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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

OS FENÔMENOS PSÍQUICOS E AS TEORIAS CONTRADITÓRIAS

Publicado na Revista Internacional de Espiritismo - RIE em março de 1929  
A humanidade, em matéria de crença, principalmente quando se apresenta uma ideia nova ou um novo descobrimento, acha-se sempre entre as duas alternativas, uma que recebe o fato sem estudo e sem análise, outra que nega sem pesquisa e sem exame.

Assim tem acontecido, e assim acontece até agora.

Este desvario da inteligência, sobejamente constatado nas páginas da história, parte da ignorância de que o mundo é regido por leis imutáveis e de que nós, devido à nossa condição de inferioridade, não conhecemos mesmo a mínima parte dessas leis.

Com referência aos fenômenos psíquicos, conquanto eles tenham se dado em todos os tempos e em todos os países, a lei a que eles se acham submetidos até o presente ainda não penetrou nas dobras da nossa inteligência, ou em outros termos, devido à nossa exígua evolução não chegamos ainda à aptidão precisa para compreendê-la. Em compensação, porém, nos são apresentados os fatos, que bem estudados e observados, nos conduzirão certamente ao conhecimento dessa lei. E, além de tudo, podemos alcançar a causa produtora dos fenômenos, embora não conheçamos a lei que rege essa produção.

Para confirmar o estado de espírito em que vive a humanidade à vista dos fenômenos psíquicos, basta lembrar os dois concílios da Igreja, no ano 305, mais ou menos, o de Elvira e o de Ancyra, nos quais os cristãos foram exortados contra os fatos, chamados hoje espíritas e julgados, então, produtos do diabo e seus sequazes; e no ano 900 a qualificação que deram sobre esses “fatos” no Canon Episcopi, como sendo esses fenômenos mera ilusão. Aí estão dentro de uma mesma Igreja, que deveria ser coerente em seus ensinos, e categórica em seus princípios, estabelecidas as teorias contraditórias: a primeira afirmando o fato sem estudo e sem investigação; a segunda negando também sem observação e sem exame.

A humanidade, repetimos, vive entre duas alternativas: a que crê passivamente e a que nega também sem razões e sem critérios.

Tanto nas camadas superiores, como nas inferiores, o mesmo desvio se observa.

Em 1859, os fenômenos espíritas faziam ruído por toda a França, a ponto de chamarem a atenção dos Acadêmicos franceses. A “Academia de Ciências” chegou a reunir os seus membros, e em 18 de abril o Dr. Jobert de Lamballe apresentou uma memória dando como causa dos extraordinários fenômenos que se produziam em Hydesville, América do Norte, e se haviam repercutido na França, uma lesão muscular, pois o próprio Dr. Jobert tratara de uma moça que produzia esses fenômenos, a quem não deixou de subministrar sanguessugas, calmantes, derivativos, compressões etc.!

Mas, apesar de tudo, a extensão crescente do Espiritismo tomava vulto, os impugnadores se tornaram seus inconscientes propagadores, e fazia-se mister de explicações claras, mais lógicas e criteriosas para aniquilar a verdade que fazia raiar as suas primeiras claridades. Foi justamente quando foram surgindo sucessivamente teorias explicativas, umas que afirmavam os fatos, outras que negavam, dando como causas elementos puramente físicos, oriundos do materialismo.

Descartada a ideia da impostura, pois seria estultícia afirmá-la em vista dos fatos evidentes que desafiavam as academias e os santuários, muitas conclusões apriorísticas foram engendradas, como a do ser coletivo, a da ação exoneurótica do cérebro, a da força psíquica proveniente do funcionamento neurocerebral do médium etc. etc.

A Igreja, porém, persistiu nas sentenças dos Concílios acima lembrados, mas vacilando destas deliberações para os princípios exarados no seu Canon Episcopi.

Após esse aluvião de teorias sem nexo e sem base, apareceu uma nova ideia teocrática, que não representa mais que o budismo sacerdotal, infiltrado na Europa com o nome de teosofia — a teoria das fadas, dos gnomos, dos duendes, espíritos vitais incompletos — teoria que constituiu uma escola dogmática que condena, como a católica, as práticas espíritas, pelas razões, aliás desrazoáveis, que dão os seus adeptos.

A teoria explícita, clara, racional, verdadeira, que não se funda em dogmas, nem em conceitos pessoais, mas que está erguida sobre os próprios fatos que a cimentam e consolidam, essa não pôde ser acolhida pelo espírito de sistema que tanto tem infelicitado este mundo.

Entretanto, continua de pé a primeira comunicação que, por intermédio de uma menina de doze anos, o Espírito do pobre mercador deu na América do Norte: “Este fenômeno que em breve invadirá a América e a Europa — negado pela ciência, explorado pelos charlatães, ridicularizado pelos jornais, anatematizado pelas religiões, tendo contra si todo o mundo oficial — terá a força mais poderosa que tudo para se impor.”

É admirável que uma falsidade tenazmente combatida por todos os poderes da Terra, desde o seu nascimento há oitenta anos, em vez de aniquilada, se mostre hoje uma ideia difundida e aceita pelas inteligências de escol e simpatizada e admirada por aqueles que embora sem letras procuram cultivar o princípio da imortalidade, que instintivamente trouxeram ao nascer!

Verifica-se de tudo isso que, nos fenômenos psíquicos, como em todas as manifestações da Verdade, as teorias contraditórias, se acontece prevalecerem por algum tempo, elas representam os edifícios sem alicerces, as árvores sem raízes que não podem ter duração. Mais hoje, mais amanhã, a luz se manifesta com todo o seu fulgor, e o que parecia ser um dogma intangível, um fato consumado, não passa de uma utopia concebida por um cérebro desviado.
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