Wellington Balbo – Bauru SP
Não é de hoje que a selvageria corre solta nos estádios de futebol. Desta vez foi em Egito, e deixou um saldo de mais de 73 mortos. Mas essas barbaridades ocorrem em todos os cantos e recantos do mundo. Há alguns anos eram os Hooligans que traziam medo e transtorno aos palcos do nobre esporte em solo europeu.
Os clubes ingleses, aliás, a partir de 1.986 ficaram proibidos de participar de ligas européias por 5 anos por conta dos vândalos britânicos. Naquele país foram adotadas medidas severas para coibir a ação dos indivíduos problemáticos. A partir do ano 2.000 institui-se a intolerância para com os maus torcedores, e estes foram sendo expulsos dos estádios podendo, inclusive, ir parar atrás das grades.
Em Itália a questão da violência nos estádios também é caso sério. Conforme artigo escrito pelo professor Vanderlei de Lima e disponível em - (http://www.organizadasbrasil.com/artigos/qual-a-eficacia-de-banir-t...) - torcedores do Brescia no ano de 1994 agrediram o jogador Giuseppe Baronchelli, acusando-o de não atuar com garra.
Ano passado recordo-me quando Rafael Moura e Fred, ambos atletas do Fluminense RJ, foram perseguidos por torcedores quando retornavam às suas casas após jantar em um restaurante carioca.
Bem o sabemos que os maus torcedores aqui em Brasil também não ficam atrás e produzem brigas, quebradeiras em metrôs, aparelhos telefônicos e, para não perder o costume, mortes, além das costumeiras perseguições aos jogadores.
Erick Dunning, um dos pesquisadores do tema “torcedores e torcidas”, afirma que medidas severas contra maus torcedores pode não dar o resultado social esperado. São necessárias obviamente, mas funcionam apenas como analgésico que livra o câncer do vandalismo apenas dos estádios. Bane-se o torcedor do estádio, porém ele, como vândalo, transfere sua baderna para outro local, ou, então, aguarda o ônibus do time para fazer balburdia em universo distante dos estádios. Veja que apenas varremos a sujeira para debaixo do tapete, mas ela ainda existe.
Como, então, superar o problema e trazer a paz não apenas aos estádios mas a todos os locais?
O Espiritismo tem a solução para o grave problema que aflige a sociedade e promove mortes, dores e desolação para quem, num dia de domingo, foi buscar entretenimento.
Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec na questão 918 tece comentário a respeito das características do Homem de Bem que transcrevemos abaixo:
“O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, amor e caridade em sua maior pureza. Se interroga sua consciência sobre os atos realizados, perguntará se não violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem que pôde, se ninguém tem nada a se queixar dele, enfim, se fez aos outros o que gostaria que os outros fizessem por ele. O homem cheio do sentimento de caridade e amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperar retorno, e sacrifica seu interesse à justiça. É bom, humano e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todos os homens, sem exceção de raças nem de crenças. Se Deus lhe deu poder e riqueza, vê essas coisas como um depósito do qual deve fazer uso para o bem. Não tira disso nenhuma vantagem, porque sabe que Deus, que os deu, pode tirá-los. Se a ordem social colocou homens sob sua dependência, trata-os com bondade e benevolência, por serem seus iguais diante de Deus; usa de sua autoridade para elevar-lhes o moral , e não para esmagá-los com seu orgulho. É indulgente para com as fraquezas dos outros, por saber que ele mesmo tem necessidade de indulgência, e se lembra dessas palavras do Cristo: “Que aquele que não tiver pecado atire a primeira pedra”. Não é vingativo. A exemplo de Jesus, perdoa as ofensas para se lembrar apenas dos benefícios, porque sabe que será perdoado como ele próprio tiver perdoado. Respeita em seus semelhantes todos os direitos que as leis da natureza lhes concedem, assim como gosta que respeitem os seus”.
Kardec traça com extrema poesia essas linhas concernentes ao Homem de Bem que, aliás, não o pode ser apenas no recinto religioso. O Homem de Bem deve sê-lo no estádio de futebol, no lar, no trabalho, enfim, em seu dia a dia.
Por isso comentamos sempre que a Doutrina Espírita é a doutrina do cotidiano e não pode ficar restrita a locais. Ela é a bússola existencial que deve guiar-nos no caminho do respeito ao semelhante e as diferenças.
Eis, portanto, que se respeitarmos o outro em suas opções já teremos dado grande passo para banirmos de nós a brutalidade que caracteriza guerras como as que aconteceram em território egípcio.
Os estádios só terão paz quando o ser humano banir o ódio de seu coração. A selvageria que vemos nos estádios é a mesma selvageria que ocorre, não raro, nos lares, no trânsito, nas ruas e nas guerras patrocinadas pelo fanatismo religioso.
Paz é sinônimo de respeito a quem torce ao time diferente, a quem pensa diferente e também a quem faz a opção sexual diferente.
Enquanto não tivermos paz no coração e juízo na cabeça existirão agressões não apenas nos estádios, mas em todos os locais onde estiver alguém que se diz "racional".
Eis, portanto, que a mensagem deixada por Kardec assume sensível importância impelindo-nos a buscar incansavelmente produzir em nós os efeitos benéficos e pacíficos do Homem de Bem, aquele Homem que jamais deixa se contaminar pelo ódio e a agressividade, seja nos estádios, seja em casa, no trânsito, nas ruas...
Pensemos nisso.
Acesse a Rádio CEAC do Centro Espírita Amor e Caridade – Bauru SP – www.radioceac.com.br
Wellington Balbo (Bauru – SP)
Wellington Balbo é professor universitário, escritor e palestrante espírita, Bacharel em Administração de Empresas e licenciado em Matemática. É autor do livro "Lições da História Humana", síntese biográfica de vultos da História, à luz do pensamento espírita, e dirigente espírita no Centro Espírita Joana D´Arc, em Bauru.
Nenhum comentário:
Postar um comentário