a partir de maio 2011

domingo, 17 de agosto de 2014

QUERIA TER UM FILHO ASSIM!

Luiz Carlos D. Formiga

Imagem: http://www.nossagente.net/o-exemplo-de-zaqueu

Zaqueu era um homem que tinha posses e poder. Riqueza e poder são concedidos por Deus à criatura para experimentá-la. Na verdade a prova é escolhida pelos próprios Espíritos, após a fase de escolaridade, na fase de planejamento da nova encarnação.

Seria a riqueza uma prova mais terrível do que a miséria?

Enganou-se o que escolheu a segunda, pois na realidade tanto uma como a outra são escorregadias. As questões 814-816, de “O Livro dos Espíritos”, elucidam isso. A miséria provoca as queixas contra a Providência, a riqueza incita a todos os excessos.

Um dia chegaremos ao estágio de pureza (q. 268) e já não teremos que sofrer provas, mas estaremos sujeitos a deveres. Deveres, nada penosos, cuja satisfação auxilia o aperfeiçoamento espiritual, mesmo que consistam apenas em auxiliar os outros a se aperfeiçoarem. Deus experimenta o pobre pela resignação e o rico pelo emprego que dá a bens e poderes.

Na Terra, o homem rico e poderoso tem mais obrigações a cumprir, ambos são meios que podem gerar o bem ou o mal. Riqueza e poder fazem nascer paixões, que nos prendem à matéria e nos fazem retardar o estado de pureza. Difícil, por isso, “entrar um rico no reino dos céus”. Recordemos como Jesus chegou à casa de Zaqueu.

O Nazareno, tendo entrado em Jerico, dirigiu-se ao chefe dos publicanos, coletor de impostos, muito rico, dizendo-lhe que descesse do sicômoro (*), pois que se hospedaria em sua residência, o que Lhe rendeu críticas, porque iria alojar-se na casa de um homem de má vida.

A riqueza é prova cheia de equações complicadas, uma vez que o rico torna-se com frequência um ser egoísta, orgulhoso, e insaciável (q. 815). Com a riqueza, suas necessidades aumentam e ele nunca julga possuir o bastante para si unicamente. Mas Zaqueu era diferente. Apresentando-se diante do Senhor, contou o que fazia. “Eu dou a metade dos meus bens aos pobres; e se causei mal a alguém, no que quer que seja, eu lhe retribuirei em quádruplo.”

Chico Xavier, talento extraordinário, “não tinha onde cair morto”, no entanto, apesar de escrever livros altamente lucrativos, dos quais não admitia a sua autoria, nunca aceitou qualquer dinheiro pelas obras psicografadas, sendo tudo revertido em benefício de obras de caridade. (1) Podemos dizer o mesmo de Yvonne Pereira.

Com um dos livros de Yvonne pudemos fazer ligeiros comentários sobre a relação entre docentes-pesquisadores e alunos na universidade. Com a médium, descobrimos que poderemos fazer graduação (fase de escolaridade) e pós-graduação (julgamento pessoal e planejamento) na Universidade do Espírito. (2) Foi ela quem psicografou um grande escritor que chegou ao suicídio. Nesse romance ele relata sua história triste e realista, de fundo filosófico e moral. O leitor tomará conhecimento do que lhe aconteceu após o ato tresloucado, sua decepção e sofrimento. Na realidade foi um mergulho num novo e espantoso “inferno”. Memórias de um Suicida é obra seria e doutrinária, do Espírito Camilo Cândido Botelho.

Antes de pensar em suicídio, deveríamos procurar saber se somos, por acaso, um espírito imortal e se, realmente, estamos nos livrando do problema ou aumentando-o exponencialmente, pelo desrespeito às Leis de Deus. (3)

A mediunidade é fenômeno que deveria interessar a docentes-pesquisadores. Fenômenos inusitados (9, 9b) deveriam receber maior atenção nas universidades.

O Livro dos Médiuns diz que “Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar”. O leitor pode se interessar por um livro psicografado, de origem mediúnica católica, encontrado na WEB. Veja no final do texto, em leitura complementar, psicografias, uma indicação.

Ressurreição e Vida é outro livro psicografado por Yvonne, como contribuição às comemorações do centenário de“O Evangelho segundo o Espiritismo”, organizado por Allan Kardec. Uma observação interessante sobre esta psicografia, de Leon Tolstoi, é que foi a obra mais fácil de captar do Além-Túmulo. Logo no primeiro capítulo, o leitor perceberá que quem trabalha para Jesus não deve se preocupar com quantidades, mas com o “milagre” de remover as montanhas interiores, que insistem em nos manter longe da purificação, do Cristo interior.

O Espírito autor de Ressurreição e Vida, Leon Tolstoi, foi excomungado na Terra, mas acabou aluno pós-graduado numa Universidade Espiritual. Pasmem! Um de seus professores havia estado na presença de Jesus e seu “orientador de tese”, um apóstolo-doutor. Voltaremos ao assunto mais adiante.

Na apresentação do livro, Tolstoi diz que se apenas um leitor conseguir anestesiar dores e dirimir dúvidas, quanto ao importante assunto da imortalidade da alma humana, dar-se-á por bem recompensado das dificuldades, que precisou arredar a fim de ditá-las. Se apenas uma pessoa sentir que o seu coração nelas se inspirou para a procura dos santos ensinamentos cristãos, exultará de alegria, louvando o Senhor por Lhe haver concedido ensejo de ser útil ao seu próximo.

Antes de desencarnar, Leon Tolstoi já demonstrava um sincero desejo de ser útil. Assim, Tolstoi trouxera para a Vida do Além o desejo sincero de aprender a amar e a servir. Confessa que acreditava que nos últimos momentos de sua vida, na Terra, intuições protetoras de amigos celestes falavam-lhe de rumos novos que deveria tomar, bem diversos daqueles que a sociedade viciosa do seu tempo lhe apontara.

O Espírito escolhe as provas que queira sofrer (L. E. q. 264) de acordo com a natureza de suas faltas. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem. Outros preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas. Tolstoi nos adverte sobre os problemas das dependências encontradas na sociedade atual. Ainda na espiritualidade muitos Espíritos decidem experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em seus contatos com drogas diversas. Não saberemos qual o mais difícil de deixar, se o álcool ou o tabagismo. Estes são apenas um exemplo, porém restrito, de escravidão.

O que aconteceu com Zaqueu, depois de ter hospedado Jesus e, também, depois da crucificação?

Após a morte do corpo, na espiritualidade, urge reaprender tudo o que uma alma necessita para a reabilitação perante si mesma. Necessário fazer inventário examinando o mérito pessoal. Já não perguntaremos se somos um espírito, uma alma imortal. Sentiremos a necessidade de rogar a Deus que nos proporcione ensejos de um aprendizado que venha saciar a alma, até às suas remotas fibras, fazendo desaparecer nosso “complexo de desamor”. O que aconteceu a Zaqueu depois que Jesus foi crucificado é detalhado no livro Ressurreição e Vida.

Voltemos ao Evangelho no capítulo XVI. A Salvação dos Ricos. Nele aprendemos que não se pode servir a dois senhores. O moço rico, que ambicionava a vida eterna, sabia que era importante guardar os mandamentos: não matareis, não cometereis adultério; não furtareis; não direis falso testemunho. Honrava pai e mãe e se esforçava para amar o próximo como a si mesmo. O leitor votaria nele se fosse candidato a cargo eletivo?

Certamente não seria eleito se não tivesse desprendimento material, como Zaqueu. Para receber o voto e ganhar a vida eterna há necessidade de boa conduta ética. Surge então o desafio de dar aos pobres, à semelhança de Clara e Francisco, que tinham ordem nas paixões: a paixão pelo Jesus pobre, a paixão pelos pobres e a de um pelo outro, nesta ordem. (4)

Candidato sem votos, reprovado, tornar-se-ia triste, embora na posse de grandes bens. Cumprir-se-ia mais uma vez o ditado de que é mais fácil passar um camelo no buraco de uma agulha. Mas Zaqueu recebeu o voto de confiança, embora rico e trabalhando para o Leão, da “Receita Federal”. É duro ver os impostos pagos sem a devida correspondência, em obras de conforto para a comunidade. (5) Eleitor não gosta de pagar impostos porque percebe que existem apenas promessas de campanha. Zaqueu seria um bom nome para as próximas eleições.

Existem indicações ou maneiras diversas para entender a cabeça de eleitores, assim como, também, para entender as entrelinhas nas mensagens do Evangelho. Neste último caso é sempre necessário extrair o espírito da letra.

Confesso que senti dificuldade, no início, tentando extrair o espírito da letra de Feira de Mangaio, de Sivuca. (6)“Arreio de cangalha eu tenho pra vender, quem quer comprar? Tenho fumo de rolo, cabresto de cavalo, rabichola e pavio de candeeiro. Havia também uma vendinha no canto da rua, onde o mangaieiro ia se animar, tomar uma bicada com lambu assado. Naquela hora, lembrava que tinha ainda que xaxar o seu roçado, mas a alpargata de arrasto não o queria levar.” No link (6) há indicação de como ouvir e tentar entender o significado da letra.

Temos que contextualizar, não ficar apenas pensando na ponta do iceberg, mas mergulhar em profundidade e examinar todo volume. Teremos que, entre outros cuidados, examinar os problemas linguísticos e nos situarmos na mensagem, como dizia o Honório, Coordenador do livro Luz Imperecível, da União Espírita Mineira. (7)

Na década de 70, último quartel do século passado, hospedamos Honório de Abreu e esposa. Conhecemos o espírita de Belo Horizonte, como facilitador, num encontro na Bahia para dirigentes de mocidades espíritas, organizado pela FEB, durante a Campanha Nacional de Evangelização Infantojuvenil. Posteriormente, fez uma série de palestras no Rio de Janeiro, lecionando “como estudar o Evangelho”. O livro coordenado por ele é imperdível, como o de Lamartine Palhano Junior, “Dossiê Peixotinho”. (8) Encontramos Lamartine também em Salvador, mas já o conhecíamos, pois fora nosso aluno no Curso de pós-graduação na UFRJ.

Retornamos de Salvador dispostos a divulgar valores ético-espíritas. Veja textos sobre vacinação; suicídio e valores, no final do texto.

Zaqueu, o homem rico vitorioso, apresentava necessidades morais de estímulo para o bem e demonstrava aflitivo desejo de ser bom. Sentindo na alma um vazio, por não estar aceito e trabalhando entre os militantes da Boa Nova, havia empregado o que possuía de forma pouco convencional. Havia doado parte dos seus bens aos pobres, disponibilizou recursos para a sua família, distribuiu terras entre os camponeses e reservou, vida mais simples, apenas o necessário à própria manutenção, pelos primeiros tempos.

Posteriormente, como seus recursos escasseavam, procurou compensá-los lecionando. Como professor, ganhava o seu sustento.

Recordemos que Zaqueu já possuía alguma estatura espiritual e, elevando seu padrão vibratório, bastou subir num arbusto para poder ver Jesus. O Mestre disse que necessitava de sua hospedagem e o homem rico não pensou duas vezes. O anfitrião já havia doado a metade de seus bens e, se causasse dano a alguém, retribuiria em quádruplo.

E depois da Copa?

Zaqueu daria conta de sua administração após hospedar Jesus? O que lhe aconteceu depois do suplício na cruz? Leon Tolstoi nos diz que ele sofreu e chorou copiosamente. Frustrou-se, pois não logrou participar dos momentos sublimes da reaparição do Cristo, após o terceiro dia.

Apesar de visitar Pedro, tentou insinuar-se entre os seus discípulos em várias oportunidades, mas a sua figura insignificante nem era notada. Por outro lado, a ressurreição do amoroso Mestre também lhe havia revigorado a esperança.

Um dia foi ouvir a palavra do fariseu Saulo de Tarso, também chamado Paulo. Ouviu sobre o colóquio que este tivera com o Nazareno, à entrada de Damasco, e nunca mais o deixou. Por ele foi aconselhado e guiado na sua formulação de sua “linha de pesquisa”.

Inicialmente, o fariseu renovado lhe disse para “não se limitar à adoração inativa, que pode cristalizar-se em fanatismo”. Isto posto, passou à ação.

Quais os milagres realizados por Zaqueu?

Certamente o candidato à “Vida Eterna” realizaria seus prodígios. Curaria leprosos, levantaria paralíticos, expulsaria demônios, ressuscitaria mortos. Esses milagres ainda hoje são anunciados na mídia. No entanto, o candidato a trabalhador do Cristo não logrou realizar o que se promete, de modo fácil, na mídia. Não lhe parece estranho? Por outro lado, ainda hoje, podemos encontrar prodígios difíceis de explicar, como uma cirurgia com bisturi invisível ou com troca de válvula cardíaca defeituosa, sem hemorragia significativa. (9, 9b)

Fenômenos foram importantes, mas a legenda de agora é Kardequizar. (3, 10)

Kardequização do sentimento, raciocínio, da ciência, da filosofia, da fé, da inteligência, do estudo, do trabalho, do serviço, das relações, do progresso, da liberdade, do lar, do debate, do sexo, da personalidade, da corrigenda, da existência. São inúmeras as frentes de trabalho.

Bezerra aponta para o Cristo interno. “Kardequizarmo-nos na carteira de obrigações a que estamos transitoriamente jungidos é a fórmula ideal de ascensão.”

Zaqueu, candidato ficha-limpa, não curou leprosos, mas estancou a aflição com suas palestras em torno do Mestre. Candidato ao Reino de Deus, não levantou paralíticos, mas ergueu a coragem e a fé de corações desanimados ante a incúria pelas coisas santas. Não expulsou demônios, mas lutou e venceu o ateísmo, recuperando almas para o dever com Deus. Também, não ressuscitou um morto, mas renovou esperanças na alma de muitas mães desgostosas com a indiferença dos filhos com a prática do bem. Revigorou a decisão de muitos pecadores que temiam procurar o bom caminho, porque estavam envergonhados de se apresentarem a Deus, através da prece, a fim de se renovarem para jornadas reabilitadoras.

Na parábola do moço rico, doar tudo aos pobres talvez não fosse o mais complicado, mas seguir Jesus como fórmula de ascensão, sim. Isso demandaria ultrapassar as montanhas do egoísmo e da vaidade, eliminando o “complexo do desamor”.

Paternidade, missão bem cumprida pelos pais de Zaqueu.

Kardequizar é tornar explícita a reencarnação. Entregar um filho “Homem de Bem” (**) à sociedade já “está de bom tamanho”.

(*) Sicômoro - Ficus sycomorus L., conhecida pelos nomes comuns de sicómoro, sicômoro ou figueira-doida, é uma espécie de figueira de raízes profundas e ramos fortes que produz figos de qualidade inferior, cultivada no Médio Oriente e em partes da África há milênios. A árvore é por diversas vezes citada na Bíblia, tendo o seu nome vulgar na maioria das línguas europeias derivado do hebraico "shikmah" através do grego "sukomorea". (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficus_sycomorus)

(**) O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. XVII. Sede PerfeitosO Homem de Bem, item 3. 

Leitura complementar:

1. Talento Extraordinário:
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/TALENTO_EXTRAORDINARIO_LCF.html

2. Universidade da Alma - Cidade Universitária do Espírito:
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/UNIVERSIDADE_DA_ALMA_LCF.html;

7. Luz Imperecível, Honório Onofre de Abreu (coordenação)– UEM:
http://espiritismocomentado.blogspot.com.br/2007/11/desencarna-honrio-abreu.html;

11. “De bom tamanho”. Sobre a missão dos pais:
http://orebate-jorgehessen.blogspot.com.br/2014/02/de-bom-tamanho.html

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