a partir de maio 2011

sexta-feira, 15 de março de 2013

O caso Tacumã

ESTÊNIO NEGREIROS
estenionegreiros@hotmail.com
Fortaleza, CE (Brasil)

“E nos últimos tempos derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos terão sonhos, vossos jovens terão visões.” (Profecia de Joel [2:28], confirmada pelo Apóstolo Pedro [Atos 2:17]).

A Expedição Roncador-Xingu foi criada pelo Governo Federal no ano de 1943, no auge da Segunda Guerra Mundial, com o propósito de conhecer e desbravar as áreas mostradas em branco nas nossas cartas cartográficas, em face, dizem, da suposta declaração de uma alta autoridade europeia que demonstrava uma clara intenção de ocupar as áreas territoriais vazias do Brasil Central. Esse foi talvez o êmulo impulsionador da ideia de transferir a capital do País, do Rio de Janeiro para o Brasil Central.
Assim teve início a ocupação daquela imensa faixa de terras, localizada na margem oeste do rio Araguaia, entre a Serra do Roncador e o Alto do Xingu, no norte do Estado do Mato Grosso, e que era habitada por tribos indígenas que desconheciam a existência do homem branco.
Para chefiar aquela expedição foram designados os irmãos sertanistas Orlando, Cláudio e Leonardo Villas-Bôas.
Em 1945 estavam eles e os demais componentes da expedição pondo os pés na aldeia dos índios Kalapalos, como os primeiros não-índios, com a missão principal de civilizá-los sem violentar em demasia os seus costumes, sua cultura e o seu modus vivendi e de melhorar as suas condições de vida.
Não imaginavam aqueles homens que ali iriam testemunhar fatos assombrosos que extrapolavam a sua compreensão das coisas ditas sobrenaturais.
Aqueles exploradores presenciaram curandeiros indígenas produzir fenômenos inexplicáveis à luz da sua compreensão civilizada, utilizando-se da ação de seres espirituais que, segundo a tradição indígena, habitam aquelas densas florestas.
Conforme relata Pedro de Campos, em seu precioso livro, escrito sob a instrução do Espírito Erasto, “Universo Profundo – Seres Inteligentes e Luzes no Céu – Uma Visão Espírita da Ufologia”, aquele ambiente esquisito da selva amazônica é povoado por “animais estranhos e nunca vistos: macacos vermelhos com garras de onça, mãos peludas com sete dedos e unhas enormes, seres cabeçudos e de olhar penetrante, gente que respira pelos poros, aberrações animais de outra natureza – todas essas coisas são relatadas pela população ribeirinha; entretanto, naquelas regiões, essas histórias são tidas como manifestações de entidades provenientes de uma dimensão espiritual que o índio sabe muito bem qual é, mas não sabe explicá-la. O homem branco tem isso como fruto da imaginação ou elementos do folclore. Talvez seja uma humanidade espiritual cuja evolução retroceda milhares de milênios da nossa. O certo, não se sabe”.
Foi nesse ambiente incrível e exuberante que os irmãos Villas-Bôas trabalharam e viveram a maior parte de suas vidas e no qual puderam observar o comportamento indígena em face dos acontecimentos considerados sobrenaturais.
Novamente nos valemos do escritor Pedro de Campos, por meio da obra supracitada, para descrever um caso singular e intrigante, relatado por Cláudio Villas-Bôas, publicado em 1975, no jornal “Folha Espírita” e republicado na sua edição de janeiro de 2003. Eis a narração de Villas-Bôas:
“Isso aconteceu na aldeia de Kalapalos. O pai saiu para pescar levando dois filhos. A certa altura do dia ele deixou as crianças à beira da lagoa Marivarré, perto do nosso posto, na sede do Parque. Quando voltou, as crianças não estavam mais lá. Procurou-as por toda parte e depois voltou para a aldeia, pedindo ajuda. Todos auxiliaram na busca, mas foi em vão... No outro dia, um pajé dos Kalapalos disse que um Espírito, o Evurá, tinha levado as crianças. O pajé não conseguiu fazer a pajelança (¹) toda e as crianças não voltaram. Então, procuraram outros pajés de outras tribos – Kuicuru, Meinaco, Arueiti – e todos se concentraram na aldeia “Kalapalos”, mas tudo inútil. Foi aí que alguém se lembrou de Tacumã. A esse tempo ele já era chefe da aldeia, mas não respeitado como grande pajé. Estavam esperançosos porque Tacumã era filho de um pajé que se tornara famoso e talvez pudesse descobrir as crianças perdidas há cinco dias.
Tacumã veio com um grupo de pajés auxiliares, fez toda a pajelança, cantando e realizando a atração. Quando terminou, disse que as crianças iriam aparecer às dez horas do dia seguinte; que Evurá, um Espírito, as tinha levado, mas que ele conversara com Evurá e elas já estavam de volta.
Notável! Às dez horas ouviu-se um grito na mata e as crianças apareceram na orla do cerrado. Eu estava lá! Não posso duvidar porque eu e o Orlando assistimos a tudo isso.
Quando as crianças apareceram os parentes correram para pegá-las, mas Tacumã gritava:
  Não vai! Não vai, senão elas não voltam mais...
Mas os parentes correram para pegá-las e as crianças entraram de novo no mato e sumiram.
Tacumã fez outro trabalho com muita pajelança, muita fumaça com aquele cigarro de quase trinta centímetros de comprimento, imenso... Fumou um atrás do outro, entrou em transe e falou:
  Amanhã elas voltam outra vez, mas ninguém vai até lá, eu vou para pegar as crianças.
Às dez horas, ouviu-se o grito das crianças na orla do mato e elas apareceram.
Tacumã, então, com um chocalho na mão, foi cantando rumo às crianças e, auxiliado por outro pajé, levou-as pelo braço até a casa dos pais. Eram duas meninas, uma de nove, outra de seis anos”.
Conforme o autor de “Universo Profundo...”, este relato de Cláudio Villas-Bôas foi feito em 1975 à doutora Marlene Nobre, à artista plástica Sulamita Mareines e a seu filho Ivo, por ocasião de uma visita destas pessoas ao Parque Nacional do Xingu.
Teria havido, nesse ocorrido, os fenômenos de desmaterialização e rematerialização?
O Espírito Erasto, coautor da obra acima mencionada, indagado a respeito do caso enfocado, esclarece a Pedro de Campos:
“De início é preciso destacar aqui que não vos falo dos Espíritos errantes nem dos seres ultraterrestres, cujos processos distintos de materialização já vos descrevi anteriormente, mas sim dos seres humanos, Espíritos encarnados que são”.
Prossegue aquele Espírito:
“Vosso corpo não comporta desmaterialização com perda de energia vital; pereceria sem ela. Essa força vital de que vos falo, indispensável para a eclosão da vida na matéria, possibilita a ligação do corpo espiritual ao corpo de carne e é obtida com fartura durante o processo gestativo. Vós não sois seres agenésicos e sem ciclo vital, portanto, precisais daquela energia para reproduzir e viver. A desagregação da matéria a libera, fazendo-a voltar ao manancial de onde procedeu”.
“No caso Tacumã – continua Erasto – ilustrativo ao nosso propósito de esclarecimento, as crianças ribeirinhas se fizeram atraentes ao Espírito Evurá, entidade índia sem instrução nem maldade, que viu nelas os antecedentes de sua própria vida na floresta, por isso as levou da orla à mata fechada, para ali viverem como índios. Evurá tomou do ectoplasma exalado do corpo carnal das crianças, combinou-o com seus fluidos espirituais e outros encontrados na floresta, envolveu-as com esse substrato, tornando-as invisíveis, por assim dizer. Ao mesmo tempo, sempre se utilizando desses fluidos imponderáveis para vós, isolou-as da gravidade, tornando seus corpos leves, e, sem desagregação material, transportou-as para dentro da mata.
Ali as crianças viveram alguns dias, encontraram alimento e água, facilitado pela ação de Evurá. Por sua vez, o pajé Tacumã tivera ajuda do plano espiritual para conseguir reverter o caso.
Com os rituais realizados, embora o Espírito estivesse contrafeito, conforme o demonstra a desaparição das crianças quando da primeira entrega, Evurá foi esclarecido e teve de devolver as crianças ao pajé, que as levou aos pais, moradores ribeirinhos”.
A comunicabilidade entre os dois planos da vida remonta aos primórdios do homem. A ocorrência dos fenômenos ditos sobrenaturais, também. Estes – os fenômenos espíritas – estão fartamente descritos, sobretudo nas Escrituras Sagradas, bastando folhear a Bíblia para se constatar o quanto já eram frequentes as intervenções do plano espiritual na vida material da Humanidade terrena, tal qual hoje, quando se reproduzem por todos os cantos da Terra e são difundidos por todos os meios de comunicação.
Fechamos este artigo, repetindo Allan Kardec em “O Livro dos Médiuns” – item 10 – capítulo II: “Aos olhos daqueles que olham a matéria como uma única força da Natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis da matéria é maravilhoso ou sobrenatural; e, para eles, maravilhoso é sinônimo de superstição. A esse título a religião, fundada na existência de um princípio imaterial, seria um enredo de superstições; não ousam dizê-lo bem alto, mas o dizem baixinho, e creem salvar as aparências concedendo que é preciso uma religião para o povo, e para fazer com que as crianças sejam sábias; ora, de duas coisas uma: ou o princípio religioso é verdadeiro ou é falso; se é verdadeiro, ele o é para todo o mundo; se é falso, não é melhor para os ignorantes do que para as pessoas esclarecidas”.

(¹) Pajelança é uma ação cerimonial do feiticeiro amazônico para obter fórmulas terapêuticas, ditar regras de vida, definir atos que devem ser praticados e dar aconselhamentos. (Explicação do autor de “Universo Profundo...”.)

Fontes de consulta:
Livro <Universo Profundo – Seres Inteligentes e Luzes no Céu – Uma Visão Espírita da Ufologia” (Pedro de Campos por instruções do Espírito Erasto – Lúmen Editorial.)
Livro “O Espiritismo e as Igrejas Reformadas” (Jayme Andrade – Editora Seda.)
Livro “O Livro dos Médiuns” (Allan Kardec – Instituto de Difusão Espírita.)
Wikipédia (www.wikipedia.org.br)
http://www.oconsolador.com.br/ano6/303/estenio_negreiros.html

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