Desde muito cedo aprendemos a chamar Jesus, de Cristo, ou, Jesus Cristo. Em verdade, os nossos paradigmas religiosos que foram bem sedimentados em nosso psiquismo não nos permite nem sequer ventilar a possibilidade de estarmos chamando alguém pelo nome errado.
A origem do nome Jesus, encontra-se no hebraico Yehoshú'a, que significa "Yaweh salva". Com a tradução dos evangelhos do hebraico para o grego, os fonemas "ho" e "hu" não encontraram sentido, sobrando então o nome Yesua. Quando a tradução foi feita para o latim, subtraiu-se o "a" e sobrou o Iesus, surgindo então, Jesus em bom ou mau português, como queira.
Já o termo Kristos em grego, quer dizer o "ungido", e em português passou a ser conhecido como Cristo. O problema começou com aquela neurose-obsessiva dos judeus que os deixava ansiosos, esperando por um messias, "o salvador" do povo que viria libertá-los das garras do invasor estrangeiro, que naquele tempo, representava a águia romana. Em vários momentos das narrativas dos evangelhos os seus seguidores, bem como aqueles a quem ele curou, perguntavam-lhe se ele era o messias aguardado. Ao mesmo tempo, observa-se na conduta de Yehoshú'a um certo comportamento de evitação em assumir esta função, até que nas partes dos textos evangélicos que foram redigidos tardiamente, colocaram na boca dele palavras em que o comprometem com o messianato.
Uma das grandes contradições acerca do seu messianato sai das inquietações de João Batista, quando manda perguntar-lhe se ele era ou não o messias esperado, ou "se deveriam esperar outro". Este fato é um grande paradoxo e coloca em xeque a credibilidade do momento do suposto batismo realizado por Batista em Yehoshú'a e que na ocasião, o profeta reconheceu no nazareno, o messias. Mas, o que houve com Batista, que agora está em dúvida? Ele batizou ou não, Yehoshú'a? Aquela cena, ocorreu mesmo como está descrita?
A confusão também se vê em Paulo de Tarso, que por sinal, fora um dos responsáveis por esta cristianização do mundo ocidental. Aliás, foi do nome Cristo que nasceram as palavras cristão e cristianismo e também toda esta confusão religiosa entre cristãos que seguem o mesmo homem, porém o apreciam de forma tão diversa.
Quando o Sr. Paulo resolveu desesperadamente, à semelhança de um cristão fanático converter o mundo pagão em seguidor de Jesus Cristo, o termo messias não teve força em sua pregação. Isto porque o messias tem uma finalidade político-militar na cultura judaica, pois vinha dar liberdade a quem era cativo e o povo romano que era livre, bem como o grego que não compreendia a função do messias, rejeitaram imediatamente a proposta do pregador arrependido, ex-fariseu e assassino de cristãos, Paulo de Tarso.
A partir dali, os cristãos do século I e II já tinham em mente a necessidade de se manter viva a ideia do Cristo e passaram assim, a estreitar a ligação com a profecia do messias judaico. Do mesmo jeito que ocorreu com os maiores líderes de Israel: Saul, Davi, Salomão que foram ungidos por profetas, ficou no ar após a morte deles, a esperança de que o sucessor que viria reivindicar o trono de Israel, também deveria ser batizado e além disso sairia da casa de Davi, o que levou a uma série de graves problemas do ponto de vista histórico, como terem posto o nascimento de Jesus em Belém, além de asseverarem que ele seria chamado de Emanuel, submeterem-no a um batismo que talvez não tenha existido como nos ensinaram, e também devido a isto, passaram a chamá-lo de Rei dos reis. O mais incrível, é que estas não foram as únicas acomodações feitas entre a figura humana de Yehoshú'a e o tão desejado messias dos judeus. A lista é imensa e se estende desde o seu nascimento até a sua morte.
Bem, o que fica bastante claro é que houve uma extrema pressão para vermos em Yehoshú'a, o Cristo, o Salvador, o Ungido, porém Yehoshú'a não possui a menor característica de messias. Diríamos ainda, que o próprio João Batista teve mais postura de messias do que o nazareno. Yehoshú'a não se aliou aos poderosos, não teve pretensões de idealizar um golpe de estado, não se envolveu com os rebeldes zelotes nem com os amotinados, e ao invés de mandar pegar em armas, pediu para que se retribuísse o mal com o bem e que se oferecesse a outra face quando fôssemos agredidos. Este homem teve a oportunidade de insuflar as massas contra Roma, mas preferiu dizer para "dar a César o que era de César..." E quando finalmente foi questionado se era rei, respondeu irônica e inteligentemente: "tu dizes".
De lá para cá, Yehoshú'a desapareceu, e passamos a adorar um messias que nem os que o esperavam, os judeus, acreditam que é ele, o salvador. Para os judeus, nem um profeta ele foi. É deste quem nos fala a religião cristã: um homem-deus que teve como missão (falida, diga-se de passagem) de morrer para a remissão dos pecados humanos. Este mito conhecemos com o nome de Cristo e foi em nome dele que criaram uma religião, impuseram uma fé cega aos mouros, ergueram os tribunais do Santo Ofício, queimando especialmente mulheres tidas como bruxas e realizaram uma reforma protestante. Quem sabe até já não necessitamos de uma outra reforma? Não, não, estou brincando...
E até hoje, também em nome do Cristo se mata e se deixa matar.
Com a morte de Cristo na cruz, surgiu uma modalidade de cristão: o culpado. Este encontra-se sempre esperando por um perdão que nunca lhe chega e totalmente dependente de um líder religioso que lhe abra as portas do paraíso. E quanto mais cristãos culpados, mais aperfeiçoadas são as promessas de salvação!
Então, a quem finalmente você segue?
Um Cristo religioso que foi moldado, como moldamos o barro e produzimos as imagens de nossos santos? Ou procuramos por um homem desconhecido que sumiu nas proximidades do mar da Galileia?
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