a partir de maio 2011

sábado, 2 de março de 2013

Para um grande homem, a presença de uma grande mulher

MARTHA RIOS GUIMARÃES  
marthinharg@yahoo.com.br
São Paulo, SP (Brasil)


  

Os espíritas muito devem a Amélie Gabrielle Boudet, a mulher corajosa, forte e inteligente, cuja presença foi essencial para que
o Codificador do Espiritismo cumprisse sua missão


No dia 6 de fevereiro de 1832, em Paris, era firmado o contrato de casamento entre Hippolyte Léon Denizard Rivail e Amélie Gabrielle Boudet – mais tarde conhecidos como Allan Kardec e Senhora. Pouco se fala dessa nobre dama na história do Espiritismo, mas ela certamente merece ocupar papel de grande destaque, uma vez que foi a principal companheira do professor no cumprimento de sua nobre missão.

Professora primária, de letras e de Belas Artes, Amélie nasceu em 23 de novembro de 1795, em 
Thiais, Departamento do Sena, França.

Foi poetisa, desenhista e chegou a publicar três livros (um de contos e dois na área artística). Morando em Paris e frequentando o meio acadêmico, conheceu o professor Rivail, seu grande amor e companheiro.

O casal compartilhava o mesmo amor e preocupação com a Educação. Trocavam ideias sobre o tema e juntos fundaram instituições ligadas a essa área de atuação; elaboraram materiais pedagógicos e ministraram aulas gratuitas ao menos favorecidos em sua própria residência. Tudo porque ambos acreditavam que todos deveriam ter acesso ao conhecimento, independente de condição social ou sexo. Juntos também enfrentaram a adversidade financeira, sempre de forma serena e firme.

A partir de 1854, quando ele inicia suas pesquisas que resultaram nas obras da Codificação, é em Gaby (forma carinhosa como Kardec chamava a esposa), então com 60 anos, que ele encontra, uma vez mais, a companheira amorosa e a auxiliar que o secundava nos novos e árduos trabalhos e, ainda, o incentivava a concluir sua missão.

Quando Kardec partiu, Gaby deu continuidade à sua obra

Logo após lançar O Livro dos Espíritos, ocorrido no ano anterior, Kardec lança em 1º de janeiro de 1858, contando tão-somente com apoio da esposa, a primeira edição da Revista Espírita.  

A residência do casal era, então, local de sessões concorridas, exigindo da Madame Rivail cuidados cansativos, mas sempre amorosos. E quando, por falta de espaço, o esposo decidiu fundar a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (SPEE), uma vez mais sua fiel parceira estava a seu lado, com abnegação e sacrifícios.

Amélie demonstrou todo seu devotamento ajudando a ler, selecionar e discutir o conteúdo das inúmeras correspondências provenientes de todos os lugares do planeta. E, mesmo cansada, sempre que suas forças permitiam, ela acompanhava o marido nas viagens que visavam conhecer o movimento espírita da época.

Por conta de sua posição de “líder dos espíritas”, Kardec foi alvo de calúnia, inveja, traições, insultos e outras dificuldades e, nesses momentos, com toda certeza, o colo aconchegante da esposa querida foi uma das fontes onde o professor sorveu forças necessárias para prosseguir.

Quando o querido marido desencarnou, em 1869, Amélie Boudet deu continuidade à sua obra, tomando providências essenciais para continuidade da divulgação espírita, entre elas, a fundação de uma sociedade que garantisse a publicação da Revista Espírita e das obras básicas e participação nas reuniões da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, sempre que sua saúde o permitia.

Não eram adversários, mas companheiros que se amavam

Já octogenária, Gaby viu-se envolvida no célebre episódio do Processo dos Espíritas, em 1875, quando pioneiros do Espiritismo tiveram que comparecer à presença de um juiz para se defenderem da acusação de fraude na produção de fotos de desencarnados. Intimada como testemunha, Amélie foi desrespeitada pelo juiz, que humilhou a memória de Allan Kardec, provocando viva reação da viúva, que exigiu respeito à memória de seu esposo. Em nenhum instante desse lamentável episódio ela recuou, defendendo a Doutrina Espírita com a autoridade que a situação o exigia.

Lúcida e atuante, Gaby desencarnou em 
Paris no dia 21 de janeiro de 1883, aos 87 anos, e seus restos mortais seguiram para o mesmo local onde estavam os do amado esposo, sendo gravados, na coluna que sustenta o busto do Codificador, os dizeres: “Amélie Gabrielle Boudet – Viúva de Allan Kardec”.

Sem dúvida, os espíritas muito devem a essa mulher corajosa, forte e inteligente, cuja presença foi essencial para que Kardec cumprisse sua missão. Cúmplices, em todos os sentidos e formas, evoluíram e superaram os obstáculos provenientes da caminhada que empreenderam. Não eram adversários – como muito se vê nas relações atuais –, mas companheiros que se amavam, admiravam e respeitavam.

Apoiando-se mutuamente, trabalharam e evoluíram juntos e, ainda, deixaram-nos um precioso legado traduzido na mensagem espírita. Entenderam como poucos que, como afirmou um dia o escritor Saint Exupéry, “a vida nos ensinou que o amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim olhar juntos na mesma direção”.
http://www.oconsolador.com.br/ano6/301/especial2.html

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