a partir de maio 2011

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A IMPORTÂNCIA DAS MANIFESTAÇÕES MEDIÚNICAS.

  Baseando-se nas manifestações mediúnicas e em toda a gama dos fenômenos hoje chamados paranormais, o Espiritismo despertou simpatias e provocou aversões nos meios científicos e culturais da Europa, na segunda metade do século XIX. De um lado, ele agradava o povo, que se interessavam naturalmente pelas manifestações de seus mortos queridos. Por outro lado, irritava os cientistas e homens de cultura, que repudiavam as superstições populares e não viam como os mortos poderiam se manifestar se já estavam mortos. Brofério chegou a propor a criação de um Espiritismo sem Espíritos, pois reconhecia a realidade dos fenômenos, mas recusava-se a aceitar a interpretação de Kardec. A época era de problemas cruciantes, com o desenvolvimento dramático das experiências magnéticas, logo mais chamadas de hipnóticas, e as invenções de processos terapêuticos para a cura de doenças mentais e psíquicas.
  Luiz Vives conta que Charcot, numa de suas aulas, apresentou uma mulher inculta que recebeu em grego uma comunicação psicográfica de Arago sobre os problemas da fisiologia humana. O fato era chocante, mas Charcot advertiu os discípulos de que não deviam tentar nenhuma explicação a respeito. Prudentemente deviam pensar no que viram e esperar explicações futuras. As Ciências temiam a morte e os espíritos, estavam carregadas de misticismo religioso, sob ameaças clericais, e problemas dessa espécie se tornavam perigosamente melindrosos. O que Kardec fazia era uma temeridade que poderia levá-lo à loucura.
  Esse mesmo ambiente carregado de ameaças excitava ainda mais a curiosidade popular, podendo desencadear represálias de parte dos poderes eclesiásticos, ainda muito vigilantes. A serenidade com que Kardec enfrentou esse ambiente pode ser apreciada na Revista Espírita, obra indispensável ao estudo da doutrina e que já temos em nossa língua, em seus doze volumes redigidos pelo mestre, na tradução do saudoso Júlio Abreu Filho.
  O terror da morte e dos mortos, provindo das mais remotas civilizações, e a introjeção desse terror, num processo de quase dois milênios, no espírito europeu, perdura até hoje em nossa cultura e responde pela maior parte das aversões ao Espiritismo. As introjeções psicanalíticas produzem reflexos condicionados no inconsciente, em forma de complexos, mais duradouros e profundos que os de Pavlov em suas experiências no plano cortical. A morte, por si mesma traumatizante, acrescida das cerimônias fúnebres de grande poder emocional e com raízes longevas nas tradições das raças, conta ainda com a influência arquetípica no inconsciente coletivo. Basta um ruído semelhante a gemido, um sopro frio na noite ou o ranger de uma trave para desencadear nos espíritos sensíveis introspectivas de fantasmas apavorantes.
  Se o Espiritismo se interessasse por esses efeitos, como querem os seus adversários interesseiros, poderia aproveitar esse pavor em benefício de sua propagação. Mas Kardec agiu em sentido contrário, verificando e classificando os fatos reais, distinguindo-os das impressões ocasionais e explicando-os à luz da razão e das conquistas científicas.
  Recusou-se até mesmo a tratar dos fenômenos de materialização de espíritos na Sociedade Parisiense, deixando esse campo a cargo dos cientistas mais famosos da época. A colaboração desses cientistas foi muito além do que ele podia esperar. Com exceção do casal Curie, que depois de algumas experiências interrompeu suas tentativas, alegando, com razão, a necessidade de se entregar exclusivamente ao problema do rádium, todos os demais foram ao extremo. A Ciência Espírita formou a sua galeria de honra com nomes exponenciais do século provando a realidade da sobrevivência do ser. Um desses momentos foi quando Richet, até então renitente, procurando sempre uma via de escape, enviou sua carta famosa a Ernesto Bozzano – como o fizera Lombroso rendido ante essa realidade inegável – e outra carta a Cairbar.
  Schutel, proclamando em latim: Mors janua vite, ou seja: A morte é a porta da vida.
  A estratégia de Kardec era perfeita e dera os resultados por ele previstos. Limitando-se às pesquisas psicológicas e deixando aos físicos, químicos, fisiologistas e especialistas em mecânica (como William Crawford, que descobriu e provou a mecânica do ectoplasma) os fenômenos de materialização, ele fechara a questão científica do Espiritismo de maneira decisiva. Em nossos dias as pesquisas tecnológicas da Física atual e da Parapsicologia reverenciaram a conquista da face oculta da Terra, antes mesmo da façanha astronáutica da descoberta da face oculta da Lua.
  A importância das comunicações mediúnicas não está apenas no seu caráter probante, como acentuou Bozzano, mas também e, sobretudo na sua expressão de solidariedade humana através da morte. A seção da Revista Espírita intitulada Palestras Familiares de Além-Túmulo oferece provas inegáveis da identidade espiritual dos comunicantes, mostrando a naturalidade com que os chamados mortos se manifestavam afirmando a sua sobrevivência plena no mundo espiritual. Levado pelo entusiasmo natural da juventude, um jovem pesquisador parisiense encantou-se com os fenômenos de ordem física e propôs o reconhecimento do que chamava de médiuns inertes. Léon Denis refutou essa tese absurda, lembrando ao jovem Paul Nord que Kardec já havia demonstrado que os efeitos físicos da mediunidade eram produzidos por espíritos manifestantes que movimentavam as mesas e os objetos com seus fluxos de energia que davam aos objetos uma vida factícia e passageira.
  Se Kardec se prendesse à fascinação dos fenômenos de efeitos físicos, o Espiritismo não levaria a dança das mesas além das consequências materiais que Galvani tirou da dança das rãs. O fundamental da doutrina é a mensagem dos mortos, que através dela provam a continuidade do ser em outras dimensões da matéria e desvendam o segredo doloroso dos túmulos, das lápides frias que esmagaram para sempre vidas preciosas e sonhos de beleza eterna.
  Além disso, a mensagem dos mortos restabelece a unidade humana rompida pela divisão dos homens em dois planos antagônicos, o dos que vivem uma vida efêmera esperando a morte e o dos que morreram e se transformaram  em cinzas para sempre. A vida humana seria apenas um lampejo ocasional de fogo fátuo sobre a terra, tragado pelos terrores de uma noite eterna. As teologias do absurdo, pseudociências de Deus – como se Deus pudesse ser objeto de pesquisas ou especulações de laboratoristas de sacristia continuaram impunes na elaboração dos mitos terroristas do Inferno, do Diabo e das condenações eternas.
  Por outro lado, sem os estudos e pesquisas de Kardec sobre as comunicações mediúnicas, as terríveis ocorrências de obsessões vingativas, de perturbações psíquicas incuráveis pelos recursos da psicoterapia insciente, continuariam insolúveis, pois sem a técnica da doutrinação espírita, amorosa e eficaz, só restariam às práticas arcaicas dos exorcismos antiquados e perigosos, pois desprovidos do conhecimento indispensável das relações dos homens com os espíritos.
  Tão profundamente foram introjetados nas gerações de dois milênios de cristianismo sincrético os terrores da morte, que a catarse curadora só está sendo possível atualmente através das pseudotécnicas de libertinagem de várias correntes psiquiátricas e pelo pseudo-socorro da toxicomania. No próprio meio espírita surgem os resíduos da aversão milenar aos mortos e aos fantasmas, levando criaturas ingênuas e inscientes a fazerem campanhas contra as práticas mediúnicas, no insensato desejo de transformar as instituições doutrinárias em simples escolas teóricas, desprovidas da didática objetiva das práticas mediúnicas. É a volta obsessiva das pretensões acadêmicas de um Espiritismo sem Espíritos.
  As forças da contra evolução do homem, e, portanto da Cultura e da Civilização, rondam sem cessar as mentes frágeis, inquietas e desprevenidas do meio doutrinário, sugerindo-lhes medidas retrógradas, disfarçadas em forma de atualização doutrinária.
  Essas tentativas se tornam perigosas numa fase de transição. Sem as relações constantes com o mundo espiritual, através das sessões mediúnicas, estaremos desprovidos da orientação segura dos Espíritos benevolentes e do Espírito da Verdade, que trouxe ao nosso mundo a Doutrina Espírita, a grande doutrina cósmica de que recebemos até agora apenas a dosagem adequada ao nosso estágio atual de evolução.
  Quando se extinguiu, no Cristianismo primitivo, o chamado culto pneumático, constituído pelas reuniões mediúnicas da era apostólica, as influências romanas tomaram o lugar das intuições espirituais e a Igreja de Cristo, não fundada pelo Senhor, mas pelos seus discípulos, isolou-se orgulhosamente em seu reino terreno e identificou-se com as religiões mitológicas, idólatras e formalistas. Apagou-se a luz dos santuários ingênuos ante o esplendor fictício do Império arrogante dos Césares. A expressão culto pneumático provinha da palavra grega pneuma, que é sopro, e como sopro, espírito.
  O culto pneumático era constantemente perturbado pelas manifestações de espíritos perturbadores, contrários ao Cristo e apegados às religiões mitológicas das antigas civilizações. Esses espíritos acusavam Jesus de farsante, combatiam os seus ensinos e ensinavam doutrinas inferiores. Enquanto os cristãos suportaram essas entidades, procurando salvá-las da ignorância por meio da doutrinação amorosa, os Espíritos Superiores apoiavam e estimulavam essas reuniões.
  Mas, com a supressão desse trabalho de amor pelos espíritos infelizes, formados em moldes romanos, os cristãos ficaram entregues a si mesmos e trocaram o Reino de Deus pelo Império simoníaco do Vaticano. Em lugar dos Espíritos benevolentes, a Igreja passou a receber os enviados de César para orientá-la dentro das rígidas sistemáticas do Império. O preço da assistência espiritual é o amor e a dedicação aos milhões de espíritos necessitados que sobrevivem na erraticidade.
  Se quisermos suprimir as sessões mediúnicas, particularmente as de doutrinação, em nossas instituições espíritas, poderemos fazê-lo, pois o nosso livre-arbítrio será respeitado, mas convém, antes disso, consultarmos a doutrina e lembrarmos os fatos históricos do Cristianismo, vendo que preço teremos de pagar por essa pretensa atualização. Cada posição ou atitude que tomamos tem o seu preço na economia divina e esse preço não é pago em moedas de César, mas em moedas de amor e justiça.
  Muitos espíritas atuais reclamam trabalhos elevados no campo doutrinário, em que manifestações de entidades sofredoras sejam substituídas pelas manifestações de Espíritos Superiores, dotados de sabedoria e grandeza. É justa essa aspiração, desde que paguemos o seu preço com a atenção e o amor devidos aos milhões de entidades sofredoras e angustiadas que esperam o nosso amparo amigo e as moedas de ouro puro e sacrificial do nosso amor. Sem isso, só teremos nas sessões especiais a presença de entidades mistificadoras que nos conduzirão a atitudes vaidosas e ridículas.
  Temos tudo em nossas mãos e podemos escolher livremente o melhor ou pior. Porque somos aprendizes para nos tornarmos livres das provações e expiações do nosso planeta. Deus não nos força, porque só aprendemos fazendo. Temos a doutrina em nossas mãos para esse aprendizado e a liberdade de estudá-la ou não. É bom não esquecermos que a nossa liberdade espiritual só tem como guarda o freio da nossa própria consciência.
  Jesus não impediu que Judas o traísse e que Pedro o negasse, nem que Tomé duvidasse da sua ressurreição. Os processos espirituais de educação se fundem no exercício da liberdade de cada um, porque somente através de um sistema de livre escolha, entre experiências negativas e positivas, podemos aprender a seguir voluntariamente os rumos certos da nossa destinação.

J. Herculano Pires – Evolução Espiritual do Homem.


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