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segunda-feira, 21 de abril de 2014

Quando suspenderam as materializações

Houve uma fase em que os fenômenos de efeitos físicos e de materialização de Espíritos eram comuns, principalmente no século 19, começo e meados do século 20. Nas décadas de 20, 50 e 60, desse último século, tinha um centro espírita em cada esquina para quem quisesse ver se os “mortos voltavam para contar”.   

Médiuns de materialização surgiam em toda a parte, incluindo-se embusteiros e suas fraudes grosseiras, médiuns vaidosos e interesseiros que mistificavam para manter o prestígio. Daí, mais e mais controvérsias, mais oponentes ferrenhos que, até hoje, se aproveitam dessas antigas imposturas para confundir e depreciar o Espiritismo, difamar médiuns comprovadamente autênticos e honrados.1 

 Certos adversários dizem que os fenômenos não passam de uma espécie de psicose coletiva produzida pelo “inconsciente”. Sem nos determos em outros conceitos do esdrúxulo vocabulário de alguns “parapsicólogos”, existem diversos modos de ver os fenômenos espirituais. Portanto, por conta da neofobia, da postura cristalizada do establishment científico, da falta de interesse, do exclusivismo milagreiro e dogmático com seus rituais e supostos exorcismos, tem-se menoscabado a realidade espiritual. 

 Por falar em médiuns dignos, nos anos 50 do referido último século, ocorreram impressionantes fatos no campo dos efeitos físicos por intermédio de Chico Xavier. Segundo Arnaldo Rocha, que foi casado com Meimei, várias Entidades se materializaram, entre as quais o próprio Guia Espiritual do famoso médium mineiro. O artista plástico Joaquim Alves, o Jô, naquele tempo da Federação Espírita do Estado de São Paulo, participou dessas reuniões e reproduziu as presenças materializadas em lindos desenhos. (Só sinto, ao menos, não terem gravado a voz dos Espíritos como fizeram os ingleses George Woods e Betty Greene.2) 

  “Surgiu esplendorosa figura masculina, uma magnífica materialização”, conforme relatou Rocha. Em uma das reuniões da qual participou, a certa altura dos acontecimentos, de súbito, entre sussurros comovidos, saiu alguém da cabine, conta ele, enquanto Chico se mantinha em transe. “Sim, era mesmo Emmanuel, bem diante de todos, cujo porte de atleta, estatura cerca de 1,90 m, irradiava intensa luminosidade”, segundo ele. E exclamando, Rocha disse: “Ali estava o abnegado servidor de Cristo, o ex-senador romano!”. E continuando o comovente relato, descreveu:

 Sua voz clara, forte baritonada, suave, mas enérgica, impressionou-nos muito. Via-se no largo tórax um luzeiro multicolorido e, na mão direita, segurava uma tocha luminosa. Contudo, disse aos presentes: “Amigos, a materialização é fenômeno que pode deslumbrar alguns companheiros e até beneficiá-los com a cura física, todavia, o livro é a chave que fertiliza lavouras imensas, alcançando milhões de almas. Rogo aos amigos a suspensão, a partir deste momento, dessas reuniões.”3

 Materializações nunca mais

“A partir daquela data, Chico, a disciplina em pessoa”, concluiu Rocha, “nunca mais materializou nenhum Espírito”. Naturalmente, para Emmanuel, convinha a Chico o emprego de uma outra sua faculdade, famosa pelas sublimes obras produzidas: a psicografia. Chegara, portanto, o tempo de ele se pôr a serviço daquilo que tanto contribui com a Doutrina Espírita: os livros psicografados  — as belíssimas, instrutivas e consoladoras obras subsequentes. 

 Assim, entenderam  suspensão das reuniões de efeitos físicos, o que só dizia respeito a Chico, por  proibição do desenvolvimento de todo médium de efeitos físicos e de possíveis materializações de Espíritos em todos os centros espíritas brasileiros. Consoante maioria dos dirigentes, apenas se deve acolher a teoria filosófica e religiosa da Doutrina, embora o próprio Emmanuel, por intermédio de Chico, tenha dito, anos seguintes, que a materialização é um “tesouro”, “um núcleo respeitável do Espiritismo fenomênico, suscetível de acordar as mais nobres convicções dentro da esfera moral de nossa consoladora Doutrina, atraindo corações para a Verdade e para o Bem, nas legítimas finalidades das nossas tarefas com Jesus”.4 

 Creio que as recusas aos efeitos físicos, muito provavelmente se baseiem no que escreveu a respeitável escritora e psicógrafa Yvonne A. Pereira. Ela chegou a escrever, “sob orientação do Espírito Bezerra de Menezes”, que seriam dispensáveis as materializações “quando já estamos bastante preparados para compreender e assimilar a Doutrina Espírita”.5  

 Yvonne Pereira assegurou que o tempo áureo das materializações pertence ao passado e que os grandes Espíritos não se interessam mais por esse gênero de manifestação. Disse ela: “Ficaram entregues a  entidades de ordem medíocre e inferior (grifei), não existindo qualquer respaldo em nenhum dos cinco livros básicos da Doutrina”. 

No entanto refutou o escritor e pesquisador espírita Rafael Américo Ranieri, ex-delegado de polícia e ex-secretário da Segurança Pública do Estado de São Paulo:

 ... Kardec não recusou absolutamente as reuniões de efeitos físicos ou de materialização. Tanto que as classificou n’O Livro dos Médiuns como dignas de seus estudos. Não poderia ele, de forma alguma, recusar os fenômenos mais probatórios da existência do mundo espiritual e de Espíritos que vivem numa faixa vibratória diferente da nossa. E não o fez. O que ele nos ensinou é que no “seu tempo” esses trabalhos eram sempre realizados por Espíritos menos esclarecidos. “Menos esclarecidos”, e não atrasados, inferiores, maus, perversos...6




 Notas e referências:  

 1   Em 1964, o Espiritismo sofreu sórdida campanha cometida por cinco famosos repórteres da influente extinta revista O Cruzeiro, os quais, com o apoio de um perito criminal, denegriram a inteireza de 19 médicos que pesquisaram e atestaram a mediunidade de efeitos físicos de Otília Diogo, em Uberaba, MG. Além de caluniarem os médicos e a médium, difamaram até Chico Xavier que tomara parte das materializações como espectador. Até nos dias de hoje, nos tempos da Internet, insistem em covardemente reeditar a vergonhosa infâmia, na vã ilusão de infamar nomes tão idôneos quanto dignos, e ainda respaldados por certos “espíritas” omissos. 

 2   NETO, Geraldo Lemos.  Mandato de amor.  4. ed. Belo Horizonte: União Espírita Mineira, 1997. Páginas 76 a 80.

 3   Bem fizeram George Woods e Betty Greene que registraram, em 1945,  uma grande quantidade de vozes em gravador do tipo fita magnética de rolo, tendo em vista a divulgação de mensagens de voz direta de diversos Espíritos, dentre elas as do célebre Mahatma Gandhi, Frédéric Chopin, Bernard Shaw e outros pelo médium inglês físico de voz direta, Leslie Flint (1911/1994). 

 4   Mensagem do Espírito Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, cedida a Ranieri por Esmeralda Bittencourt em 1.o de janeiro de 1954.

 5   PEREIRA, Yvonne A.  Recordações da mediunidade. 6. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1989. Capítulo 5.o, p. 89.

 6   RANIERI, R. A. Materializações luminosas   —  depoimento de um delegado de polícia. Do 1ọ  ao 5ọ  milheiro. São Paulo, s/d: Federação Espírita do Estado de São Paulo. P. 199.

 7    O Evangelho segundo Lucas, cap. 24, vers. 27, 31, 36 e 37, 44 a 45.


            Davilson Silva


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