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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Onde começa o mundo espiritual?


O mundo material seria uma decorrência do mundo espiritual, uma condensação específica de fluidos
 •  Maroísa F. Pellegrini Baio
O mundo espiritual costuma ser designado por várias expressões: ‘o além’, ‘o mais além’, ‘além-túmulo’, ‘plano espiritual’, ‘mundo invisível’, ‘banda de lá’, ‘mundo dos mortos’, ‘o outro mundo’, ‘a outra vida’, etc. Algumas delas passam a impressão de que esse mundo se encontra longe, muito distante do mundo material.
Allan Kardec denominou o mundo espiritual como “Mundo Espírita” ou “Mundo dos Espíritos” conforme se encontra na Segunda Parte de “O Livro dos Espíritos”, reservada para tratar especificamente desse tema. Nas questões 84 a 87, Kardec designa o mundo espiritual como sendo o mundo habitado pelos Espíritos e o define como "mundo normal primitivo", aquele que surgiu primeiro, o principal na ordem das coisas. Os Benfeitores Espirituais lhe informam que o mundo espiritual “preexiste e sobrevive a tudo”.
Dessa forma, depreende-se que o mundo material seria uma decorrência do mundo espiritual, uma condensação específica de fluidos, ajustados em determinadas faixas vibratórias necessárias para o surgimento da matéria. Portanto, mesmo que o mundo material deixasse de existir, o mundo espiritual continuaria existindo, atuante.
Sobre o fato de o mundo espiritual estar entre nós, certa vez uma companheira de nossos estudos doutrinários comentou: “ou será que somos nós que estamos entre eles?”. Se o mundo espiritual surgiu primeiro e é o principal, ele é que deve ser tomado como referência: primeiro, o princípio espiritual; depois, o elemento material. Então, talvez também seja correto dizer que somos nós que estamos entre os Espíritos!
Devido à necessidade de localização no plano físico, considerando as dimensões de largura, comprimento e profundidade, a dificuldade em compreender um mundo que interpenetra e interage com o mundo material surge como um verdadeiro desafio para a imaginação. Enquanto a lagarta está presa ao casulo, não faz ideia do esplendor e da exuberância dos jardins e das florestas onde passará a viver quando se transformar em borboleta, e os jardins e as florestas sempre existiram!
A relação das criaturas com o Criador, bem como o destino da vida aqui na Terra e depois da morte, foi construída conforme o grau de evolução da humanidade. Com algumas variações ao longo dos tempos e dos povos, o destino dos seres após a morte estava determinado a um Inferno, localizado "embaixo", para os pecadores, onde sofreriam tormentos eternos; já o Céu, localizado "em cima", era o destino dos bem-aventurados, para eterna contemplação da Divindade. 
Essas concepções, que ainda prevalecem para muitos, representam talvez os principais motivos para que ainda exista tanta dificuldade em se compreender os ensinamentos dos Espíritos Superiores sobre a vida espiritual, sobre a existência dos Espíritos e a maneira como esses dois mundos, o material e o espiritual, interagem. Por isso, Kardec indaga de forma objetiva na questão 87: “Os Espíritos ocupam uma região circunscrita e determinada no espaço?” E a resposta:
“Os Espíritos estão por toda parte; povoam ao infinito os espaços infinitos. Há os que estão sem cessar ao vosso lado, observando-vos e atuando sobre vós, sem o saberdes; porque os Espíritos são uma das forças da Natureza, e os instrumentos de que Deus se serve para o cumprimento de seus desígnios providenciais; mas nem todos vão a toda parte, porque há regiões interditas aos menos avançados.”
Em “O Céu e o Inferno”, quarta obra de Allan Kardec, ele desenvolve com profundidade as questões relacionadas ao Céu (capítulo 3) e ao Inferno (capítulo 4) e à Justiça Divina. Sobre o Céu, (Cap. 3, item 4), ele afirma que:
“As ideias do homem estão sempre na razão de seus conhecimentos. Como todas as descobertas importantes, a da constituição dos mundos deve influir nessas ideias mudando-lhes o curso. Sob a influência dos novos conhecimentos as crenças tiveram de modificar-se. O céu foi deslocado, a região das estrelas, sendo sem limites, não lhe deixa mais espaço. Para onde foi ele? Diante dessa pergunta todas as religiões permanecem mudas. O Espiritismo vem resolvê-la ao demonstrar o verdadeiro destino do homem.”
E mais adiante, no mesmo Capítulo 3, item 18:
“Nesta imensidade sem limites, onde está o céu? Está por toda parte, nada o cerca nem lhe serve de limites. Os mundos felizes são as últimas estações do caminho que a ele conduz, as virtudes favorecem a caminhada e os vícios impedem o seu acesso.”
Sobre o Inferno (Cap. 4, item 4), ele comenta que “vamos encontrar nas crenças sobre o futuro uma mistura de espiritualidade e materialidade. É assim que ao lado da bem-aventurança contemplativa ele coloca um inferno de torturas físicas.(...) Não estando ainda desenvolvido o sentido que mais tarde lhe permitiria compreender o mundo espiritual, ele só podia conceber penalidades materiais. Eis porque, com algumas pequenas diferenças formais, o inferno é semelhante em todas as religiões.”
Por ocasião do sepultamento do Sr. Sanson, membro da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec pronunciou elucidativo e comovente discurso1. Em determinado trecho, ele assim se refere aos Espíritos e ao mundo espiritual:
“De sorte que se, neste momento, o véu que os esconde ao nosso olhar pudesse ser levantado, veríamos toda uma multidão circular entre nós, nos acotovelar, e no número deles ver-se-ia o Sr. Sanson, não mais impossibilitado e deitado sobre o seu leito de sofrimento, mas alerta, disposto, se transportando sem esforço de um lugar para outro, com a rapidez do pensamento, sem ser detido por nenhum obstáculo. Estas almas, ou Espíritos, constituem o mundo invisível no meio do qual vivemos, sem disso desconfiar; de sorte que os parentes e os amigos que perdemos, estão mais perto de nós, depois de sua morte, do que se, quando vivos, estivessem em país estrangeiro.”
Kardec também destacou, em seu discurso, a importância da crença na existência desse mundo invisível, bem como da sua compreensão:
“É a existência desse mundo invisível que o Espiritismo demonstra à evidência, pelos relacionamentos que é possível estabelecer com ele, e porque ali se reencontram aqueles que se conheceu; isso não é mais, então, uma vaga esperança: é uma prova patente; ora, a prova do mundo invisível é a prova da vida futura. Adquirida esta certeza, as ideias mudam completamente, porque a importância da vida terrestre diminui à medida que cresce a da vida futura.”
Se na atualidade ainda há tanta dificuldade, e até mesmo resistência, em se compreender a realidade espiritual, quanto mais nos tempos de Jesus! Dosando Seus ensinamentos de acordo com o entendimento da época, Ele não deixou de fazer referências sobre a existência desse outro mundo, onde a justiça divina se realiza. 
Certa vez, os fariseus O indagaram de que forma viria aquele Reino sobre o qual Ele falava. Jesus lhes responde que o Reino não estaria “nem aqui, nem acolá”, mas sim que “O Reino de Deus já está no meio de vós.” (Lucas 17:21). Com isso, Ele informava que esse Reino não está em um lugar determinado no mundo material. Afirmou, porém, que o Reino de Deus “já” está no meio de nós, isto é, ele já existia previamente; eram os homens que ignoravam, até então, sua existência.
Além disso, se esse Reino está no meio de nós, a construção do próprio céu ou do próprio inferno é tarefa íntima e individual. Seguindo Seus ensinamentos, mais facilmente se conquistam as bem-aventuranças na vida futura, desprezando Suas orientações, mergulha-se no inferno da consciência culpada, a qual exigirá a reparação através da dor, em existências futuras.
Os ensinamentos de Jesus, amplamente explicados e comprovados pela Doutrina Espírita, conduzem-nos à conclusão de que o mundo espiritual, obra do Criador, começa, de fato, em nós!

1. Kardec, Allan. Revista Espírita. Maio1862. São Paulo, SP. Edicel. Tradução de Júlio de Abreu Filho
http://www.oclarim.org

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