a partir de maio 2011

terça-feira, 2 de abril de 2013

Conversas com os espíritos


Eu escrevi um artigo, com o título “Doutrinador de espíritos”, que teve uma certa repercussão, com muita gente comentando e até refletindo em cima da questão abordada.
Conforme todos sabem, a maioria dos centros espíritas, quando tem reunião mediúnica, geralmente restrita a pouquíssimas pessoas, com horário limitado de apenas uma hora(determinaram que só podemos dedicar uma hora para contato com os espíritos), deparamo-nos com a realidade que dedica de 75% a 80% do tempo para atender espíritos sofredores e apenas os últimos minutos para os espíritos amigos e orientadores, até que o dirigente da reunião, olhando para o relógio, ao observar que chegou às 21:00 (vinte uma horas, EM PONTO), em nome da “disciplina”, utiliza-se da sua autoridade:
- “Meus irmãos, devido ao adiantar da hora, vamos encerrar o trabalho da noite de hoje”.
Todo mundo sabe que é assim que a coisa se processa, não é verdade?
Pois bem: Vamos tentar fazer uma análise na forma como nós, espíritas, conversamos com os espíritos?
Comecemos com a parte que é determinaram como “principal” da mediúnica, que é o atendimento aos sofredores, conforme aquilo que tradicionalmente inventou o nosso movimento:
Esta necessidade de atender a sofredores surgiu devido a um entendimento de caridade, para com os mesmos, focados que somos, nós espíritas, na máxima “Fora da Caridade, não há salvação”.
Tudo bem, caridade é sempre bom, dedicarmos a quem precisa é ponto basilar da prática espírita. Atender e dar orientação, também, a um desencarnado desorientado, desequilibrado, desajustado e sofredor é bom e de fato está coerente com a prática espírita. Todavia, consideremos um aspecto interessante:
Para dialogarmos com uma pessoa, seja ela encarnada ou desencarnada, é fundamental que observemos vários detalhes dessa pessoa: nível de conhecimento, escolaridade, cultural, nível moral, capacidade de entendimento, estado de saúde, estado psíquico, estado emocional que se encontra, etc...
Se você conversa com uma pessoa de bem com a vida, tranqüila, em paz, amiga e carinhosa, a forma do diálogo é de um determinado jeito, mas vamos que você esteja diante de um assaltante, imundo, fedorento, drogado, agressivo violento, totalmente desequilibrado e só pensando em fazer o mal. Será que o nível de diálogo é o mesmo?
Claro que não.
Então visualizemos um espaço de nível de pessoas, com as quais dialogamos: entre o nível de Adolf Hitler e o nível de Chico Xavier.
No longo intervalo que os separa tem as pessoas desconfiadas, as chantagistas, as metidas as moralistas, as falsas, as hipócritas, as fingidas, as desonestas, as interesseiras, as inseguras, as medrosas, as submissas,... enfim, é grande a lista de qualificativos que encontramos.
Aí perguntamos: Será que o diálogo, com todo esse nível tão diversificado de personalidades, deve ser uniformizado ou merece uma especialização e uma aplicação distinta para cada caso?
Os psicólogos, durante o seu curso de graduação e pós-graduação, estudam os diversos tipos da personalidade humana, e quanto mais estudam mais percebem o quanto são complexos. Por conta disto, encontram uma dificuldade enorme em conseguir identificar o que está acontecendo com os seus pacientes, a ponto de poder ajudá-los.
Todo o mundo sabe que é bem demorado o processo do psicólogo conseguir começar essa identificação, a ponto de começar a ajudar o paciente, com a orientação adequada ao quadro.
Há tratamento que passa ano e até mais, com sessões todas as semanas.
Você, certamente, já deve ter ouvido vários casos de pessoas que dizem:
- “Com Fulano, nem Psicólogo deu jeito. Os pais gastaram uma grana, ele passou mais de dois anos em consultas e nada aconteceu. Continua do mesmo jeito”.
Claro. O Psicólogo, por mais competente que seja, não é santo e não aprendeu a  fazer milagres na faculdade.
Você conhece, também, muita gente que não adianta sugerir procurar um Psicólogo, um centro espírita, uma igreja ou qualquer outro meio onde possa receber um tratamento, porque não vai mesmo. É o caso da pessoa que sempre acha que não tem nada, não tem problema nenhum e que os outros é que gostam de implicar com ela.
Aqui em São Paulo estamos vivendo uma luta enorme das autoridades com um número grande de pessoas na chamada cracolândia, visando ajudá-las e recuperá-las, quando a maioria não quer ser ajudada. Há lugares para onde essas pessoas são levadas, onde tem moradia bem agasalhada, alimentação saudável, banho quente, vestuário, laser, televisão, educação, atendimento à saúde... e todo o básico para a pessoa viver com dignidade, mas não tem jeito, pois o que a maioria quer mesmo é continuar na rua, dormindo ao relento, sob sol e chuva, sem alimentação, sem saúde, sem carinho e afeto de ninguém se acabando a cada dia que passa.
Do mesmo jeito é o alcoólatra de dentro de casa, que acha que não é alcoólatra e que apenas bebe socialmente e o tabagista que acha que fuma por esporte. Não há quem convence que ele é viciado.
As variantes do comportamental humano são muito extensas e não tem limites. É preciso que todos tomemos consciência disto.

Remetamo-nos à relação com os desencarnados

Por que as nossas mediúnicas são destinadas objetivamente a atender espíritos sofredores?
A resposta é fácil:
É porque os médiuns se sentem livres para trabalharem com espíritos sofredores, porque ninguém patrulha a vida deles e nem lhes causa problemas, se trabalharem só com eles.
É isto mesmo. Se um médium recebe só espírito sofredor, ninguém enche a paciência dele, mas se começa a receber espírito considerado importante, famoso e elevado todo mundo duvida e questiona a sua mediunidade. É ou não é assim?
Experimente a médium do centro onde você freqüenta, Dona Raimunda, receber uma mensagem psicografada e assinar “Joanna de Ângelis”, “Madre Tereza de Calcutá”, “Francisco de Assis”, “Johnn Kennedy” ou um espírito famoso qualquer pra você ver o que acontece com ela. Existe exceção, sem dúvida alguma, mas a maioria dos centros fica com a “orelha em pé” e invariavelmente olha atravessado para o médium quando não o repreende.
Então... por via das dúvidas, pra ficar numa boa, deixe eu me conformar aqui em receber só sofredores.
Ok. Tomando por base a dificuldade do psicólogo, que abordei, vamos retratar a realidade que acontece em nosso meio:
Espíritos sofredores, maus e perversos podem vir a vontade, manifestando a sua raiva, sua ira, seu ódio e muito desejo de destruir alguém ou alguma obra.
Todo mundo que participa de uma mediúnica, com certeza já teve a experiência de ver um espírito que se identifica como padre que odeia o espiritismo e que não vai permitir que as obras da casa sejam realizadas, que vai perseguir todo mundo e que vai infernizar a vida de todos. Geralmente é alguém que foi padre em várias encarnações e por todas elas sempre teve ódio do que entende como espiritismo.
Aí vem a figura do DOUTRINADOR DE ESPÍRITOS, que é aquele trabalhador da casa que se vê como qualificado para conversar com os espíritos, qualquer que seja o seu nível, a sua personalidade e o seu nível moral e emocional, certo de que vai doutriná-lo, transformando-o, de uma hora para outra, em um ser do bem.
- “Venha na paz de Jesus, meu irmão”
- “Meu irmão, se Jesus perdoou a todos e ensinou o perdão, por que você também não perdoa?”
- “Meu irmão, o que você vai ganhar com isso? Você não percebe que só vai se prejudicar a continuar tentando prejudicar essa pessoa?”
- “Você está em um ambiente de amor, meu irmão. Aqui todos lhe amam muito”
Geralmente a conversa é esta, não é verdade?  
Muitas vezes não há amor nenhum entre os trabalhadores da casa, e o pior é que o espírito sabe disto.
Aí, de repente, num curto espaço de três a cinco minutos, a gente escuta o espírito chorando, morrendo de arrependimento por tudo o que fez durante séculos e séculos, encontrando, naquele instante, a sua estrada de Damasco, como se tivesse visto o próprio Jesus, como Saulo viu.
Pronto! Desapareceu o espírito ruim, rebelde e perverso para se transformar em um dedicado trabalhador do bem.
Qual a conclusão que você chega?
Que o doutrinador é simplesmente UM GÊNIO, no campo da psicologia, com uma capacidade fantástica de fazer milagres.
Qualquer doutrinador de centro espírita mereceria, com justa razão, o título de Dr. Honóris Causa do Conselho Federal de Psicologia, autorizados oficialmente a exercerem a profissão de psicólogo, mesmo sem ter cursado Psicologia na universidade.
Claro! Com todo esse poder, quem não o consideraria gênio na Psicologia?

Ponhamos os pés no chão

Será que não está na hora de repensarmos esta coisa de doutrinador de mediúnica de centro espírita?
O ideal seria repensarmos a mediúnica como um todo, principalmente a rotina de usar o tempo apenas para atender sofredores; mas se nos disponibilizarmos a pensar na figura do doutrinador já será um grande avanço para algo que caracteriza a doutrina espírita, que é o BOM SENSO.
Devemos parar de realizar atendimento a sofredores?
Não! Não é nada disto. O que perguntamos é:
Por que tanto tempo só para atender a sofredores?
Por que a única mediúnica que tem na casa se destina a isto e não há outras para contatos com os espíritos amigos?
Será que os espíritos amigos, que tanto gostariam de conversar conosco, não tem importância nenhuma para nós?
Se os espíritos foram os construtores da doutrina espírita, que direito temos nós de caçar a palavra deles?
Se pretendemos continuar com a figura do doutrinador de espíritos, que continuemos, mas, primeiro, eliminemos essa rotulação de “doutrinador”, porque não pega bem, e que conversemos com os chamados espíritos problemáticos, sofredores e complicados, mas... pelo amor de Deus... sem sofismas, sem mania de teatralizarmos comportamentos que não temos no nosso dia-a-dia, sem esse papo bobo de “muita paz, meu irmão”“estamos aqui com muito amor” porque, queiramos ou não, não existe todo esse amor no meio espírita, e os espíritos sabem disto.
Sejamos naturais, sejamos autênticos, sejamos verdadeiros porque a verdade é o mínimo que se pode esperar do verdadeiro espírita. Qualquer comportamento de aparência, além de ridículo para quem o pratica denigre a imagem da nossa doutrina.
Para a reflexão dos que pensam.
           Abração a todos.

                           Alamar Régis Carvalho
          Analista de Sistemas, Escritor e ANTARES Dinastia

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