a partir de maio 2011

domingo, 22 de junho de 2014

Fenômenos psicofísicos de natureza espiritual

 
NUBOR ORLANDO FACURE                                              
lfacure@uol.com.br                                            
Campinas, SP ( Brasil)

 Parte 2 e final
Os milhares de anos que nos separam do espiritualismo oriental não trouxeram maiores esclarecimentos à Ciência Médica, que não consegue identificar em seus fundamentos nenhum sinal da existência dos chacras. Mesmo assim, convém considerarmos alguma hipótese para tentarmos relacionar os chacras com a atividade cerebral.
É clássico estudarmos o cérebro em seus aspectos modulares destacando as funções motoras, sensoriais, linguagem, memória, cálculo, emoções entre tantos outros. Essas atividades são processadas por circuitos limitados a uma determinada área cerebral. Existe, porém, um outro arranjo funcional que a neurologia destaca como um conjunto de agrupamentos neurais que exercem sua ação de modo difuso, incluindo múltiplas vias neurais e suas áreas de repercussão. É o caso, por exemplo, dos sistemas de ativação ascendente que tem a propriedade de nos manter alertas ou em pleno sono.
De maneira simplificada, podemos considerar pelo menos três sistemas de atuação global, habitualmente rotulados de “sistemas modulatórios de projeção difusa”: o sistema hipotálamo-secretor, o sistema neurovegetativo e o sistema de relação com neurotransmissores, como o dopaminérgico, o serotoninérgico e o noradrenérgico, estando os três fortemente relacionados com transtornos mentais diversos. São eles que, neste artigo, queremos sugerir, como hipótese, estarem relacionados com os chacras cerebral e coronário.
Considerando os chacras que se expressam no cérebro, podemos notar sua coincidência com os “sistemas de atuação difusa”. No chacra frontal, predomina o sistema dopaminérgico responsável pela expressão do pensamento abstrato e inserção na realidade física. Doenças como a epilepsia e as demências frontais levam a uma deterioração da mente desses pacientes, que se tornam completamente dissociados do mundo físico em que vivemos. Na região do chacra coronário, vimos o significado do controle endócrino realizado pelo eixo diencéfalo-hipofisário. Essa atividade glandular orquestrada é indispensável para a manutenção do nosso metabolismo, sem o qual a vida nos seria impossível. 
A corrente sanguínea e a energia vital – É muito fácil aceitar a ideia de que nossa vida está intimamente ligada ao coração. Aristóteles afirmava que a Alma aí se localiza porque qualquer ferimento nele leva imediatamente à morte.
Nos dias de hoje, alunos do primário já aprendem que os batimentos do coração impulsionam o sangue pelas artérias, o qual depois se difunde pelos capilares e retorna pelas veias. Nesse retorno, o sangue passa pelos pulmões, de onde retira o oxigênio que a respiração fornece. Temos cerca de seis litros de sangue circulando pelo nosso corpo e mais ou menos vinte por cento dele vai para o cérebro. Enquanto entra pelas artérias e sai pelas veias, o sangue circula dentro do cérebro em exatos seis segundos.
Assim que ocorre a morte, as artérias do cadáver estão vazias, já que a última batida impulsiona todo o sangue para as veias. Essa observação levou Galeno a sugerir que as artérias estariam sempre cheias de ar. Ele propunha, também, que circula junto com o sangue um elemento imaterial que denominou pneuma vital. Esse fluido nasce no coração, distribui-se pelo corpo e se transforma no pneuma animal ao atingir o cérebro, permitindo-nos perceber o mundo pelos sentidos e reagir com os nossos movimentos aos seus estímulos. A ideia de um “espírito animal” produzindo nossos reflexos foi também adotada por René Descartes e por Thomas Willians, tendo aceitação médica por muitos séculos. Para Willians, os corpúsculos do “espírito animal” percorreriam os nervos para pôr em ação os nossos movimentos.
Nos dias de hoje, sabemos da importância da circulação sanguínea distribuindo por todo organismo não só o oxigênio que nos sustenta a vida, mas um número insuspeitável de substâncias ligadas à manutenção do metabolismo celular e de todo o sistema imunológico.
André Luiz nos traz conhecimentos novos nessa área também. Diz o conhecido Espírito que junto com a circulação sanguínea circula o “princípio vital” indispensável à sustentação da vida. Ensina Kardec que é o princípio vital que dá vida à matéria orgânica. Cada um de nós o tem disponível enquanto encarnados, consumindo nossa cota com o decorrer dos anos. Ele procede do “fluido cósmico universal” que nos abastece conforme nossas atitudes nos compromissos da vida. A meditação, a prece e o impulso que nos predispõe a amar ao próximo fornecem a substância e a renovação do princípio vital. Ele nos penetra pela respiração, o que nos faz lembrar um dos mais belos versos da Bíblia – E Deus fez o Homem do barro da Terra e soprou em suas narinas o sopro da vida.
Anaxágoras considerava que o ar era a substância primitiva de onde procede tudo que existe. A relação do ar com a vida sempre foi aceita em muitas culturas. Nos livros de Galeno, as expressões espíritos e pneumas (ar) são equivalentes.
Aprendemos com André Luiz que o princípio vital é absorvido pela respiração e percorre todo o organismo acompanhando a circulação do sangue. 
A glândula pineal e sua fisiologia espiritual – Essa glândula, situada no meio do cérebro, já é conhecida há mais de dois mil anos e, mesmo assim, o que sabemos sobre ela é tão pouco que, nos tratados clássicos da neurologia, ela ainda não despertou interesse para merecer mais que citações curtas de algumas linhas sobre o hormônio que ela secreta   – a melatonina.
A pineal é o relógio biológico que sinaliza um dos momentos mais importantes da vida, o despontar da sexualidade. Por ocasião da adolescência a pineal reduz a produção da melatonina, ocorrendo, a partir daí, o desenvolvimento dos órgãos externos ligados à atividade sexual.
Até hoje é possível perceber, em determinados animais, que a pineal pode se comportar funcionalmente como um terceiro olho. Nesses animais a pineal está situada acima do crânio, funcionando ao modo de um periscópio que exerce um papel de vigilância para o animal. Não se deve estranhar, portanto, a forte sensibilidade que a nossa pineal tem para com a luz. A entrada da luz, que atinge a pineal pelas fibras nervosas que nosso nervo óptico conduz, reduz a produção de melatonina. No ambiente escuro, aumenta acentuadamente a produção do hormônio. Todos sabemos que os ursos hibernam em cavernas durante meses de escuridão e, nessa ocasião, o aumento da melatonina produz o entorpecimento do seu interesse sexual, que depois volta a se revelar no alvorecer da primavera.
O hormônio da pineal tem ligação direta com o depósito de melanina na nossa pele. Ele tem um efeito clareador diminuindo a pigmentação da pele. Isso justifica, por exemplo, a cor esbranquiçada dos bagres que vivem nas profundezas de águas escuras.
A melatonina tem sido utilizada como tranquilizante produzindo relaxamento e sonolência. Foi experimentada também no tratamento de dores de cabeça e de epilepsia, mas em todos esses quadros o efeito da melatonina é muito pobre.
André Luiz, por meio de Chico Xavier, trouxe-nos informações inéditas e surpreendentes sobre o papel da pineal quando observada a partir do plano espiritual.
Sensível às irradiações eletromagnéticas, nossa pineal é sintonizador dos fenômenos de comunicação mental, mantendo-nos em permanente ligação com todos aqueles que compartilham conosco a mesma faixa de vibração.
Nos processos mediúnicos, a aproximação espiritual se vale da pineal para difundir sua mensagem até as diversas áreas cerebrais que ressoam sua transmissão.
Nas encarnações, que a misericórdia divina nos permitiu transitar pela Terra, nos enredamos em situações onde tivemos oportunidade de cultivar relações afetivas profundas, ao mesmo tempo em que fomentamos rivalidades e discórdias das mais variadas consequências. Como a Lei divina não exclui ninguém dos reajustes necessários, será através da pineal que iremos encontrar, mais cedo ou mais tarde, aqueles mesmos amores sinceros que nos incentivarão a progredir e os inimigos do passado que nos exigirão saldar as dívidas e os compromissos.
Entretanto, por mais que a anatomia cerebral possa nos revelar, não reconhecemos nas vias que emergem da pineal qualquer indicação dessa extraordinária participação da glândula em nossa vida mental. Como explicar, em vista disso, o que nos esclarece André Luiz? Pressuponho que será necessário conhecermos qual é o mecanismo de atuação do Espírito sobre o cérebro. Daí, nosso propósito de reunirmos esse conjunto de fenômenos que sugerimos tratar-se de fenômenos “espírito-somáticos”.
No quadro dessa notória “fisiologia espiritual” a que André Luiz dá destaque, creio que a chave para sua compreensão está na participação do chamado “fluido universal”, tão conhecido no meio espírita.
Ensinam os Espíritos que elaboraram a doutrina com Allan Kardec que os fluidos servem de veículos para a transmissão do pensamento. Derivado do fluido cósmico universal, ele inunda o Universo, envolvendo-nos e permitindo-nos compartilhar do “Hálito Divino” que nos alimenta.
Na vida física, atuamos pelas vias nervosas que nos estruturam os neurônios, suas imensas redes de comunicação e sua extraordinária química que sintetiza e conjuga os neurotransmissores. Na dimensão espiritual estaremos usando esse elemento sutil, fluídico, que obedece à vontade que a mente direciona, permitindo-nos criar, através da fisiologia espiritual, uma dispersão muito mais ampla nos seus efeitos fisiológicos.
Quando Louis Pasteur descortinou o imenso campo da microbiologia, esse conhecimento novo nos permitiu esclarecer a dinâmica da etiologia das doenças infecciosas. A descoberta do DNA abriu novas áreas para esclarecimento das chamadas doenças de origem genética. Entretanto, o estudo dos fluidos e suas propriedades poderá nos revelar uma nova fisiologia e, como consequência, as doenças que seus desvios provocam. A presença desses fluidos está intimamente relacionada com nosso padrão de atividade mental. A literatura espírita é farta em afirmar que todos nós somos expressão da vida mental que nós mesmos escolhemos construir e refletimos em nossa aparência a composição fluídica que selecionamos.
Os desequilíbrios mentais, que a neurobiologia de hoje entende como decorrentes das alterações em neurotransmissores, com certeza, iniciam sua perturbação a partir dos fluidos que permitimos nossa mente projetar no cérebro, desviando a química que nos preside o equilíbrio do pensamento. 
A ectoplasmia – A partir dos fenômenos das mesas girantes, a mediunidade proporcionou aos pesquisadores do Século XIX uma imensa variedade de manifestações físicas, entre elas a materializações de entidades espirituais. Nessa fenomenologia é mobilizada uma grande quantidade de ectoplasma permitindo o estudo da sua elaboração e constituição química. Todos os que estão presentes no ambiente da experimentação estarão doando uma cota maior ou menor de fluidos, mas é do médium que sai, por todos seus poros e orifícios de excreção, o material mais ou menos denso que permitirá a presença das silhuetas que se corporificarão no ambiente onde o público aguarda.
No âmbito do estudo que estamos abordando, interessa anotar que o conteúdo bioquímico do ectoplasma procede, na esfera física, do citoplasma das células do aparelho mediúnico. Em conjugação com os fluidos dos dois planos da vida é que o fenômeno adquire as propriedades de transição que permitem aos Espíritos adentrarem a nossa dimensão. 
A respiração restauradora – O ar, como fonte insubstituível de vida, é percepção do senso comum a qualquer de nós. O ato de respirar está intimamente ligado à nossa sobrevivência. Anaxágoras atribuía ao ar a origem de tudo. A Bíblia registra que recebemos a vida a partir do sopro de Deus. Nos textos de Galeno, como já notamos, as expressões espírito e pneuma (ar) eram equivalentes. Para ele o pneuma vital era absorvido pelos pulmões e circulava do coração até ao cérebro para nos manter vivos. Na cultura oriental os exercícios respiratórios têm indicação mais importante que a atividade muscular.
Um dos fundamentos da Doutrina Espírita é de que a vida decorre da presença do princípio vital que vivifica a matéria orgânica dando-lhe a propriedades de reagir.
A atividade constante dos nossos órgãos se faz à custa desse princípio vital e seu esgotamento leva o corpo à morte. Por outro lado, nossa atividade mental nos permite absorver da espiritualidade os fluidos que agregam elementos para sustentação do princípio vital. Mais atividade corresponde a mais vida, tanto do ponto de vista físico como espiritual. ndré Luiz nos aponta em seus textos que a respiração é porta de entrada restauradora para realimentação de nossas energias vitais.                                
                                                  

Nubor Orlando Facure é médico neurocirurgião e diretor do Instituto do Cérebro de Campinas-SP. Ex-professor catedrático de Neurocirurgia na Unicamp (Universidade de Campinas), é escritor e expositor espírita.
http://www.oconsolador.com.br/ano8/368/especial.html


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