a partir de maio 2011

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A quem amar: pessoas ou animais?

Quando era pequeno eu, como a maioria das crianças, chupava chupeta, que eu chamava de bubú. Lembro bem que não dormia sem meu bubú, me apegei a ele de tal forma que, quando ficava velho e minha mãe comprava outro, eu chorava ao ter que jogá-lo fora. Muitas vezes eu o escondia da minha mãe, ele dormia comigo. Tinha também um paninho velho que ninguém podia tocar, era meu companheiro nas noites de chuva, de barulhos assustadores e de manchas de salitre na parede que se transformavam em monstros terríveis quando eu ir dormir. Mas eu não estava só, meu paninho e meu bubú estavam lá comigo, cuidando de mim.
Como nós temos afeto! Temos tanto amor para dar que amamos até mesmo objetos, coisas. Assim prosseguimos amando, sobretudo pessoas, só que nem sempre as pessoas nos amam como gostaríamos. Descobrimos que elas têm limites, medos, nem sempre fazem o que dizem, são ambivalentes, choram, são frágeis enfim, não são os heróis que imaginávamos e isso nos decepciona. Mas, tudo bem, na medida em que crescemos percebemos que também somos frágeis, ambivalentes e, sobretudo, falamos muito do que não fazemos na prática. Aí aprendemos que devemos amar as pessoas mesmo assim, com seus limites, afinal nós também os temos.
Mas algumas pessoas não pensam assim, ficam tão decepcionadas que se frustram violentamente e não acreditam mais nas pessoas. Passam então a não mais investir afetivamente nos seres humanos e substituem o afeto por animais de estimação que, não por ironia, estimam mais do que a muitas pessoas. Chegam até a dizer, alguns que: quanto mais conheço os homens, mais admiro os animais. Veja só!
Por que tanta mágoa? Por que esta escolha? Na verdade alguns indivíduos se fixaram numa posição infantil das relações humanas, onde as pessoas não podem falhar, errar, decepcionar. As crianças vêem os pais assim, só que amadurecem. Alguns não. Por isso preferem os animais de estimação, afinal os bichinhos não decepcionam, não discordam de você, não mudam o canal de televisão que você está assistindo, não acordam de mau humor sem dar sequer um bom dia. Não mentem, nem traem sua confiança. Não usam contra você aquele segredo que você desabafou num momento de dor. Você grita, chuta, e depois ele volta com o rabo abanando. É verdade. Os animais são mais fáceis de lidar.
Não há nada de errado em gostar de animais de estimação, afinal eles são uma gracinha. Mas, a vida. Ah! A vida! Ela é cheia de altos e baixos, por isso, tenho visto o quanto nós necessitamos uns dos outros. A maturidade exige de nós convivermos e amarmos as pessoas como elas são, e não como gostaríamos que elas fossem. Havemos de amar as pessoas e não a projeção que criamos delas. Não reclamar dos limites, mas enxergar o quanto elas foram importantes para nós, apesar dos limites, vendo na verdade o quanto elas se superaram em nome do amor que sentiam e sentem por nós.
Eu não sei se você sabe, mas chega um tempo em que os nossos limites ficam mais evidentes. Falo mesmo dos limites físicos. Nossos corpos fortes, nossas mãos céleres, dão lugar ao cansaço e nesse momento só outros seres humanos podem dos ajudar. Afinal, seu bichinho de estimação não compra remédio, não te escuta e consola, não faz um chá quente, ou lhe dá um banho, ou troca sua fralda geriátrica. Só seres humanos cuidam de seres humanos. Seres imperfeitos, mas humanos, nos quais reconhecemos nossas próprias imperfeições e limites.
Plantemos! Chegará um dia em que precisaremos colher. Nada mais triste do que ter como únicas testemunhas de nossa inexorável decadência orgânica, cachorros e gatinhos, indiferentes a nossa solidão.
Autor:
Rossandro Klinjey  é orador espírita desde 1989, é Psicólogo Clínico, tem Mestrado Saúde Coletiva, é Professor da Facisa FCM e Faculdade Boa Viagem.e participa da ONG Campina Espírita.




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