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sexta-feira, 26 de abril de 2013

JARGÃO ESPÍRITA E COMPORTAMENTO CONFESSIONAL

Salomão Jacob Benchaya


A palavra "jargão" aplica-se, mais apropriadamente, à gíria profissional, ou seja, a linguagem carregada de expressões usuais no âmbito de cada profissão ou atividade, geralmente ininteligível para os não-integrantes desses grupamentos. Assim, diz-se "jargão médico", "jargão econômico" para designar o linguajar específico dos profissionais dessas áreas.
 
Para os propósitos deste comentário, forçando um pouco a semântica, falarei do "jargão espírita" ou, mais especificamente, do jargão espírita e do comportamento confessional, notadamente quando dirigentes e expositores espíritas se apresentam em ambientes não-espíritas.
 
O jargão espírita ou jargão dos espíritas é observado quando um interlocutor espírita emprega a terminologia espírita ao dirigir-se a pessoas não-espíritas ou neófitas, sem explicar o significado de expressões, tais como "perispírito", "ectoplasma", "palingenesia", "mediunidade", "umbral", "mesas girantes", "obsessão", etc. Torna-se imperativo que, nas conversações ou nas exposições doutrinárias, haja o cuidado de se traduzir, conceituar ou tornar significativas tais expressões, sem o que não haverá comunicação satisfatória.
 
O comportamento confessional é caracterizado pelo uso de expressões típicas e manifestação de hábitos e atitudes específicas de ambientes religiosos. Em muitos centros espíritas, as pessoas costumam tratar-se por "irmãos", não são bem aceitas manifestações de alegria e descontração, no auditório não são permitidas conversas ou só se fala sussurrando, há placas dizendo "O silêncio é uma prece", certas vestimentas são desaprovadas, alguns chegam a conduzir "religiosamente" o "Evangelho Segundo o Espiritismo" debaixo do braço, assim como um protestante carrega a Bíblia.
 
Já tive oportunidade de participar de diversos eventos promovidos por organizações espíritas e destinados ao público em geral. São cursos e seminários em dependências de universidades, fóruns e mesas-redondas em agremiações de profissionais e, mesmo, as tão comuns conferências públicas de médiuns famosos. É sabido que, em sua maioria, o público que acorre a esses eventos é o público espírita. Mas, uma parcela não o é.
 
Acontece que esta parcela, justamente a que é formada por pessoas interessadas em conhecer o Espiritismo, acaba sendo "agredida" ou submetida a constrangimentos pelo uso do "jargão espírita" ou pelo "comportamento confessional". No mínimo, tais pessoas se sentem excluídas no ambiente por não entenderem o linguajar e os hábitos religiosos. É como eu me sinto quando, tendo de comparecer a um culto em igreja católica, por exemplo, eventualmente acompanho, maquinalmente, os movimentos de "senta/levanta" dos fiéis para não ser olhado como um "estranho no ninho".
 
A propósito, quando, recentemente, estive em Belém do Pará, em visita à minha família de origem e acompanhei meu pai à sinagoga, senti-me como um peixe fora d’água, tendo que simular a entoação das orações já há muito esquecidas e os gestos rituais do judaísmo para não sofrer a reprimenda expressa nos olhares furtivos dos que me viam como um renegado que havia abandonado a religião dos meus antepassados.
 
Lembro-me de como achei estranho, há 42 anos atrás, quando ingressei no movimento espírita jovem, que todos se tratavam de "irmão". Era "maninho" pra cá, "maninha" pra lá. Expressões de santidade no rosto, leveza no andar, falava-se baixinho para não perturbar o ambiente espiritual.
 
Então, não faz sentido que os freqüentadores de instituições espíritas tenham que assumir, nesses ambientes, atitudes e comportamentos estereotipados e, o que é pior, que esses procedimentos sejam transpostos para ambientes não-espíritas. Isso cheira a hipocrisia.

Portal A ERA DO ESPÍRITOhttp://www.aeradoespirito.net/

Planeta ELIO'S (Temas Espíritas)http://emollo.blogspot.com.br/

Um comentário:

  1. pertinente. na comunidade que frequento há anos também há esse comportamento e ainda temos a presença do sânscrito (!)

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