a partir de maio 2011

segunda-feira, 21 de julho de 2014

FAMOSOS SOFRERAM COM PRECONCEITOS DIVERSOS

(Van Gogh, Joana D'Arc, Machado de Assis) Luiz Carlos D. Formiga

A falta de conhecimento popular sobre a hanseníase faz com que a população trabalhe com arquétipos ultrapassados ligados à lepra (*).

O estigma é algo externo, não é da pessoa, mas chega antes dela. (1, 3)

No terreno em que estamos pisando o preconceito também começa na linguagem, como na cegueira, onde é voltada para a visão. "Faca cega" é a faca que não corta. O problema é que da linguagem o preconceito se transfere para a atitude, aparecendo níveis de afastamento. Surge então o ato de evitar, a discriminação e a segregação, ferindo a fraternidade, a igualdade e a liberdade.

O medo do estigma precede a experiência real de discriminação.

Mesmo que a pessoa nunca enfrente um estigma real, o estigma internalizado pode ser muito forte e impedir uma integração satisfatória, porque as percepções pessoais ou sociais são incorretas.

O estigma é algo externo, não é da pessoa, mas chega antes dela. Um bom exemplo é o medo do contágio do estigma que expulsa negros dos espaços privativos dos brancos. Há espaços em que os negros não são desejados, nem como consumidores, nos quais operam os elementos de resistência determinados pelo estigma e isto não depende da conta bancária.

‘‘ética é uma ótica’’. A transformação dessas imagens negativas que aprisionam, que discriminam, requer um novo paradigma que subverta essa ótica perversa. "Ela cega a ética e coloca o olhar fora de foco". Essa tarefa é mais demorada do que parece.

A epilepsia, antes de ser um rápido distúrbio neurotransmissor, que atrapalha a coordenação motora e leva à perda da memória, é um estigma. A epilepsia não pega e em 90% dos casos é de fácil tratamento, então, por que o paciente é tão discriminado? Por causa da mancha anestésica social, que é a falta de informação, e do preconceito. Portadores de doenças estigmatizantes devem ser estimulados a se organizarem. Neurologistas ajudaram a fundar associações e a "Mundial de pacientes com Epilepsia"possui endereço na internet. O estigma é estressante. Arthur Ashe, que se projetou no tênis mundial, escondeu sua condição de portador do vírus da AIDS, após uma transfusão sanguínea, porque "tinha medo do estigma que é insuportável". A ponte entre Microbiologia, Imunologia e Psicologia, pode ser feita, observando-se o aumento da frequência da manifestação do herpes simples em pessoas deprimidas.

O que fazer? (2)

Comunicação Dirigida é uma Solução Possível, diz o Professor de Comunicação (*)

A sociedade contemporânea trafega por extremos: os extremos da miséria, os extremos da violência, os extremos da falta de informação, os extremos do excesso de informações. As cidades brasileiras não fogem a esse imaginário, elas são paradoxais.

É quase impossível às pesquisas atuais em ciências humanas de não passar pela discussão de certos aspectos das grandes cidades contemporâneas nas quais tudo se transforma em objeto de comunicação. Como caminhos para interpretação dessas cidades, podemos lembrar as noções de caos, simulacro, tribo, decomposição, hiper-realidade, neogrotesco operadas por inúmeros teóricos contemporâneos em todo o mundo.

Essa sociedade caótica valoriza a comunicação em todas as direções. Ao mesmo tempo, o nível de desinformação em questões básicas de saúde e educação é assustador, sobretudo nas classes sociais mais prejudicadas pelo atual sistema político-econômico.

A população brasileira, de todas as classes sociais, é alvo de inúmeras campanhas institucionais ou publicitárias que, na maioria das vezes, não alcançam seus objetivos. As classes menos favorecidas, mais do que as outras, sofrem as consequências de campanhas e projetos (de saúde, de saneamento, de nutrição, etc) que não trabalham com sua linguagem, redundando em campanhas sem efeito.

Nesse sentido, é fundamental uma maior preocupação por parte das universidades e dos centros de pesquisa em refletir sobre essa sociedade pós-midia. Sociedade na qual as informações, além de se perderem com facilidade, são veiculadas a arquétipos da antiga classe média, não atingindo, assim, ao público em geral. O público é mais do que nunca plural. O tribalismo se acentua. A crise entre as noções de público e privado progride.

É dentro desse quadro paradoxal de desinformação aliada ao excesso de propaganda que vemos a hanseníase, doença milenar, como um típico problema de "ruído" na comunicação que só tende a aumentar na nossa sociedade caótica. A falta de conhecimento popular sobre a hanseníase faz com que a população trabalhe com arquétipos ultrapassados ligados à lepra. Falta, ainda hoje uma comunicação maciça sobre o assunto. Maciça, neste caso, não significa massiva, ou de massa. Ao contrário. Como vimos, as campanhas de massa parecem surtir pouco efeito em determinadas camadas da população brasileira. É necessário, portanto, agir dentro de uma perspectiva mais dirigida.

A comunicação dirigida destina-se a públicos específicos, pré-determinados, e consequentemente, mais conhecidos pelos idealizadores das diferentes estratégias de aproximação possíveis. A utilização das técnicas de comunicação dirigida se "adequam" perfeitamente ao imaginário da hanseníase: a mudança em relação à desinformação sobre a doença só se efetuará com estratégias de comunicação criativas e continuas.

Dentro desse quadro, uma equipe de profissionais de saúde e de comunicação social necessita refletir sobre a possibilidade de incrementar, através da comunicação dirigida, o trabalho de educação realizado. Poder-se-ia estudar um projeto-piloto com dois públicos formadores de opinião: estudantes e profissionais de comunicação social e de enfermagem. Estes dois públicos, se bem informados sobre a hanseníase, podem contribuir imensamente para uma mudança no quadro social da doença nos centros urbanos e periferias.

A ação pedagógica junto a esses públicos se efetuaria através de inúmeras aproximações via folhetos; cartazes; faixas; mensagens em contracheque, contas de luz, carnês; palestras; vídeos; cursos; outdoors; telesserviços; etc.. Há inúmeras possibilidades de aproximação através da comunicação dirigida, porém, o mais importante é a ação continua e integrada.

(*) Professor Ricardo F. Freitas. Faculdade de Comunicação Social da UERJ

(1) O poder das palavras. No princípio era o verbo.
     http://www.aeradoespirito.net/ArtigosLCF/O_PODER_D_PALAV-N_PRINC_ERA_O_VERBO_LCF.html

(2) Estigma da Lepra. Campanhas ineficientes aumentam o preconceito.
     http://www.jornaldosespiritos.com/2007.3/col49.50.htm

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