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A mediunidade de cura segue a ordem regular das coisas;
como afirmou Kardec, está na natureza e prova
que há um ser espiritual no homem
como afirmou Kardec, está na natureza e prova
que há um ser espiritual no homem
As enfermidades do homem têm mesmo a ver com “castigos divinos” por causa de “pecados cometidos”, conforme os teólogos? Não seria um despropósito grave, um absurdo, tamanha blasfêmia? É lícito alguém, uma vez estando doente, procurar um médium curador para livrá-lo ou para, ao menos, aliviá-lo de alguma doença?
A partir de tempos remotos, sabe-se que o homem é muito mais que um ser existente, animado. No que abonaram a crença em castigos divinos, causaram imensos sofrimentos a inúmeras pessoas. Doenças... Castigo de Deus?! Isso não passa de um ultraje, consequência de obsessões de culpa que têm causado inúmeros distúrbios de ordem psicológica.
Ora, com a última das três perguntas acima expostas, não transigiremos em responder logo de início: é tão justo se procurar um médium de cura quanto procurar um médico. Se a mediunidade de cura existe, Deus permite que ela exista; se Deus a permite, há razões sábias e magnânimas. A cura espiritual representa um dos generosos expedientes da judiciosa misericórdia divina a fim de o homem não fazer caso da sua condição de Espírito encarnado.
O Criador de tudo quanto existe nunca descurou da Sua criação aqui na Terra. A partir dos primevos períodos, acidentes e enfermidades, em todo o tempo, fizeram parte do cotidiano do nosso planeta. No jurássico, dinossauros tinham tumores ósseos; o homem do paleolítico, tuberculose da espinha; no neolítico, praticava-se a trepanação (por causa da descoberta de crânios perfurados), talvez visando à cura da epilepsia. Deus jamais deixou de prover recursos para que pudéssemos enfrentar os problemas da existência. Em nenhum tempo, a solicitude divina esteve ausente das coisas deste mundo, sobretudo do homem, Alma, ou Espírito encarnado, ainda quando em formas rudimentares, por se desenvolver.
Percepções independentes — O Espírito restrito por determinado tempo a um corpo físico perecível é, antes de tudo, um ser dotado de percepções independentes do seu formato espesso. Seu feitio sólido não passa de espelho da própria forma espiritual. O Apóstolo Paulo (I Cor., 15:40) referiu-se a “corpo terrestre” e a “corpo celestial”, dizendo que, “sem duvida, uma é a glória dos celestiais e outra a dos terrestres”.
O Ser Espiritual, atuante em seu “corpo terrestre”, isto é, no seu corpo físico, por meio dos fenômenos naturais, tem o poder de mudar a composição química de um órgão enfermo, o que a ciência se limita a dar por inexplicável. Desde que o homem surgiu no mundo, recursos de cura sempre existiram, desde o sistema de cura automática — por exemplo, um corte no dedo imediatamente começa a cicatrizar —, até a conscientização da necessidade de um equilíbrio emocional para se conseguir uma saúde perfeita. O doutor em medicina Michael Wynne Parker ressaltou que uma parcela considerável de médicos já admite que talvez 80% de todos os pacientes sofram de doenças provocadas pelo estresse emocional e por ideias irreprimíveis.
Pois bem. Para o Dr. Parker, que inclusive é protestante e também possuidor da mediunidade curadora, é inadmissível o preconceito, o ceticismo da Ciência e da Igreja a respeito dos médiuns e da cura espiritual.1 Escreveu o Dr. Parker em sua obra: Healing And The Wholeness And Man: “A afirmativa de que não é o curandeiro que cura está em absoluta contradição com o conceito da autossuficiência completa do homem” (grifo para dizer que damos preferência ao termo médium em vez de “curandeiro”, porque apresenta conotação pejorativa e revela intolerância por não distinguir a impostura da verdade).
Para o médico, ao instituírem o desenvolvimento humanista na Igreja, os teólogos acabaram chocando-se com a diferença que sabemos existir entre o princípio espiritual e o material. Entenda-se por humanismo cristão a crença do homem em sua própria e completa autossuficiência, acreditando ele apenas naquilo que experimentou, testemunhou e no que é capaz, sendo, de resto, cético em tudo. Desse jeito, o humanismo da Igreja, decorrente do Cristianismo Ocidental, tem subestimado a espiritualidade humana, através dos séculos, análogo ao materialismo ateu de especialistas em ciência.
Exclusão do aspecto filosófico-espiritual — Ao desejar levar a cabo a democracia no Ocidente, a Igreja (a Católica e a Protestante) deu exagerado valor a assuntos respeitantes à matéria, ao físico, e não ao espírito. Preocupada com o materialismo, pensando em expandir o Cristianismo com o propósito de civilizar certas regiões da Europa, dando-lhes cultura e educação, a Igreja empenhou toda a sua força na política e na sociologia. Ao participar de setores inconciliáveis com o propósito do verdadeiro vínculo da criatura ao Criador, os teólogos deram ênfase à rompedura do homem com Deus. Assim, o desenvolvimento humanista alijou o que seria uma efetiva aproximação com a Espiritualidade, excluindo a parte filosófico-espiritual, dando começo à colidente e completa autossuficiência do homem.
Até os dias de agora, permanece o reflexo dessa “mentalidade reacionária”, segundo Dr. Parker, que, em sua opinião, fez gerar os chamados movimentos carismáticos e psíquicos. Seja dito de passagem: é que os fenômenos medianímicos se verificaram no próprio âmbito sacerdotal e não tiveram como evitar. Devido à sua constância, o jeito foi encobri-los astuciosamente sob a névoa dogmática do Espírito Santo. Esse pendor da Igreja para o físico e os interesses particulares e precípuos de seus atos surgiu a partir dessa preocupação de “civilizar” a maior parte do continente europeu.
Uma vez a Igreja identificando-se sobremodo com o desenvolvimento material, desde a Reforma, deixou-se conduzir, até o presente, pelo seu Humanismo Cristão, malogrando o imprescindível concurso mediúnico. Tal o motivo de a Igreja perseguir, prender, queimar paranormais e médiuns em fogueiras, subestimando a ilimitada potencialidade mental da condição humana e suas fortíssimas consequências, que lhe incomodam e, por que não dizer, abalam a sua estrutura pragmática por ser algo livre e fora de sua dependência. Todavia, apesar do antigo ceticismo materialista da parte da Ciência e da Igreja Ocidental,2 as manifestações ocorrem e sempre continuarão a ocorrer dentro ou fora do meio acadêmico ou à margem da empresa eclesiástica e até mesmo no próprio âmbito dela.
Cientistas e teólogos não têm marchado em prol do mesmo ideal; mas uma coisa em comum há entre eles: sempre negaram as diversas manifestações mediúnico-paranormais. Especialmente, no que concerne à Igreja, ainda quede modo reservado, cauteloso, ela aceite os próprios paranormais, os seus médiuns, e cheguem a exclamar: “fora da Igreja não há verdade”, os fenômenos mediúnicos nunca lhe serão um privilégio. Nada impedirá de os Espíritos atuarem em todos os tempos em qualquer outro ambiente, por meio de qualquer um: seja jovem ou idoso, pobre ou rico, sábio ou ignorante, tenha esta ou aquela crença ou nenhuma crença tenha.
Médiuns e médicos juntos — Por exemplo, muitos hospitais funcionam (cerca de 1.500 deles), dispersos por toda a Inglaterra, onde se permite que médiuns curadores de todo tipo de crença trabalhem em conjunto com a medicina não natural. Provavelmente, só num país como este (e de maioria protestante!) se tenha um programa mais bem organizado de cura do mundo, sob apoio da respeitável Federação Nacional de Curandeiros Espirituais.3 Essa federação existe desde 1950, aceita na qualidade de membro corporativo na Associação das Nações Unidas.
Por sinal, veja só!, mestre Allan Kardec, no século 19, já escrevera:
Dissemos que a mediunidade curadora não matará a medicina nem os médicos, mas não pode deixar de modificar profundamente a ciência médica. Sem dúvida haverá sempre médiuns curadores, porque sempre os houve, e esta faculdade está na natureza, mas serão menos numerosos e menos à medida que aumentar o número de médicos-médiuns, e quando a ciência e a mediunidade se prestarem mútuo apoio, ter-se-á mais confiança nos médicos quando forem médiuns, e mais confiança nos médiuns quando forem médicos.4
Concluindo: a mediunidade de cura segue a ordem regular das coisas; como afirmou mestre Kardec, está na natureza, e prova que há um ser espiritual no homem, ao mesmo tempo em que lhe é útil. Doenças não dizem respeito a castigo divino, apesar de os teólogos terem feito crer nesse absurdo. Nosso Pai jamais desejou ver ninguém doente, e curas mediúnicas não são privilégio de quaisquer denominações religiosas nem de quaisquer seitas. E vale dizer que o pai espiritual da medicina não foi Hipócrates, das Ilhas de Cos, e sim Jesus, da cidade de Nazaré. Em nome de Deus, Jesus realizava curas sem alarde, sem aparato suntuoso e sem circunscrever esse procedimento sublime a lugares especiais (ao todo, o Médico dos Médicos realizou 26 curas individuais e 27 em grupos, afora nove curas feitas pelos Apóstolos).
É justo sim procurarmos um médium, mas um médium que não prometa supostos milagres, curas instantâneas, uma vez que, segundo palavras de meu fraterno amigo, o prof. Edvaldo Kulcheski, “não é obra de improviso, a impor-se de fora para dentro”. O médium ideal seria, portanto, aquele que é comprovadamente idôneo, discreto, caridoso.
Notas:
1 - O médico Michel Wynne Parker foi ministro da Igreja Metodista, e abandonou essa Instituição por divergências teológicas com os líderes que o perseguiam por causa dos interesses e envolvimento com curas espirituais.
2 - Quando nos referimos à Igreja Ocidental, estamos fazendo ver a distinção que há entre ela e a do Oriente, a chamada Igreja Ortodoxa, que para a ocidental é “pouco ortodoxa”, naturalmente por não ter-lhe seguido os passos humanistas cristãos, sendo voltada para os fenômenos das curas espirituais.
3 - Não podemos deixar de registrar que a Federação Nacional de Curandeiros Espirituais possui uma ética, não cobra por serviços prestados, e seus integrantes fazem o juramento hipocrático. Também, a existência da Academia Americana de Parapsicologia e Medicina dos Estados Unidos, com cerca de 1.400 membros, todos médicos, não poderia deixar de ser mencionada.
4 - KARDEC, Allan. Revista Espírita, Jornal de Estudos Psicológicos, Vol. 10, outubro de 1867, S/ed. São Paulo, Edicel — Editora Cultural Espírita Ltda., s/d, p. 304.
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