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domingo, 2 de junho de 2013

Doutrinas Cristãs e Zen Budismo - Comparando

    Doutrinas Cristãs e Zen Budismo – Comparando    (Jan 2008)

      Textos para uma comparação entre Cristianismo e Zen Budismo. 

      Johnston, padre católico, esteve 20 anos no Japão onde estudou e praticou o Zen; afirma que o Cristianismo necessita, com urgência, das práticas e ensinamentos do Zen pois, sem isso, continuará sendo, apenas, uma religião vazia e que não leva a nada. 

      Palavras de Johnston:
      ...Parece que, num acesso de humildade, a inflexível Igreja Católica sente que tem a ganhar com o Zen Budismo. Se eu tivesse ficado na Irlanda, minha terra natal, em vez de ter ido para o Oriente, eu não passaria, hoje, de um cristão intolerante a atirar pedras nos protestantes nas ruas de Belfast. O Zen ensinou-me que na Doutrina Cristã há possibilidades insuspeitadas. Hoje, pratico Zen como um modo de aprofundar minha fé cristã, prática que, para muitos cristãos, é ateísta, panteísta ou sem sentido. É que eles não sabem que a sabedoria mais elevada encontra-se, não nas idéias distintas e claras, mas no silêncio da mente, vazia de todo pensamento, raciocínio, imagem ou desejo. 
      ...Depois que me levou a conhecer os templos orientais, o amigo budista disse que queria conhecer um templo cristão. Fiquei profundamente desconcertado, pois me dei conta de que não havia um templo cristão aonde pudesse levá-lo com esperança de que ele se sentisse edificado. Templos cristãos, comparados aos orientais, se parecem mais com escritórios. Era evidente a diferença. 
      Nos templos cristãos nada se ensina sobre meditação e nem se recomenda sua prática. Contudo, no Zen (palavra que significa meditação), é o que mais se pratica e quase não há qualquer doutrina. Esse tipo de meditação, em silêncio, sem pedidos, imagens, sem palavras, nem mentais, não era novo para mim, pois eu já lera ‘A nuvem do desconhecido’ de João da Cruz, místico cristão, hoje ‘santo’ dos católicos’ (‘renunciai tanto aos maus quanto aos bons pensamentos’). Todo pensamento discursivo deve cessar a fim de que possa surgir’, das profundezas do ser, o ‘cego impulso do amor’. 
      ...Os mestres Zen dizem: ‘Não quero saber de seus problemas familiares, de saúde etc.; tudo que quero saber é de sua prática da meditação’. Isso é o contrário da atitude dos orientadores cristãos, que indagam sobre os problemas práticos da vida, mas fogem da questão fundamental que é a meditação. Mas, os roshi (mestres Zen) são conhecedores profundos do funcionamento da mente humana, o que lhes permite guiar as pessoas ao satori (iluminação) pelo caminho da meditação. 
      ... O roshi me perguntou: ‘Como está indo? ’... Eu: ‘Minhas pernas doem que mal as agüento’... Ele: ‘Estique-as! Mas, o que pergunto é como está indo na meditação?’... Eu: ’Tenho praticado muito; sento-me, fico em silêncio, sem que me ocorram palavras, pensamentos, imagens ou idéias’... Ele: ‘Está imbuído da presença de Deus?’... ‘Estou'. ... ’Muito bem! Continue assim! Acabará descobrindo que Deus irá desaparecer e somente você  permanecerá. ’
      Isso me chocou como radical negação de Deus e de tudo que eu julgava sagrado. Eu aprendera que há momentos em que o ‘eu’ desaparece e somente Deus permanece. Disse-lhe: ‘Deus desaparecerá? ! Sou eu q posso desaparecer e Deus tomar meu lugar!’ O roshi respondeu com um sorriso: ‘É a mesma coisa’. 
      Mais tarde, refletindo, vi que ele não negava a existência de Deus; estava negando a existência do dualismo Eu-Deus, Eu-Você. Estava dizendo que tudo é Deus, ou que tudo é Um.
      ...Percebi que os cristãos japoneses têm importante papel na renovação da doutrina cristã: trazer a meditação para o Ocidente, e levá-la aos cristãos. Mas, isso será inútil se as doutrinas cristãs não fizerem renovação completa na sua metodologia mística, precisamente no aprofundamento das práticas de meditação. 
      ...É estranha essa concessão imaginada pelas doutrinas cristãs, de terem o privilégio da comunicação da palavra divina e considerar q as outras doutrinas quase nada têm a ensinar; contudo, descobri que budistas e hinduístas não se importam nada com isso, ao passo que, só recentemente, parece, estão sendo dissipadas as trevas da intolerância do Cristianismo referente ao assunto. 
      ...Nas reuniões de cristãos e budistas, todos falavam de suas experiências religiosas, sempre encontrando um traço de união entre elas, o que mostra que a vida 'interior' de budistas e cristãos tem muito em comum. Contudo, não se conseguia enunciar qualquer proposição filosófica, doutrinária ou teológica com a qual todos concordassem.

      MONISMO x DUALISMO
      Sugeri a um amigo budista trocarmos idéias acerca de nossas concepções sobre Deus. Ele disse: ‘Você acredita que é possível falar sobre Deus, o incogniscível, o nada, o vazio? Isso é impossível. Você é o próprio vazio, o nada, Deus. Tudo é uma coisa só’. Essa é a concepção que está em todo o Zen: ‘não existe nenhum Eu e Tu, nenhum Deus e Eu. Tudo é uma coisa só’.
      Certa vez, Suzuki falava sobre o silêncio, o vazio e outras coisas quando, um ouvinte, irritado, exclamou: ‘Mas, e a sociedade? E os outros?’’ ao que Suzuki, com um sorriso, observou: ‘Mas não existe nenhum outro!’ Não existe nenhum outro, como não existe nenhum eu. Todos somos um só. 
      ...Um roshi falou sobre a experiência que o arrebatou em êxtase jubiloso. 'É impossível descrever ou explicar o satori', disse ele, mas as palavras de Jesus: ‘Antes que Abraão fosse, Eu sou’ conseguem exprimir a revelação. Era isso a perfeita prática: nenhum objeto, imagem, ou dualidade; apenas Eu, Eu Sou. Essa é a expressão perfeita do satori. A compreensão de que ‘Eu sou’ surge das profundezas do íntimo do iluminado. Esse Eu não é ‘meu eu’, individual, feito de lembranças, expectativas e desejos. É o ‘fundamento’ do ser, a alma do universo, a voz do ‘grande Eu’ que anula toda consciência de ‘meu eu’ e se afirma como tudo que existe. Compreendi, então, que quando Jesus disse ‘Eu sou’ ele se referia, não ao ‘eu’ de um indivíduo, mas à palavra eterna (logos) pela qual todas as coisas foram criadas. Em Jesus não havia mais a personalidade humana, mas Deus (‘Eu e o Pai somos um’ ou, como Paulo disse: ‘Não sou mais eu que vivo; o Cristo é que vive em mim’).
      ...Toda religião digna desse nome ensina a orar, na acepção de meditar. Podem ser pobres em teologia e organização mas, se dão atenção à oração e à meditação, devemos respeitá-las pois tentam cumprir seu papel. 
      No budismo e hinduísmo, sempre houve mestres que dominaram a tal ponto a arte de meditar que podiam orientar seus discípulos pelos caminhos da mente até a um plano além do ego. O Cristianismo, como o Judaísmo, de onde ele vem, tem tradição semelhante. Os padres, do primitivo cristianismo afirmavam: 'a meditação é o q de mais importante a humanidade tem a fazer!" 
      Lembrem-se de que os discípulos pediram a Jesus: ‘Ensine-nos a orar, como João ensinou seus discípulos a orar’. Julgavam Jesus um mestre de oração, como João e outros que percorriam aquelas terras. Os primitivos cristãos também ensinavam a oração, na sua acepção de meditação. No seu tempo, Inácio de Loiola percorria Paris para ensinar como meditar. Seu método, ‘Exercícios Espirituais’, com que pretendia levar as pessoas á iluminação, é aplicado até hoje. 
      Contudo, esse método, como outros, foi erradamente..
  Contudo, esse método, como outros, foi erradamente interpretado, vindo a ser associado ao pensamento, raciocínio, enfim, à ‘oração discursiva’, que pouco atrai o homem moderno. O homem, da era da televisão, do computador etc., está farto de palavras e mais palavras. Necessita é de um profundo silêncio interior. Isso pode ser alcançado com o Zen, que apresenta técnicas simples para levar as pessoas ao silêncio e paz interiores e até mesmo à chamada ‘contemplação’ dos cristãos, como fazia a Primitiva Igreja Cristã com suas orações. Os padres do primitivo cristianismo afirmavam: 'o q de mais importante necessita a humanidade é da meditação!'.
      O Zen ensina o ‘distanciamensto’ de todos os apegos, até mesmo do apego ao eu. Isso para que outra coisa possa resplandecer em seu lugar: a natureza do Buda, ou do Cristo, a iluminação que traz o fim de todo o sofrimento e de todos os conflitos que afligem o homem. Na iluminação, a fé e a crença tornam-se a convicção de que Deus está no mais íntimo de nosso ser. O que de mais verdadeiro existe em nós, não é nosso eu, mas o próprio Deus. À medida que o Zen se desenvolve, o eu desaparece e Deus vive e age em nós (‘Já não sou eu que vivo, mas o Cristo é que vive em mim’); nossas ações já não são nossas, mas de Deus, que é todas as coisas. Como Paulo disse: ‘Não existem coisas tais como o judeu e o grego, o escravo e o homem livre, o homem e a mulher, pois sois um só em Cristo’. 
      Em resumo, os cristãos tirarão proveito do Zen para aprofundar sua fé cristã pois, aqui no Japão, um número crescente de cristãos, orientais e ocidentais, estão descobrindo isso com a prática do Zen. 
      Seria bom para as doutrinas cristãs adotarem essa metodologia e começarem novamente a ensinar a meditar. O triste é que frades, sacerdotes, ministros e orientadores religiosos estão ensinando todo tipo de coisas, de ciências a literatura, e poucos ensinam a orar, na sua acepção de meditar. Nós, ocidentais, sentimos grande necessidade disso, porque a vida meditativa está incrivelmente subdesenvolvida nas nações desenvolvidas. Por isso nossa civilização se tornou desequilibrada a tal ponto que não consegue diferenciar um ser humano de um computador. Quando isso ocorre na dimensão contemplativa, as pessoas são facilmente tomadas pelo ódio e fazem coisas absurdas, como vemos todos os dias. É horrível ver que isso está acontecendo com sacerdotes, freiras, ministros e orientadores religiosos pois, enquanto deveriam encaminhar suas vidas para o satori, que deve ter sido o motivo pelo qual foram para a vida religiosa, sentem que nada tem sentido se não se puserem a se agitar e a fazer todo tipo de trabalho ‘em nome da caridade cristã’.
      Os cristãos de hoje são como são, porque as igrejas cristãs projetaram a imagem de uma religião mais ‘de palavras’ do que mística; muito mais discursos, sermões e conselhos do que orações; muito palavrório sobre Deus e o amor e pouquíssimo silêncio mental. Palavras, palavras, palavras; exterioridade e não interioridade! É por isso que, o Ocidente necessita, com urgência, de uma transfusão de sangue do misticismo Oriental.
      Se confrontarmos misticismo e cristianismo, o pomo da discórdia será a oposição entre o monismo (tudo é UM; não há eu e Deus) e o dualismo (eu aqui, Deus lá). Foi o que disse o roshi ao afirmar que Deus desapareceria e só eu restaria. É o que sugeriu meu colega Zen ao afirmar não ser possível sequer falar de Deus. Era isso que queria dizer Suzuki ao afirmar que ‘não há nenhum outro’ (pois tudo é UM).
      O conflito monismo x dualismo é das questões mais controvertidas para os ocidentais desde há muitos séculos, tendo sido os cristãos advertidos quanto aos perigos do panteísmo e daquelas coisas ‘horríveis’ pelas quais pessoas como Eckhart (místico cristão) foram condenadas à morte nas fogueiras em praça pública, no séc. XIV.
      Será o monismo contrário ao Cristianismo? Não! A meu ver, o Ocidente precisa urgentemente de um toque do monismo. Os homens o procuram e ele pode ser entendido num sentido cristão. O monge trapista, Thomas Merton, escreveu: 
      ‘Parece, aos budistas, que somos dualistas, com a noção de Deus ‘lá’ e nós ‘aqui’, uma relação de eu-tu, sujeito-objeto. Isso, é claro, tornaria impossível o satori (porque o satori só pode ser atingido quando percebemos que ‘eu e o Pai somos um’, como afirmou Jesus). Se conhecessem Eckhart saberiam que ele afirma que, quando alguém se ilumina, se confunde com Deus. Ele se refere a uma experiência que se revela em todas as formas de misticismo. O misticismo cristão, na forma de noivo e noiva (dualismo; na bíblia: ‘Os cantares’, se Salomão), nos afasta consideravelmente do satori. Penso que os cristãos podem alcançar o satori tão facilmente quanto os budistas. Mas, para isso, é necessário ir além de todas as formas, imagens, conceitos, categorias e tudo o mais (além do ego). Mas, no Cristianismo de hoje, isso é muito difícil de ser aceito’. 
      E´ bom saber que, aquele que obstinadamente se empenha em obter o satori, nunca consegue. É preciso meditar sem a preocupação de alcançar ou não o satori, ou qualquer outra experiência, ou qualquer outra preocupação. Como diz o Zen, ‘se alcançar, tudo bem; se não alcançar, tudo bem’. O Zen nada tem a ver com crenças, religiões e está além de toda classificação. O fato é que, nas experiências místicas, indiscutivelmente, desaparece a relação sujeito-objeto, Eu-Deus. E isso não é ateísmo ou negação de Deus, mas um outro modo de sentir Deus. (É, ao contrario, a afirmação de que ‘só Deus existe’).
      Nos últimos séculos, as doutrinas cristãs populares trouxeram' a idéia de um Deus dualista e antropomórfico. Digo doutrinas populares porque, místicos como Eckhart, João da Cruz e outros, nunca incorreram nesses erros. Mas a tendência popular é, como não pode deixar de ser devido àquilo que ainda é pregado nas igrejas cristãs, crer num Deus situado num céu distante. Isso talvez se deva à interpretação literal da Bíblia: Deus a caminhar com Adão no jardim do Éden, ou enfurecido com o povo hebreu. E muitas passagens do Velho Testamento afirmam que Deus apareceu a Moisés e a outros na forma de homem, ou de anjo falando com eles e mostrando emoções e sentimentos próprios do ser humano. Seja como for, as doutrinas cristãs fazem que se tenda a crer num Deus antropomórfico situado ‘lá fora, lá em cima, longe de nosso alcance’. 
      Certamente um monge budista negará a existência de tal Deus, e dirá que, em suas meditações, jamais lhe ocorreu algo que se assemelhe a esse Deus, bem como negará a possibilidade de diálogo com um ser transcendental. Irá mesmo afirmar que essas idéias implicam no oposto exato do Zen, que é estritamente não-dualista, opondo-se de modo inflexível a todas as modalidades da relação sujeito-objeto. É preciso que os cristãos não se esqueçam da velha verdade filosófica, afirmada pelos místicos e aperfeiçoada por Tomás de Aquino, segundo a qual Deus não está em parte alguma: ‘Deus, simplesmente, é.’
      Pode-se dizer que a supressão da relação sujeito-objeto não encontra base na Bíblia. Mas, a leitura cuidadosa pode revelar sementes da teologia da negação do dualismo. Não está ali em termos de vazio, vácuo; o judaísmo não usa essa linguagem, e toda a Bíblia, em particular o Velho Testamento, foi escrita segundo padrões judaicos. Mas tem seu modo de dizer que Deus é incognoscível, que não se encontra em parte alguma. Está claro na proibição de imagens, na afirmação de que Deus não se parece com nenhuma dessas coisas, pois ninguém conhece ou viu Deus. Conta-se que quando o conquistador Pompeu invadiu o Santo dos Santos, curioso para ver o que havia ali, nada encontrou (quanta semelhança com o budismo!); e mais, traços do misticismo, parece-me, estão por todo livro de Jó e de Isaías e no evangelho de Marcos, do qual foram suprimidos pela igreja. Por outro lado, a vida do dia-a-dia nos ensina que existem muitas coisas, a diversidade, ao passo que a experiência Zen nos convence que só existe uma, a unidade q reúne toda a diversidade.
      ‘Na experiência Zen, sem imagens, pensamentos, sem relação sujeito-objeto, sem qualquer diálogo, ‘eu’ me perco, não mais existo e Deus é tudo’ (Paulo: ‘Cristo é quem vive em mim’). 
      Cristãos convictos, educados no dualismo, relutam com todas as forças em aceitar o não-dualismo, como se isso significasse abandonar Deus. Observei isso, com freqüência, em cristãos que praticam o Zen. Esquecem-se que Paulo afirmou: ‘Já não sou eu que vivo, mas o Cristo é que vive em mim’, como também disse Jesus: ‘Eu e o Pai somos um’.   Preferem orações discursivas, o tão divulgado e repetido ‘Pai-Nosso’, e olham com suspeita aqueles q usam as vestes da cor de açafrão e os pés descalços que lembram o misticismo oriental.

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