a partir de maio 2011

terça-feira, 10 de abril de 2012

LIVRO:O PRIMADO DE KARDEC:Sergio Aleixo 11

Metodologia espírita e cisma rustenista

Capítulo 17: NÃO NOS DEVEMOS CALAR

Fica-me o lamento por doutrinas destoantes da codificação kardeciana encontrarem respaldo na invigilância do movimento espírita. Mas, ao contrário do que aconteceu aos ingênuos troianos, podemos evitar que estas doutrinas mais estendam sua influência nefasta e terminem diluindo o Espiritismo no Espiritualismo.
Kardec entendia que o conflito de opiniões é “consequência inevitável do movimento que se processa”. O mestre dizia que estes embates “são mesmo necessários, para melhor fazer ressaltar a verdade”. Ao contrário da apatia de matriz chiquista, que se propaga como conduta exemplar ante as divergências e mesmo dissidências, o Codificador preconizava, sobre os conflitos de opiniões, que “é também útil que eles surjam no começo, para que as ideias falsas sejam mais rapidamente desgastadas”.
Piedoso, o mestre ainda consola os vacilantes, dizendo aos “espíritas que revelam alguns temores” que “devem ficar tranquilos”, pois “todas as pretensões isoladas cairão, pela força mesma das coisas, diante do grande e poderoso criterium do controle universal”.[1] Alguns poucos, encarnados e desencarnados, querem impor-se, no entanto, ao ensino concordante dos espíritos, e fazem ouvidos moucos às melhores recomendações kardecianas, esforçando-se em cumprir a profecia que a este respeito foi dirigida a Kardec pelo Espírito de Verdade: “As tuas melhores instruções serão desprezadas e falseadas”.[2]
O perigo está justamente em o rustenismo não ser hoje uma influência direta e pronunciada, mas preparada pelo silêncio estrategicamente estimulado por uma política igrejeira que se justifica na antimoral da hipocrisia, simulando oração e vigilância pela fraternidade quando só leva ao pecado por omissão.
Deste modo é que muitos esforços de deturpação do genuíno pensamento espírita hão obtido êxito. Sem encontrarem resistência, reproduzem, no todo ou em parte, as mesmas desorientações da “escola” de Roustaing, fomentadora do primeiro cisma no movimento espírita, cujos ecos, portanto, ainda ressoam, fruindo da vantagem de que não se sabe, na maioria das vezes, de onde eles vêm.



[1] Cf. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Introdução, II.
[2] Obras Póstumas. 12/06/1856.

Capítulo 18: O RUSTENISMO E O ESPIRITISMO LAICO

Interessante anotar que até a proposta pan-americana de um Espiritismo laico, não cristão, não religioso, encontra nalguns protoargumentos do rustenismo paridade de metas.[1]Também os partidários de Roustaing, com ares de superioridade catedrática, diziam que o Espiritismo deveria “aceitar tudo o que seja ensinado pelos métodos racionais de investigação; tudo o que seja prático e esteja maduramente estudado; tudo o que, em outras circunstâncias, tenha sido experimentado”.[2]
Como se assim não fosse... O mestre lionês deixou abertas as portas do Espiritismo ao futuro. No entanto, Kardec não tramou, com isto, a subserviência da doutrina ao academicismo materialista. Ao demais, há que respeitar o que recomendou Erasto: “Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa”.[3]
O Consolador não teria emergido a contento dos fatos espíritas caso nascesse presa das oscilações do jogo infindável de hipóteses da ciência convencional, cujos pressupostos a tornam, até hoje, “incompetente para se pronunciar sobre a questão do Espiritismo”. A ciência materialista insiste em ignorar que, a respeito das fenomenologias espíritas, “as observações não podem ser feitas da mesma maneira”, “requerem condições especiais e outra maneira de encara-lás”, e não admite que “querer sujeitá-las aos processos ordinários de investigação, seria estabelecer analogias que não existem”.[4]
Imaginem com que equilíbrio, lucidez e, sobretudo, coragem Kardec teve de proclamar tudo isto. Certamente, estava na plena posse do gênio, da criatividade e da ousadia ímpares do pioneiro que fundava o definitivo paradigma do espírito em nossa Civilização.



[1] Cf. ALEIXO. O Metro Que Melhor Mediu Kardec. Cap. 2: O Laicismo Pan-Americano e Herculano Pires. http://ometroquemelhormediukardec.blogspot.com/2010/06/capitulo-2.htmlEnsaios da Hora Extrema. O Extremo Oposto da Desfiguração do Espiritismo.http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010_09_24_archive.html.
[2] Os Quatro Evangelhos. Prefácio. FEB, 1920, p. 73.
[3] O Livro dos Médiuns, 230.
[4] KARDEC. O Livro dos Espíritos. Introdução, VII.

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