a partir de maio 2011

terça-feira, 17 de abril de 2012

POR UMA CONSCIENTIZAÇÃO ESPÍRITA


Fui criado em uma cidade do interior paulista e desde cedo freqüentei o centro espírita, participando da evangelização para crianças. Época que guardo ótimas lembranças e que hoje, me permitem refletir sobre a importância da prática pedagógica nos centros espíritas. As professoras tratavam de temas como aborto, desencarnação, encarnação, mediunidade etc com carinho e uma naturalidade que ao invés de assustar as crianças, acabavam por despertar ainda mais interesse pela doutrina ampliando nossos horizontes com pequenas estórias ilustrativas que em muito contribuíram em mim a construção da identidade espírita.

Atrelado a essa lembrança estão as reuniões sabatinas que ocorrem no porão da casa de D.Maria, uma querida amiga que há mais de quarenta anos conversa sobre as obras clássicas do espiritismo, aplica passes e oferece água fluidificada. Essas reuniões foram de suma importância para que eu me aprofundasse nos temas e com isso, pudesse cada vez mais me identificar e despertar a vontade de me desenvolver no estudo e pesquisa. Uma senhora cheia de experiências extraordinárias, D.Maria, cativa os freqüentadores de suas reuniões por dialogar de maneira coerente aos questionamentos espíritas abordados nas leituras, enriquecendo nosso aprendizado com o relato de fatos passados.

No entanto, o objetivo deste texto é problematizar a interiorização e conscientização do espiritismo perante os jovens espíritas. Discorri sobre minha iniciação na doutrina, pois acredito ser relevante espaços que dialoguem e debatam essas questões com os jovens. Isso, por sua vez, se relaciona à problemática que quero levantar: o espiritismo é uma fábula para muitos adolescentes. Isto é, não passa de uma linda estória, com enredo, com personagens bons e maus etc. Basta você conversar com alguns deles sobre esses assuntos, que podemos perceber o medo, a insegurança a imaturidade em lidar com algumas questões de mediunidade. Claro que trato de uma experiência particular que observei com colegas que freqüentavam esses círculos comigo, porém cabe ainda salientar a importância dos pais em não forçarem os filhos a freqüentarem uma religião que não lhes despertam interesse.

Mais que isso, cabe aos educadores espíritas dentro dos centros que freqüentam abrirem espaço para o diálogo e o debate e não fecharem as portas, numa postura arrogante em que somente eles podem transmitir o conhecimento espírita. Sobre isso, resta afirmar que esse conhecimento como qualquer outro é construído na coletividade, na participação, na valorização das dúvidas e opiniões alheias, para que assim, juntos, possamos evoluir.

Lembro-me muito bem de passar perto de uma das salas em que ocorriam reuniões de desobsessão e que se localizavam perto dos bebedouros de água e algum colega ter medo e querer sair logo dali. Alguns poderão afirmar: “Isso ocorre porque esses jovens não estudavam a doutrina a sério”. Pois eu respondo que pode até acontecer isso, mas ainda insisto que o problema está na falta de diálogo e debate sobre essas sessões dentro dos espaços dos centros espíritas, afim de que os mitos e inseguranças dêem lugar ao esclarecimento e ao conforto tão grandes que essa doutrina nos proporciona.

Mais uma vez, acredito ser a pedagogia espírita a chave e um dos caminhos a se seguir como prática e pesquisa, visto que a doutrina se baseia no tripé relacional Ciência-Religião-Filosofia, para que as crianças de hoje possam se tornar jovens e adultos com uma identidade espírita mais fortalecida e consciente. Os espaços que tive em casa e nas reuniões de D.Maria, muito influenciaram meus posicionamentos e visões sobre a doutrina, por isso acredito que a pedagogia à luz dos ensinamentos espíritas contando com um espaço para conversas, exibição de filmes, palestras e debates é fundamental para a conscientização daqueles que estão se iniciando.



Rafael Rossi
Mestrando em Geografia - UNESP

http://pedagogiaespirita.org.br

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