a partir de maio 2011

domingo, 4 de dezembro de 2011

O AUTOVAMPIRISMO


vampirismo é um elemento básico do desenvolvimento da vida em toda a Natureza, porque a lei da diferenciação na unidade, a que Kardec se referiu, rege a todos os processos de desenvolvimento. Tudo começa no uno, no indiferençado, para se multiplicar (sem se desligar da unidade original) nas proliferações necessárias. Os seres se desenvolvem em cadeia e se ampliam em família. Para esse desenvolvimento e essa ampliação uns se apóiam nos outros, sugando-lhes os elementos vitais numa reciprocidade constante. A Natureza é uma Unidade que se desdobra sem cessar na multiplicidade dos seus próprios elementos constitutivos. O amor é uma troca permanente, que pode gerar o ódio e com ele o vampirismo negativo das situações .criminosas. Os desequilíbrios ecológicos da atualidade revelam-nos claramente esse processo universal. A telepatia, hoje considerada não apenas em suas manifestações excepcionais, mas como meio normal e constante de intercomunicação humana subliminar, mostra-nos um aspecto sutil de vampirismo, que tanto pode ser negativo como positivo, segundo o demonstrou o Prof. John Herenwald. Vivemos num mar de pensamentos que nos afetam a todo instante. E usamos os nossos meios de seleção, de maneira instintiva, para acolher uns e repelir outros. E é precisamente no ato de selecionar, escolher e assimilar, que encontramos, ao mesmo tempo, as fontes do autovampirismo e da nossa responsabilidade individual pelo desenvolvimento e a propagação do vampirismo. E encontramos, ao mesmo tempo, a prova do nosso livre-arbítrio, no plano da razão onde ele se mostra consciente, e no plano da afetividade em que aparece compulsivo e inconsciente. Os mecanismos da introjeção, na Psicanálise, pelo qual as idéias penosas, as ocorrências e lembranças traumáticas, são escamoteadas no consciente e transformadas em complexos, dão-nos o esquema preciso desse processo. Freud remeteu essa responsabilidade à 'libido, mas Kardec, mais de meio século antes de Freud, revelou essa mecânica nas pesquisas das manifestações espíritas inconscientes. Frederic Myers, nas suas geniais explicações do mistério dos Gênios, em A Personalidade Humana, confirmou a posição de Kardec, sem a conhecer, comprovando-a por suas próprias pesquisas e as de Henry Sidgwrick e Edmond Gurne Gurney. Para esse trio de pesquisadores eminentes o Gênio é o produto de experiências anteriores, acumuladas no inconsciente (bagagem reencarnatória) que vão aflorando em novas existências por atração de novos conhecimentos adquiridos, graças à lei de associação de idéias, graças à permeabilidade da zona fronteiriça do limiar da consciência. As inspirações do gênio dormem introjetadas na consciência profunda e acordam nos reencontros com o mundo cultural. Sua adaptação a esse mundo novo o reintegra no plano das cogitações e dos trabalhos do passado, desvendando-lhe novas perspectivas na luta para a ampliação dos conhecimentos e o avanço das ciências. De Rochas provou essa hipótese experimentalmente e hoje Raikov, mesmo sem querer, a vem comprovando nas suas pesquisas sobre as recordações de vidas passadas, na Universidade de Moscou. Não laboramos por nossa conta e risco nesse campo difícil, o que seria uma temeridade, mas trabalhamos com o apoio dos grandes pesquisadores do passado recente e do presente.
Hubert e Kerchensteiner, filósofos e pedagogos, o primeiro francês e o segundo alemão, ambos pertencentes à corrente do neokantismo, lembram atualmente a necessidade de uma colocação atual do problema ontológico, homem como onto, ou seja, como ser ou espírito que se desenvolve na
37 / 59
J. HERCULANO PIRES * VAMPIRISMO
temporalidade, como quer Heidegger, em etapas sucessivas, na dialética da consciência. Sem essa tomada de posição, superando os entraves de uma sistemática científica já derrotada pelo próprio avanço científico, não poderemos chegar à solução, cada vez mais urgente, dos problemas humanos.
No vampirismo, graças à exageração das tendências negativas da vítima, podemos ver com mais clareza, como um microscópio de alta potência, o outro lado da personalidade humana, com suas nuvens negras ocultando deformidades e desequilíbrios. Conhecendo o problema das relações telepáticas e o das captações paranormais em geral, dominamos facilmente o panorama das perturbações. Temos assim os dados necessários para conseguir o restabelecimento do equilíbrio do vampirizado, submetendo-o à técnica espírita da doutrinação, que poderá estimular as suas reações, praticamente bloqueadas pela vampirização. Com a prece, o passe e as sessões de manifestações mediúnicas, dirigidas por pessoas esclarecidas e bem integradas na doutrina, o reerguimento da moral da vítima não tarda a se manifestar. Os estímulos espíritas agem com eficácia. E, ao mesmo tempo, as entidades interferentes e perturbadoras, que se ligaram à vítima atraídas pela lei de afinidades espirituais, vão sendo esclarecidas e afastadas, aliviàndo a carga da vítima. Mais do que estimulações morais, deve-se recorrer ao esclarecimento racional do problema. A criatura humana é sempre mais sensível às explicações lógicas do que às exortações puramente morais e geralmente piegas, desvalorizadas pela ação corrosiva da hipocrisia de pregadores que fazem o contrário do que ensinam. A vítima de vampirismo e os seus algozes necessitam de estímulo racional, pois a prática vampiresca se funda sempre nos processos sensoriais e afetivos. São sempre criaturas que alegam carência de amor, de afetividade, como crianças mimadas que passam pelos traumatismos do abandono. Por isso mesmo são também inconstantes, inseguras, fugindo ao tratamento sempre que possível. Geralmente, quando os obsessores começam a deixá-las, inquietam-se e sofrem recaídas perigosas, nas quais pretendem reencontrar os afastados. A viciação, seja de que tipo for, amolece a vontade humana e só com a ajuda enérgica de doutrinadores habilidosos e vigilantes, insistentes na decisão de salvá-las, poderão retê-las no tratamento necessário. Mas, por outro lado, o sentimento da dignidade humana que permanece vivo na consciência, o desejo natural de consideração e respeito na vida social e até mesmo a vaidade — que nesses casos se transforma em excelente auxiliar do reequilíbrio, são fatores favoráveis que socorrem o trabalho de recuperação.
No vampirismo endógeno (autovampirismo) temos um quadro mais ou menos semelhante, mas a inversão dos fatores desencadeantes exige estímulos mais adequados ao despertar das reações da vítima. Nesses casos, os agentes externos devem ser tratados com mais atenção e contar com a eficácia da autoridade moral a que se referiu Kardec. A condição moral dos doutrinadores é sempre importante, mas no caso do vampirismo endógeno seu papel é mais importante. Essa autoridade moral não pode, entretanto, ser medida pelas aparências. Suas medidas são de ordem consciencial. O comportamento externo de uma pessoa alegre, brincalhona, leva os moralistas carrancudos a considerá-la como leviana, o que não passa de um julgamento apressado. A autoridade moral de Kardec decorre das intenções, dos sentimentos fraternos, do senso de justiça e bondade e do sentimento de amor e respeito pelos semelhantes que a pessoa demonstra. Quando os obsessores começam a ceder, temos de tomar cuidado com as ciladas da astúcia, aumentando a nossa confiança nos espíritos protetores e na essência espiritual do homem. Com esses elementos íntimos reforçamos a nossa posição,
38 / 59
J. HERCULANO PIRES * VAMPIRISMO
ajudando a vítima em sua recuperação. Estas são apenas algumas indicações do que se tem a fazer, pois no desenvolvimento dos trabalhos os dirigentes, médiuns e doutrinadores vão se capacitando cada vez mais e adquirindo uma habilidade especial no trato dos processos vampirescos. O resultado desses trabalhos mediúnicos, quase sempre dolorosos, é o despertamento de homens e espíritos desencarnados para a necessidade e o valor de uma compreensão espiritual da vida. A doutrinação de uma entidade perturbadora contagia muitas outras despertando-as para o sentimento de amor e dignidade humana. Muitas pessoas entendem que o problema do vampirismo pertence aos Espíritos, não competindo aos homens cuidar desses casos. São criaturas comodistas, que só desejam participar de reuniões mediúnicas agradáveis, em que somente se manifestam Espíritos elevados. Esquecem-se de que vivemos num mundo inferior, onde o mal predomina, como vemos ainda agora, com as atrocidades espantosas deste século de transição. Se voltassem os olhos para o passado, veriam que a História da Humanidade é suficiente para justificar todas as formas de obsessão e vampirismo que campeiam no planeta, desde as nações mais bárbaras às mais civilizadas. Deus, que nos considera como filhos amados que amadurecem na carne para florirem no espírito, na integridade do ser, dando frutos de luz para os que sofrem nas trevas da ignorância, do crime e da ignomínia, espera de nós um pouco de boa-vontade em favor de nossos irmãos sofredores da população da Terra.
As sessões espíritas de desobsessão podem cansar e aborrecer os que só pensam em si mesmos, alegando dificuldades como as do vampirismo e do animismo, para justificarem sua preferência pelas sessões de elevada instrução espiritual. Essa é ainda uma prova do nosso egoísmo, da nossa inferioridade e falta de compreensão da realidade terrena. Não temos o direito de suspirar por sessões angélicas, pois estamos muito distantes dos planos da Angelitude, característicos dos planos superiores, dos mundos felizes. Temos ainda muito trabalho a enfrentar neste pequeno planeta que aviltamos aos invés de elevá-lo. E só pelo trabalho e a abnegação poderemos um dia merecer a nossa transferência para os mundos em que a Humanidade é realmente humana.
Basta olharmos de relance o noticiário dos jornais para vermos o que se passa em nosso mundo. Seremos tão tardos de raciocínio para não entendermos que somos os responsáveis por todas as calamidades que assolam o planeta? O vampirismo nasceu e vive das nossas entranhas e das nossas mãos. No gigantesco processo da evolução dos milhões de seres que passaram pela Terra e ainda continuam passando, ao nosso lado, o papel que exercemos foi sempre o de vampiros. Os Espíritos que não mancharam suas mãos no crime de. Caim há muito que deixaram o nosso mundo de provas e expiações.
J. HERCULANO PIRES * VAMPIRISMO

Nenhum comentário:

Postar um comentário