a partir de maio 2011

domingo, 10 de fevereiro de 2013

CONHECENDO JOSÉ HERCULANO PIRES "O Apóstolo do Espiritismo"


  JOSÉ HERCULANO PIRES nasceu em 25-9-1914 na antiga província de Avaré, no Estado de São Paulo, e desencarnou em 9-3-1979, em São Paulo. Filho de José Pires Correa e de D. Bonina Amaral Simonetti Pires. Fez seus primeiros estudos em Avaré, Itaí e Cerqueira César. Revelou sua vocação literária desde que começou a escrever. Aos 16 anos publicou seu primeiro livro, Sonhos Azuis (contos), e aos 18, o segundo livro, Coração (poemas livres de sonetos). Já colaborava nos jornais e revistas das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Foi um dos fundadores da União Artística do Interior. Mudou-se para Marília em 1940, onde adquiriu o jornal Diário Paulista e o dirigiu durante seis anos. Com José Geraldo Vieira, Zoroastro Gouveia, Osório Alves de Castro, Nichemja Sigal, Anathol Rosenfeld e outros promoveu, através do jornal, um movimento literário na cidade e publicou Estradas e Ruas (poemas), que Érico Veríssimo e Sérgio Millet comentaram favoravelmente.
  Em 1946 mudou-se para São Paulo e lançou seu primeiro romance, O Caminho do Meio, que mereceu críticas elogiosas de Afonso Schimidt, Geraldo Vieira e Wilson Martins. Repórter, redator, secretário, cronista parlamentar e crítico literário dos Diários Associados, onde manteve, também, por quase 20 anos, a coluna espírita com o pseudônimo de “Irmão Saulo”. Exerceu essas funções na Rua Sete de Abril por cerca de trinta anos. Em 1958 bacharelou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo, e pela mesma Universidade licenciou-se em Filosofia, tendo publicado uma tese existencial: O Ser e a Serenidade. Autor de mais de cem livros de Filosofia, Ensaios, Histórias, Psicologia, Espiritismo e Parapsicologia, sendo a sua maioria inteiramente dedicada ao estudo e à divulgação da Doutrina Espírita, e vários de parceria com Chico Xavier. Lançou a série de ensaios Pensamento da Era Cósmica e a série de romances de Ficção Científica e Paranormal. Foi diretor-fundador da Revista de Educação Espírita publicada pela Edicel. Em 1954 publicou Barrabás, que mereceu Prêmio do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo em 1958, constituindo o primeiro volume da trilogia Caminhos do Espírito. Em 1975 publicou Lázaro e, com o romance Madalena, editado pela Edicel em maio de 1979, a concluiu. Ao desencarnar, deixou vários originais, os quais vêm sendo publicados pelas Editoras Paidéia e Edicel.
JOSÉ HERCULANO PIRES:
O Missionário da Terceira Revelação.
- A origem do nome de Herculano
  A família Pires, como a maioria das famílias da época, era católica. Pois bem, o dia 25 de setembro, conforme registrava o calendário, era dedicado a São Herculano. O casal, então, deu ao filho recém-nascido esse nome. Logo depois, o tio Franco chegou para conhecer o pimpolho e, quando soube que lhe tinham dado o nome de Herculano, comentou: “Mas São Herculano não é muito conhecido; para reforçar a proteção do menino, sugiro que juntem ao nome já escolhido o nome popular de São José”. E foi assim que Herculano tornou-se José Herculano Pires.
  Herculaninho, como o chamavam carinhosamente na infância, passou os primeiros anos de vida com problemas de saúde, aliás, esses problemas o acompanharam pela vida toda. Contudo, foi uma criança feliz, pois o clima e as águas do Rio Novo lhe deram robustez, tanto que em 1918 veio a chamada gripe espanhola e logo depois a endemia de tifo, enfermidades terríveis, mormente naquela época em que os recursos farmacêuticos eram escassos, que ceifaram milhares de vidas.
  Herculaninho, felizmente, não foi molestado por essas duas endemias. Como dissemos, ele foi feliz porque sua infância, apesar dos problemas de saúde, foi embalada pelas coisas simples do interior daquele tempo que não volta mais na roda da história. A paisagem bucólica de Avaré: ruas de areia; a igreja matriz; o jardim São Paulo com seu coreto, onde, aos domingos, a banda executava emocionantes dobrados; o poético coaxar dos sapos; as águas cristalinas do Rio Novo, onde adultos e crianças pescavam e tomavam banho; o ranger dos carros de bois que transitavam pelas ruas da cidade chorosas; as boiadas que de quando em quando atravessavam a cidade em busca de invernadas e despertavam a curiosidade infantil; e ainda o trem-de-ferro da Sorocabana, que corria sobre os trilhos fazendo um barulho engraçado, “fuque, fuque, fuque”, e soltando rolos de fumaças e muitas fagulhas quando atingia sua velocidade máxima de 40 quilômetros por hora.

- A sua paranormalidade
  Embora Herculano Pires tenha passado pela vida sem ser médium propriamente identificado, sua paranormalidade aflorou bem cedo, pois desde menino tinha visões espirituais bem definidas. Além de vidente, era também médium audiente, como veremos adiante. Herculano dizia para amigos que quando ainda dormia no berço muitas vezes se levantava e ficava em pé agarrado à grade da caminha observando os espíritos passeando no interior de sua casa. Não via somente criaturas desencarnadas, mas também espíritos de pessoas encarnadas. Dizia ter visto o espírito de sua mãe inúmeras vezes passeando pela casa enquanto o seu corpo físico descansava em outro ambiente da mesma. Fatos estes que algumas vezes assustavam a família, pois, por vezes, ele via espíritos assustadores e gritava. Os pais, querendo saber o que acontecera corriam para junto dele. O pai, entretanto, procurava acalmar o ambiente dizendo: “Ele está delirando, mas precisamos saber o que esse menino tem para gritar tanto à noite”. Quando Herculano já sabia falar e essa cena se repetia, ele contava aos pais sobre as figuras que via.

- Uma vidência confirmada
  Herculano contava com seus sete ou oito anos, e foi como fazia normalmente, brincar na casa do avô materno, um italiano casado com uma brasileira, em Avaré. O quintal da casa era enorme e possuía várias mangueiras. Cenário ideal para a garotada. Herculano brincava, então, com alguns amiguinhos naquele espaço aprazível. De repente, ele ouviu um estranho estrondo. Olhou para o lado de onde veio o som esquisito e notou que uma velhinha vinha em sua direção apressadamente. Ele ficou ali parado olhando aquela criatura que trajava um vestido que lembrava os vestidos de mulheres idosas estrangeiras. Olhou para baixo e viu que ela calçava meias com listras circulares vermelhas e azuis. Os seus sapatos também eram muito estranhos. O espectro entrou no depósito que havia no quintal e uma vez estando dentro daquele ambiente à velhinha cerrou a porta um tanto bruscamente e o barulho da batida da porta fez com que Herculano saísse do transe. Ele, imediatamente, correu para dentro de casa gritando de medo. O seu avô foi o primeiro a vir ao seu encontro, em seguida veio à avó. Quiseram saber a razão do seu desespero e ele relatou o que tinha visto e seu avô se virou para a esposa e disse: “É minha mãe! É minha mãe!”.

- Um menino poeta
  Não há dúvida de que o nosso biografado trouxera de outras vidas um vastíssimo lastro cultural que permeou toda a sua história como jornalista, escritor, conferencista e lúcido filósofo, entre outras qualidades.
  Em 1920, José Pires Correa, à caça de melhorias para a sua família, transferiu sua residência para a cidade de Itaí. Herculano estava, então, com seis anos de idade. Pois bem, aos nove anos, ele, que de fato era um reencarnante prodigioso, revelou-se poeta (pasme caro leitor). Ele escreveu um soneto decassílabo que, ao contrário do que os leigos pensam, é a forma poética mais difícil de ser dominada, demonstrando, assim, conhecer as leis rígidas da Arte Poética. O tema escolhido pelo menino Herculano foi “O Largo São João de Avaré”, um tema adulto e árido.
  Herculano permaneceu em Itaí até os dez anos de idade e teve a oportunidade de participar ali do Escotismo, onde aperfeiçoou sua disciplina.
  Seu pai, quatro anos depois, buscando mais uma vez melhoria financeira, fixou residência na cidade de Cerqueira César, mas foi por pouco tempo, voltando, então, para Avaré, onde matriculou Herculano na Escola de Comércio, curso que ele, infelizmente, não pôde concluir. A vida profissional do Sr. José Pires Correa não fora fácil e logo tiveram que voltar a residir em Cerqueira César. Desta vez, as coisas para a família Pires melhoraram. Herculano agora estava com doze anos de idade e continuava elaborando seus poemas. O seu genitor foi nomeado coletor estadual e tudo para eles se tornou mais ameno. Algum tempo depois, o Sr. José Pires e seu irmão Ananias montaram uma pequena gráfica na Rua do Comércio a que deram o nome de “Casa Ipiranga”. Vemos aí o dedo da Espiritualidade que, pouco a pouco, preparava a trajetória brilhante de Herculano Pires.
  Não demorou muito, o Sr. José Pires lançava um jornal chamado “Porvir”, de cunho político, um tabloide com circulação aos domingos. Ao “Porvir” se deve a primazia de ser o primeiro jornal de Cerqueira César. Ele nasceu com uma clara vocação: defender os “Cartolas” do Partido Republicano Paulista (PRP) contra os ataques do Partido Democrático. Washington Luís era o então Presidente da República e Júlio Prestes era o Governador do Estado de São Paulo.
  Herculano Pires estava com apenas 12 anos e já trabalhava como aprendiz de tipógrafo na Tipografia Central (Se fosse hoje, isso seria logo bombardeado por certos defensores dos menores: “Onde já se viu uma coisa dessas! Um menino de 12 anos trabalhando!...”.). Esquece-se, hoje, talvez por miopia, que o trabalho é salutar e educativo.
  Ele sentiu que poderia, agora, trabalhar com o pai, pois família unida trabalha unida, e demitiu-se do emprego indo para a “Casa Ipiranga”, onde foi admitido como tipógrafo auxiliar. A composição do primeiro número do “Porvir” saiu de suas mãos e das mãos de seu tio Ananias, que exercia a função de Chefe da Oficina.
  Alguns meses depois, o menino Herculano alcançou os seus treze anos de idade e já se encontrava no caminho que iria trilhar pelo resto da vida: o jornalismo.

- O seu primeiro livro
  Todas as noites, após o expediente da tipografia, Herculano se debruçava sobre a caixa de tipos e, pouco a pouco, ia compondo alguns dos seus contos, que eram, depois, impressos numa máquina de origem alemã, uma Bünhaëdsia. Eram composições simples, românticas, próprias da ingenuidade de adolescente — diria Herculano mais tarde —, mas cujo aparecimento jornais e revistas famosas na época, do Rio e São Paulo, não deixaram de registrar.
  Em 1930, Herculano estava com 16 anos de idade e lança o seu primeiro livro: “Sonhos Azuis”, título esse muito próprio da juventude, e dava, então, o seu primeiro passo na Alameda da Literatura. O livrinho se constituía de cinco pequenos contos. O Prefácio foi escrito pelo farmacêutico Otávio Araújo Ribeiro, de Avaré. Essa obra fez muito sucesso entre amigos e parentes, mas também não passou despercebida de jornais e revistas do Rio e São Paulo, que noticiaram o seu aparecimento, para alegria do autor. Um fato, porém, merece destaque.
  Dois anos depois do lançamento de “Sonhos Azuis”, uma professora rural foi ao encontro de Herculano Pires, desejando comprar uns livrinhos para distribuir como presente aos alunos de sua escolinha. E arrematou os trinta e poucos exemplares que estavam na prateleira. Herculano pulou de alegria, pois a maior parte da pequenina edição havia sido distribuída a amigos, parentes, jornais e revistas, e agora lhe aparece uma professora dizendo que seu livrinho serviria para alegrar as crianças numa festinha escolar. — “Que maior glória poderia desejar um escritor incipiente?” — perguntaria, mais tarde, o nosso Herculano.
  Com a publicação de “Sonhos Azuis”, Herculano tornou-se conhecido na região Sorocabana como o “menino escritor”. E esse menino prodígio — prova inegável da reencarnação — tinha na gaveta boa quantidade de crônicas, contos e noveletas. Parte desse material foi publicada no jornal “O Porvir” e, depois, na forma de opúsculo que oferecia aos amigos e conhecidos. Nessa forma, ele produziu: “O Sonho das Vagas”, poema em prosa; “Cidades Vivas”; “Cabo Velho e Cia”; “Nhô Chico Bananeiro” e “O Serenista”.
  O segundo livro da lavra de Herculano, “Coração”, apareceu em 1932. Trazia uma série de sonetos e poemas cujo prefácio encerrava uma dedicação misteriosa: “A Lola de Oliveira e aos Meus”. “Os curiosos ficaram intrigados com essa Lola”. Seria uma namorada ou um amor secreto? Quarenta anos depois, Herculano revelaria. Era uma escritora e poetisa pobre, autora do livro “Rubis”, que passara duas vezes por Cerqueira César vendendo os seus livros de porta em porta. Já velhusca, percorria assim o interior para ganhar a vida com a sua produção literária. “Emocionara-me a sua pobreza” — diria Herculano anos depois — “a sua simplicidade, a sua dedicação às letras. Guardo até hoje os seus livros, com carinho”. Num deles, há uma referencia ao rapazinho poeta de Cerqueira César.
  A imprensa de São Paulo e do Rio registraram o lançamento de “Coração”. O conhecido crítico santista, Álvaro Augusto Lopes, no jornal “A Tribuna de Santos”, escreveu que o verso de Herculano Pires era “ágil e correntio”. A revista “A Cigarra”, de São Paulo, registrou que os versos de “Coração” eram bons, que o poeta “é moço e tem talento”. A revista “O Malho”, do Rio, observou que os versos de Herculano Pires “são de rara simplicidade e harmonia” e o jornal “O Estado de São Paulo” viu no livro “uma linda promessa literária”. “O Correio Paulistano” afirmou: “Há uma maestria particular na feitura do verso, que o ouro da imaginação polvilha agradavelmente”.

- A União Artística do Interior
  Herculano Pires aproveitou sua popularidade em benefício da literatura. Reuniu vários escritores jovens: Oríchio, Luís Aguiar, Américo de Carvalho, Elias Salomão Farah — o mais velho do grupo e que tivera um conto premiado pela “Revista da Semana”, do Rio —, Benedito Almeida, Júnior, Duílio Gambini, Djalma Noronha, Antônio Roxo Garcia, Raul Osuna Delgado e outros, e constituíram juntos a “União Artística do Interior”, uma instituição cultural. Era, sem dúvida, um projeto arrojado para a época e que punha em destaque, mais uma vez, a força idealística de Herculano Pires, não obstante sua pouca idade: 18 anos. O jornal “O Porvir” foi o elo que permitiu a aproximação desses intelectuais e, depois, também facilitou a integração das várias associações de intelectuais do interior.
  O pai de Herculano foi ser gerente de uma máquina de beneficiar algodão e entregou o comando da “Casa Ipiranga” ao jovem Herculano, que transformou logo “O Porvir” em jornal literário.
  A União Artística do Interior (UAI) tinha por objetivo defender os interesses dos escritores brasileiros, a difusão da cultura artística em geral, amparo e incentivo ao desenvolvimento das artes e letras, formar núcleos semelhantes em outras cidades e lutar contra o analfabetismo.
  Herculano Pires foi eleito presidente da UAI. Sua primeira atitude na presidência foi a implantação de movimentos literários em várias cidades do interior e esse trabalho prosseguiu apesar dos parcos recursos da sociedade. Escolheu-se para patrono da UAI Rodrigues Abreu, poeta de versos fortes e sofridos, autor de “Casa Destelhada”. Diria mais tarde, Herculano Pires, que a escolha desse poeta para ser o Patrono da UAI tinha um sentido simbólico, pois era um rapaz do interior, pobre e obscuro, que apesar de esmagado pela miséria e pela doença conseguira triunfar pela força da inteligência e a grandeza do estro.

- Primeiros passos na juventude
  Herculano Pires era amante do jornalismo e da literatura, mas no fundo de sua alma agitava um sonho: a cátedra. Transferiu-se, então, para Botucatu com o intuito de cursar a Escola Normal. Mas o seu salário de repórter do “Correio de Botucatu” e o horário da Escola impediram-no de realizar o seu sonho. Mesmo assim, fez um curso preparatório. Seguiu para a cidade de Sorocaba, mas ali também não deu certo. A vida sempre lhe fora difícil, o que o levaria a dizer um dia: “Tenho certeza de que fiz mal uso do dinheiro em outras vidas. Devo ter sido um perdulário!”. Mas nem tudo foi ruim em Sorocaba, pois se fez lá repórter de dois jornais: “Correio de Sorocaba” e o “Cruzeiro do Sul”.
  Nesse ínterim, Herculano viveu algum tempo em São Paulo, onde não conseguiu nada definitivo. Ei-lo de novo dirigindo a gráfica do pai e “O Porvir”, em Cerqueira César. Continuou trabalhando, escrevendo seus livros e lendo muitos autores. Herculano sempre fora um devorador de livros. Em março de 1936, ele relançou “O Porvir” em forma de revista literária, crítica e noticiosa, com o nome “A Semana”.

- A Conversão
  Herculano Pires não saiu direto do catolicismo para a Doutrina Espírita. Antes leu muita filosofia e chegou à Teosofia. Um dia lhe veio às mãos “O Livro dos Espíritos”, a fonte que respondeu suas indagações. Tornou-se espírita convicto. E, da teoria, Herculano Pires foi à prática. Escreveu uma infinidade de artigos sobre o Espiritismo, participou de trabalhos mediúnicos, escreveu mais de 80 livros versando sobre essa temática, exímio e convincente. Tornou-se, em terras brasileiras, um brilhante representante de Allan Kardec, a ponto de Chico Xavier ter dito: “Herculano foi o metro que melhor aferiu Kardec”.

- O Casamento
  Em suas andanças doutrinárias, Herculano Pires conheceu na cidade de Ipaiçu, a jovem que se tornaria, dois anos depois, sua esposa, a também espírita, Maria Virginia de Anhaia Ferraz, que seria o seu anjo da guarda até o fim da encarnação. Casaram somente no Civil no dia 11 de dezembro de 1938.

- Passagem por Marília
  Em 1940, Herculano, sua esposa e seus parentes agregados e filhos respiravam os ares de Marília. Foi ali que nasceram seus filhos Heloísa e Herculano. Nessa época, Herculano Pires trabalhava no jornal “Diário Paulista”, que circulava na Alta Paulista. Não demorou muito e esse jornal tornou-se deficitário e havia o risco dos funcionários, inclusive o Herculano, perderem o emprego. Era uma situação difícil para todos. Confiando no seu taco, Herculano Pires fez um empréstimo no Banco Comércio & Indústria e assumiu o “Diário Paulista”.

- As polêmicas
  Herculano Pires era um homem pacato e até dócil; todavia, quando sentia que a Doutrina Espírita estava sendo ameaçada por maus espíritas ou por inimigos tradicionais, sua reação era imediata. Ah! Que falta nos faz esse líder.

- A mudança para São Paulo
  Em 1946, Herculano Pires transferiu sua residência para a capital paulista, onde passou a trabalhar na “Folha da Manhã” e no “Jornal de São Paulo” e, depois, nos “Diários Associados”, onde marcou época com uma coluna espírita sob o pseudônimo de Irmão Saulo. Suas admiráveis crônicas dessa época foram enfeixadas em livros, parte pela Editora Edicel e parte pelas Edições Correio Fraterno sob os títulos “O Homem Novo”, “O Infinito e o Finito”, “Visão Espírita da Bíblia” e “O Mistério do Bem e do Mal”. Além de jornalista, escritor, ele foi excelente tradutor, tendo, inclusive, traduzido e comentado obras de Allan Kardec.

- A “Cabocla”
  Em São Paulo, Herculano Pires, antes de se ligar a uma empresa, tentou um empreendimento editorial. Ele editou uma revista em formato grande, mensal, dirigida ao público do interior, com 32 páginas, capa colorida, que nasceu em fevereiro de 1947, com o nome “Cabocla”.

- Participações importantes
  Na sua época, Herculano Pires participou dos mais importantes eventos espíritas do Estado de São Paulo e de outras localidades: “1º Congresso Espírita da Alta Paulista”, realizado no período de 30 de março a quatro de abril de 1946, em Marília; a Fundação da USE, que ocorreu em junho de 1947; o “1º Congresso Espírita do Estado de São Paulo”, realizado no período de 1 a 5 de junho de 1947, na capital paulista; o “2º Congresso Brasileiro de Jornalistas e Escritores Espíritas”, dentre outros.
  Na capital paulista, Herculano Pires criou o Clube dos Jornalistas Espíritas, que, além de divulgar a Doutrina Espírita, se preocupava com questões sociais. Foi dessa tribuna que Herculano Pires combateu, principalmente, o indesejável roustainguismo da FEB.

- O sindicalista Herculano Pires
  Em 1957, Herculano Pires foi eleito presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. Sua primeira providência na direção do sindicato foi elevar o nível cultural dos profissionais de imprensa em São Paulo, instituindo um Curso de Jornalismo; entre os professores, além de Herculano, que lecionava sociologia, destacavam-se Silveira Peixoto, J. Pontes de Morais e Victor de Azevedo Pinheiro.

- Herculano na USP
  Em 14 de janeiro de 1958, Herculano recebeu o seu Diploma do curso de Filosofia da USP. Agora, ele iria realizar aquele velho sonho: a cátedra. Recorda-se, leitor, que citamos isso linhas atrás? Ele, agora, ocupava a cátedra de História da Educação e Filosofia da Educação na Faculdade de Filosofia de Araraquara.

- Herculano e a FEESP
  O nosso biografado foi, sem dúvida, exímio esgrimista intelectual. Quantas vezes o vimos na arena enfrentando os inimigos do Espiritismo. Isso aconteceu no rádio, na imprensa e à frente das câmaras de televisão. Em todos os embates ele vencia pela sua supremacia intelectual e doutrinária.
  Muitas coisas ainda teríamos a acrescentar sobre a vida e a obra desse missionário, mas o espaço aqui obriga-nos a contentarmo-nos com o que aí ficou registrado. Há algo, entretanto, que não pode passar em brancas nuvens. Talvez sua maior luta tenha sido contra a FEESP, quando esta publicou uma tradução adulterada de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Em São Paulo, Herculano Pires criou também a Editora Paidéia, que seus herdeiros acharam por bem transformar em Fundação Maria Virginia e José Herculano Pires, a qual passou a cuidar de todo o patrimônio cultural do nosso inesquecível Prof. José Herculano Pires.

- Regresso à Pátria Espiritual
  Nos últimos anos da vida física, a produção literária de Herculano Pires cresceu de maneira espantosamente fecunda. Nas estantes de seu escritório, montado no quarto de dormir, ficaram romances, crônicas, poesias, ensaios, para serem publicadas posteriormente. Entre os originais estava o livro “Educação para a Morte”, que tem o selo das Edições Correio Fraterno. Temática difícil de ser desenvolvida a contento do leitor. Mas Herculano soube colocar esse tema como ninguém o fez antes dele. Ele fala-nos da Morte como se estivesse falando da Vida.
  A sua desencarnação deu-se na noite de nove de março de 1979, em virtude de um enfarto. Ele tinha 65 anos de idade, incompletos.

- A mensagem póstuma
  No dia da sua desencarnação, como de costume, estava sendo realizada uma reunião espírita na garagem de sua residência. Ele chegou da rua, entrou em casa e se dirigiu ao banheiro. Ao fechar a porta desse ambiente doméstico, sentiu-se mal e foi levado ao hospital. Os que estavam na garagem não tomaram conhecimento e a sessão continuou. No hospital ninguém esperava que Herculano fosse falecer na Unidade de Terapia Intensiva, esperava-se que ele ficasse bom. Mas, infelizmente, ele desencarnou. Eis que, na garagem, nessa hora, um médium (um médium, segundo Heloísa Pires, sua filha, até necessitado, que nunca mais trouxe mensagem tão boa) recebeu duas mensagens e deu-as à cunhada de Herculano, Maria de Lourdes Anhaia Ferraz. Em uma delas, um espírito, que Jorge Rizzini afirma ser Cairbar Schutel (é mesmo provável, porque o relacionamento de Herculano com Cairbar foi intenso), se dizia feliz por Herculano ter cumprido a tarefa e chegara a hora da libertação. E, na outra, o próprio Herculano se dirigia à esposa de forma poética (ele gostava muito de escrever poesia para aqueles que amavam).
  Eis, na íntegra, sua mensagem:

“Família querida:
  Vivendo contigo
  Dias felizes e amenos
  Na experiência do lar prossegue a vida
  Coragem e otimismo
  Não quero “pompas nem velas”
  Apenas a simplicidade do professor do interior em metrópole de céus e estrelas!...
  Sustente em apoio vibratório a casa!
  Ampare o livro da codificação.
  E eu, em espírito ou memória, ao lado dos amigos espirituais, convosco sempre estarei, no apostolado de pregar e servir a Doutrina dos Espíritos com o mestre de Lion.
  Virginia querida, mais esposa do que esposo que fui. Já não tem falar nem riso, nem seu poeta, mas que semblante triste o seu... Volte ao que era, como o tempo na casa velha, tudo é vida, das noites de rima, doutrina e cozinha, lar: amigos, não é confusão, é nova sensação de viver, sentir que já não sou corpo, mas alma!
  Até que enfim, desculpe Espírito de Verdade, amparado em novas luzes, a minha, a nossa luzinha, que ajudaste a construir, no momento adeus, menos choro e mais café!
  Se há dificuldade de captar a escrita, imagine a de despertar aqui, para dizer aos daí:
  Sobrevivência d’alma!
  Muita paz em Jesus”.


  O corpo de Herculano Pires foi enterrado no dia seguinte, às quatro horas da tarde, no Cemitério São Paulo, com grande acompanhamento. Instituições espíritas e culturais fizeram-se presentes. A União Brasileira de Escritores e a Academia Paulista de Letras enviaram flores. Falara à beira do túmulo o deputado e jornalista Freitas Nobre, em nome do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (a bandeira do sindicato cobria o caixão), o deputado e escritor Israel Dias Novaes, o qual frisou que naquele instante fazia-se o enterro de um grande brasileiro. E, entre outros, fez uso da palavra o escritor e jornalista Jorge Rizzini, em nome dos espíritas dos demais Estados. Herculano (Herculaninho) Ferraz Pires agradeceu as homenagens ao seu nobre pai.
  Semanas depois, os filhos colocaram no túmulo desprovido de ornamento uma lápide de mármore, onde pode ser lida a primeira estrofe do soneto “Vida e Morte” escrito por Herculano Pires e oferecido à esposa Virginia no dia do aniversário de casamento. Ei-lo:

Vida e Morte
  Não procures no túmulo vazio a alma querida que deixou a Terra.
  A morte encerra a vida e a vida encerra a morte — como eterno desafio.
  Ninguém fica no túmulo sombrio onde somente o corpo é que se enterra.
  A alma se eleva além da vida e erra em mares de bonança e de amavio.
  Busca no céu, nos ares, no infinito, na quinta dimensão, no firmamento, o ser querido que te deixa aflito.
  Hás de encontrá-lo quando, num momento, rompendo as ilusões do teu conflito, possas falar-lhe pelo pensamento”.

 
O PENSAMENTO DE JOSÉ HERCULANO PIRES EM REVISTA
(Seleção de Sergio F. Aleixo)

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  Segundo Emmanuel, Herculano é A MAIOR INTELIGÊNCIA ESPÍRITA CONTEMPORÂNEA, O METRO QUE MELHOR MEDIU KARDEC. (PIRES, Heloísa. Herculano Pires, o Homem no Mundo. Herculano no Além.)
  Kardec partiu da pesquisa científica, originando-se desta a Ciência Espírita; desenvolveu, a seguir, a interpretação dos resultados da pesquisa, que resultou na Filosofia Espírita; tirou, depois, as conclusões morais da concepção filosófica, que levaram naturalmente à Religião Espírita. É por isso que o Espiritismo se apresenta como Doutrina de tríplice aspecto. (Introdução à Filosofia Espírita. Cap. II, item 2.)

CIÊNCIA ESPÍRITA
  A chamada revolução cartesiana foi precursora da revolução espírita. A ciência admirável de Descartes é a mesma ciência espiritual de Kardec, ainda em desenvolvimento, por muito tempo, em nosso planeta. (O Espírito e o Tempo. Introdução Antropológica ao Espiritismo. 3.ª parte, cap. II.)
  A teoria espírita — teoria e não hipótese, pois esta já provou a sua validade através de todas as pesquisas possíveis — pode ser resumida neste axioma doutrinário: "Não há efeito inteligente sem causa inteligente, e a grandeza do efeito corresponde à grandeza da causa". (Agonia das Religiões, cap. V.)
  Da mesma maneira por que os métodos da experimentação física não serviram à pesquisa psicológica ou sociológica, os métodos científicos positivos são insuficientes para a investigação espírita. A Ciência Espírita tem os seus próprios métodos. E tanto isso é necessário e cientificamente válido, que, atualmente, a física se desdobra em física nuclear ou parafísica, e a psicologia em parapsicologia. (O Espírito e o Tempo. Introdução Antropológica ao Espiritismo. 3.ª Parte, cap. II, item 2.)
  Allan Kardec foi dotado de uma coragem assustadora, que lhe permitiu enfrentar com a insolência dos gênios todas as forças culturais da época. Foi para contestá-lo e estigmatizá-lo como inimigo das ciências, comparsa dos bruxos medievais, restaurador das superstições, que cientistas como Crookes, Schrenk-Notzing, Richet e outros resolveram atender aos apelos angustiados das academias e associações científicas. Dessa atitude corajosa resultou o escândalo das batalhas que romperam o impasse científico, revelando que o bruxo agia com o conhecimento e a segurança dos mais reputados cientistas. Era impossível desmenti-lo ou derrotá-lo.
  Kardec rompera definitivamente as barreiras dos pressupostos para firmar as bases lógicas e experimentais dos princípios da ciência admirável dos sonhos de Descartes e das previsões de Francis Bacon. A metodologia científica, minuciosa e mesquinha, desdobrou-se no campo do paranormal e aprofundou-se na pesquisa do inteligível com audácia platônica. Kardec não se perdeu como Wundt, Werner e Fechener, no sensível das pesquisas epidérmicas do limiar das sensações.
  Percebeu logo que os métodos não podiam ser aplicados a fenômenos extrafísicos e estabeleceu o princípio da adequação do método ao objeto (...). Se não foi colocado oficialmente entre os pioneiros da ciência, foi porque a sua posição era de rebeldia consciente e declarada contra o materialismo científico (...). Mas a audácia de Kardec o levou à vitória (...), provara que as ciências não deviam temer os fantasmas, mas enfrentá-los e explicá-los. Nenhuma autoridade era mais elevada, para ele, do que a realidade dos fatos comprováveis pela experiência científica e objetiva das pesquisas. Os cientistas mais audaciosos aprenderam com ele a superar os condicionamentos do formalismo acadêmico e a enfrentar o mundo como ele é. (Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas. Introdução.)
  A Astronáutica alarga os horizontes do cosmo e a física descobre a antimatéria, provando a existência dos mundos interpenetrados, que tiram o mito do outro mundo do plano imaginário e o integram na realidade acessível à investigação. (...) A descoberta científica da antimatéria seria suficiente para estourar todas as estruturas religiosas do cristianismo dominante. Os próprios cientistas se aturdiram com ela, e a princípio entenderam que havia universos separados de matéria e antimatéria. Mas os avanços das pesquisas mostrou o contrário: que matéria e antimatéria se conjugam em forma de verso e reverso nas estruturas atômicas.
  A produção de partículas de antimatéria em laboratório, e, por fim, a produção de um antiátomo de Hélio na URSS, revelaram as possibilidades da existência de universos interpenetrados. Dois universos diferentes, de estruturas contraditórias, podem coexistir num mesmo espaço, sem que um seja normalmente percebido pelo outro. É a prova científica da duplicidade do homem, que, em si mesmo, é espírito e matéria. (...) Se num mundo de antimatéria, pode existir tudo quanto existe no mundo material, apenas em situações diferentes, e se esse mundo interpenetra o da matéria, torna-se explicável cientificamente a relação do chamado mundo dos mortos com o mundo dos vivos e vice-versa. (Revisão do Cristianismo, caps. VI e XIII.)

FILOSOFIA ESPÍRITA
  A revelação espiritual veio pelo Espírito de Verdade, mas a ciência espírita (revelação humana) foi obra de Kardec. (Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas. Introdução.)
  Na brilhante definição do professor Gonzales Soriano, oportunamente citada pelo professor José Herculano Pires: “O ESPIRITISMO É A SÍNTESE ESSENCIAL DOS CONHECIMENTOS HUMANOS APLICADA À INVESTIGAÇÃO DA VERDADE”. (Introdução à Filosofia Espírita, cap. II, item 1.)
  A paixão kierkegaardiana interessou mais aos filósofos do que a análise kardeciana. [Mas] o Espiritismo, desprezado e escarnecido, retoma o seu lugar epistemológico na cultura atual, como a pedra rejeitada da parábola. (O Ser e a Serenidade. Lanterna de Diógenes.)
  O pecado de Kant foi o da dicotomia no plano do conhecimento, negar à razão a possibilidade da metafísica. (Introdução à Filosofia Espírita, cap. IV.)
  A razão kardeciana não tem a frieza do racionalismo científico, porque o Espiritismo é a síntese de todas as potencialidades ônticas do homem. Razão e fé, intuição e pesquisa globalizante. (Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas, cap. XI.)
  Essa opacidade da inteligência humana, esse embotamento da capacidade de compreensão poderia fazer-nos descrer das potencialidades do princípio inteligente se não soubéssemos que o instinto gregário do homem o leva à imitação e à repetição dos papagaios. Quando Kardec se atreveu, utilizando-se de todos os recursos de sensatez e equilíbrio, apoiando-se na cultura do séc. XIX — para não provocar reações precipitadas que lhe prejudicariam a obra — a publicar O Livro dos Espíritos, todos os anátemas da Religião, da Ciência e da Filosofia caíram sobre ele como as bombas norte-americanas sobre o Vietnã.
  Somente agora se abre uma perspectiva favorável, em todos aqueles campos reacionários, para uma possível compreensão do seu gigantesco trabalho de reposição das coisas em seus lugares. Mas então aparecem os que pretendem reformar, atualizar e tecnilizar as suas obras ao invés de estudá-las e aprofundar-lhes o sentido. Isso nos prova quanto necessitamos do tempo para que a mônada oculta se abra e se atualize em nós. (Agonia das Religiões, cap. V.)
  ... A técnica dos contrastes desaparece naquilo que Buda chamou de Nirvana e que a nossa apoucada inteligência considerou como o Nada. Kant teve razão ao localizar os limites da razão humana no momento em que cessam as contradições dialéticas. Mas nesse momento, nessa linha divisória entre o mundo real e o mundo ideal, começa a razão angélica. Os homens transformados em anjos — não com asas nem com estrelas na fronte — mas com a mente e o coração purificados, passam a ver e a compreender a realidade pela intuição direta e global. Nesse momento descobrem a perfeição do Universo, aquela perfeição que, desde o princípio, estava na concepção ideal de Deus, mas que nas hipóstases materiais tornava-se irreconhecível como a Vênus de Milo coberta de terra e lama quando a arrancaram do subsolo. O próprio tempo desaparece nesse momento. Não há mais necessidade do véu de Isis da temporalidade para encobrir a verdade das coisas e dos seres.
  Mergulhamos no eterno, que não é estático e inerte como o supomos, mas tem a dinâmica e a lucidez de que o pensamento nos pode dar um vago exemplo. Kardec verificou, em suas pesquisas espíritas, que a esquematização do sensório humano, com a divisão das faculdades sensoriais em órgãos específicos e rigidamente localizados no corpo, não existe para os espíritos libertos das impressões materiais. Os espíritos percebem, veem e sentem de maneira global, por todo o seu ser, em sintonia com toda a realidade. As deslocalizações e transferências das sensações nas práticas hipnóticas comprovam, em nosso plano, a veracidade dessa descoberta efetuada nas suas pesquisas mediúnicas. (Agonia das Religiões, cap. V.)

RELIGIÃO ESPÍRITA
  O Espírito a que a Bíblia se refere em numerosos tópicos e que nos Evangelhos toma o nome de Espírito Santo é o Espírito de Deus em sua manifestação universal. (Agonia das Religiões, cap. VII.).
  A Bíblia é muito valiosa para os espiritistas estudiosos porque é o maior e o mais vigoroso testemunho da verdade espírita na Antiguidade. (Visão Espírita da Bíblia. Artigo 15.º)
  Reconhecendo o conteúdo espiritual da Bíblia, o Espiritismo a estuda à luz de seus princípios, em harmonia com os métodos da antropologia cultural e dos estudos históricos. (Visão Espírita da Bíblia. Artigo 4.º)
  A teologia espírita se estende por toda a Codificação. (O Espírito e o Tempo. Introdução Antropológica ao Espiritismo. 3.ª Parte, cap. IV, n.º 3.)
  (...) na elaboração tardia dos textos evangélicos, em tempos e lugares diferentes, com os dados fornecidos pelas logias (anotações de apóstolos e discípulos) ou mesmo de informações orais deturpadas pelo tempo, transfiguradas pelo sentimento de veneração que crescera através dos anos, os elementos míticos se infiltravam no relato, amoldando a realidade distante às condições mitológicas da época. (Revisão do Cristianismo, cap. I.)
  Somente o reconhecimento das manifestações espíritas, o estudo desses fenômenos e a aceitação racional das comunicações esclarecedoras, dadas por via mediúnica, poderiam levar ao rompimento do arcabouço literal, última forma concreta em que o espírito cristão se refugiava. (O Espírito e o Tempo. Introdução Antropológica ao Espiritismo. Segunda parte, cap. II, item 4.)
  A palavra espiritismo foi criada por Kardec para designar a Doutrina que ele formulou, com dados da revelação dos Espíritos Superiores, transmitidos por médiuns em suas sessões experimentais, e com os dados de suas pesquisas pessoais e das ilações que delas naturalmente tirara.
  Essa Doutrina, como o reconhecem todos os estudiosos sérios do mundo, constitui-se de partes sucessivas, referentes às do conhecimento: a ciência, a filosofia, a moral e a religião. Kardec sempre considerou a religião, no Espiritismo, como uma consequência das partes anteriores, para não confundir a Doutrina Espírita com as confusas e perecíveis teologias da época, tão perecíveis que chegaram aos nossos dias discutindo em torno de um problema sem sentido, com o desenvolvimento da teologia radical da morte de Deus. “Deus morreu!”.
  Essa foi a grande conclusão dos teólogos em nosso tempo. Restringindo-se à Ciência e à Filosofia Espírita, como cerne positivo da Doutrina, Kardec considerou a Moral e a Religião Espírita como derivações naturais e necessárias da nova concepção do mundo, do homem e da vida que a Doutrina estabelecia. (O Centro Espírita, cap. IV.)
  Para evitar o religiosismo comum e banal, Kardec explicou que a Ciência e a Filosofia Espíritas tinham consequências morais. Só no final de sua missão, declarou que o Espiritismo é a religião em espírito e verdade, anunciada pelo Cristo. (Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas, cap. XI.)
  A Ciência Espírita é um organismo vivo, de natureza conceptual, estruturada em leis psicológicas, ou seja, em princípios espirituais e racionais. Essa estrutura é íntegra, perfeita, harmoniosa, e não podemos violentar um só dos seus princípios sem pôr em perigo imediato todo o seu sistema. No Centro Espírita em que essa compreensão da Doutrina não se desenvolve, na verdade não existe Espiritismo, mas apenas um vago desejo de atingi-lo. As raízes dessa estrutura conceptual estão no Cristianismo, não em seu aspecto formal-igrejeiro, mas em sua essência evangélica, definida na Codificação Kardeciana. Os Evangelhos canônicos das Igrejas cristãs estão carregados de elementos da era mitológica e superstições judaicas. São esses elementos do passado pagão-judeu que deformaram o ensino puro de Jesus, permitindo interpretações flagrantemente contrárias ao que Jesus ensinou e exemplificou. No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e no livro “A Gênese”, Kardec mostrou como podemos restabelecer a pureza das raízes evangélicas, usando a pesquisa histórica das origens cristãs, o método analítico-positivo do estudo histórico e o método lógico-comparativo dos textos. Sem a pureza das raízes, não teremos a pureza dos textos. E cairemos facilmente nas trapaças ou nas ilusões dos mistificadores encarnados e desencarnados. (O Centro Espírita, cap. I.).
  O mito do terceiro milênio, que muitos espíritas aguardam com a ingenuidade dos judeus que ainda esperam o messias e dos cristãos que aguardam a volta de Jesus entre as nuvens, com revoadas de anjos ao redor, enquanto catástrofes punitivas devastarão o planeta, não passa de interpretação errônea e supersticiosa de um arquétipo coletivo: o anseio dos homens por um mundo feliz, despertado nas criaturas pela realidade longínqua das realizações ainda em lenta progressão na Terra e já atingidas no Cosmos por mundos mais antigos que o nosso. (O Centro Espírita, cap. XI.)
  É tempo de compreendermos que Jesus de Nazaré não voltou das nuvens de Betânia, mas em espírito e verdade, para conduzir-nos a toda a Verdade prometida. (Revisão do Cristianismo. Prefácio.)
FIDELIDADE AO PENSAMENTO KARDECIANO
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  Poucas obras revelam uma compreensão tão clara e profunda da natureza orgânica do universo como a Codificação. É por isso, e não por sectarismo e fanatismo, que não podemos fazer concessões ao passado no campo das atividades doutrinárias. Avançamos para um novo mundo que só o Espiritismo pode modelar, pois só ele revela condições para isso em sua estrutura doutrinária. (Agonia das Religiões, cap. XIII.)
  A obra de Kardec é a bússola em que podemos confiar. Ela é a pedra de toque que podemos usar para aferir a legitimidade ou não das pedras aparentemente preciosas que os garimpeiros de novidades nos querem vender. Essa obra repousa na experiência de Kardec e na sabedoria do Espírito de Verdade. Se não confiamos nela, é melhor abandonarmos o Espiritismo. Não há mestres espirituais na Terra nesta hora de provas, que é semelhante à hora de exames numa escola do mundo. Jesus poderia nos responder, diante da nossa busca comodista de novos mestres, como Abraão respondeu ao rico da parábola: Por que eu deveria mandar-vos novos mestres, se tendes convosco a codificação e os evangelhos? (Mediunidade. Conceituação da Mediunidade e Análise Geral dos Seus Problemas Atuais. Cap. III.).
  Há mais serenidade no homem que defende com entusiasmo e calor os seus princípios, do que no indivíduo falacioso, que procura serenamente as suas evasivas. É mais sereno o murro de uma verdade na mesa, do que o palavreado untuoso da mentira na boca de um santo de artifício. (O Ser e a Serenidade, cap. II.).
  Em 26 de abril de 1935, Herculano recebeu a inspiração do que chamou “Trilogia do Serenista” (o amante da serenidade). Em 1965, inseriu-a no livro de sua tese existencial: O Ser e a Serenidade, cap. I. Trata-se de um roteiro magnífico para a evolução integral do ser, que ele cumpriu muito bem:

Grato.
Edson Rocha

 kardeconline.com.

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