Prof. Marcus Vinícius Russo Loures
O texto que segue é, naturalmente, um exercício de investigação intuitiva, pautado na literatura espírita. Creio que lá já podemos encontrar fortes indícios de respostas a algumas questões formuladas no tema discutido.
Do ponto de vista espiritual, o bóson de Higgs tem algo de mágico? Qual sua relação com o campo de Higgs? Por que os físicos a chamam de "partícula de Deus"?
Na questão 22 do Livro dos Espíritos, os espíritos são indagados acerca da atribuição à matéria de propriedades como extensão e impenetrabilidade. Segundo os amigos espirituais, essa é uma definição condizente com nossa percepção, mas que certamente não supre por completo o que se chama de matéria. Uma matéria etérea e sutil, incapaz de causar sensações, também é matéria, mas não o consideramos assim, não pelo menos em senso comum. Mesmo o nosso perispírito, envoltório material que é especialmente preparado com fluidos da mesma atmosfera onde o espírito em questão viverá sua experiência encarnatória, é, de acordo com os espíritos, matéria, porém em um nível que a nós parece ser sutil demais para receber tal denominação.
Essa definição deve ter sido, sem dúvida, muito complexa ser compreendida quando da publicação da obra na segunda metade do século XIX. Hoje somos bombardeados por radiações eletromagnéticas de toda a natureza, sinais de rádio, celular, TV e outros nos permitem entender do que falam os espíritos. Hoje reconhecemos que o espectro eletromagnético é muito mais amplo que o que captamos com nossos cinco sentidos. Segundo os espíritos, essas radiações constituem matéria, apesar de serem intangíveis e não ocuparem espaço (atributo da extensão).
Espectro Eletromagnético conhecido
Na questão 27, quando trata da distinção entre matéria e espírito, o livro menciona a ação de um fluido, o fluido universal. Diz a questão que:
"Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.” Assumindo a tese de que é o espírito que atua sobre a matéria, o fluido atuaria como uma espécie de "massa" pelo qual o espírito poderia, sob ação de sua vontade, moldar e produzir a matéria conhecida em todas as suas formas (aqui se incluem as radiações eletromagnéticas conhecidas).
O fluido cósmico universal é, conforme veremos na sequência, o ponto de convergência entre a busca do bóson de Higgs e o que a vasta literatura espírita tem exposto desde meados do século XIX. Afinal, o que é este fluido? Qual a sua constituição? Será possível que, um dia, o detectemos e possamos manipulá-lo?
Este fluido é mencionado em outras obras importantes. Por exemplo, na Gênese, de Allan Kardec, no capítulo sobre As Leis e as Forças, afirmam os espíritos que:
"Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos. Esse fluido é o éter ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e dos seres. São-lhe inerentes as forças que presidiram às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo. Essas múltiplas forças, indefinidamente variadas segundo as combinações da matéria, localizadas segundo as massas, diversificadas em seus modos de ação, segundo as circunstâncias e os meios, são conhecidas na Terra sob os nomes de gravidade, coesão, afinidade, atração, magnetismo, eletricidade ativa. Os movimentos vibratórios do agente são conhecidos sob os nomes de som, calor, luz, etc. Em outros mundos, elas se apresentam sob outros aspectos, revelam outros caracteres desconhecidos na Terra e, na imensa amplidão dos céus, forças em número indefinido se têm desenvolvido numa escala inimaginável, cuja grandeza tão incapazes somos de avaliar, como o é o crustáceo, no fundo do oceano, para apreender a universalidade dos fenômenos terrestres. Ora, assim como só há uma substância simples, primitiva, geradora de todos os corpos, mas diversificada em suas combinações, também todas essas forças dependem de uma lei universal diversificada em seus efeitos que, pelos desígnios eternos, foi soberanamente imposta à criação, para lhe imprimir harmonia e estabilidade."
Temos aqui uma citação riquíssima em informações: os espíritos amigos nos sugerem que "gravidade, magnetismo, eletricidade" entre outras são variações do chamado fluido cósmico universal. Isso parece indicar que aquilo a que convencionamos chamar de campos em física (seja elétrico, magnético ou gravitacional) são nada mais que variações, espécie de condensações desse fluido.
Fluido Cósmico como princípio material que dá origem à matéria
Uma questão que tem intrigado estudiosos de filosofia ou mesmo das ciências naturais mais "duras" é a que trata da natureza desses campos. Se uma carga elétrica é capaz de produzir ao seu redor um ente denominado "campo elétrico", algo como uma perturbação do espaço pelo qual se manifesta sua presença, qual a constituição desse campo? Dada a dificuldade do tema, muitos epistemólogos têm optado lidar com o problema da natureza do campo pela ótica dos modelos.
Nesse sentido, campos seriam apenas modelos matemáticos que descreveriam o comportamento da natureza. Uma interpretação mais instrumentalista da realidade permitiria, inclusive, considerar que esses modelos poderiam lidar com entidades que não necessariamente existiriam na natureza, desde que conseguissem descrever com perfeição aspectos da natureza, permitindo, ao mesmo tempo, fazer previsões, pontos fundamentais para uma boa teoria física. Essa visão mais matemática do conceito de campo parece não ter guarida na visão dos espíritos, pois eles sugerem serem esses campos uma manifestação do fluido cósmico universal. Devem possuir, portanto, existência real, uma vez que a matéria é uma espécie de estado condensado desse fluido. Devemos, no entanto, perceber que tal visão estritamente matemática parece condizente com uma postura mais materialista, a qual a ciência tem assumido há pelo menos quatro séculos.
Quando o trecho anterior afirma que as múltiplas forças são variações de matéria localizadas segundo as massas, fica um ponto extremamente provocador e que permite fazer um link com o que foi exposto da física de partículas com relação ao campo de Higgs: a massa seria, nas palavras dos espíritos, algo que conferiria localização "física" a esse fluido, um produto de um processo de densificação desse mesmo fluido (claro que tomo massa aqui no sentido mais usual do termo, apesar das enormes dificuldades em se definir algo aparentemente tão elementar). Assim, poderíamos ousar em tentar afirmar o que segue: quando físicos se perguntam acerca da origem da massa dos corpos, vemos na literatura espírita a ideia de que a massa é oriunda de um substanciação do fluido cósmico universal. Talvez esse processo de substanciação envolva a troca de partículas fundamentais, os tão desejados bósons de Higgs, que seriam os responsáveis por conferir massa aos corpos. Quanto à questão de qual a origem da massa dos bósons de Higgs ou, em outros termos, de onde vem a massa que os bósons de Higgs transferem à matéria, a resposta parece-nos óbvia: vem do fluido cósmico universal.
O campo de Higgs, portanto, é um ente físico extremamente sutil, constituído de matéria elementar universal substanciada por processos ainda desconhecidos e que emite partículas mediadoras, os bósons de Higgs ou partículas de gravidade (grávitons). Devo admitir que ainda tenho dúvidas se o campo de Higgs e o fluido cósmico universal são o mesmo ente ou se o campo de Higgs já é, em algum nível, uma etapa posterior produto de alguma mudança do fluido universal.
Por fim, quanto ao título de "partículas de Deus", apesar de um forte apelo em termos de propaganda, duas análises podem ser feitas: numa primeira análise, creio que encontrar uma evidência empírica do campo de Higgs é, de algum modo, ir em direção ao encontro de uma "prova" da existência do fluido cósmico universal. Essa posição pode ser, entretanto, relativizada numa outra interpretação, que apresento como um segundo ponto de argumentação: se admitirmos que todos os campos são, de algum modo, modificações do fluido cósmico universal, encontrar o campo de Higgs é apenas completar o quebra cabeça que fecha nosso modelo de interações da matéria. Mas ainda falta lidar com o espírito. E, com o tempo, essa busca será inevitável. Em resumo, todas as partículas são de Deus, todos os serem que tentam compreender essas partículas são de Deus, todos os campos são de Deus: porque Dele emana tudo e cabe a nós, Seus Humildes servos, nos esmerarmos em compreender a extrema beleza de sua obra. Porque se toda obra tem um artífice, somente um o poderia produzir uma obra tão bela quanto o Universo e dessa conclusão, cedo ou tarde, ninguém se furtará a tomar consciência.
CONCLUSÃO
Concluo dizendo que a tão sonhada busca dos físicos pela teoria do campo unificado, que tem desembocado na postulação da conhecida Teoria das Cordas, ainda encontrará alguns entraves importantes. Primeiro, conforme veremos no próximo boletim, ainda não estamos de posse de todas as forças da natureza, pois que somente conhecemos as forças que regem a matéria, mas desconhecemos completamente as que governam o Espírito.
Por ora, o fluido cumprirá o papel de elemento unificador, pois que dá origem às forças que governam a matéria. Tudo a seu tempo: enquanto encarnados, procuramos trazer à luz do conhecimento humano algumas verdades do Cristo. Outros desencarnados virão e encontrarão a terra fértil para nova semeadura e tudo isso criará condições para que nos aprofundemos no entendimento das leis da natureza. Que Jesus continue nos abençoando!
Bibliografia
Luiz, André. Mecanismos da Mediunidade: a vida no mundo espiritual. 26ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1959.
Ferreira, Paulo Antonio. Universo dual: a estrutura da matéria segundo os espíritos. Apostila psicografada.
Guitton, Jean. Deus e a ciência. 5a impressão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992.
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 76a ed, 1995.
Denis, Leon. O problema do ser, do destino e da dor. Rio de Janeiro: FEB, 2010.
Pires, Herculano. Pesquisa sobre o amor. 1998.
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