a partir de maio 2011

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Como surgiu o Espiritismo igrejista no Brasil

 Manifestações de um polêmico

Um dos grandes problemas do nosso movimento espírita é achar que as coisas ruins não devem ser ditas, que devemos ser omissos em relação a elas, conseqüentemente jogando-as para “debaixo do tapete”, como muito se diz no popular, daí resultando a desinformação das pessoas que terminam ficando sem saber como as coisas realmente ocorrem em nosso meio, nos dias de hoje, e como elas aconteceram no passado.
Daí fica todo mundo imaginando coisas e termina por formar na cabeça de muita gente uma cultura totalmente deturpada do que realmente aconteceu na história do Espiritismo.
Um monte de gente se fingindo de bonzinho nas tribunas dos centros, querendo cada um ser mais Francisco de Assis do que o outro, com aquelas bondades, humildades e “amor” que visam apenas impressionar as platéias, para que os vejam parecidos com o Chico Xavier. Quem tenta fugir disto, sofre restrições sob a argumentação do tal.
- “Não é conveniente convidar para a nossa casa, porque ele anda dizendo algumas coisas por aí, que não são muito convenientes”.
Esse tal “algumas coisas” que se referem são algumas VERDADES que incomodam a muitos, porque verdade é algo que choca. Só mesmo os “polêmicos” tem coragem de dizer certas verdades.
Mas vamos lá.
Vejo aí algumas pessoas utilizarem expressões do tipo:
- “O Doutor Bezerra de Menezes implantou o igrejismo e a idéia do espiritismo apenas religião, no Brasil. Ele é responsável por esse monte de espiritólicos que existe por aí. Foi ele quem desvirtuou o Espiritismo do modelo conforme Kardec queria”.
E dentro desta idéia, reforçam a outra que diz que Chico Xavier incrementou esse modelo, sobretudo construindo sua base doutrinária nas orientações de um padre, que é o Espírito Emmanuel. Chico, então, teria sido o co-responsável por esse processo de igrejamento.
Antes de prosseguir quero lembrar bem uma recomendação que esse tal “padre” teria dado ao Chico, assim que propôs acompanhá-lo por toda a sua encarnação, passando ensinamentos que se transformariam em obras literárias adotadas pelos espíritas:
- “Chico: Se alguma orientação que eu lhe passar deixar alguma dúvida, abandone a minha orientação em fique com Kardec”.
Isto demonstra que o tal “padre” agiu com coerência e desejou que o modelo base fosse de fato o Allan Kardec e não ele.
Essa recomendação de Emmanuel não foi dirigida apenas ao Chico, mas a todos os espíritas, e eu aproveito aqui para chamar a atenção dos “emanuelistas” e também dos “andreluizistas” que existem, aos montes, em nosso meio, para que reflitam e que prestem bem atenção nessa recomendação.
Então, continuando o que eu vinha dizendo:
Não foi o Doutor Bezerra quem iniciou o igrejismo espírita no Brasil, a coisa vem antes dele.  
Deixe eu relembrar o que já passei, outras vezes, através de outros artigos.
Assim que começou a sua tarefa, Allan Kardec fundou a “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, com objetivo de ali praticar o Espiritismo conforme o seu modelo. Observem o detalhe do nome colocado na instituição: Não foi “Centro Espírita Francisco de Assis”, “Thomás de Aquino”, “Jesus o Consolador”, “Maria de Nazaré”, “Paulo de Tarso” e muito menos “Amantes da Pobreza”, foi “Sociedade Parisiense de ESTUDOS ESPÍRITAS”.
Ele queria que ali fosse praticado um Espiritismo exatamente do jeito que ele praticou, conforme o relato da Revista Espírita, desde a sua primeira edição até a última.
Aí começaram a surgir os primeiros entendimentos equivocados logo no começo:
Porque os espíritos sugeriram a Kardec o nome de Jesus, como UM DOS maiores modelos que devemos seguir... (vejam bem: sugeriram como “UM DOS” e não como o único modelo)..., passaram a entender que, pelo fato de ter citado Jesus, necessariamente o Espiritismo teria que ser uma religião, haja vista que a cultura dominante envolveu o nome de Jesus com religião, a começar pelo Catolicismo e depois o Protestantismo, que proliferavam pela Europa.
Pronto. Muitas pessoas, já cansadas das decepções com o catolicismo e com o protestantismo, encontraram ali uma válvula de escape para praticarem aquilo que elas se se achavam dependentes, que é a religião. O ser humano faz questão de ter uma religião, tem que ter religião.
Passaram a freqüentar a Sociedade Parisiense como religião, como igreja, como rezação.
Não era o que Kardec queria, pois ele chamava muito a atenção contra aquilo.
Acontece que, como muita gente sabe, é por demais comum determinados grupos assumirem direção de instituições espíritas e ali quererem implantar o Espiritismo conforme as suas cabeças, os seus pontos de vistas e afastarem os que pensam contrário. Sei de casos, inúmeros, que já chegaram até a proibir a entrada do próprio fundador da casa, por ter idéia original diferente. Relembro com saudade o grande Oly de Castro, grande bandeirante do Espiritismo no Maranhão e no Pará, que passou por isto.
Foi o que aconteceu no tempo de Kardec; criaram uma verdadeira oposição a ele.
Começaram a achar que a doutrina já estava pronta e que não precisava evoluir em nada e muito menos acompanhar a Ciência, que bastavam as reuniões entre as quatro paredes do centro, sem nenhuma necessidade de divulgação, sob a estúpida argumentação de que espiritismo não necessitava de “vulgarização”.
Vejam bem: A palavra vulgarizar não significa diminuir, denegrir, prostituir, desmerecer e desmoralizar como entendem alguns, e sim levar ao conhecimento do grande público, de todas as populações.
Kardec pensava totalmente ao contrário.
Quando ele resolveu mandar imprimir grandes quantidades dos livros, com dinheiro dele, do bolso dele, sem ajuda de espírita nenhum, pra sair viajando pela Europa, fazendo palestras e promovendo as suas vendas, num processo de Ampla Divulgação do Espiritismo, a espiritaiada igrejeira ficou danada da vida e começou a baixar a língua nele.
Foi aí que começou a lamentável mania de qualificarem os outros como audaciosos, presunçosos, vaidosos, afoitos, apressados e de quererem aparecer, à custa da doutrina.
Ficaram com mais raiva, ainda, quando tomaram conhecimento de que o público que se reunia para escutá-lo, nas cidades por onde ele passava, crescia assustadoramente, em proporções inimagináveis na Europa da época.
Ainda mais quando descobriram que ele era APLAUDIDO DE PÉ e que filas se formavam para abraçá-lo e tomá-lo um autógrafo em um livro. Se naquele tempo existissem celulares, com certeza inúmeras pessoas gostariam de tirar fotos com ele, assim como fazem com Divaldo e vários outros expositores hoje.
Foi um verdadeiro inferno, gente, o que aconteceu. O que aquele homem sofreu na língua da maledicência espírita foi algo impressionante.

"A Sociedade de Paris se constituiu foco de continuas intrigas urdidas contra mim por aqueles mesmos que se declaravam a meu favor e que, de boa fisionomia, na minha presença, pelas costas me golpeavam" 
Allan Kardec - 1867

As pessoas não davam limites às suas maldades e perversidades ao reagirem contra ele, chamando-o de vaidoso, presunçoso, prepotente e daí inventaram a estúpida maluquice de que ele teria ficado RICO, à custa do Espiritismo, devido ao sucesso das vendas dos livros que conseguia nas suas viagens. Repito que os livros eram impressos com dinheiro dele.
Dá, agora, para formar a idéia do porquê Camile Flamarion recusou o convite para presidir a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritos, depois que Kardec desencarnou?
O modismo das calúnias e difamações que muito vemos hoje no meio espírita, começou ali, quando o objetivo de acabar com a imagem dele sugeriu a idéia de espalhar para o público que ele era possuidor de carruagem de 4 cavalos, ricos tapetes persas em casa, etc. etc. etc.
É exatamente o que acontece nos dias atuais, quando acusam Divaldo de elitizar o Espiritismo, pelos eventos que faz, quando falam em “mercantilização da doutrina” e toda essa palhaçada que a gente vê por aí a todo instante.
Kardec chegou a se desabafar sobre essa amarga experiência que viveu e fazia anotações que ficaram guardadas nas suas gavetas. Foi dessas anotações que surgiu o livro “Obras Póstumas”, onde ele relata, sem receios e sem papas na língua, tudo o que passou. Consta que existiam outros relatos de fatos muitos mais graves e de elevado nível de imoralidade, que fizeram com ele, mas que acharam por bem não fazer constar no livro, para evitar males maiores.
É exatamente por isto que você não vê, nos centros espíritas hoje, ninguém divulgar esse livro, que não fica exposto na maioria dos centros espíritas, não é livro de estudo, e alguns dirigentes chegam a minimizá-lo, dizendo que ele não tem muita importância.
Sabe o que é isto? Falta de vergonha na cara, em muitos espíritas, já que muitos morrem de vergonha, porque nos dias de hoje continuam fazendo exatamente aquilo que fizeram com o grande Mestre.
Foi por isto que o Espiritismo não deu mais certo na Europa.
Quando ele desencarnou, em 31 de março de 1869, prevaleceram aqueles que viraram donosdo Espiritismo na época.
Pra começar, acabaram com a Revista Espírita, mesmo com o enorme sucesso que ela fazia. Podem observar: a última é exatamente do ano de 1869; não é o Alamar que está inventando não.
Botaram uma pá de cal em cima de qualquer proposta de divulgação do Espiritismo e é por isto que ela continua enfrentando dificuldades nos dias de hoje.
Os detalhes da história são muitos, mas vamos parar por aqui.

E como foi a chegada no Brasil?

O Espiritismo chegou ao Brasil pelas mãos de vários, entrando em vários estados. Mas o primeiro foi na Bahia, através de Luiz Olympio Teles de Menezes, que trazia o modelo conforme Kardec.
O Luiz Olympio se correspondia assiduamente com Kardec, viraram amigos. Pra começar, ele criou aqui no Brasil, também, um jornal que se transformaria em revista, que era o“Eco de Além Túmulo”. Ele queria fazer exatamente como Kardec fazia.
Aí, já que outros também foram à França e tiveram contato com a Sociedade Parisiense de Igrejismo Espírita (é isto que se transformou), ao voltarem para o Brasil trouxeram a idéia contrária, adotada por membros de “oposição”, que militavam por lá.
Foi exatamente aí que surgiu o espiritismo igrejeiro no Brasil.
Pra começar, baixaram o cacete no Luiz Olympio. Começaram a difamá-lo, na Bahia, deram-lhe um desprezo enorme, que ele, que era funcionários dos Correios, resolveu pedir transferência para o Rio de Janeiro, achando que lá poderia desenvolver um Espiritismo Coerente, conforme Allan Kardec.
Quebrou a cara, coitado. Ao chegar ao Rio, também encontrou o espiritismo igrejeiro instalado, deram-lhe uma banana, foi também caluniado e desprezado, totalmente abandonado. Quando morreu, consta que apenas quatro pessoas conduziram o seu funeral, que eram as quatro pessoas que levaram o caixão ao cemitério, que até hoje espírita nenhum fez o menor esforço, no Rio, para historicamente identificar onde o seu corpo foi sepultado.
Pronto. Prevaleceu o espiritismo igrejeiro no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, onde vivia o Dr. Bezerra de Menezes, que era médico e político.
Quando o velho cearense começou a ter os primeiros contatos com a novidade, chamada “espiritismo”, ele viu aquele modelo, aprendeu daquele jeito e concebeu daquele jeito.
O que é que vocês queriam que ele fizesse? Como vocês queriam que ele praticasse?
Literatura era coisa rara, naquele momento, a Revista Espírita não havia sido trazida para o Brasil ainda, a não ser alguns números, através de alguns assinantes que já existiam por aqui, como existia no mundo todo, adeptos do modelo Kardec que eram calados, como são até hoje, considerados polêmicos e coisas parecidas.
Como o doutor Bezerra poderia ter informações exatas do modelo como Kardec praticava e sugeria que fosse praticado?
Proliferou o modelo igrejeiro, os primeiros dirigentes espíritas foram igrejeiros e prevaleceu esse modelo.
Agora vejam o que aconteceu, com o passar dos anos:
Os primeiros dirigentes espíritas brasileiros foram desencarnando e começaram a voltar aos centros como Mentores da Casa.
Aí entra em foco aquele outro artigo que eu escrevi, quando falei da figura “O mentor da casa espírita”.
Conforme sabemos, os desencarnados são exatamente as mesmas pessoas que aqui viveram, com os mesmos conhecimentos, a mesma cultura, o mesmo grau de escolaridade, as mesmas paixões... as mesmas tudo.
Já que o cidadão, como encarnado, aprendeu um espiritismo daquele jeito, que tipo de espiritismo vai querer ensinar, quando eleito mentor, depois de desencarnado?
O mesmo espiritismo igrejeiro, que é o que sabe, não o modelo Kardec.
E é daí que encontramos a grande maioria dos centros espíritas fazendo este modelo, sob obediência às recomendações do espírito que chamam de Mentor da Casa.
Não mudam! Não adianta a Revista Espírita, que hoje está disponível para todos espíritas, não apenas naquela tradução primeira que chegou ao Brasil, cheia de erros, mas na atual, de autoria de Evandro Noleto Bezerra, que está muito boa. Os espíritas não querem saber dela, não têm o menor interesse em procurar saber como Kardec fazia, o que tem que prevalecer é a Santa Imaculada Igreja Espírita que foi implantada, com seus dogmas imutáveis.
O que importa é o que diz e orienta o mentor da casa, que nem eles mesmos sabem quem é. Raro é o centro que se preocupa em saber quem é o tal mentor e que se dispõe a dialogar e debater com ele.
- Debater com o mentor da casa, Alamar? Você tá ficando maluco? Você só pode estar sob sério processo obsessivo, Alamar.
É assim que pensam muitos espíritas.
Para esses muitos, debater e questionar mentor da casa seria a mesma coisa que propor a católicos questionarem com a “virgem” Maria.
Então, amigos, não se pode falar sobre isto e o mais aconselhável é levar para a fogueira ou para a guilhotina, todo aquele que se atrever a querer um espiritismo conforme Kardec fez. Já que não podem queimá-los vivos, optam por qualificá-los como polêmicos, denegrindo a sua imagem para que os freqüentadores da casa não tenham acesso aos seus argumentos e idéias.
Infelizmente é este o modelo do Espiritismo que estamos tendo por aqui, que não consegue segurar muita gente, do mesmo jeito que a Europa não conseguiu mais segurar gente nos tempos passados.
Se fosse no modelo de Kardec, com certeza teríamos muito mais de 50 milhões de espíritas no Brasil, hoje. Talvez muito mais.
Será que este não é um assunto para levarmos a debate nos Congressos Espíritas?
Conclusão: Não quero que ninguém se deixe levar pela cabeça do Alamar, apenas sugiro que observem a Revista Espírita. Se o que estiver lá for exatamente o que o Alamar propõe, terá sido apenas mera coincidência.
Fica aí a idéia, então, para apreciação de todos.
           Abração.

                           Alamar Régis Carvalho
       Analista de Sistemas, Escritor e Antares DINASTIA

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