a partir de maio 2011

domingo, 9 de março de 2014

Como os Espíritos veem o sexo

Encerrada a palestra em uma instituição espírita, algumas das pessoas simpáticas, fraternas, que prestigiaram o evento, logo se aproximaram para falar comigo. A Família é o Alicerce da Humanidade foi o tema por mim discorrido, em fins dos anos 90 do século anterior, a convite da USE Distrital Jabaquara (órgão da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo). Antes que alguém falasse comigo, um rapaz junto a uma linda moça, mais que depressa, pediu-me que eu o atendesse reservadamente, cochichando esta pergunta: “Como os Espíritos veem o ato sexual? Certas posições sexuais seriam imorais?” 

Ah, os jovens de hoje em dia! Confesso que me surpreendeu a pergunta clara e sem subterfúgios. Muitos têm escrito, comentado sobre, no entender de alguns, embaraçoso assunto. Espíritas e não espiritas, os próprios Espíritos da Codificação e Mentores, tais como: Emmanuel, André Luiz, Joanna de Ângelis, dissertaram acerca desse ponto. Com base nos esclarecimentos de suas obras, competentes tribunos deram força, brilho à importância da sexualidade. 

 Esse objeto suscita realmente observação sob diversos ângulos. Tabus, preconceitos, superstições fazem parte do aspecto, da análise dos fatos. Ao se falar em prazer sexual, muitos pensam logo em algo execrável. Grupos religiosos ultraconservadores viram no sexo algo impuro, um ato meramente animalizado que lhes representa uma das pedras no sapato. Esse tópico tem sido alvo de exame de estudiosos, especialistas em psicanálise, em sociologia. 

 Sexo! Matéria merecedora de considerações moderadas com o propósito de não desagradar, ferir. O nível espiritual, ou moral, de cada pessoa, tem a ver com o que sente, com o que pensa; para uns, sexo é sinônimo de imoralidade, para outros não. O sexo já motivou degenerescência em períodos obscuros da história da nossa Civilização. 

 O Espírito Joanna de Ângelis opinou sobre o caso e referiu-se a prejuízos autorizados pela própria tolerância do caráter humano. Joanna considera fundamental o sexo para o “milagre procriativo”, um dos mais importantes fatores integrantes da índole humana, segundo ela, “graças aos ingredientes estimuláveis ou desarmonizadores do equilíbrio, de que se faz responsável”. O sexo passou nas civilizações antigas a campo de intenso sensualismo, disse a veneranda Entidade, cujos excessos chegaram a motivar a queda de alguns Impérios.1 

 Pecado mortal   

 Monarcas e imperadores andavam de mão comum com os “prepostos” de Jesus Cristo. Inspirados por Cristo, ou segundo eles, Deus, e sob anuência conservadora dos soberanos, sacerdotes viam no sexo uma influência perniciosa, um meio de queda para o Inferno, portanto “pecado mortal”, “conduta abominável”, tais os conceitos daquele obtuso período. Em 1985, um papa declarou “pecaminosos” os “prazeres da carne” mesmo entre os cônjuges católicos. 

 Apesar desse equívoco, de ações radicais, o sentido de moral da organização religiosa não deixou de se constituir em freio ao despudor. A Igreja influiu em quase todas as atividades, especialmente na problemática sexual desde o Império Romano. Naquele tempo, qualquer mulher podia pertencer a qualquer homem e vice-versa e eram comuns filhos bastardos, produto dos festins licenciosos em residências. 

 Não havia efetivamente laços de família, daí, o clero valer-se de medidas enérgicas, cruéis. A igreja, a se expandir cada vez mais, determinara aplicar a violência como único recurso de conter orgias regadas a vinho. O tempo passou, passaram os costumes, os lares também, assim como a transmissão de conhecimentos, o processo de desenvolução da capacidade física, intelectual e moral do ser humano.  

 Tudo mudou em tese, né? Com o aparecimento da civilização consumista, ou sistema em favor do consumo exagerado, o comportamento humano com relação à libido tem se expandido em espaços significativos da chamada mídia digital. O consumismo de bens materiais parece ter tornado mais forte a libertinagem e, com isso, intensificado antigas perturbações e distúrbios psíquicos. 

 Programas televisivos de auditório, principalmente a Internet, têm vulgarizado o erótico-pornográfico por conta de suposta liberdade. Crianças, adolescentes vivem debaixo de verdadeiro bombardeio de imagens ou de situações incitantes da libido, haja vista a média de iniciação de mocinhas, que é de 15 anos, e as doenças ginecológicas das quais padecem. De há muito vem aumentando o número de meninas grávidas, um problema sociocultural tanto das grandes cidades quanto das cidades onde não há shoppings nem cinemas, nem outros meios de entretenimento. 

 Há esse desequilíbrio, segundo Joanna, porque cada pessoa traz consigo traços peculiares referentes a conflitos íntimos obscuros, psicológicos profundos. A criatura humana não deixa de possuir qualidades adquiridas nas suas tentativas palingenésicas, e, em substância, querendo aceitar ou não, o Espírito encarnado é como se expõe à vista; ninguém muda de um dia para o outro, nem a morte zera tudo. Atitudes e respostas, numa existência, marcarão no futuro o modo de ser da Alma na índole humana masculina ou feminina consoante imperativos da Lei de Causa e Efeito.  

 Comentou a respeito do sexo outro sábio da Espiritualidade, o Espírito Emmanuel:  

 Desarrazoado subtrair-lhe as manifestações aos seres humanos, a pretexto de elevação compulsória, de vez que as sugestões da erótica se entranham na estrutura da alma, ao mesmo tempo que seria absurdo deslocá-lo de sua posição venerável, a fim de arremessá-lo ao campo da aventura menos digna, com a desculpa de se lhe garantir a libertação.2 

 O deleite sexual foi-nos outorgado por Deus para a felicidade e harmonia universais; mas, até entenderem o verdadeiro significado da força de atração física e suas implicações, ainda vai levar muito tempo. Fazer sexo é tão importante quanto o ato de respirar, de ingerir alimentos e, sob outro ponto de vista, um meio de transferência de energia indispensável ao vigor físico-mental mútua e simultaneamente. 

 Os Espíritos veem no sexo algo respeitável, a exigir educação e controle, sem nunca descurar da higiene a fim de impedir doenças. Os Amigos Espirituais não o reconhecem como um ato “impuro”, “animalizado” conforme o conceito pseudomoralista. Foram essas palavras a resposta dada ao moço junto à sua companheira (eram noivos). 

 Quanto à outra pergunta, “certas posições sexuais seriam imorais”, Deus, os bons Espíritos não estão preocupados com certas condutas eróticas. Aquilo que for posto em prática entre quatro paredes por um casal será da inteira responsabilidade de cada um. A conduta humana apresentar-se-á de acordo com o nível evolutivo da pessoa, mas quem desrespeitar, causar constrangimento, infortúnio a uma parceira, ou parceiro, arcará com as consequências da causa e efeito; lembremo-nos daquela antiga lei: “Ame o próximo como a si mesmo”...

 Concluindo 

 Nega a sabedoria e misericórdia divina quem nega à criatura humana o direito do ato sexual que não se limita exclusivamente à procriação. Muito embora a mídia insista de modo sutil ou direto, afirmando que sexo é tudo, cego e ledo engano! Não, sexo não significa tudo! Tampouco “troca de casais” e todo tipo de libertinagem não mantêm um relacionamento sincero, sadio, estável. Pode-se dispensar o sexo sem compromisso de voto eclesiástico de castidade. Sim, é possível, e exemplos nunca faltaram quanto a alguém se sentir feliz, realizado, ao sublimar a energia sexual, canalizando-a em favor do próximo, dos mais próximos, de todos.  

 O progresso da criatura humana sofrerá prejuízo, se ela imediatamente não empenhar-se em sua espiritualidade. Sem reforma íntima, não há equilíbrio biopsíquico. O Espírito que anima o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, assim como o Espírito que anima o corpo de uma mulher pode animar o de um homem em futura existência. Sendo assim, evitemos fazer comentários mordazes sobre toda dificuldade e problema de alguém — não temos suficiente certeza do tamanho da prova afetiva que nos aguarda numa ou noutra configuração própria. O clímax do ato sexual, impelido por mútua tendência afetiva com sentimento de apreço, será sempre oportuno e saudável. 

 

 Notas bibliográficas:

1    FRANCO, Divaldo P. Estudos Espíritas. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 3. ed. Federação Espírita Brasileira (FEB), 1982. Capítulo 20, p. 152.

2    XAVIER, Francisco C.  Vida e sexo. Pelo Espírito Emmanuel. 10. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1988. Capítulo 1ọ, p. 10.

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               Davilson Silva

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