Exu é uma palavra com diferentes significados, dependendo da tradição religiosa a que estamos nos referindo. O Exu do Candomblé é diferente do exu da Umbanda, que será diferente do exu de outras correntes. Dentro do Candomblé, a palavra exu ou esú denomina um orixá que tem como característica o movimento e a comunicação. Ele é considerado um intermediário entre o mundo terreno (ayé) e o mundo dos deuses (orum).
Na língua iorubana, a palavra exu significa “esfera”. Talvez por este motivo exu seja encarado como o orixá que atua em todos os caminhos e em todas as direções, já que o círculo se expande para todas as direções espaciais. Por outro lado, as oferendas que geralmente são ofertadas a exu devem sempre ser colocadas em encruzilhadas. Aqui percebemos o simbolismo da cruz interagindo com o simbolismo do círculo. Não seria estranho dizer que as oferendas a exu representam a cruz inserida dentro do círculo, um símbolo esotérico por excelência. Não entraremos em detalhes sobre o significado desta simbologia, mas os interessados podem fazer uma pesquisa a este respeito e entender melhor do que se trata e quem sabe desvendar, ao menos em parte, seu significado oculto.
Na mitologia grega, exu seria o equivalente a Mercúrio, que também é um mensageiro dos deuses. Com o sincretismo das religiões afro-brasileiras e o catolicismo português, o exu foi associado com o diabo, mas esta ligação não é correta. Exu jamais significou o diabo ou mesmo um demônio, a não ser que citemos os demônios no sentido de daimons, ou seja, de gênios que na Grécia antiga eram considerados intermediários entre o mundo celeste e o mundo terreno (da mesma forma que o exu é considerado, como um intermediário e mensageiro).
Em decorrência de sua natureza intermediária entre o céu e a terra, o exu é visto como sendo dual, um ser cuja natureza é a bipolaridade. O exu está sempre compartilhando de duas faces de uma mesma moeda, onde reinam os opostos. Por este motivo, se diz que o exu gosta de provocar conflitos e contradições. Porém, isso ocorre por que as pessoas não conseguem enxergar sua face dual e veem apenas um dos extremos representados nele. O exu tem vários mitos, um deles fala sobre essa questão dos opostos. Certo dia, exu pintou metade de seu corpo de vermelho e a outra metade de preto e apostou com dois amigos qual deles conseguia adivinhar qual era sua cor exata. Os amigos, porém, só conseguiam enxergar um dos lados, um observava e via o preto, o outro observava e via o vermelho. Cada um falou a cor que lhe aparecia e errou. Exu ganhou a aposta e disse que “vocês não saberão como eu sou se não derem a volta ao meu redor”.
Mais uma vez vemos aqui bem representada a natureza circular do exu. Mesmo uma esfera material não pode nunca ser observada, na visão comum, em todos os seus lados ao mesmo tempo: ou vemos um lado ou o outro. Neste sentido, o exu vem trazer a ideia dos extremos que fazem parte da natureza dual do nosso mundo, com suas contradições e erros, sempre oscilando entre os contrários e criando confusões. Talvez por este motivo exu tenha sido sincretizado com o diabo católico, posto que, por sua natureza bipolar, ele leva aqueles que o visualizam ao erro de percepção. Essa é uma das características do diabo católico, confundir, ludibriar, burlar, enganar, iludir, tal como o mundo das ilusões de nossa percepção mundana fazem conosco. Neste sentido, o exu é o símbolo da ilusão do mundo, dos contrários, da confusão, dos erros perceptivos, da miragem da vida.
Além disso, representa o caos primordial, a vida em sua origem, a desorganização de tudo o que se inicia, ainda carente de um formato inteligível. Segundo a tradição iorubana, para se conseguir transpor essa dificuldade de ser ludibriado pela consciência de exu, é necessário adquirir um conhecimento transcendente, intuitivo, que enxergue além das dualidades e ilusões do mundo. Parece que o exu é o símbolo da ilusão presente em tudo que existe no mundo material, no mundo da manifestação. Observamos aqui como a sabedoria de uma tradição pode estar contida implicitamente em seus mitos, símbolos e personagens. Estes representam arquétipos que trazem, em sua bagagem simbólica, uma sabedoria que revela modelos, leis e princípios da existência.
As cores do exu são, como já revelou o mito, o preto e o vermelho. No candomblé, o exu não é uma entidade, como o é na umbanda. Na tradição umbandista, os exus são considerados espíritos de um nível mais denso, que atuam no policiamento do astral inferior. Eles fazem parte daquilo que se denomina linha de esquerda. Os exus podem incorporar em médiuns na Umbanda. Já no candomblé, os exus não incorporam em médiuns, ao menos na maioria de suas ramificações, um orixá jamais se presta a uma incorporação mediúnica. Porém, no candomblé de Angola já se pode observar que os exus, algumas vezes, incorporam nos médiuns e falam por eles.
Os médiuns e líderes das tendas umbandistas têm visões diferentes acerca da natureza do exu, muitos dizem coisas contraditórias sobre sua natureza e seu trabalho na Umbanda. Alguns afirmam serem eles bons; outros dizem que são neutros (podendo fazer o bem ou o mal); e há aqueles que dizem que são mais inclinados ao mal.
(HUGO LAPA)
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