a partir de maio 2011

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Diretor doutrinário da casa espírita



Toda instituição espírita deve ter uma diretoria doutrinária. Isto é fato, é justificável e é coerente, pois é fundamental que a casa espírita se conduza conforme o Espiritismo e que não fuja do direcionamento espírita, principalmente em se falando de aspectos morais.
A proposta de uma casa espírita é praticar Espiritismo, prioritariamente e acima de tudo.
Mas... o que seria praticar Espiritismo?
No centro espírita, a prática espírita consiste em estudar o Espiritismo, mas não de forma superficial que atende apenas a formalidade do “eu estudo a doutrina”.
Não sendo superficial, obviamente entendemos que estamos falando em estudo aprofundado, que também não pode ser entendido como um estudo para formar intelectualóides espíritas, que são aquelas pessoas que fazem questão de se exibirem como “entendedoras exclusivas da doutrina”, aquele elemento que se acha detentor do conhecimento absoluto, acima de qualquer outra pessoa, pois tudo tem que ser conforme a cabeça dele.
O estudo da doutrina, que chamamos de aprofundado, é aquele que exige a necessidade de pesquisa e de experimentação, como Allan Kardec fez e sugeriu, e que faz o estudante entender e adquirir a convicção de que, por mais que estude, ele não saberá tudo sobre as coisas e relações do mundo espiritual, haja vista que nem tudo pode nos ser revelado ainda, por não ser acessível ao nível em que estamos hoje.
Mas o estudo da doutrina não pode ser feito apenas como uma bola de neve teórica e interminável, sem espaço para colocar em prática o que é aprendido, da mesma forma que não tem sentido alguém concluir um curso de Medicina, fazer pós-graduação, residência, participar de congressos, adquirir todas as publicações que surgem na sua especialidade, fazer mestrado, doutorado e até se tornar um PhD, mas sem se dedicar em momento algum àquilo que é a razão fundamental da Medicina, que é a arte de curar e prevenir as enfermidades.
De que adiantaria tanto conhecimento? Só para esnobar títulos?
Sim... Mas... e a figura do diretor doutrinário do centro espírita, que relação tem com isto?
Eu fiz a abordagem inicial para entrar no assunto.

Diretor doutrinário: O mais importante cargo do centro

Será que todos os centros espíritas têm consciência disto?
Pelo que tenho visto, ao longo da experiência de observação, acredito que não. A maioria das casas espíritas vê o cargo de diretor doutrinário como outro qualquer, no mesmo nível do diretor de patrimônio, diretor administrativo, etc., mas não pode ser assim. A responsabilidade de serdiretor doutrinário de um centro é muito grande e os espíritas não têm se apercebido disto.
Vale a pena a gente questionar sobre este assunto ou será mais conveniente deixar a coisa ficar como está e simplesmente qualificar, simploriamente, como polêmico aquele que sugere a prática de um espiritismo racional?
Vamos lá:
Conforme todos sabem, a constituição de uma DIRETORIA de casa espírita é feita com base em colocar quem tem tempo para ocupar os cargos disponíveis.
Calma. Isto é o que acontece com a maioria das casas espíritas, que não têm recursos, principalmente financeiros, que não projetam a sua diretoria e que não são grandes demais, porque quando a instituição é muito grande e aparece de vez em quando na imprensa ou movimenta grande somas em dinheiro, aí a coisa é diferente, porque há uma disputa muito grande pelos cargos e todos os meios são utilizados para conquistá-los, nem sempre meios amparados pelos requisitos morais.
Quem são os membros escolhidos para as diretorias? Os que são de fato os melhores, os mais preparados e mais fiéis aos princípios espíritas?
Não, os membros escolhidos são aqueles que rezam conforme a cartilha do líder do grupo. Funciona do mesmo jeito como o Presidente da República escolhe os seus ministros, o governador escolhe os seus secretários de estado e o prefeito escolhe os seus: tem que fazer parte da base partidária!
Mas... no meio espírita a competência, o preparo e a qualificação não tem que falar mais alto?
Isto na teoria, mas na prática não.
É até possível que um determinado grupo, quando pretende constituir uma diretoria de uma casa, escolha alguém que tenha uma certa capacidade para o desempenho do cargo o qual está sendo convidado, todavia esse alguém recusa o convite por vários motivos:
- Não disponho de tempo, por conta das atividades profissionais. Para assumir, mas não poder desempenhar bem o cargo, eu prefiro ficar de fora e dar a minha contribuição na medida em que vou podendo.
- Eu gostaria muito, mas estou com filho pequeno em casa, estou morando longe, estou com a minha mãe idosa morando em casa e não vou poder.
- Os compromissos com a faculdade estão apertados e não vou poder. Gostaria muito.
Muitas são as argumentações que impedem os melhores de assumirem. Mas há uma que existe muito, mas fica presa na garganta já que as pessoas, lamentavelmente, preferem não dizer.
- Conheço muito bem a cabeça dessa criatura que está à frente do grupo e com ela não entro mesmo. É melhor dar uma desculpa qualquer.
Pronto, fica tudo na “santa” paz e seja o que Deus quiser.
E aí, qual a alternativa?
Pegam quem tem tempo e, muitas vezes, está doidinho para ostentar o título de DIRETOR DE CENTRO ESPÍRITA, às vezes até uma criatura que nunca conseguiu ser eleito pra nada, nem mesmo para terceiro secretário do vice-síndico do edifício onde mora.
É aí que mora o problema.

Quem será o diretor doutrinário?

O bom senso, a coerência e a responsabilidade determinam que o diretor doutrinário deve ser alguém que, no mínimo, conheça muito bem a doutrina. Acho que ninguém pode discordar disto.
Mas o que significa conhecer a doutrina, para a maioria?
Alguns entendem que a pessoa ideal é a dona Conceição ou o seu Pedro, que têm mais de trinta anos de espiritismo e que vão ao centro toda semana, sem faltarem ao trabalho.
E tem outra coisa: Eles falam “muita paz, meu irmão” e costumam dizer “estou melhor do que mereço”.
Será que o fato de ter vinte, trinta ou quarenta anos de espiritismo necessariamente pode ser traduzido como conhecimento do espiritismo?
Se você parar para analisar bem a dona Conceição e o seu Pedro, vão verificar que os trinta anos de espiritismo deles se resumem a, de fato, irem ao centro espírita toda a semana, mas... para quê?
Para aquela mesma rotina religiosa de sempre, que é o dia da palestra e o dia da mediúnica.
Vamos analisar, então, cada atividade desta:

O dia da palestra – Constitui-se de que?

1)   Esperar que as pessoas cheguem ao centro, EM SILÊNCIO, porque está afixada na parede o famoso aviso “Silêncio é uma prece”.
2)   Vamos iniciar o trabalho exatamente às 20:00, pontualmente, em nome da disciplina. Mas tem que ser VINTE HORA, EM PONTO.
3)   Leitura de um trecho de um livro, que pode ser “O Evangelho...”(sempre aberto, na maioria das vezes, no meio), “O Pão Nosso”, “Conduta Espírita” e um desses.
4)   A alguém é pedido para fazer a prece de abertura da noite de hoje.
5)   O palestrante faz a palestra, na maioria das vezes meramente religiosa.
6)   Avisos da casa.
7)   Vamos ao Passe.
8)   Um copinho de água magnetizada, que a maioria chama de fluidificada.
9)   Pronto. Todo mundo volta para casa.

O dia da mediúnica – Constitui-se de que?

1)   Apenas as seis, oito ou dez pessoas de sempre (sempre aquelas) que participam.
2)   Abre-se um livro, para uma mensagem qualquer, sempre dentro do mesmo ritual.
3)   Alguém faz a prece e o dirigente declara aberto o trabalho da noite.
4)   Vem o primeiro espírito SOFREDOR. Depois mais um, mais um, mais um, mais um... e assim 75% a 80% do tempo da mediúnica é ocupado para atender a espíritos sofredores, revoltados ou perseguidores.
5)   Os doutrinadores – espíritas altamente qualificados moralmente – se oferecem para conversar com esses espíritos, recomendando que os mesmos façam aquilo que eles praticam impecavelmente no seu dia-a-dia: perdão, tolerância, indulgência, benevolência, compreensão, fraternidade, caridade, paciência, observância ao Evangelho e muito amor para com o seu próximo.
6)   Faltando dez a cinco minutos para o final, é dado um espaçozinhopara os espíritos amigos se comunicarem e transmitirem alguma mensagem para o grupo. Mas essa mensagem tem que ser rapidinha, porque, devido ao adiantar da hora vamos ter que encerrar os trabalhos da noite de hoje, em nome da disciplina com o horário.
7)   Está encerrado o trabalho da noite de hoje.

Os trinta anos de espiritismo da dona Conceição e do seu Pedro se resumiram praticamente a só isto, nada mais.
Peraí, mas eles têm vários livros espíritas em casa e tem lido muito.
Calma aí: O fato de uma pessoa ter muitos livros em casa não significa necessariamente que os lê e muito menos que os estude, já que para alguns livros não é o suficiente o ler por ler e sim o ESTUDAR.
Mas têm outros detalhes a considerar em cima disto:
Tanto a dona Conceição como o seu Pedro têm em casa aquela coleção da Obra Básica, comprada há mais de vinte anos, de uma determinada editora e de um “tradutor”, muitas vezes escolhida pela opção de ser a que estava mais barata na livraria do centro, e durante todo esse tempo, obtiveram as informações doutrinárias apenas ali.
Não passa pelas cabeças deles a idéia de que obras traduzidas, de um idioma para outro, invariavelmente têm possibilidades enormes de ter erros de tradução, distorcendo totalmente o pensamento do Codificador e dos Espíritos, no caso da obra espírita, e muito menos a possibilidade de alguém aparecer como tradutor de uma obra do Francês para o Português, sem nunca ter falado francês.
Misericórdia, Alamar, que diabo é isto que você está dizendo!!??
É isto mesmo que você está lendo. Digo isto o tempo todo em minhas palestras e seminários realizados para público espírita. Não entremos em detalhes agora.
Eles não têm a menor idéia do quanto é importante ao estudioso espírita, principalmente àquele que se dispõe a ser DIRETOR DOUTRINÁRIO de uma casa espírita, estudar, pesquisar, averiguar, comparar e discernir as questões em várias traduções, principalmente as mais modernas.
Se alguém levanta esta idéia, qual a reação deles: Simplesmente dizer que esse alguém é polêmico, e pronto, fica tudo do mesmo jeito.
Por outro lado, tem mais um detalhe que precisa ser levado em consideração:
Abrir o Evangelho “ao acaso” e ler o Livro dos Espíritos não é o suficiente para formar solidez doutrinária em ninguém, posto que O Livro dos Médiuns precisa ser muito bem conhecido, mas muito bem conhecido mesmo. Sei muito bem porque estou dizendo isto porque, comprovadamente, a maioria não o conhece bem. O Céu e o Inferno e a Gênese, desconhecidos por 65% dos espíritas e Obras Póstumas, desconhecido por 92% dos espíritas, devem também ser muito bem conhecidos por quem se dispõe a exercer o cargo de diretor doutrinário de um centro.
E a Revista Espírita, que o Alamar tanto tem falado, como é que fica?
Gente, esta é totalmente desconhecida. Você pode comprovar isto que eu estou falando: A grande maioria das casas espíritas que possui livraria não tem a Revista Espírita para vender e nem a tem na biblioteca da casa para que os seus trabalhadores e dirigentes a consultem. Preste atenção que você comprovará isto que estou dizendo.
As poucas livrarias que a tem, não dão a ela o destaque merecido e muitas a colocam nas prateleiras menos vistas. Em todos os lugares por onde eu visito, sempre procurando dar uma olhada nas livrarias, observo que, quando a encontro, ela não é colocada no espaço onde algumas reservam para colocar as obras básicas.
Conclusão: A Revista Espírita é totalmente desconhecida pelos espíritas, inclusive pelos trabalhadores e dirigentes de centros, até o diretor doutrinário.
Mas, Alamar. Será que o conhecimento da Revista Espírita é tão importante assim, com toda essa valorização que você dá?
Um presidente de grande casa espírita chegou ao absurdo de dizer que a RE não tem toda essa importância que o Alamar anda dando.
Vamos raciocinar, gente:
Existem dois Allan Kardec: aquele que se serviu como instrumento para receber a doutrina que nos foi passada, no momento em que estava trabalhando para a constituição dos livros que compõem o básico do básico, e outro que foi o Kardec praticante da doutrina que os espíritos nos passaram.
O segundo Allan Kardec você só consegue conhecer através de Obras Póstumas e da Revista Espírita, assim como da Viagem Espírita.
Como é que um espírita, em sã consciência, vem a dizer que não tem importância nenhuma a gente saber como o próprio Allan Kardec praticava o espiritismo?
Existe algum espírita que serve mais como modelo de praticante do Espiritismo para nós que o próprio Allan Kardec?
É exatamente aí que está o problema. Por não conhecerem bem o Kardec Total, a dona Conceição e o seu Pedro estão fazendo um espiritismo conforme aquilo que vêm a cabeça deles e não conforme Allan Kardec ensinou e praticou.
E haja proibirem o que Kardec nunca proibiu, a praticarem o que Kardec nunca recomendou que praticassem, a fazer determinadas coisas de forma totalmente contraditória à forma como ele fazia, o que se constitui num movimento totalmente na contra-mão do codificador.
Pelo amor de Deus, isto acontece demais, inclusive dentro de várias Federativas.
Qual a decorrência disto?
Dona Conceição ou seu Pedro são designados a ocuparem o cargo de diretor doutrinário do centro.
O que eles vão fazer?
Vão proibir palestrantes que falem coisas que estão além dos seus conhecimentos, sem ao menos se darem ao trabalho de analisarem se o palestrante está ou não conforme Allan Kardec. Acontece isto a toda hora! É muito mais cômodo adotar a “mediocridade doutrinária” de considerar o palestrante como polêmico, para encerrar a questão e ninguém mais falar nisto.
Alamar, onde foi que você achou esse diabo desse termo “mediocridade doutrinária”? Existe isto?
Existe, sim, e muitos estão inseridos nele.
O mesmo fazem em relação a determinados livros que são proibidos de serem vendidos na livraria da casa e muito menos divulgados.
É claro que existe muita mediocridade escrita em nome do Espiritismo, mas posso garantir que muita coisa que não é mediocridade está sendo proibida por dirigentes espíritas.
Para ser diretor doutrinário de um centro, é fundamental conhecer Allan Kardec totalmente e não apenas a impressão que o conhece.
Fica ridículo, para um diretor de uma casa espírita, quando ele proíbe e condena um expositor por causa de uma determinada coisa que o mesmo falou e, em seguida, alguém chega pra ele e diz:
- Você errou nos comentários que fez acerca daquele expositor e sobretudo na condenação que fez a ele. Tudo o que ele disse está respaldado em Allan Kardec, descobrimos que está muito claro na Revista Espírita. Por causa disto, quem se expôs ao ridículo foi você, que demonstrou não conhecer Kardec e, por conseqüência, ser uma pessoa despreparada para o cargo que está ocupando.
Você já imaginou como fica a cara da pessoa, diante de uma situação desta?
O pior é que aconteceu, recentemente, em uma casa grande, quando um dos trabalhadores disse exatamente isto para uma diretora, na frente de todo mundo, deixando-a num constrangimento sem tamanho. Prá complicar ele estava com a Revista Espírita na mão, abriu e mostrou pra todo mundo.
Foi falta de caridade para com ela?
Não, foi o remédio adequado para determinadas pessoas que apenas falam em humildade, mas não tem a Humildade autêntica de procurar entender as suas limitações e parar com essa onda arrogante de ficar achando que sabe aquilo que não sabe, a ponto de condenar os outros. Bem feito.
Fico imaginando se eu recebesse, agora, um convite da TAM, para ser um piloto internacional dos seus vôos, com um salário de piloto internacional. Seria uma beleza. Mas o bom senso me recomenda a nem discutir a proposta, porque o fato de ser piloto não significa que tenha habilitação e prática para pilotar um Boeing ou qualquer tipo de avião.
É questão de bom senso, é questão de coerência, é questão de reconhecimento às suas reais capacidades. Por que isto é tão difícil pra muita gente?

Atenção dirigente espírita: Antes de você condenar alguém, por alguma colocação feita, tenha calma, paciência e disposição para pesquisar aquilo que foi dito ou escrito. Se possível, tenha a dignidade de ligar para ele, pedindo um auxílio para lhe fornecer fontes daquilo que foi dito, porque ajudará bastante no seu conhecimento. Não se exponha ao ridículo de ver a sua limitação de conhecimento exposta, porque dá um constrangimento enorme, ainda mais quando você age de forma arrogante.

Fica aí, então, a matéria para reflexão de muita gente, em nosso meio, e sugiro que levantem a questão dentro do centro onde você freqüenta:
Será que o diretor doutrinário da casa está de fato preparado para tal?

Para a reflexão dos que pensam.
           Abração a todos.

                           Alamar Régis Carvalho
          Analista de Sistemas, Escritor e ANTARES Dinastia

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Um comentário:

  1. Excelente texto Alamar. Respondendo À sua última pergunta: Será que o diretor doutrinário da casa está de fato preparado para tal? Não, nenhum está totalmente preparado para este mister. Fui muito exagerada em meu comentário? Bom, sou dirigente doutrinária e posso garantir que quanto mais nos preparamos para este mister mais vemos que temos que nos preparar mais, e mais, e mais. Mas o que conta é que estamos cumprindo com nossa tarefa e doando o que de melhor temos ao nosso próximo:AMOR, Caridade e carinho. Flora

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