a partir de maio 2011

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Magnetismo Animal e Magnetismo Espiritual

 Quando apareceram os primeiros fenômenos espíritas, algumas pessoas pensaram que essa descoberta (se se pode aplicar-lhe esse nome) iria dar um golpe fatal no Magnetismo, e que ocorreria com ele como com as invenções, das quais as mais aperfeiçoadas fazem esquecer a precedente. Esse erro não tardou em se dissipar, e, prontamente, se reconheceu o parentesco próximo dessas duas ciências. Todas as duas, com efeito, baseadas sobre a existência e a manifestação da alma, longe de se combaterem, podem e devem se prestar um mútuo apoio: elas se completam e se explicam uma pela outra. Seus adeptos respectivos,todavia, diferem em alguns pontos.
O magnetizador é aquele que pratica o magnetismo; magnetista se diz de alguém que lhe adote os princípios. Pode-se ser magnetista sem ser magnetizador; mas não se pode ser magnetizador sem ser magnetista.) não admitem, ainda, a existência, ou pelo menos a manifestação dos Espíritos: crêem poder tudo explicar pela única ação do fluido magnético, opinião que nos limitamos a constatar, reservando-nos discuti-la mais tarde. Nós mesmos a partilhamos no princípio; mas, comotantos outros, devemos nos render à evidência dos fatos.
Os adeptos do Espiritismo, ao contrário, são todos partidários do magnetismo; todos admitem a sua ação e reconhecem nos fenômenos sonambúlicos uma manifestação da alma. Essa oposição, de resto, se enfraquece dia a dia, e é fácil prever que não está longe o tempo em que toda distinção terá cessado.
Essa diferença de opinião não tem nada que deva surpreender. No início de uma ciência,
ainda tão nova, é muito simples que cada um, encarando a coisa sob o seu ponto de vista,
dela se tenha formado uma idéia diferente. As ciências, as mais positivas, tiveram, e têm
ainda, suas seitas que sustentam com ardor teorias contrárias; os sábios ergueram escolas contra escolas, bandeiras contra bandeiras, e, muito freqüentemente, pela sua dignidade, sua polêmica, torna-se irritante e agressiva pelo amor-próprio melindrado, e desviada dos limites de uma sábia discussão.
Esperemos que os sectários do Magnetismo e do Espiritismo, melhor inspirados, não dêem ao mundo o escândalo de discussões muito pouco edificantes, e sempre fatais para a propagação da verdade, de qualquer lado que esteja. Pode-se ter sua opinião,sustentá-la, discuti-la; mas o meio de se esclarecer não é o de se dilacerar, procedimento pouco digno de homens sérios, e que se torna ignóbil se o interesse pessoal está em jogo.
O Magnetismo preparou os caminhos do Espiritismo, e os rápidos progressos dessa última
doutrina são, incontestavelmente, devidos à vulgarização das idéias da primeira. Dos
fenômenos magnéticos, do sonambulismo e do êxtase, às manifestações espíritas, não há
senão um passo; sua conexão é tal que é, por assim dizer, impossível falar de um sem falar do outro. Se devêssemos ficar fora da ciência magnética, nosso quadro estaria incompleto e se poderia nos comparar a um professor de física que se abstivesse de falar da luz.
Todavia, como o Magnetismo já tem entre nós órgãos especiais, justamente autorizados, tornar-se-ia supérfluo cair sobre um assunto tratado com a superioridade do talento e da experiência;dele não falaremos, pois, senão acessoriamente, mas suficientemente para mostrar as relações íntimas das duas ciências que, na realidade, não fazem senão uma.
Devíamos, aos nossos leitores, essa profissão de fé, que terminamos rendendo uma justa
homenagem aos homens de convicção que, afrontando o ridículo, os sarcasmos e os
dissabores, estão corajosamente devotados à defesa de uma causa toda humanitária.
Qualquer que seja a opinião dos contemporâneos sobre a sua conta pessoal, opinião que é
sempre, mais ou menos, o reflexo de paixões vivas, a posteridade lhes fará justiça; colocará o nome do barão Du Potet, diretor do Jornal do Magnetismo, do senhor Millet, diretor da União Magnética, ao lado dos seus ilustres predecessores, o marquês de Puységur e o sábio Deleuze. Graças aos seus esforços perseverantes, o Magnetismo, tornado popular, colocou um pé na ciência oficial, onde dele já se fala, em voz baixa. Essa palavra passou para a linguagem usual; ela não espanta mais, e quando alguém se diz magnetizador, não lhe riem mais ao nariz.

 
1. Os médiuns que obtêm as indicações de remédios da parte dos Espíritos não são
o que se chama médiuns curadores, porque não curam por si mesmos; são simples
médiuns escreventes que têm uma aptidão mais especial do que outros para esse gênero
de comunicações, e que, por essa razão, podem se chamar médiuns consultantes, como
outros são médiuns poetas ou desenhistas. A mediunidade curadora se exerce pela ação
direta do médium sobre o doente, com a ajuda de uma espécie de magnetização de fato
ou de pensamento.
2. Quem diz médium diz intermediário. Há esta diferença entre o magnetizador e o
médium curador, que o primeiro magnetiza com o seu fluido pessoal, e o segundo com o
fluido dos Espíritos, ao qual serve de condutor. O magnetismo produzido pelo fluido do
homem é o magnetismo humano; aquele que provém do fluido dos Espíritos é o
magnetismo espiritual.
3. O fluido magnético tem, pois, duas fontes muito distintas: os Espíritos encarnados
e os Espíritos desencarnados. Essa diferença de origem produz uma diferença muito
grande na qualidade do fluido e em seus efeitos.
O fluido humano é sempre mais ou menos impregnado das impurezas físicas e
morais do encarnado; o dos bons Espíritos é necessariamente mais puro e, por isto
mesmo, tem propriedades mais ativas que levam a uma cura mais rápida. Mas, passando
por intermédio do encarnado, pode-se alterar como uma água límpida passando por um
vaso impuro, como todo remédio se altera se permanece em um vaso impróprio, e perde
em parte suas propriedades benfazejas. Daí, para todo verdadeiro médium curador, a
necessidade absoluta de trabalhar em sua depuração, quer dizer, em sua melhoria moral,
segundo este princípio vulgar: limpai o vaso antes de vos servir dele, se quereis ter
alguma coisa de bom. Só isto basta para mostrar que o primeiro que chega não poderia
ser médium curador, na verdadeira acepção da palavra.
4. O fluido espiritual é tanto mais depurado e benfazejo quanto o Espírito que o
fornece é, ele mesmo, mais puro e mais desligado da matéria. Concebe-se que o dos
Espíritos inferiores deve se aproximar do homem e pode ter propriedades malfazejas, se
o Espírito for impuro e animado de más intenções.
Pela mesma razão, as qualidades do fluido humano apresenta nuanças infinitas
segundo as qualidades físicas e morais do indivíduo; é evidente que o fluido saindo de um
corpo malsão pode inocular princípios mórbidos no magnetizado. As qualidades morais do
magnetizador, quer dizer, a pureza de intenção e de sentimento, o desejo ardente e
desinteressado de aliviar seu semelhante, unido à saúde do corpo, dão ao fluido um
poder reparador que pode, em certos indivíduos se aproximar das qualidades do fluido
espiritual.
Seria, pois, um erro considerar o magnetizador como uma simples máquina na
transmissão fluídica. Nisto como em todas as coisas, o produto está em razão do
instrumento e do agente produtor. Por estes motivos, haveria imprudência em se
submeter à ação magnética do primeiro desconhecido; abstração feita dos conhecimentos
práticos indispensáveis, o fluido do magnetizador é como o leite de uma nutriz: salutar ou
insalubre.
5. O fluido humano sendo menos ativo, exige uma magnetização prolongada e um
verdadeiro tratamento, às vezes, muito longo; o magnetizador, dispensando seu próprio
fluido, se esgota e se fatiga, porque é de seu próprio elemento vital que ele dá; é porque
deve, de tempos em tempos recuperar suas forças. O fluido espiritual, mais poderoso em
razão de sua pureza, produz efeitos mais rápidos e, freqüentemente, quase instantâneos.
Esse fluido não sendo o do magnetizador, disto resulta que a fadiga é quase nula.
6. O Espírito pode agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, assim
como se pôde constatar em muitas ocasiões, seja para aliviá-lo, curá-lo se isto se pode,
ou para produzir o sono sonambúlico. Quando se age por intermediário, é o caso da mediunidade curadora.
7. O médium curador recebe o influxo fluídico do Espírito, ao passo que o
magnetizador haure tudo em si mesmo. Mas os médiuns curadores, na estrita acepção da
palavra, quer dizer, aqueles cuja personalidade se apaga completamente diante da ação
espiritual, são extremamente raros, porque esta faculdade, elevada ao seu mais alto grau,
requer um conjunto de qualidades morais que raramente se encontra sobre a Terra;
somente eles podem obter, pela imposição das mãos, essas curas instantâneas que nos
parecem prodigiosas; muito poucas pessoas podem pretender este favor. O orgulho e o
egoísmo sendo as principais fontes das imperfeições humanas, disso resulta que aqueles
que se gabam de possuir esse dom, que vão por toda a parte enaltecendo as curas
maravilhosas que fizeram, ou que dizem ter feito, que procuram a glória, a reputação ou o
proveito, estão nas piores condições para obtê-la, porque esta faculdade é o privilégio
exclusivo da modéstia, da humildade, do devotamento e do desinteresse. Jesus dizia
àqueles que tinha curado: Ide dar graças a Deus, e não o digais a ninguém.
8. A mediunidade curadora pura sendo, pois, uma exceção neste mundo, disso
resulta que há quase sempre ação simultânea do fluido espiritual e do fluido humano;
quer dizer, que os médiuns curadores são todos mais ou menos magnetizadores, é por
isso que agem segundo os procedimentos magnéticos; a diferença está na predominância
de um ou de outro fluido, e na maior ou na menor rapidez da cura. Todo magnetizador
pode se tornar médium curador, se sabe se fazer assistir pelos bons Espíritos; neste caso
os Espíritos lhe vêm em ajuda, derramando sobre ele seu próprio fluido que pode
decuplicar ou centuplicar a ação do fluido puramente humano.
9. Os Espíritos vão para onde querem; nenhuma vontade pode constrangê-los; eles
se rendem à prece se é fervorosa, sincera, mas jamais à injunção. Disso resulta que a
vontade não pode dar a mediunidade curadora, e que ninguém pode ser médium curador
de desejo premeditado. Reconhece-se o médium curador pelos resultados que obtém, e
não pela sua pretensão de sê-lo.
10. Mas se a vontade é ineficaz quanto ao concurso dos Espíritos, ela é onipotente
para imprimir ao fluido, espiritual ou humano, uma boa direção, e uma energia maior. No
homem débil e distraído, a corrente é débil, a emissão fraca; o fluido espiritual se detém
nele, mas sem proveito para ele; no homem de uma vontade enérgica, a corrente produz
o efeito de uma ducha. Não é preciso confundir a vontade enérgica com a teimosia,
porque a teimosia é sempre uma conseqüência do orgulho e do egoísmo, ao passo que o
mais humilde pode ter a vontade do devotamento.
A vontade é ainda onipotente para dar aos fluidos as qualidades especiais
apropriadas à natureza do mal. Este ponto, que é capital, se prende a um princípio ainda
pouco conhecido, mas que está em estudo, o das criações fluídicas, e das modificações
que o pensamento pode fazer a matéria suportar. O pensamento, que provoca uma
emissão fluídica, pode operar certas transformações moleculares e atômicas, como se vê
isto se produzir sob a influência da eletricidade, da luz ou do calor. 
11. A prece, que é um pensamento, quando é fervorosa, ardente, feita com fé,
produz o efeito de uma magnetização, não só chamando o concurso dos bons Espíritos,
mas em dirigindo sobre o doente uma corrente fluídica salutar. Chamamos a esse
respeito a atenção sobre as preces contidas em O Evangelho Segundo o Espiritismo,
para os doentes ou os obsidiados.
12. Se a mediunidade curadora pura é o privilégio das almas de elite, a
possibilidade de abrandar certos sofrimentos, de curar mesmo, embora de maneira não
instantânea, certas doenças, é dada a todo o mundo, sem que seja necessário ser
magnetizador. O conhecimento dos procedimentos magnéticos é útil em casos
complicados, mas não é indispensável. Como é dado a todo o mundo chamar os bons
Espíritos, orar e querer o bem, freqüentemente, basta impor as mãos sobre uma dor para
acalmá-la; é o que pode fazer todo indivíduo se nisso põe a fé, o fervor, a vontade e a
confiança em Deus. Há a se anotar que a maioria dos médiuns curadores inconscientes,
aqueles que não se dão nenhuma conta de sua faculdade, e que se encontram, às vezes,
nas condições mais humildes, e entre pessoas privadas de toda instrução, recomendam a
prece, e ajudam a si mesmos orando. Somente sua ignorância faz crer na influência de tal
ou tal fórmula; algumas vezes mesmo ali misturam práticas evidentemente supersticiosas,
das quais é preciso dar o caso que elas merecem.
13. Mas do fato de que se tenha obtido uma vez, ou mesmo várias vezes, resultados
satisfatórios, seria temerário se dar como médium curador, e disso concluir que se pode
vencer toda espécie de mal. A experiência prova que, na acepção restrita da palavra,
entre os melhores dotados, não há médiuns curadores universais. Tal terá devolvido a
saúde a um doente, que não produzirá nada sobre um outro; tal terá curado um mal num
indivíduo, que não curará o mesmo mal uma outra vez, sobre a mesma pessoa ou sobre
uma outra; tal, enfim, terá a faculdade hoje, que não terá mais amanhã, e poderá recobrálamais tarde, segundo as afinidades ou as condições fluídicas em que se encontrem.
A mediunidade curadora é uma aptidão, como todos os gêneros de mediunidade,
inerente ao indivíduo, mas o resultado efetivo dessa aptidão é independente de sua
vontade. Ela se desenvolve, incontestavelmente, pelo exercício, e sobretudo pela prática
do bem e da caridade; mas como ela não poderia ter a constância, nem a pontualidade de
um talento adquirido pelo estudo, e do qual se é sempre senhor, não poderia tornar-se
uma profissão. Seria, pois, abusivamente que uma pessoa se ostentasse diante do
público como médium curador. Estas reflexões não se aplicam aos magnetizadores,
porque a força está neles, e são livres para dela dispor.
15. E um erro crer que aqueles que não partilham nossas crenças, não teriam
nenhuma repugnância em tentar essa faculdade. A mediunidade curadora racional é
intimamente ligada ao Espiritismo, uma vez que repousa essencialmente sobre o
concurso dos Espíritos; ora, aqueles que não crêem nem nos Espíritos, nem em sua
alma, e ainda menos na eficácia da prece, não saberiam colocar-se nas condições
desejadas, porque isso não é uma coisa que se possa tentar maquinalmente. Entre
aqueles que crêem na alma e sua imortalidade, quantos há ainda hoje que recuariam de
medo diante de um chamado aos bons Espíritos, no temor de atrair o demônio, e que
crêem ainda de boa-fé que todas essas curas são a obra do diabo? O fanatismo é cego;
ele não raciocina. Isto não será sempre assim, sem dúvida, mas se passará muito tempo
antes que a luz penetre em certos cérebros. À espera disto, façamos o maior bem
possível com a ajuda do Espiritismo; façamo-lo mesmo aos nossos inimigos, aceitemos
ser pagos com a ingratidão, é o melhor meio de vencer certas resistências, e de provar
que o Espiritismo não é tão negro quanto alguns o pretendem.

ALLAN KARDEC


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