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domingo, 20 de outubro de 2013

Participação política



Participação política

Qual é a participação do espiritismo na vida política? 

A resposta pode ser encontrada neste trecho do livro Conduta Espírita ditado pelo espírito André Luiz: “A rigor, não há representantes oficiais do Espiritismo em setor algum da política humana.”

Dado o aspecto geral da política, é até mesmo um alívio saber que o espiritismo não deseja possuir representantes oficiais neste meio. A política num mundo como a terra, acaba naturalmente sendo dominada por homens distantes de quaisquer aspirações nobres e ideais sinceros, se tornando nada mais do que um mecanismo de disputa de vantagens e privilégios entre algumas elites e também um mecanismo de manutenção das injustiças.

O filme Bezerra de Menezes - O Diário de um Espírito, mostra como uma pessoa bem intencionada tende a se desiludir rapidamente em contato com o meio político, tão dominado pelas paixões humanas. Também Sócrates na Grécia antiga já explicava que uma das razões pelas quais um homem pode desejar entrar para a política é como uma forma de castigo, segundo Sócrates, para uma pessoa de bem a participação no meio político pode ser um castigo, um castigo alto imposto, pois, segundo ele o homem de bem só se sujeitaria a entrar para o meio político para impedir que uma outra pessoa, mal intencionada, ocupe aquela posição e acabe causando um dano maior a toda a população, Sócrates diz ainda que: “Se surgisse uma cidade de homens bons, é provável que nela se lutasse para fugir do poder, como agora se luta para obtê-lo”.

E quanto ao homem comum, que não deseja participar diretamente no meio político? deve ele se abster totalmente e não se importar com o que se passa neste meio? 

Certamente que não, primeiramente porque o voto é obrigatório e mesmo quando votamos em branco ou nulo, estamos na verdade indiretamente referendando e passando mesmo um cheque assinado em branco para aquele político que consegue ser eleito, é muito comum ver o político corrupto ao ser pressionado por jornalistas por causa de suas condutas dizer uma frase do tipo: “Eu fui eleito com tantos milhões de votos, o povo está do meu lado” e é nessa hora que percebemos como aquele nosso voto que foi desperdiçado fez falta e acabou fazendo que o político “menos pior” perdesse para o político pior. O resultado desta omissão afeta toda a sociedade e principalmente a população mais necessitada, e este é um risco que o homem de bem não pode correr.

Já que a participação do homem comum na política é inevitável, nos perguntamos então: com qual das correntes políticas básicas o espiritismo estaria mais afinado? Com a esquerda ou com a direita?
Tradicionalmente a esquerda representa a mudança, enquanto a direita representa a manutenção do estado atual das coisas. Considerando apenas este sentido, poderíamos dizer que o cristianismo está sempre mais alinhando à esquerda, por ela representar a mudança, desde que a mudança signifique melhoria é claro. Numa sociedade como a nossa, marcada por uma profunda injustiça social, podemos dizer que muitas mudanças ainda são bem vindas e que para os homens possam um dia viver em um estado de maior harmonia, muitas mudanças ainda devem acontecer. Mas é fácil também enxergar que o espiritismo discorda profundamente de muitas bandeiras levantadas pela ideologia esquerdista, podemos citar a inclinação para o ateísmo como a principal delas, portanto podemos concluir que a doutrina espírita e o cristianismo não se alinham a uma corrente política específica.

O homem de bem procura naturalmente o lado do bem em cada questão da vida política, não apoiando nunca qualquer tipo de injustiça ou abuso, por isso temos a obrigação de nos manter sempre distantes do fanatismo político e nunca abraçar o pensamento de qualquer ideologia, principalmente as que pregam qualquer tipo de violência como forma de atingir qualquer objetivo político, sempre guiando nossa visão pelo critério da paz e do bem estar geral. Devemos apoiar sempre as boas ideias e ser contrários às más, não importando se elas partem deste ou daquele partido e desta maneira nos mantermos longe do fanatismo e da ideologia.

Podemos citar como exemplo, uma questão que tem se tornado central no debate político no Brasil: O governo deve ou não fazer caridade, ou seja, deve ou não fornecer ajuda financeira às pessoas mais necessitadas? Sobre esta questão podemos citar uma pergunta em O Livro dos Espíritos, a respeito da esmola: Pergunta nº888. “Que se deve pensar da esmola? R: Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns.”. Ou seja, segundo os espíritos superiores, a esmola é degradante e se quisermos ser homens de bem devemos construir uma sociedade que deva “prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação”, com sistemas de benefícios sociais que provenham ao menos o mínimo de dignidade. É claro que não é possível para a nossa realidade econômica criar sistemas como os da maioria dos países ricos, em que boa parte da população recebe do governo auxílios que equivalem no Brasil à renda de uma família de classe média alta, mas, como o óbolo da viúva, temos a obrigação de oferecer o máximo possível, dentro da nossa realidade, aos trabalhadores de boa vontade e aos incapacitados de trabalhar que realmente estejam necessitados.

Contrário a esta ideia de solidariedade, existe um perigoso discurso recorrente que esconde uma ideologia de ódio aos pobres, ódio este que é disfarçado com eufemismos e discursos sutis na boca de alguns políticos, que são assimilados e depois traduzidos para a linguagem do dia a dia, usada no bate papo comum dos seguidores destes políticos, em frases infelizes do tipo “tem que acabar com esses vagabundos que recebem bolsa” ou “os pobres tem que morrer” num fanatismo que lembra os discursos de líderes nazistas ou também as frases de “morte ao ocidente” pronunciadas por alguns radicais islâmicos. Enquanto que, como cristãos, deveríamos estar na verdade exigindo que aquela ajuda realmente miserável (que gira atualmente no Brasil em torno de R$120,00 mensais por família) fosse multiplicada, pelo contrário, a maioria daqueles que não precisam desta ajuda torcem é para que ela desapareça, ao mesmo tempo em que como espiritas afirmamos estar seguindo o ideal de Alan Kardec, que afirma ser homem de bem aquele que “toma a defesa do fraco contra o forte”.

E existem muitos outros pontos em que podemos concordar com a esquerda, como as constantes lutas por melhores salários, pois, no geral, melhores salários significam maior igualdade, como no exemplo da política de altos salários com a finalidade de diminuir a desigualdade que foi muito utilizada no Japão. Mas existem muitos outros pontos que podemos questionar, como por exemplo a constante luta por diminuição da jornada de trabalho para 6 horas diárias ou até menos, muito diferentemente dos tempos em que os trabalhadores eram obrigados a passar em frente a uma máquina todas as horas do dia em que conseguiam se manter acordados em troca de apenas um prato de comida e mesmo assim acabavam morrendo muito jovens por desnutrição, nos dias atuais uma luta por uma menor jornada de trabalho se parece mais com uma luta por mais tempo para o ócio em atividades inúteis como o fanatismo por times de futebol ou o vício em programas de fofoca e novelas na TV, muito diferente seria se estivesse o discurso pela redução da jornada de trabalho baseado em um desejo de obter mais tempo livre para atividades voluntárias em prol dos necessitados, mas isso jamais passa pela mente de algum sindicalista.

O mesmo se pode dizer da luta pelo direito à aposentadoria em idade cada vez menor, que parece contrariar bastante o ideal contido na frase de Karl Marx: “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”, a ideia de aposentadoria voluntária para pessoas em plenas condições de contribuir com a sociedade, contraria não só os princípios cristãos de amor e serviço útil ao próximo, mas também o próprio ideal comunista.

Como vimos, o fanatismo político leva constantemente a posicionamentos contraditórios. Levado pela ideologia o homem deixa de pensar por si próprio e é constantemente manipulado e muitas vezes levado ao caminho do ódio às minorias ou até mesmo a defender políticas prejudiciais a si próprio. Nos tempos antigos por exemplo, o homem comum, manipulado pelos poderosos, aceitava e até defendia a ideia da escravidão, e constantemente se via transformado em escravo, seja por motivo de dividas ou capturado durante período de guerra. De forma parecida, os poderosos dos tempos atuais pregam através da mídia a ideia do “Estado mínimo”, com a intenção de verem aumentados os lucros e diminuídos os impostos para as classes mais altas, esta ideia chega então, a ser defendida até pelas classes mais pobres, que acabam sendo elas mesmas as vítimas da ausência do estado na segurança pública, na educação pública e na saúde pública.

Todas estas questões levantadas são um tanto complexas e devemos pensar e refletir caso a caso qual é o lado que um homem de bem deveria apoiar, hora afinando-se com a esquerda e hora com até mesmo com a direita, como por exemplo naquelas questões em que claramente o fanatismo partidário e a ideologia do menor esforço acabam levando os defensores dos trabalhadores a tomarem posições que no final prejudicam aos próprios trabalhadores e a toda a sociedade. Guiando-nos pela ideologia e pelo sentimento de fidelidade partidária, acabamos por apoiar más ideias vindas de um lado e ignorando boas ideias vindas do outro. O homem de bem portanto deve ser o máximo possível apartidário e desconectado de toda ideologia e nós espíritas já somos privilegiados por temos além de Cristo como guia, também toda a literatura espírita que é de grande ajuda para se encontrar o lado do bem em cada questão da vida cotidiana.
Na hora de cumprir a obrigação do voto, devemos sempre orar antes de tomarmos nossa decisão, orar para que possamos escolher livres de qualquer fanatismo e espirito de competição, não se importando nunca se tivermos de escolher o lado que tem chances mínimas de vitória, pois cada voto representa uma voz de uma minoria que deseja ser ouvida e ao longo da história os perdedores de hoje são sempre os agentes da mudança de amanhã. Mais importante ainda é orar pelos políticos eleitos, ao em vez da crítica inútil devemos fazer sempre que possível críticas construtivas em quaisquer canais de comunicação disponíveis, mas devemos sempre também orar para este político alvo das nossas críticas, para que ele consiga enxergar o grande prejuízo que trará à sua própria alma caso continue no rumo da política suja baseada apenas em interesses pessoais, orando para que ele possa refletir a respeito do grande mal ou do grande bem que ele está sempre prestes a provocar a cada decisão.

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