Descida ao Inferno
Posted in Simbolismo, tagged credo cristão, Enéias, Hércules, iniciação nos mistérios, Innana, mito sumério, mitologia grega, mundo infernal, mundo subterrâneo, Orfeu, Perséfone, reinos inferiores, submundo, Ulisses on 24 de janeiro de 2012| Leave a Comment »
O tema da descida aos infernos, ou ao submundo, é encontrado em muitas tradições religiosas antigas. Desde o xamanismo milenar até os mistérios grego-romanos, assim como as iniciações nas escolas de mistério europeu, como também no cristianismo, essa imagem da descida aos infernos está bastante presente.
No Cristianismo há uma referência, no credo católico, que remonta os primeiros séculos do cristianismo primitivo, afirma que Jesus “desceu ao inferno”. Há alguns anos, a igreja modificou essa parte do credo trocando o “desceu aos infernos” para “desceu a mansão dos mortos”. Mas no original, a descida ao inferno, ou ao submundo, estava presente nesta oração.
Na mitologia grega, vemos os mitos de Ulisses, Orfeu e Enéias com o tema da descida ao submundo. No mito de Orfeu, vemos o personagem principal da trama, Orfeu, que desce ao “mundo dos mortos” para buscar Eurídice, que acabara de morrer mordida por uma serpente. Ao chegar nos domínios de Hades, o deus do submundo, Orfeu o convenceu, com sua lira, a levar Eurídice de volta a vida. Na realidade, este mito possui um significado iniciático, como todos os mitos que tratam dessa descida ao reino dos mortos, ao submundo ou inferno.
A descida ao submundo representa o contato direto com nossas imperfeições e impurezas, todo nosso karma passado, ou uma parte dele, é apresentado a nós, e se torna vivo em visões, aparições, sensações, etc, como se estivesse mesmo ocorrendo. Esse é um dos significados das iniciações nos mistérios. Cada vez que um ser desce ao submundo e enfrenta a provação, ele se despoja de um ou vários aspectos impuros de seu interior, purificando-se e ascendendo em consciência.
O mito sumério de Innana mostra isso de forma bem clara. Alguns pesquisadores acreditam que o mito sumério de Innana seja a origem do mito de Perséfone. Innana era uma grande rainha, bonita e resplandecente. Certo dia, ela decide voluntariamente realizar o que se chama de “descida mística”, e se encaminha para o “grande abaixo”, o abismo, o reino do submundo, que é governado por Ereshkigal, ser sobrenatural que pode ser comparado ao Hades da mitologia grega. Esta descida se faz em sete níveis, representados pelos sete portais que dão acesso aos sete níveis de iniciação que ela deve atravessar nos reinos inferiores.
Desse modo, em cada um dos portais iniciáticos, ela tem suas vestes retiradas. Essas vestes são, simbolicamente, as camadas de consciência inferiores que devem ser descartadas até se chegar ao núcleo essencial da consciência. Da mesma forma que se descasca uma cebola, em suas várias camadas, até se chegar ao ponto mais central, a consciência também deve ser despida em seus vários níveis de imperfeição, até se chegar ao âmago mais profundo do nosso ser interno. Assim, após serem retiradas todas as suas vestimentas, Innana aparece, sem qualquer roupa, diante de todos os sete juízes que são os guardiões do submundo inferior, para que possa ser julgada por eles em seus méritos. Após esse julgamento final, ela é assassinada por Ereshkigal, o Senhor do submundo, e perde o último resquício de sua vida antiga.
Essa morte durante a descida aos infernos é outro tema mitológico de grande significado, que aparece em vários símbolos de religiões e cultos antigos. Essa morte não é uma morte física, uma morte do corpo material, mas é a morte iniciática, a morte do nosso karma, a morte da roupagem personalística, das máscaras e das camadas inferiores; o velho homem precisa morrer para que o novo homem pode nascer ou renascer. Este mito encontra paralelo com a ideia cristã da morte, descida ao inferno e da “ressurreição” no terceiro dia, tal como ocorreu com Jesus. Jesus renascido após a morte na cruz é um tema iniciático presente na origem do cristianismo e aberto para todos aqueles que consigam desvendar seu significado latente.
No mito de Innana, ela retorna a vida sendo salva por Enki, o deus da sabedoria e das águas, que a traz de volta ao mundo dos vivos, ascendendo novamente pelos sete portais, ou sete níveis e recuperando novas vestimentas. Esse processo de descida ao submundo ou inferno é por vezes chamado de “descida mística”, e seu significado se encontra também em outros mitos, conforme já aludimos, no mito de Orfeu, Perséfone, Ulisses, Enéias e também Hércules. No décimo segundo trabalho, Hércules se viu obrigado a descer ao mundo subterrâneo e encontrar Cérbero, o cão que possuía três cabeças. No trajeto até a caverna escura que dava acesso ao submundo, Hércules foi acompanhado por Hermes e Atenas (mitologia grega) ou Mercúrio e Minerva (mitologia romana) e lá foi deixado a sua própria sorte. Sua missão era trazer Cérbero de volta ao mundo, sem para isso usar armas.
Da mesma forma que a descida de Innana ao reino inferior corresponde aos sete graus da iniciação, a descida de Hércules (Roma) ou Héracles (Grécia) era a culminação da décima segunda iniciação, representada pelo décimo segundo trabalho a cumprir. Hércules atravessou a provação de doze trabalhos, representando as doze provas iniciáticas dos mistérios, e após vencer Cérbero com os braços, pôde tirá-lo do submundo. Hércules, assim como Innana, representa a alma seguindo o percurso tortuoso de seu desenvolvimento até atingir o cume da realização espiritual, representado pela última iniciação, que geralmente é anunciada com o símbolo de uma ascensão celeste.
(HUGO LAPA)
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