a partir de maio 2011

domingo, 3 de novembro de 2013

Quocientes de Inteligência – medidas da alma

 •  José Luiz Condotta

A ciência ainda refuta Deus
Isaac Newton, renomado cientista, acreditava em Deus. Max Planck, pai da física quântica, também era crente. Copérnico, do sistema solar, teve a fé. Galileu, Bacon e Pascal acreditavam no Ser Superior. Filósofos famosos – Confúcio, Platão, Aristóteles e Sócrates – também acreditavam em Deus. Embora muitos acreditassem, tanto antigamente quanto hoje, de cada cinco cientistas três dizem não poder aceitar o conceito de Deus. Observa-se assim que a ciência ainda refuta Deus.
Já que os cientistas são considerados portadores de elevados conhecimentos e poderosas inteligências, por que alguns creem em Deus e outros não? Os descrentes alegam não poderem confirmar a existência de Deus, mas inegavelmente estão impossibilitados e incapacitados para confirmar a sua inexistência. Assim, a maioria opta por crer somente no que os olhos veem, na demonstrabilidade. Mas, será que todos os cientistas apresentavam ou apresentam alto nível intelectual global, quando se levam em conta as medidas utilizadas hoje para os diferentes quocientes da inteligência humana? E nós, como ficamos diante das inúmeras características intelectuais? O que é e onde se encontra a inteligência humana? 
Para discutir a nossa proposta, são importantes e necessários os conhecimentos da Doutrina Espírita, e começamos logo com um ensinamento de Emmanuel(1) quando diz: “Somente com a cooperação do Espiritismo poderá a ciência psicológica definir a sede da inteligência humana, não nos complexos nervosos ou glandulares do corpo perecível, mas no espírito imortal”.

Inteligência e instinto para a ciência
Na evolução, o homem, primitivamente instintivo, gradualmente foi adquirindo a inteligência – faculdade de entender, de compreender e de conhecer –, passando a viver com o instinto e com a inteligência, operadores e organizadores das suas ações.
A ciência psicológica refere ao instinto um complexo de manifestações determinadas, hereditárias, comuns a todos os indivíduos da mesma espécie e adaptadas a um fim, do qual o ser que age não tem consciência. Também o considera como um potencial de grandes forças de origem biológica que são anteriores a toda a educação ou que resultam de transformações biológicas evidentes do organismo. Tem como objetivo a realização do comportamento peculiar ao instinto. Muitas escolas psicológicas dizem que o instinto tem um caráter misterioso(2).
Quanto à inteligência, é considerada classicamente como um dos aspectos da realidade psicológica, juntamente com os componentes volitivo e afetivo. 
Para resumir: a Teoria Clássica acredita que o instinto e a inteligência pertencem e derivam do corpo físico, portanto, possuem caráter biológico. Nesta assertiva, os cientistas acreditam que quanto mais sadio o cérebro, melhores são as condições para o indivíduo realizar as mais diversas tarefas e maior a probabilidade de exibir um alto quociente intelectual.

QI, QE e QS – medidas da inteligência
No decorrer do século passado, inúmeros cientistas buscaram incansavelmente métodos para medir a inteligência, elaborando os mais diversos testes para tal intento. Chegaram assim aos quocientes intelectuais.
QI significa Quociente de Inteligência, uma medida da capacidade intelectual – capacidade cognitiva – de uma pessoa com base no resultado de testes específicos no estudo comparativo com outros indivíduos do mesmo grupo etário. Por capacidade cognitiva entende-se a capacidade de manipular informações – dados de conteúdo cognitivo: pensamento (ideias) e juízo (valores). Foi durante muitas décadas utilizado e ainda hoje os testes psicométricos são utilizados como instrumentos de diagnósticos.
Na década de 1990, outro fator se mostrou em evidência: o QE, que significa Quociente Emocional, a medida da inteligência emocional, que pode ser entendida como a “... capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos”(3).
Esclarecendo melhor: uma capacidade de reconhecer as próprias emoções, canalizá-las para o bem do raciocínio, do juízo e de toda a atividade cognitiva, interferindo na adequação das relações com o mundo.
Para Goleman(3), a inteligência emocional é a maior responsável pelo sucesso ou insucesso dos indivíduos. Como exemplo, recorda que a maioria das situações de trabalho é envolvida por relacionamentos entre as pessoas e, desse modo, pessoas com qualidades de relacionamento humano, como afabilidade, compreensão e gentileza, têm mais chances de obter sucesso. 
Refere o pesquisador citado que o QE tem várias implicações: autoconhecimento, controle emocional, automotivação, reconhecimento das emoções de outras pessoas e habilidade nos relacionamentos interpessoais. 
O século XXI desperta para a realidade da Inteligência Espiritual, sem a qual não se pode compreender verdadeiramente a vida humana. Este terceiro tipo de inteligência tem como medida o QS (quociente espiritual). Segundo os cientistas, não existe relação do QS com a religiosidade: está diretamente relacionada com a transformação íntima e com o crescimento pessoal. O indivíduo se conhecendo, consciente dos seus recursos, utiliza-os da melhor maneira possível para regular o seu comportamento, as suas ações e entender o sentido da vida. 
Falar em inteligência espiritual sem falar de espírito é uma tarefa muito difícil para a ciência. Falar em espírito sem falar de Deus torna-se impossível. Daí decorre toda a dificuldade para se definir esse tipo de inteligência e talvez seja mais difícil, ainda, medi-la.
Aceitando o homem ser possuidor de uma dimensão metafísica e espiritual, pode-se dizer que a inteligência espiritual implica em crer em uma psique criadora e cósmica, bem como na possibilidade de se interagir com ela, sem nunca esquecer que ela é o comando. Quanto maior a consciência da presença divina, mais o homem vivencia e se relaciona com Deus. Saber valer dos dotes intuitivos para buscar o verdadeiro sentido da vida e do universo. Cultivar e investir nos bens da alma: amor-próprio e ao semelhante, responsabilidade e ética perante a vida, fraternidade, respeito, fé e esperança. Tudo isto para adquirir uma realização pessoal, em qualquer setor da vida, para que as suas tarefas neste mundo tenham um significado existencial. 
Torna-se claro que o QS é dinâmico, evolutivo e pode ser ampliado conforme o homem se relaciona com a consciência do Criador

Inteligência e instinto para a Doutrina Espírita
A Doutrina Espírita não discorda da Ciência, apenas complementa quando, simplesmente, leva em conta o que o homem de fato é: corpo e espírito.
No livro A Gênese, Kardec(4) nos ensina muita bem a distinção entre o que é o instinto e a inteligência. O primeiro é a força oculta que solicita os seres orgânicos à realização de atos espontâneos e involuntários, em vista à sua conservação. Nesses atos não há reflexo, nem combinação e nem premeditação. O instinto existe sempre e pode nos conduzir ao bem, guiando muitas vezes com mais segurança que a razão. 
A inteligência é um atributo exclusivo e essencial do espírito e se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, segundo a oportunidade das circunstâncias. A inteligência e o espírito se confundem num princípio comum(5). 
Ensina-nos O Livro dos Espíritos(5) que o instinto não é um ato livre como é o ato inteligente, mas denota uma causa inteligente. O instinto é seguro, jamais se engana, enquanto a inteligência, por ser livre, fica sujeita a erro. Contudo, o instinto não é independente da inteligência, visto ser uma espécie de inteligência.
Kardec também é preciso quando diz que “a razão seria infalível se não fosse falseada pela má educação, pelo orgulho e o egoísmo. O instinto não raciocina e a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio”(5).
Esclarece-nos, ainda, o porquê da inteligência não pertencer ao corpo físico, quando afirma que a inteligência não é um atributo do princípio vital, pois é independente da matéria. Um corpo pode viver sem inteligência; mas a inteligência não pode se manifestar senão por meio de órgãos materiais; é necessária a união com o espírito para intelectualizar a matéria animalizada. A fonte da inteligência é a inteligência universal(5). 
Conclui-se que não existindo dois espíritos iguais, não existem duas inteligências iguais, pois inteligência e espírito se confundem num princípio comum. Necessitando dos órgãos materiais, fica claro que o físico sadio pode oferecer melhores condições para a inteligência se manifestar – ponto concordante com a visão da ciência, mas, às vezes, pode não ser assim.

Medindo a inteligência. 
Até há pouco tempo, o estudo da mente estava mais ligado à filosofia. Nas últimas décadas surgiram várias linhas de investigação: as diversas correntes filosóficas, a psicologia (principalmente a psicologia cognitiva), a neurociência, a linguística, a ciência da computação e recentemente a inteligência artificial (ênfase para as redes neurais), demonstrando que o estudo da mente é complexo e já envereda, sem volta, para um campo interdisciplinar. Tomamos a liberdade de complementar com a ciência espírita.
Como vimos, com a inteligência e o espírito confundindo-se num princípio comum, fica difícil medir com precisão esse princípio imaterial.
Os cientistas não conseguem se satisfazer com os resultados obtidos com nenhuma das suas medidas – QI, QE e QS –, pois sempre encontram um porém. Por exemplo: nem sempre uma pessoa com um alto QI se mostra mais inteligente que uma outra que tem um QE melhor; nem sempre o QI alto é atestado de sucesso nos diversos setores da vida e assim por diante. Quanto ao QE, alguns autores dizem que o maior problema enfrentado é como avaliar as respostas “emocionalmente mais inteligentes”, pois uma pessoa pode resolver situações que envolvem componentes emocionais de diversas maneiras.
Todos os quocientes visam medir a inteligência do homem através das suas condutas, ações e reações (corpo), que são efeitos exteriorizados pelas emoções, ideias e pensamentos (espírito). Decorre daí a dificuldade para resultados mais precisos.
Mas, sem dúvida, houve uma evolução dos coeficientes de inteligência. A partir do QI (resolução da lógica) evoluiu-se para o QE (avaliação de situações e adequação das ações e comportamento) e finalmente ao QS (motivação, sentido da vida e reconhecimento do próximo). Nisso tudo, enxerga-se nitidamente o espírito; tanto que no QS (quociente espiritual) se fala explicitamente no espírito. Tudo o que refere a ciência tradicional quanto às suas definições de instinto, inteligência e aos seus coeficientes, estão em sincronismo com a ciência espírita. Basta atribuir ao espírito o que lhe é próprio, como: o raciocínio, o juízo, o pensamento, o autoconhecimento, a canalização das boas emoções para o bem próprio e de todos, o sentimento com o próximo, o reconhecimento do que é e o entendimento da vida. São esses atributos que se manifestam no corpo físico e é este corpo que se apresenta e se sujeita às medidas dos diversos “Q”, que nada mais são que medidas da alma.

1. XAVIER, F.C. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 2008, p.44.
2. Akoun A. et cols. Dicionário de Psicologia. Lisboa/São Paulo, Verbo, 1979, pg 315.
3. GOLEMAN, D. Emotional intelligence. New York: Bantam Books, 1995.
4. KARDEC, A. A Gênese. São Paulo: Lake, 14. ed.,1985, cap. III (11 e 12).
5. ________. O Livro dos Espíritos. Trad. Salvador Gentile. Araras: IDE, 167. ed., questões 24 e 71 a 75.

http://www.oclarim.org/site/ 

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