a partir de maio 2011

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO

Luiz Carlos D. Formiga

Buscai primeiro o Reino de Deus e a Sua Justiça.
(Mateus 6: 25-34)

 
Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus. Apresentaram-lhe então algumas crianças, a fim de que Ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: “Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o Reino dos Céus é para os que se lhes assemelham.”

A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda ideia de egoísmo e de orgulho. Por isso é que Jesus toma a infância como emblema dessa pureza, do mesmo modo que a tomou como o da humildade. (1)

Na história das nações foram muitos os naufrágios políticos e, nestas horas, atores revelam sua estatura ética. Recentemente recorremos, mais uma vez, a essa figura do naufrágio para ilustrar o campo do imponderável e do imaterial. Num naufrágio, mãe e filha única se separam. As ondas afastam a filha. De repente, outra criança agarra-se à mãe. O que fazer? Salvar a criança, que tem nela a última chance de sobrevivência ou largá-la e procurar salvar a própria filha? O que você faria? (2)

O meio de estabelecimento dos valores ético-espíritas é a razão. O domínio cognitivo é estimulado a galgar degraus mais altos e complexos, quando adquirimos a capacidade de discernir o bem do mal. Na razão da capacidade de compreender o bem e o mal há aumento da responsabilidade individual. Na realidade esse discernimento aclara na medida do progresso intelectual, no entanto a opção de seguir um ou outro caminho passa pelo desenvolvimento de outro domínio - o afetivo. Assim pode-se enfatizar que “a pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade e exclui toda ideia de egoísmo e de orgulho. (3)

Valor moral é tudo o que contribui para a perfeição integral do ser e para a realização de seus fins existenciais como pessoa. Nas ciências jurídicas, pessoa é o valor-fonte de todos os valores e a pessoa é o maior investimento divino.

Entre nós, há o entendimento de que o bem é tudo o que é conforme à Lei de Deus e tudo que lhe é contrário é referido como mal. Neste nível da realidade, a infração, agressão ou desrespeito à Lei Natural faz desbloquear automaticamente o “sistema de reparação”, elaborado com base nos valores evolutivos. Nessa oportunidade é avaliada a vontade, a responsabilidade e o mérito pessoal. Pelo exposto, cabe ao indivíduo complementar o queposso, com o que devo; o que é bom fazer e que bem promover e preservar?

Na Ética Espírita uma característica peculiar é a ampliação da comunidade, uma vez que são considerados os discursos das pessoas já desencarnadas, espíritos, que participam desta construção, através da técnica da mediunidade. Assim, são considerados os argumentos trazidos de um ponto de vista diferente, advindo de um outro estilo de vida.

Como a Ética visa o bem a ser construído e não apenas ao mal que deve ser evitado, o “sistema de reparação”, implícito na legislação natural, leva em conta não apenas o mal realizado, mas também o bem que poderia ter sido realizado, mas foi negligenciado.

Nestes dias de setembro de 2014, estamos tendo a oportunidade de avaliar comportamentos éticos, que se nos apresentam através dos diversos meios de comunicação social.

Kramer escreve “Demolição de Valores”, onde faz análise crítica de comportamentos. (4)

Alguns de seus comentários apontam para o rumo pelo qual enveredou a campanha à Presidência da República. Mesmo diante das disputas, dos embates políticos, é possível preservar boas condutas éticas. No entanto, diz Kremer, que o governo decidiu mandar às favas os escrúpulos e fazer o diabo para tentar vencer as eleições. Assim, temos um cenário que não guarda a menor relação com troca de argumentos e muito menos com obediência a qualquer regra. O que se observa, diz a jornalista, é o uso de “mentiras deslavadamente mentirosas”, sem a preocupação de preservar a própria biografia ou respeitar a liturgia do cargo.

São deveres da função exercida a compostura, o comedimento e a austeridade. Não se pode fazer o uso de mentiras, nem ser porta-voz delas. A boa conduta ética não aceita “o dom de iludir”, mesmo que possamos encontrar os que queiram ser iludidos.

A jornalista afirma que estamos assistindo a uma completa e definitiva escalada de demolição de valores. E pensar que depois do período grego surgiu a Ética do Amor, com Jesus, dizendo: “Faça ao outro o que gostaria que o outro lhe fizesse”.

“Não julgueis para não serdes julgados, pois com o julgamento que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis, sereis medidos. Por que reparas no cisco do que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu?“ “Sede misericordiosos, pois com a medida com que medirdes, sereis medido também.”

Somos julgadores, cobradores, juízes dos outros. Geralmente respondemos: - “É porque não foi com você!” São os dois pesos e as duas medidas, uma para nós e outra para os outros. Mas, existe a advertência de que com a mesma medida que medirmos, seremos medidos.

Isto significa que se eu for rigoroso, severo, inflexível com os erros alheios, esse padrão de julgamento estará em mim cristalizado e, no momento do “cair em si”, é esse padrão que a minha consciência usará para me avaliar. (5)

Jesus lembra a misericórdia que Deus tem para conosco, dando-nos novas chances de recomeço, através das várias encarnações, aguardando o nosso amadurecimento para a reparação dos erros cometidos.

Para aquele que usa de misericórdia, Jesus oferece a recompensa da “boa medida”, calcada, sacudida, transbordante! Bênçãos extras, generosas. Para os hipócritas, a exigência da reforma íntima.

Refletindo com extensão e profundidade neste texto, tirando a trave do olho, enxergaremos bem melhor. Podemos ir além e veremos que, na nova condição, teremos chance de, sem julgar, “tirar o cisco do olho” do nosso companheiro de jornada. Isso se chama Caridade. (5)

No momento da prisão, Jesus é enfático em relação à Lei de Causa e Efeito. Pedro pega a espada e decepa a orelha de Malco, o servo do Sumo Sacerdote. O Mestre lhe diz: “Pedro, embainha a tua espada, pois todos os que pegam na espada, pela espada perecerão.”

Leitura adicional eventual

1. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. VIII, item 3

2. Formiga, LCD. Justiça Divina. Palestra setembro de 2014.
www.youtube.com/watch?v=x2j2QisWR2o

4. Kramer, D. Demolição de Valores. Estadão. Política.
http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,demolicao-de-valores-imp-,1561380

5. Formiga, Sonia B. Estudo do Novo Testamento à luz do Espiritismo.
UEFFBM. Reunião de 19 de setembro de 2014. “Não julgar” – Mt. 7:1-5 / Lc. 6: 37, 38; 41, 42.


Este artigo, também, está disponível para a leitura no endereço abaixo:
http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2014/09/construcao-e-demolicao.html

http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/CONSTRUCAO_E_DEMOLICAO_LCF.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário