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domingo, 6 de outubro de 2024

O TRISTE EPISÓDIO DA HISTÓRIA DO ESPIRITISMO BRASILEIRO

 O TRISTE EPISÓDIO DA HISTÓRIA DO ESPIRITISMO BRASILEIRO

Existiu um episódio muito triste na história do Espiritismo brasileiro, que ocorreu logo no início da fundação da religião da Umbanda. Foi o primeiro e o único momento em que Espiritismo e Umbanda se tocaram. Antes mesmo da religião da Umbanda ser fundada, o médium Zélio Fernandino de Moraes começou a manifestar a sua mediunidade. Sua família o enviou a Federação Espírita de Niterói. Zélio foi chamado a mesa mediúnica e foi tomado por uma força alheia a sua vontade, incorporando o espírito que é considerado o fundador da Umbanda, o “Caboclo Sete Encruzilhadas”. Outros médiuns que participavam da mesa também incorporaram espíritos de negros escravos e índios.

No entanto, o dirigente dos trabalhos considerou aquilo um verdadeiro “atraso espiritual” e tentou repelir aquelas entidades que se manifestavam, alegando que elas eram “claramente atrasadas”. O Caboclo das Sete Encruzilhadas, falando pelo médium Zélio, afirmou que eles deveriam ao menos ouvir esses espíritos, ao invés de repeli-los, mas não houve jeito.

Depois disso, o caboclo disse que seria fundada uma religião à parte onde os negros escravos, índios, e outras entidades pudessem se manifestar livremente, como não foi possível na Federação Espírita de Niterói. De fato, em nossa visão, é necessário ouvir os espíritos, e não nos cabe rotular quem são atrasados ou adiantados, muito menos por sua cultura, origem, raça, etc.

A experiência de Zélio Fernandino de Moraes na Federação Espírita de Niterói marca um momento crucial no desenvolvimento da religião Umbanda no Brasil. A rejeição dos espíritos de negros escravos e índios pela Federação Espírita, considerando-os como “atrasados espirituais”, reflete as tensões culturais e raciais da época. O posicionamento de Zélio, ao incorporar o Caboclo das Sete Encruzilhadas, desafia essa visão, defendendo a importância de ouvir e respeitar todas as entidades espirituais, independentemente de sua origem ou história.

Esse incidente destacou a necessidade de um espaço onde essas entidades pudessem se manifestar livremente, levando à fundação da Umbanda, uma religião que valoriza a diversidade e a inclusão de diferentes tradições espirituais. A Umbanda se tornou uma expressão única do sincretismo religioso brasileiro, combinando elementos do Espiritismo, do Catolicismo, e das religiões africanas e indígenas.

A lição fundamental desse episódio é a importância do respeito e da inclusão em práticas espirituais. Enquanto a Federação Espírita via as manifestações dos espíritos de escravos e índios como inferiores, a Umbanda as acolheu, reconhecendo a riqueza e a validade de todas as formas de expressão espiritual. Este é um exemplo poderoso de como o entendimento e a aceitação podem superar preconceitos e criar novos caminhos de fé e comunidade.

Este é considerado um marco na história da religião da Umbanda no Brasil. A sociedade brasileira estava imersa em uma complexa mistura de crenças e práticas religiosas, incluindo o Catolicismo, práticas indígenas e africanas, e o Espiritismo, que havia sido introduzido no Brasil no século 19. Havia um forte preconceito racial e cultural. Espíritos de origens africanas e indígenas eram frequentemente vistos como inferiores nas práticas espiritualistas da época. Até hoje isso infelizmente ainda acontece em alguns centros mais ortodoxos, embora a aceitação de entidades como pretos velhos e caboclos já seja bem maior hoje do que há 100 anos atrás.

O médium e palestrante espírita Divaldo Franco chegou a se referir aos pretos velhos como espíritos inferiores, afirmando que: Um Espírito que se apresenta para o grupo como “Preto Velho” ou “preta velha” pode ser levado a sério? Não pode… Este espírito pode ser muito bom, mas é muito ignorante. E a nossa tarefa é retirar a ignorância”. Depois dessa fala, houve uma imensa repercussão negativa por parte de muitos umbandistas e espíritas. Mas, infelizmente, o fato é que a Umbanda ainda é vista com muita reserva e até preconceito por muitos.

A Fundação da Umbanda

A fundação da Umbanda, que ocorreu logo após o episódio envolvendo Zélio Fernandino de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas, foi um processo gradual e simbólico que refletiu as complexidades culturais e espirituais do Brasil. Durante a sessão espírita na Federação Espírita de Niterói, o espírito incorporado por Zélio anunciou a intenção de fundar uma nova religião. Esta seria uma prática onde espíritos de negros, índios, e outras entidades poderiam se manifestar livremente, algo que não foi permitido na sessão da Federação.

Zélio Fernandino de Moraes, sob a orientação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, estabeleceu a primeira tenda de Umbanda, chamada “Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade”. Isso marcou oficialmente o início da Umbanda como uma religião distinta. A Umbanda começou a incorporar elementos de várias tradições religiosas, incluindo o Espiritismo Kardecista, tradições africanas de Candomblé e cultos indígenas, além de influências do Catolicismo.

A Umbanda é conhecida por seu caráter sincretista, mesclando crenças e práticas de diferentes origens. A religião nasceu com o princípio de inclusão, aceitando espíritos e seguidores de todas as origens, sem discriminação racial ou social. A Umbanda estrutura uma hierarquia espiritual, incluindo Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Exus, entre outros, cada um com suas características e funções específicas.

Os rituais da Umbanda incluem cantos, danças, oferendas, e a prática da mediunidade, com ênfase na cura, no aconselhamento espiritual e na caridade. A Umbanda rapidamente ganhou seguidores em várias partes do Brasil, particularmente nas áreas urbanas. Dentro da Umbanda, desenvolveram-se várias linhas e interpretações, refletindo a diversidade regional e cultural do Brasil. A Umbanda também ganhou reconhecimento internacional, com praticantes e centros em vários países.

A fundação da Umbanda foi um momento significativo na história religiosa do Brasil, simbolizando a luta contra o preconceito e a afirmação da diversidade cultural e espiritual. Desde então, a Umbanda tem sido uma fonte de força espiritual, cultural e comunitária para muitos, mantendo seu compromisso com a inclusão e a igualdade.

(Hugo Lapa)

portaldoespiritualismo@gmail.com

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