrependido de ter passado os direitos de suas obras para a FEB, pois essa decisão acabou limitando o alcance do seu trabalho mediúnico. Se essa história for verdadeira, é realmente algo lamentável. Primeiro, porque a decisão de publicar ou não deveria ter sido do próprio Chico Xavier, e não apenas da FEB. Segundo, porque a ideia de que a tradução traria prejuízos ao Espiritismo não faz sentido, já que muitas obras já foram traduzidas para diferentes línguas sem perder seu significado. O próprio Espiritismo chegou ao Brasil por meio da tradução das obras de Allan Kardec do francês para o português, e isso nunca impediu sua disseminação. Se os livros de Chico tivessem sido traduzidos naquela época, talvez hoje o Espiritismo fosse muito mais conhecido e valorizado internacionalmente.

Outra crítica que se faz ao movimento espírita é que há uma tendência geral de colocar certos médiuns e palestrantes em um pedestal, transformando-os em figuras quase intocáveis. Embora personalidades como Chico Xavier e outros médiuns e palestrantes tenham grande importância, há quem critique a tendência de criar uma espécie de “autoridade espiritual” em torno deles, o que pode levar a um afastamento da ideia de que o Espiritismo deve ser baseado na razão e no livre-pensamento.

Uma das críticas recorrentes ao movimento espírita brasileiro é a monotonia das sessões e palestras em muitos centros. Muitos frequentadores relatam que as reuniões se tornaram previsíveis, repetitivas e pouco inspiradoras, girando sempre em torno dos mesmos livros, dos mesmos temas e das mesmas interpretações doutrinárias. Para alguns, esse excesso de formalidade e a rigidez no conteúdo tornam as palestras cansativas, a ponto de algumas pessoas chegarem a dormir durante os encontros. Essa repetição, aliada a uma abordagem excessivamente teórica, acaba afastando o dinamismo que poderia tornar o estudo do Espiritismo mais envolvente e acessível. Outro problema apontado é a falta de renovação no conteúdo das palestras e dos estudos sistematizados. Muitos centros espíritas insistem em explorar apenas as obras básicas de Kardec e algumas psicografias mais populares, sem abrir espaço para reflexões mais amplas ou debates sobre temas atuais à luz do Espiritismo. Questões filosóficas mais profundas, descobertas científicas ligadas à espiritualidade e até a aplicação prática do conhecimento espírita na vida cotidiana muitas vezes ficam de lado. Esse apego a uma abordagem tradicional pode dar a impressão de que o Espiritismo não evolui, afastando aqueles que buscam um estudo mais dinâmico e conectado com as necessidades do mundo moderno. Além disso, a pouca interação e participação do público nas palestras torna as sessões ainda mais previsíveis. Em muitos centros, o formato é sempre o mesmo: alguém sobe ao púlpito, fala por 40 a 50 minutos, e ao final há uma breve prece de encerramento. Falta diálogo, falta espaço para dúvidas, troca de experiências e para um envolvimento maior dos frequentadores. Esse distanciamento torna o aprendizado passivo e enfadonho, ao invés de estimular a vivência prática do conhecimento. Para tornar as reuniões mais envolventes, talvez fosse interessante incorporar atividades mais participativas, discussões abertas e até mesmo novos formatos que despertem maior interesse. O Espiritismo, sendo uma doutrina baseada no progresso e na evolução, não precisa se limitar a um formato engessado, mas pode se adaptar para continuar sendo uma fonte vibrante de conhecimento e transformação.

Outra crítica muito comum que eu vejo é uma tendência à elitização, tornando-se, em muitos casos, distante das classes populares. Diferente de religiões como a Umbanda, que possuem uma linguagem mais acessível e uma conexão direta com as necessidades do povo, muitos centros espíritas adotam um tom mais acadêmico e formal, o que pode afastar pessoas que não têm familiaridade com esse tipo de discurso. Essa característica faz com que o Espiritismo, que nasceu como uma doutrina voltada ao esclarecimento e à caridade, acabe, em certas situações, restrito a um público mais intelectualizado. Além da linguagem mais rebuscada em palestras e estudos, há também a questão do ambiente dos centros espíritas, que muitas vezes segue uma estética mais austera, silenciosa e formal. Embora a serenidade seja um princípio importante, a falta de acolhimento emocional pode fazer com que muitas pessoas não se sintam à vontade para buscar ajuda ou compartilhar suas dificuldades. Na Umbanda, por exemplo, o acolhimento é direto, com diálogos abertos entre médiuns e frequentadores, rituais que permitem participação ativa e um espaço onde as pessoas encontram conforto para seus problemas do dia a dia. No Espiritismo, esse contato mais direto com os espíritos e com os médiuns é frequentemente limitado a reuniões fechadas, o que pode criar uma barreira entre os frequentadores e a espiritualidade. Esse afastamento das classes populares também pode ser percebido no modelo organizacional de muitos centros, que priorizam estudos sistematizados e leituras de obras espíritas sem, necessariamente, investir tanto em atividades práticas de assistência. Embora muitas casas espíritas realizem belíssimos trabalhos sociais, ainda há uma crítica de que algumas se concentram mais na teoria e na disciplina do estudo do que na vivência direta da caridade. Como resultado, o Espiritismo pode parecer menos acessível para quem busca uma relação mais espontânea e emocional com a espiritualidade. Para que o movimento recupere seu caráter popular e inclusivo, talvez seja necessário um esforço maior em simplificar sua abordagem e resgatar o acolhimento direto que tanto marcou a trajetória de médiuns como Chico Xavier. Além disso, há espíritas que apontam que muitos centros dão um espaço excessivo às palestras doutrinárias, mas deixam de lado o trabalho prático da caridade e da assistência espiritual. A ênfase nos estudos e na teoria, segundo esses críticos, acaba afastando o movimento de sua essência prática, que deveria estar voltada ao auxílio ao próximo.

(Hugo Lapa)

Paz e bem a todos

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Espiritismo | ESPIRITUALIDADE PARA TODOS

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