(José Herculano Pires – Concepção existencial de Deus)
A inteligência da Natureza contrasta chocantemente com a estupidez dos homens. O equilíbrio ecológico perfeito, medido rigorosamente na dosagem certa dos elementos que o compõem, parece a obra de uma equipe de especialistas. A estrutura de uma árvore, da raiz às franças, exigiria anos de pacientes trabalhos para ser feita. A composição do ar que respiramos, na proporção exata de quatro partes de azoto e uma de oxigênio, única medida que permite a oxigenação vital das plantas, dos animais e do homem, só poderia ser estabelecida por um químico especializado em manutenção da vida no planeta, pois bastaria um excesso de oxigênio para que toda a vida desaparecesse. As simples proporções de oxigênio e hidrogênio na composição da água, para que ela se tornasse vitalizadora e não corrosiva, seria suficiente para lembrar-nos a presença de determinações inteligentes na Criação. Tudo isso sem tratarmos da constituição muito mais complexa do corpo humano, com suas múltiplas exigências de segurança e regularidade no funcionamento orgânico, desafia os mais hábeis construtores de robôs e computadores da moderna tecnologia. A Cibernética e a Biônica esforçam-se em nossos dias para arremedar grosseiramente a perfeição dos organismos vivos. Mas apesar dessa exuberância de provas da existência de uma inteligência imanente na natureza, os homens elaboram teorias absurdas para explicar o prodígio como decorrente de fatores ocasionais ou de uma dialética dos opostos que representa em si mesma a maior exigência de um poder inteligente. Durante os últimos dois séculos milhares de cientistas têm lutado desesperadamente para afastar da humanidade ingênua a perigosa superstição da existência de Deus. Para tentar equilibrar as estruturas sociais destrambelhadas, estabelecendo a Justiça Social no mundo injusto, de saques e pilhagens sistemáticas, surgido ao acaso dos instintos de rapinagem, voracidade e arrogância, chegaram mesmo à conclusão de que a idéia de Deus devia ser apagada da mente humana.
Basta-nos olhar uma flor, ouvir o canto de um pássaro, sentir a carícia de uma brisa primaveril, para estarmos recebendo a saudação de uma inteligência prodigiosa, oculta na realidade subjacente do mundo das coisas e dos seres. Mas ao invés de perceber isso, os homens se revoltam indignados contra os que sustentam que a Natureza é obra de Deus. Por que Deus, para os expoentes da cultura materialista do século, não passa de um resíduo dos tempos de superstição. Não obstante, essa própria cultura, através das pesquisas científicas, provou, sem querer, que a matéria, seu ídolo e única verdade, só existe de fato como ilusão dos nossos sentidos. Bertrand Russell, para enfrentar a crise do materialismo sensorial, apegou-se apenas a uma tábua de salvação: “Até agora – afirmou – as leis físicas não foram mudadas e continuam válidas.” Arthur Compton, menos opiniático, declarou conformado: “Descobrimos que por trás da matéria está a energia, mas parece que há algo por trás da energia e esse algo é pensamento.” Na verdade, como Einstein ironizou: “O materialismo morreu de asfixia, por falta de matéria.” Mas apesar de alguns expoentes, dos mais graduados, do meio científico-internacional, terem a coragem de enfrentar a realidade, a maioria permanece apegada à concepção materialista com um desespero de náufragos. Por que essa teimosia, se justamente agora a pesquisa científica levanta o Véu de Ísis que a Ciência há muito vinha lutando para rasgar? Temos nesse episódio a prova do poder da inércia, do instinto de conservação. O saber adquirido se acumula e consolida, resistindo a tudo que possa modificá-lo. Inútil resistência, porque não vivemos num Universo estável, mas constituído precisamente pela instabilidade dos fluxos. Como dizia Tales de Mileto, não podemos entrar duas vezes no mesmo rio. Querer anquilosar a Ciência, organismo vibrátil, de penetração na realidade mutável, é como tentar recolhê-la a um museu. Nos fins da Idade Média e no Renascimento, cientistas e filósofos tiveram de lutar contra a imutabilidade fictícia da Igreja. Agora a Igreja se entrega à correnteza e os próprios cientistas se agarram nas raízes do barranco.
Mais do que nunca a inteligência imanente – o pensamento por trás da energia – revela-se aos nossos olhos. Ultrapassando os dados tradicionais, as pesquisas atuais nos mostram uma estrutura da realidade em que a inteligência da Criação esplende de maneira inegável. As estruturas atômicas, suas infinitas formas de conjugação, os campos de força do espaço sideral, as partículas atômicas livres formando os plasmas físicos, o outro mundo da antimatéria e tantas outras descobertas recentes ampliaram tanto o poder da inteligência imanente que não existe mais a mínima possibilidade de negá-la.
Deus se revela na Natureza, como queria Camille Flammarion. E como pretendia Ernesto Bozzano, talvez se possa explicar cientificamente a ação de Deus em termos da antiga teoria do éter espacial, hoje revivida pela luz infravermelha dos físicos soviéticos, que impregna todo o Universo, ou pelo oceano de elétrons livres de Dirac, em que o universo está mergulhado. Não se trata de Deus antropomórfico das religiões, do Velho Padre Eterno da crença popular, nem mesmo do Iavé bíblico, esse caprichoso manipulador de bonecos de barro em que soprava o hálito da vida, e nem tão pouco do Brama indiano que gerava as castas segundo a hierarquia dos membros do seu corpo humano, mas de uma Inteligência Cósmica dotada de ciência e poder, que a tudo se liga pelo seu magnetismo ou pelo seu pensamento, criando, sustentando e renovando as coisas e os seres no infinito. Não é um Deus alheio ao destino da Criação, mas ligado a ela em todas as minúcias e agindo segundo um plano em que todos os objetivos estão definidos. Sua poderosa ação não é jamais aleatória, mas teleológica, determinante, precisa. Negar isso seria negar as próprias conquistas da Ciência em nosso tempo. A verdade inegável e insofismável é que essas conquistas provaram de sobejo a existência de Deus, não mais apenas como necessidade lógica, mas como realidade sensível e verificável a todo instante.
Os sofismas levantados contra essas conseqüências do avanço científico são sempre ingênuos absurdos, portanto anticientíficos. Isso desespera os que, sem nenhuma esperança razoável, contavam com a negação total da existência de Deus pela Ciência. Estranha posição a desses fanáticos do Nada, que sabem e não podem deixar de saber que o nada não existe, não passou de uma suposição ante uma realidade plena, onde hoje não se encontra uma pequena brecha para se guardar o sonho de múmia da teoria sartreana da nadificação.
Estranha mentalidade humana, necrófila e suicida, que rejeita a sua própria imortalidade, pretendendo reduzir o homem, a essência do homem, o espírito, ao fogo-fátuo das combustões de gases nos cemitérios, num Universo em que nada se extingue, tudo se renova no fluxo evolutivo! Contra-senso dos sábios que não têm a humildade suficiente para se curvarem ante as provas contrárias às suas falsas teorias. A aceitação do conceito antropomórfico de Deus e a negação da Sua existência são igualmente anticientíficas e absurdas. O ateísmo foi uma reação ao deísmo tirânico das civilizações teocráticas da Antigüidade e ao milênio de atrocidades sagradas da Idade Média. Irmão gêmeo do Anarquismo, ligou-se a este na luta pela liberdade humana, contra os poderosos dominadores e exploradores dos povos. Tem, portanto, a sua justificação histórica e revestiu-se da nobreza das causas libertárias. Mesmo em nossos dias o ateísmo ideológico se apóia nesses fundamentos, como vemos no caso do Marxismo, das correntes de socialismo revolucionário e dos remanescentes de antigas instituições anticlericais. A posição de Sartre e Simone de Beauvoir insere-se nessa mesma linha. Mas acontece que a situação modificou-se profundamente em nosso tempo. O que se passou na área soviética basta para mostrar que a tirania não depende mais do poder divino das instituições religiosas. Além disso, o desenvolvimento cultural, apoiado em avançada tecnologia, pulverizou as razões e os argumentos aparentemente lógicos do passado. Os intelectuais dos séculos XVIII e XIX podiam vangloriar-se de avançados quando sustentavam a sua posição de ateus. Os intelectuais de hoje, pelo contrário, revelam ignorância das conquistas científicas que enriquecem a cultura do século XX e apresentam-se como remanescentes de um mundo morto. Essa é uma das contradições mais estranhas da posição existencial sartreana, alimentada por idiossincrasia que é inteiramente avessa à lucidez do pensamento filosófico.
O fato mais significativo da crise provocada pelo avanço científico no mundo marxista foi a recente descoberta do corpo bioplásmico dos seres vivos, particularmente do homem, nas pesquisas de uma equipe especializada na Universidade de Alma-Ata, na zona de pesquisas secretas do Centro Espacial da URSS, no Cazaquistão. Os cientistas puderam ver e fotografar esse corpo analisando a sua constituição atômica e constatando a sua retirada do corpo material no processo da morte. Submeteram moribundos às câmaras Kirlian de fotografia sobre campo imantado por alta freqüência elétrica. As câmaras foram conjugadas com microscópios eletrônicos de alta potência. Detectores de pulsações biológicas registraram a sobrevivência do corpo bioplásmico após a morte. O nome de corpo bioplásmico foi dado em virtude de se constatar que esse corpo luminoso, constituído de partículas atômicas livres, que formam um plasma físico, é o corpo vital do homem. O corpo material não se cadaveriza enquanto o corpo bioplásmico não se desliga dele totalmente.
O plasma físico é o quarto estado da matéria, formando torrentes de massas de partículas ionizadas. Esse corpo descoberto pelos cientistas soviéticos corresponde inteiramente, na forma, na aparência, na constituição energética e nas suas funções vitais, ao perispírito da teoria espírita que, por sua vez, confirma a tradição cristã do corpo espiritual, a que o Apóstolo Paulo alude na I Epístola aos Coríntios. Bastou a divulgação desse fato nos Estados Unidos, com repercussão mundial, para que medidas imediatas fossem tomadas pelo oficialismo soviético, desautorizando as pesquisas e sustando as informações para o exterior sobre o assunto. O oficialismo soviético percebeu o perigo que essa descoberta representava para as bases rigidamente materialistas da Filosofia do Estado. As pesquisas com as câmaras Kirlian prosseguiram nos Estados Unidos, mas ainda na fase da efluviografia. Os americanos não obtiveram informações sobre o processo de conjunção das mesmas com microscópios eletrônicos. Mas o fato auspicioso ficou registrado pelo livro Descobertas Psíquicas por trás da Cortina de Ferro, de autoria das pesquisadoras da Universidade de Prentice Hall (EUA) Scheila Ostrander e Lynn Schroeder, que antes das medidas proibitivas estiveram na URSS, verificaram o caso e entrevistaram os cientistas pesquisadores. O livro foi lançado pela editora da Universidade americana e depois pela Bentan Books, de New York, London e Toronto, entre 1970 e 1971. A Editora Cultrix, de São Paulo, lançou uma tradução para o português em 1974, de autoria de Antônio Mendes Cajado.
As pesquisas oficiais sobre o corpo bioplásmico foram realizadas por biólogos, biofísicos e parapsicólogos na famosa Universidade de Kirov. Essa Universidade fica na cidade de Alma-Ata. A equipe de pesquisadores constituía-se dos professores Iniushin, Grischenko, Vorobev, Shiski, Nadia Fedorova e Gibaduin. Em 1968 essa equipe anunciou que suas pesquisas haviam provado que todos os seres, vegetais, animais e humanos, possuem, além do corpo físico, um corpo energético formado de plasma biológico. Esta foi, sem dúvida, a maior conquista científica do século, mas a glória dos descobridores ficou soterrada no silêncio determinado pelos interesses do Estado. Ontem, o totalitarismo da Igreja sufocando a Ciência; hoje, o totalitarismo do Estado anti-religioso fazendo o mesmo. Presa por ter e por não ter cão, a Ciência avança, apesar de tudo, nos rumos certos da investigação imparcial da realidade. E a inteligência imanente revela cada vez mais a sua sabedoria sem limites. Que inteligência é essa? Dêem-lhe o nome que quiserem, mas historicamente, na tradição e no coração dos povos de todo o mundo ela se chama Deus
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