a partir de maio 2011

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O Desenvolvimento Científico:J. Herculano Pires


Desenvolvimento Científico
A inquietação do mundo atual, na busca de novas soluções
para os problemas humanos, abrange todos os setores de nossas
atividades e teria necessariamente de afetar o meio espírita. Mas
a nossa Doutrina não é uma realidade entranhada nas estruturas
atuais. É um arquétipo carregado de futuro, um vir-a-ser que se
projeta precisamente no que ainda não é, na rota das aspirações
em demanda. Confundi-la com as estruturas peremptas deste
momento de transição e querer sujeitá-la às normas e modelos do
que já foi, é tentar prendê-la no círculo vicioso dos abortos
culturais. O Espiritismo, rejeitado pelo mundo agora agonizante,
não é cúmplice nem herdeiro, mas vítima inocente desse mundo,
como Jesus e o Cristianismo o foram no seu tempo.
Se não tomarmos consciência dessa realidade histórica, com a
lucidez necessária, não saberemos como sair do labirinto em que
o Minotauro nos espera. O fio de Ariadne, da salvação, está
nessa tomada de consciência. Na verdade, não é o fio mitológico,
mas o fio racional das proposições doutrinárias de Kardec,
limpidamente científicas.
A prova disso ressalta aos olhos dos estudiosos e dos
pesquisadores experientes, que não se deixam levar pelo sopro
da vaidade em seus precários balões de ensaio. Porque a hora é
propícia às inovações nefelibáticas do tipo de Rabelais. Para
andar nas nuvens os nefelibáticos não precisam mais de subir ao
céu, basta-lhes tomar o elevador de um arranha-céu.
Não podemos adaptar o Espiritismo às exigências dos que
negaram e negam a existência dos espíritos, aviltando o princípio
inteligente e a razão nas correntes de Prometeu.
A Revelação Espiritual veio pelo Espírito da Verdade, mas a
Ciência Espírita (revelação humana) foi obra de Kardec. Ele
mesmo proclamou essa distinção e se entregou de corpo e alma
ao trabalho científico, sacrificial e único de elaboração da
Ciência Admirável, que Descartes percebeu por antecipação em
seus famosos sonhos premonitórios. Cientista, Pedagogo, diretor
de estudos da Universidade de França, médico e psicólogo1, ele
se serviu de sua experiência e seu saber onímodo para organizar
a Nova Ciência, que se iniciara desdobrando as dimensões
espaciais e humanas da Terra. Em meados do Século XIX, às
portas do grande avanço científico do Século XX, os cientistas
ainda não percebiam a sua total ignorância da estrutura real do
planeta, de suas várias dimensões físicas e de sua população
oculta. O peso esmagador da tradição teológica, com sua ciência
infusa escorada na Bíblia judaica, vendava os olhos da Ciência,
que tinha de andar às cegas como a própria justiça humana. Essa
Ciência trôpega e bastarda, não obstante os seus pressupostos
atrevidos, contava em seu seio com os pioneiros do futuro. À
frente desses pioneiros se colocou Kardec, dotado de uma
coragem assustadora, que lhe permitiu enfrentar com a
insolência dos gênios todas as forças culturais da época. Graças à
sua visão genial, o solitário da Rua dos Mártires conseguiu
despertar os maiores cientistas do tempo para a realidade dos
fenômenos espíritas, hoje estrategicamente chamados
paranormais. Fundou a Sociedade Parisiense de Estudos
Espíritas como entidade científica e não religiosa. Dedicou-se a
pesquisas exaustivas e fundou a Revista Espírita para divulgação
ampla e sistemática dos resultados dessas pesquisas. Sua
coragem serviu de amparo e estímulo aos cientistas que,
surpreendidos pela realidade dos fenômenos, fizeram os
primeiros rasgos na cortina de trevas que cercava as mais
imponentes instituições científicas. Foi para contestá-lo e
estigmatizá-lo como inimigo das Ciências, comparsa dos bruxos
medievais, restaurador das superstições, que cientistas como
Crookes, Schrenk-Notzing, Richet e outros resolveram atender
aos apelos angustiados das Academias e Associações científicas.
Dessa atitude corajosa resultou o escândalo das batalhas que
romperam o impasse científico, revelando que o bruxo agia com
o conhecimento e a segurança dos mais reputados cientistas. Era
impossível desmenti-lo ou derrotá-lo. Kardec rompera
definitivamente as barreiras dos pressupostos para firmar em
bases lógicas e experimentais os princípios da Ciência
Admirável dos sonhos de Descartes e das previsões de Frances
Bacon. A metodologia científica, minuciosa e mesquinha,
desdobrou-se no campo do paranormal e aprofundou-se na
pesquisa do inteligível com audácia platônica. Kardec não se
perdeu, como Wundt, Werner e Fechner, no sensível das
pesquisas epidérmicas do limiar das sensações. Percebeu logo
que os métodos não podiam ser aplicados a fenômenos
extrafísicos e estabeleceu o princípio da adequação do método ao
objeto. Quando alguns membros da Société Parisien quiseram
desviá-lo para a pesquisa biofísica das materializações, ele se
recusou fazê-lo, alegando que essa tarefa cabia aos especialistas
das ciências materiais. Os objetivos que perseguia eram
psicológicos, por isso deu à Revue Spirite o subtítulo de Jornal
de Estudos Psicológicos. Quando Zöllner, em Leipzig, realizou
suas pesquisas psicofísicas com o ectoplasma e o problema da
quarta dimensão, tornou-se evidente que o mestre estava no
caminho certo. Era preciso penetrar nos segredos da alma,
deixando para os físicos as questões materiais. Sua firmeza
metodológica denunciava o gênio de visão segura e posição
inabalável. Ele criava, como declarou, a Ciência dos Espíritos,
sua natureza, suas relações com a matéria e com os homens. Se
não foi colocado oficialmente entre os pioneiros da Ciência, foi
porque a sua posição era de rebeldia consciente e declarada
contra o materialismo científico. Afirmava em seus escritos e
palestras que os cientistas se empolgavam com o campo objetivo
dos efeitos materiais, fugindo à pesquisa das causas profundas
como o Diabo fugia da cruz. Mais tarde Richet, o fisiologista
implacável, reconheceria o rigor das suas pesquisas, a firmeza da
sua posição, sem as quais a Ciência não se libertaria da poeira da
terra. Kant lhe opunha a barreira de sua autoridade ao afirmar
que a Ciência só era possível no plano dialético. A proposição
kantiana pesa até hoje na limitação das atividades científicas.
Mas a audácia de Kardec o levou à vitória. Richet observou,
numa carta histórica a Ernesto Bozzano, o grande metapsiquista
italiano, que a posição kardeciana deste contrastava
decisivamente com as teorias que atravancam o caminho da
Ciência.
As teorias podem ser as mais brilhantes – como observou
Bozzano –, mas não podem prevalecer contra a realidade dos
fatos. E Lombroso, que combatera tenazmente a volta às
superstições, acabaria se penitenciando do seu erro nas páginas
da revista Luce e Ombra, de Milão. Os frutos da tremenda
batalha kardeciana começavam a modificar a mentalidade
científica temerosa dos absurdos teológicos. Kardec provara que
as Ciências não deviam temer os fantasmas, mas enfrentá-los e
explicá-los. Nenhuma autoridade era mais elevada, para ele, do
que a realidade dos fatos comprováveis pela experiência
científica e objetiva das pesquisas. Os cientistas mais audaciosos
aprenderam com ele a superar os condicionamentos do
formalismo acadêmico e enfrentar o mundo como ele é. Richet
reconheceria, no Tratado de Metapsíquica, que Kardec jamais
fizera uma afirmativa que não tivesse sido provada pelas
pesquisas. O criador da Ciência atual e de sua metodologia
eficiente e eficaz, queiram ou não os alérgicos ao futuro, na
expressão recente de Remy Chauvin, foi precisamente Kardec, o
homem do século XIX que revelou, numa batalha sem tréguas,
estes dois princípios fundamentais da nossa mundividência:
1) A realidade é una e indivisível, firmada na Unidade
Pitagórica que se revela na multiplicidade da Década;
2) Tudo se encadeia no Universo, sem solução de
continuidade. Os que tentam fragmentar essa unidade
orgânica estão presos às falíveis condições do sensório
humano.
No desenvolvimento atual das Ciências, muitas cabeças
gregas e troianas formularão novas, fascinantes e complexas
teorias, mas só prevalecerão as que forem sancionadas pelas
profecias fatais de Cassandra. O fatalismo, no caso, não decorre
da natureza trágica das previsões, mas da comprovação dos
fatos. A figura de Kardec continua suspensa sobre o panorama
científico atual como o orientador indispensável dos novos
caminhos do conhecimento, na rota cósmica das constelações.
Em recente congresso realizado em Moscou, provocado pelas
controvérsias sobre a descoberta do corpo bioplásmico do
homem, Kardec foi considerado como um racionalista francês do
século XIX que antecipou diversas conquistas da tecnologia
moderna. Nossos jornais noticiaram a realização desse
congresso, mas os dados a respeito foram escassos. Pesava sobre
o congresso a suspeição de atitudes que pudessem perturbar as
relações entre a Ciência Soviética e os interesses básicos da
ideologia fundamental do Estado. Na Romênia marxista a
Parapsicologia mudou de nome, passando a chamar-se
Psicotrônica, e isso com a finalidade declarada de aproximar das
ciências paranormais os materialistas mais ferrenhos ou mais
cautelosos, que não desejam ver-se envolvidos em complicações
espíritas. Todos esses fatos provam que a Ciência Admirável
elaborada pelo bruxo parisiense continua a pesar nas
preocupações e no desenvolvimento da Ciência atual, que avança
inelutavelmente sobre o esquema científico de Kardec. Este é o
fato mais significativo dos nossos dias, que os espíritas não
podem ignorar. As próprias pesquisas da Astronáutica têm
seguido – sem querer e sem saber – o esquema de Kardec na
Société Parisien. Das comunicações mediúnicas de Mozart,
Bernard Pallissy, Georges e outras entidades, na Société,
referindo-se à Lua, a Marte e Júpiter, até a remessa de homens à
Lua e sondas soviéticas e norte-americanas a Marte e Júpiter
mostram que o mapa das incursões possíveis foi decalcado, de
maneira inconsciente, mas evidente, no mapa kardeciano. Além
disso, as próprias descrições desses corpos celestes, feitas pelos
espíritos comunicantes em Paris, que Kardec considerou com
reservas, têm geralmente coincidido com os dados atuais das
pesquisas astronáuticas. No tocante à Lua há um problema
referente à sua posição na órbita em torno da Terra. Mas Kardec
acentuou, no seu tempo, com o apoio do famoso astrônomo
Flammarion, que os dados espirituais davam a única teoria
existente na época sobre o problema. O esquema kardeciano não
foi feito intencionalmente. Resultou de comunicações espirituais
espontâneas, que Kardec recebeu com reservas, acentuando que
esse fato não se enquadrava nas pesquisas da Société e eram
recebidos como curiosidades significativas, sujeitas a confrontos
futuros no processo de desenvolvimento das Ciências.
Também nessa atitude evidencia-se o critério científico de
Kardec, interessado nos casos gratuitos, mas reservando a sua
verificação real ao futuro. Aos que, na época, entusiasmados
com essa possível revelação de problemas cósmicos, diziam a
Kardec que as utopias de hoje se realizam no amanhã, Kardec
respondia que deviam esperar a transformação das utopias em
realidade para depois as aceitar. Os dados positivos, os fatos, a
realidade evidente e a lógica de clareza meridiana eram os
elementos preferenciais do seu trabalho. Suas obras nos mostram
a limpidez clássica do pensamento francês. Era o mestre por
excelência. Sua didática ressalta de toda a sua obra. Richet lhe
censurou a aparente facilidade com que aceitava a realidade dos
fenômenos mediúnicos e da vida após a morte, mas acabou
reconhecendo que ele nunca fizera uma só afirmação que não
estivesse respaldada pelas pesquisas. Não dispunha dos recursos
atuais da pesquisa tecnológica, mas tocou a verdade com a ponta
dos dedos, como Tomé. Tudo quanto afirmou no seu tempo
permanece válido até hoje. A instabilidade das hipóteses e das
teorias científicas não existiu para ele. Os cientistas atuais não
conseguiram abalar o edifício das suas conclusões. Giram ainda
hoje como borboletas noturnas em torno da sua lâmpada e
acabam queimando as asas no fogo da sua verdade mil vezes
comprovada em todo o mundo.
Esse problema da comprovação é freqüentemente levantado
pelos contraditores da doutrina e até mesmo por adeptos pouco
informados, que alegam a impossibilidade de repetição dos
fenômenos para atender às exigências do método científico. Com
esse velho chavão nas mãos, pensando haver descoberto a chave
do mistério, declaram com ênfase que a Ciência Espírita não é
ciência, mas apenas um apêndice espúrio da doutrina. Com isso
agridem a competência de Kardec e de todos os grandes
cientistas que, desde o século passado até o presente, de Crookes
a Rhine, submeteram os fenômenos às formas possíveis de
repetição. Basta a leitura das anotações de Kardec em Obras
Póstumas, o episódio do seu encontro com o fenômeno das
mesas-girantes, para se ver a falácia dessa acusação. A
impossibilidade de repetição dos fenômenos espíritas implicaria
a impossibilidade da pesquisa. Todos os anos da pesquisa
sistemática, minuciosa e exaustiva de Kardec, e os anos de
pesquisa exemplar de Crookes, Notzing, Gibier, Ochorowicz,
Aksakof, Myers, Geley e Osty, e assim por diante, são
displicentemente atirados no baú das antigüidades estúpidas. Foi
por essa e por outras que Richet escreveu o seu livro O Homem
Estúpido. A repetição de experiências é medida corriqueira em
qualquer pesquisa. Os que lançam mão dessa alegação para
negar a existência da Ciência Espírita nos dão a prova gratuita da
sua incapacidade para tratar do assunto.
Houve interrupção no desenvolvimento da Ciência Espírita,
alegam outros. Depois de Kardec ninguém mais pesquisou e os
espíritas se entregaram a rememorar os feitos do passado. Se
tivéssemos feito isso, simplesmente isso, já teríamos mantido
viva a tradição doutrinária, vigorosamente apoiada em séries
infindáveis de pesquisas mundiais, realizadas por nomes
exponenciais das Ciências. Mas a verdade é que não houve
solução de continuidade na investigação, mas simples
diversificação das experiências em várias áreas culturais,
acompanhada de renovações metodológicas. A Ciência Espírita
projetou-se em direções diversas, desdobrou-se em outras
coordenadas e deu nascimento a outras ciências. Atacada por
todos os lados, por todas as forças culturais da época, a Ciência
Espírita firmou-se nos seus princípios e multiplicou os seus
meios de comunicação. A escassez do elemento humano
interessado na busca da realidade pura não lhe permitiu a
expansão necessária. O homem terreno continua ainda apegado
aos interesses imediatistas e aos seus preconceitos, à sua vaidade
sem razão e sem sentido. São poucas as pessoas de mente aberta
e coração sensível, nesta humanidade egoísta e voraz. Esses
elementos compreensivos e abnegados nem sempre dispõem de
condições culturais suficientes para enfrentar a luta contra as
fascinações do seu próprio passado e dos insufladores de idéias
confusas e perturbadoras no meio espírita e nas áreas adjacentes.
Mas tudo isso faz parte da lenta e difícil evolução humana.
Estamos ainda nos arrancando dos instintos animais, dos
mecanismos condicionados pelos milênios do passado genésico.
O panorama atual do mundo nos dá a medida exata do nosso
atraso evolutivo. O contraste chocante entre os pesados lastros da
barbárie e as aspirações renovadoras do futuro, geralmente
desprovidos de recursos materiais para realizações concretas
urgentes, revelam a densidade do nosso carma coletivo.
A preguiça mental e a atração magnética do passado
encarceradas em si mesmas mostram-se incapazes de um gesto
de grandeza em favor de realizações urgentíssimas. Por isso a
dor explode por toda a parte, em vagalhões enfurecidos. A dor
aumentará, porque só ela pode arrancar os insensíveis de suas
tocas. As leis da evolução são implacáveis e nada as deterá
enquanto os homens não acordarem para o cumprimento dos
seus deveres morais e espirituais. A Ciência Espírita está em
nossas mãos e nos indica o roteiro a seguir. Mas nós a
envolvemos em dúvidas e debates inúteis, ao invés de nos
alistarmos em suas fileiras e de nos entregarmos generosamente
ao seu estudo, à sua divulgação e à sua prática. Homens de
recursos financeiros julgam-se agraciados por Deus para viverem
à tripa forra, esquecidos das multidões de ignorantes, muitos
deles ansiosos por elevação cultural, mas presos às grilhetas da
chamada sociedade de consumo, que na verdade está
consumindo o próprio planeta. Os privilégios sociais de uma
ordem social estabelecida pela força e não pelo amor lhes dão a
ilusão da graça divina. Desapareceram do mundo os antigos
messenas, que punham suas fortunas ao serviço da coletividade.
Preferem socorrer os pobres com suas migalhas de sopas e
assistências precárias, julgando que assim aumentam seu crédito
nos Bancos da Eternidade. Não jogam com a caridade, mas com
os cálculos de juros que não existem no Além. São os novos
vendilhões do Templo, os cambistas da caridade fácil e
supostamente rendosa. Chegarão no Além de mãos vazias e
manchadas pelas nódoas da ambição desmedida e da
insensibilidade moral. A Ciência Espírita necessita de escolas, de
Universidades, de bibliografias especializadas. Não pode contar
com os recursos comuns da simonia, em que se banqueteiam as
religiões pomposas e mentirosas. Não existe no mundo uma
única Universidade Espírita, em que a Ciência Admirável possa
manter e desenvolver os seus trabalhos de pesquisa científica. De
vez em quando, um potentado se sente tocado pela intuição de
uma entidade benévola e faz doações generosas a um médium ou
a uma instituição de assistência social. O médium, de honesto e
sensível, passa a doação para outras instituições de caridade. Os
serviços culturais continuam à míngua, sustentados apenas pelos
que dão seu tempo, sua vida e seu sangue para a sustentação da
cultura espírita. Certas instituições gastam os seus recursos em
aviltamento da Doutrina, com a produção de obras espúrias, a
serviço da mistificação. Respondem por essa situação precária da
Ciência Espírita todos os que preferem os juros bancários ao
desenvolvimento cultural.
A Ordem Divina é regida por Deus, mas a ordem humana é
dominada pelo homem, no aprendizado da vida terrena. Se não
conseguirmos despertar os homens para o urgente
desenvolvimento da Ciência Espírita, nada mais teremos do que
a cultura terrena em que vivemos, de olhos fechados para o
alvorecer dos novos tempos. Não veremos o raiar da Era
cósmica, porque teremos voluntariamente enterrado a cabeça na
areia, em pleno deserto, na hora das tempestades. E o que
faremos, então, de nossos parcos conhecimentos, de nossa
ignorância espiritual, ante a proliferação das Universidades das
subculturas materialistas?
Coloquemos ainda, se possível, de maneira mais clara e
objetiva esta situação. O Instituto Espírita de Educação, fundado
em São Paulo pelo II Congresso Estadual de Educação Espírita,
funcionou por alguns anos, tendo formado três turmas de
ginasianos, com reconhecimento oficial. Está atualmente
fechado2, lutando para a conclusão do seu edifício no Itaim.
Sofre essa interrupção altamente prejudicial por falta de
recursos. O Clube dos Jornalistas Espíritas, com seus cursos de
Espiritismo, Filosofia Espírita e Parapsicologia, depois de vinte
anos de funcionamento, teve de fechar suas portas por falta de
recursos. O Instituto de Cultura Espírita do Brasil, no Rio de
Janeiro, mantém seu funcionamento com dificuldades, em local
cedido por um Centro Espírita. Carece de recursos e só funciona
graças à abnegação de Deolindo Amorim, seu fundador.
Institutos Estaduais que surgiram por sua inspiração lutam para
subsistir. A revista Educação Espírita, única no mundo, lançada
e sustentada heroicamente pelo Editor Frederico Giannini, saiu
de circulação por falta de recursos e de interesse do próprio
professorado Espírita. Seu estoque de edições lançadas, seis
volumes, dorme o sono da inocência na Editora Cultural Espírita
- EDICEL. A Coleção Científica dessa Editora, iniciada com a
edição de obras espíritas clássicas, continua lutando com
insuperáveis dificuldades. As Faculdades Espíritas de Marília,
Franca e outras cidades lutam para sobreviver. Todas as
iniciativas culturais espíritas não conseguem desenvolver-se por
falta de apoio e de recursos financeiros. A Editora Paidéia,
organizada por três acionistas, para a divulgação cultural
Espírita, luta para se firmar, retendo várias obras por falta de
recursos para lançá-las. Os acionistas não percebem dividendos,
que revertem para o capital de giro da editora, que não tem
funcionários remunerados. A Revista Espírita, de Kardec, 12
volumes, editada pela EDICEL, vai pingando nas vendas
individuais, sem recursos para uma divulgação mais ampla e
efetiva. As tentativas de fundação do Instituto de Cultura
Espírita de São Paulo fracassaram.
Esse panorama estadual, desolador, no Estado mais rico da
Federação, reflete-se em todo o Brasil, considerado como a
nação mais espírita do mundo.
A Biblioteca Espírita, fundada por José Dias, franqueada ao
público para leituras e consultas, num andar da Rua 24 de Maio,
morreu com a morte súbita do fundador abnegado.
Quais são os motivos dessa situação calamitosa? Unicamente
a falta de compreensão e interesse dos homens de recursos que
não se sensibilizam com as iniciativas culturais espíritas. Se a
Ciência Espírita não se desenvolve entre nós, a culpa é
exclusivamente dos homens de recursos, que preferem endereçar
suas contribuições para as obras assistenciais, com os olhos
voltados para a conquista de um pedaço do céu depois da morte.
Além disso, o próprio público espírita mostra-se alheio aos
interesses superiores do desenvolvimento da cultura espírita, não
se interessando pelas publicações culturais, dando preferência
aos impressos avulsos de mensagens gratuitas para distribuição
nos Centros.
Temos assim uma situação calamitosa, em que o aspecto
cultural da Doutrina, e particularmente o seu aspecto científico,
estruturado na Ciência Espírita, com a mais brilhante tradição,
vê-se relegado, como se nada representasse nessa fase de
transição, em que todos os espíritas conscientes da importância
da Ciência Espírita deviam empenhar-se em lhe assegurar as
possibilidades de desenvolvimento. Enganam-se os que pensam
que tudo virá do Alto. O trabalho é nosso, dos homens pobres ou
ricos, de todos os que se beneficiaram com os recursos da
compreensão espírita em suas vidas passageiras. Ao invés de se
preocuparem com o progresso da Ciência Espírita, que
modificará o mundo, os espíritas se apegam às suas instituições
particulares, como os vigários às suas igrejas e sacristias,
pensando que isso lhes basta no cumprimento dos seus deveres
espirituais.
O tempo voa, as exigências de uma reformulação dos
conceitos humanos sobre a vida e a morte são simplesmente
olvidados. Temos de criar a Universidade Espírita, onde a
Ciência Espírita poderá desenvolver-se suficientemente para
termos e ampliarmos os benefícios da Cultura Espírita no
mundo. Só a Cultura Espírita efetivada nas instituições culturais
superiores poderá nos franquear os portais da Era Cósmica.

Ciência Espírita :J. Herculano Pires
e suas implicações terapêuticas

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