a partir de maio 2011

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O anti-Cristo invadiu o Espiritismo

O movimento espírita está cada vez mais envolvido numa espécie de teia complexa de onde emerge um submovimento que está a tomar proporções verdadeiramente alarmantes, mercê das ideias e da prática que delas resulta. Tal não surge porque alguém se lembrou de afirmar que Emmanuel é o quinto evangelista, ou que Francisco Cândido Xavier é a reencarnação de Kardec. Tais afirmações são apenas um resultado e não o princípio, pois que o problema é bem mais complexo. 

 Desde a aceitação cega e incondicional de tudo o que por aí se escreve, venha ou não por via psicográfica, esses falsos espíritas criaram uma espécie de elite mediúnica em que só determinados médiuns são credíveis, sejam eles palestrantes, psicógrafos ou passistas. Como vivemos na época dos ídolos, dos líderes e das imagens de marca, pretendem eles que o Espiritismo também tenha os seus. Ora, nem Fancisco Cândido Xavier nem Emmanuel são ou serão imagem de marca do Espiritsmo. E quem diz destas duas almas diz de quem quer que seja. A Doutrina nada tem a ver com tais vaidades. 

 Se tomarmos em consideração a personalidade dos iluminados que produzem tais slogans publicitários, verificamos que algumas características comuns: imposição dos seus ideais, agressividade para com aqueles que tentam desmascará-los nos seus intentos, chantagem doutrinal, como por exemplo, cínica alusão aos falsos profetas, aos lobos com pele de cordeiro, vitimizando-se dos maus pendores em consequência da maldade que, no seu pensar limitado, impera nos Centros. 

 Face a esta realidade, não tenho dúvidas em afirmar que o submovimento em causa saíu directamente das entranhas do anti-Cristo. O que quer isto dizer? Que se está a fazer o contrário do que Jesus ensinou, daquilo a que a Codificação exorta, donde resulta a falta de amor incondicional a Deus e ao próximo como a si mesmo. Trata-se de gente que perdeu o temor a Deus, que nada tem a ver com a Doutrina.

 Mas as aberrações não ficam por aqui. Um dirigente de um centro espírita disse-me peremptoriamente: “Não precisamos da Bíblia para nada. São textos muito antigos, de quando a humanidade ainda estava muito atrasada. O Espiritismo dispensa-os pois o Espírito de Verdade diz-nos tudo o que precisamos de saber” , acrescentando ainda que, “quanto aos passes, quantos mais melhor” (assunto que ficará para outra ocasião). Esquecendo-se de que Jesus tinha a Bíblia hebraica como o seu texto sagrado, a que faz referência nas suas mesmas explanações (Mt 5:21-22;27-28;31-32;33-37;38-48.6:28-29.17:3-4; 11-13. 18. 19:4-8;22-29;31-32;36-40; 41-46. Mc 7:6-8;10.9:4;10;12-19;35-37. Lc 1:69; 16:19-31;17-32;20:28. Jo 1:17; 21; 7:10;22;42;8:57-58;10:22;34-35;12:14-15), referindo-a nos próprios Mandamentos, como em Mt 22:36-40:” Mestre, qual é o grande mandamento na lei? E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos depende toda a lei e os profetas.”; não lhe passando pela cabeça que os primeiros cristãos a tinham igualmente como as suas Escrituras e que o Evangelho Segundo o Espiritismo a cita também (Is 26:19. Job 14:10-14, cap. IV, “Ninguém pode ver o reino de Deus, se não nascer de novo”, p.69. Ex XX:12 Decálogo, cap. XIV, “Honra a teu pai e a tua mãe”, p.195), o dirigente ignorante, que certamente nunca leu uma linha da Bíblia, desconhece o quanto os seus escritos estão actuais. Além disso, não é possível perceber o Jesus histórico sem ter uma noção, ainda que rudimentar, do contexto em que este se situa, quer em termos religiosos, quer em termos sociais e políticos. Não é possível perceber minimamente o papel de Jesus sem o contextualizar nas Escrituras do Primeiro Testamento de que ele é um fervoroso comentador.

 Além disso, porque o Espiritismo está completamente isolado das outras doutrinas, desconhece o referido dirigente, e com ele a esmagadora maioria dos espíritas, que os estudiosos das doutrinas não estudam apenas os textos em que elas se fundamentam. Todo e qualquer estudioso sério debruça-se atentamente sobre os textos das outras doutrinas, claro está, não para as combater mas para as compreender e saber situar-se perante elas..

 Por outro lado, se vamos por uma questão de antiguidade, então o Evangelho Segundo o Espiritismo é obra a abater também, pois que afirma explicitamente que “O Espiritismo se encontra por toda a parte, na antiguidade, e em todas as épocas da humanidade.” (idem, p. 18); que Sócrates e Platão são os “precursores da Doutrina Cristã e do Espiritismo (idem, p.31). 

 Mas isto no que se refere apenas a questões doutrinárias. Se entrarmos no campo da mediunidade, o Espiritismo vai ainda mais longe pois ao encontrar-se em todas as épocas da Humanidade, ele está presente “...nos escritos, nas crenças e nos monumentos, e é por isso que, se ele abre novos horizontes para o futuro, lança também uma viva luz sobre os mistérios do passado.” (idem, p.18). Isto significa que a mediunidade faz parte da História Universal, e que é impossível percebê-la a partir somente da Codificação, a menos que na mesma leva se deitem para o lixo os livros de História Universal. Com ela se aprende que a qualidade mediúnica nada tem a ver com as épocas, mas tão somente com o modo como é exercida. E aqui, a avaliar pelo que se está a fazer dentro do Espiritismo, não tenho dúvidas de que os pretensos sábios têm muito a aprender com os antigos modos de a exercer. Só para citar um exemplo, a consulta dos oráculos na Grécia antiga é infinitamente mais rica que a não assumida pseudo-consulta aos Espíritos feita em psicografias, na maioria falsas, que nos chegam em livros caríssimos com os quais os Centros fazem um brutal negócio e cujo resultado é isso mesmo, espalhar a mentira, introduzir no movimento espírita a desunião, o desentendimento e separar o que em nome de Jesus devia estar unido.

 Margarida Azevedo

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 Bibliografia

 KARDEC, A., O Evangelho Segundo o Espiritismo, CEPC, Lisboa, 1987, Introdução, p.18, cap.IV, p.69, cap. XIV, p.159.

 Bíblia, tradução de João Ferreira de Almeida 

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