a partir de maio 2011

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A ESPIRITUALIDADE ESPÍRITA

Eugenio Lara


Grande parte da intelectualidade ocidental vislumbrou que no século 20 veríamos o triunfo da racionalidade moderna sobre o pensamento dogmático. Todavia, o que vimos foi o crescimento e refortalecimento das religiões, especialmente as monoteístas. Muitas guerras, notadamente no Oriente Médio e Leste Europeu, são de origem religiosa.
 
O conflito ideológico entre os primeiros humanistas e teólogos cristãos no Quatrocento, prosseguiu em todo o Renascimento, no Século das Luzes com o Iluminismo e tornou-se, desde então, um conflito aparentemente insolúvel. Abriu-se um abismo entre a ciência e a religião no século 19. Ainda que criacionistas tentem maquilar suas teorias dogmáticas com o aparato científico atual e alguns físicos quânticos proponham teses que aproximam a Ciência de temas transcendentais, o conflito entre a mentalidade científica e a mentalidade religiosa prossegue sem tréguas.
 
Esse conflito também ocorre no meio espírita. De um lado, segmentos de espíritas que rejeitam o suposto caráter religioso do Espiritismo e de outro, espíritas de mentalidade dogmática, religiosista, extremamente influenciados pelo cristianismo. Para este último segmento, a satisfação da religiosidade na busca do sagrado é o que há de essencial no Espiritismo Cristão, tido como o Cristianismo redivivo, a Terceira Revelação, o Consolador prometido por Jesus Cristo. Para essa gente, o que importa mesmo é evangelizar. É o Espiritismo segundo o Evangelho.
 
Já para o segmento laico, a ideia de religiosidade no contexto espírita é algo bastante incômodo, causa um certo mal-estar. Sim, devemos respeitar a manifestação e diversidade religiosas, no entanto, há uma distância razoável entre o respeito necessário, a vivência e aplicação da religião em nossa vida pessoal.
 
Considerar a religiosidade como algo desprezível e descartável em nosso dia-a-dia não significa que a religião e os religiosos mereçam desprezo e todo o nosso despeito. Também não significa que sejamos ateus, descrentes ou niilistas. Afinal, a ideia de Deus, alma, imortalidade e tantos outros conceitos, de “propriedade” das religiões, fazem parte do conteúdo filosófico do Espiritismo.
 
O diferencial está no tratamento experimental e filosófico que o Espiritismo oferece na análise dessas questões consideradas transcendentais. Por se tratar de uma filosofia espiritualista “racional, isenta dos preconceitos do espírito de sistema”, seu caráter nada tem de religioso. O poder do Espiritismo está “na sua filosofia, no apelo que dirige à razão, ao bom senso”. E também na linguagem: “clara, sem ambiguidades. Nada há nele de místico, nada de alegorias susceptíveis de falsas interpretações. Quer ser por todos compreendido. (...) Longe de se opor à difusão da luz, deseja-a para todo o mundo. Não reclama crença cega; quer que o homem saiba por que crê. Apoiando-se na razão, será sempre mais forte do que os que se apoiam no nada”. (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos - Conclusão, item VI).
 
Rejeitar a religiosidade não significa ser antirreligioso, um iconoclasta de plantão no combate às instituições religiosas e no desprezo de sua importância histórica e cultural. A religião é também uma forma de conhecimento, objeto de estudo de sociólogos e antropólogos. Como se diz, “não se deve jogar a água da bacia junto com a criança”. Ser a-religioso não quer dizer antirreligioso.
 
O que o Espiritismo Kardecista propõe é o aprimoramento da espiritualidade ao invés da renovação ou reafirmação da religiosidade, seja ela cristã ou outra qualquer. A moral espírita é uma superação histórica e filosófica da moral cristã, apesar de verossímeis. Ou seja, a proposta kardecista neste aspecto é a da superação do religiosismo cristão mediante o uso da razão e do bom senso.
 
Daí a proposta kardequiana da fé raciocinada, o que é bem diferente de fé racional, um tremendo paradoxo, algo impossível de se imaginar na prática, no dia-a-dia.
 
A religião não é proprietária da espiritualidade. A espiritualidade derivada do Espiritismo é laica, secular, agnóstica e humanista.
 
A Espiritualidade Espírita é laica porque não se alimenta da fé, do pensamento teológico, dogmático e nem se vincula a determinada religião.
 
É secular porque sua origem e formulação são históricas, não admitindo, portanto, a intervenção divina, metafísica, sobrenatural ou algum tipo de deferência pelo sagrado, pois a filosofia espírita mostra-se como uma ruptura entre o sagrado e o profano.
 
É também agnóstica porque não aceita a fé dogmática como forma de conhecimento, sustenta-se na razão, na experiência e também no conhecimento científico.
 
É humanista, porque tem no ser humano o centro e o sentido de sua práxis, onde ele estiver, no mundo físico ou no extrafísico. Isto segundo os parâmetros da ética espírita e todo seu conjunto de valores morais, de profundo respeito aos direitos humanos, dos seres e das coisas. Para o Espiritismo, liberdade-igualdade-fraternidade não é apenas um slogan ou brasão tríplice, representa todo um programa moral, ético, voltado para o bem-estar, individual e coletivo.
 
E por fim, não se trata de mera substituição semântica. O conteúdo espírita nos oferece uma concepção que extrapola os limites da experimentação e da interpretação filosófica. O Espiritismo é uma doutrina “eminentemente moral e racional” e não se opõe à religião. Ao contrário. Para Kardec, o Espiritismo é o grande auxiliar das religiões porque lhes dá a base racional e filosófica necessária à compreensão de seus dogmas e do argumento de autoridade. Espiritualidade sim, religiosidade não! 
 
Eugenio Lara, arquiteto e designer gráfico, é editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense] e autor do livro Breve Ensaio Sobre o Humanismo Espírita. E-mail: eugenlara@hotmail.com.
 
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