Jornal Comunica Ação Espírita | 92ª edição | 07 de 2012
O livre-arbítrio e o Efeito Borboleta
Por Wilson Czerski
O meteorologista Edward Lorenz, professor do Instituto Técnico de Massachussets (USA) cunhou uma intrigante frase para expressar as relações existentes no mundo físico: “O bater de asas de uma borboleta pode causar um tufão no outro lado do mundo”.
Trata-se de uma síntese para o funcionamento daquilo que os cientistas denominam de sistemas caóticos. Caóticos não n sentido de desordem, mas de instabilidade extrema em que qualquer nova interferência pode, às mais das vezes, provocar grandes abalos no conjunto. Os processos denunciados por Lorenz passaram a ser designados como “Efeito Borboleta”.
Em 2004 chegou às telas dos cinemas um filme com este título, estrelado por Ashton Kutcher. Dois anos mais tarde veio o “Efeito... 2”, sem o mesmo brilho do primeiro e em 2009 um terceiro o qual não tivemos oportunidade de assistir. Mas no original fez-se a transposição do conceito de fenômeno físico para o campo da vida das pessoas, demonstrando como uma ação ou não-ação de alguém pode determinar consequências diversas e dar diferentes rumos ao destino de um ou muitos indivíduos.
Mais ou menos associado ao Efeito Borboleta está o Efeito Dominó, onde uma decisão tomada por alguém em certo momento desencadeia uma sucessão de outros acontecimentos. Ambos os processos analiso com exemplos no meu livro Destino: determinismo ou livre-arbítrio? (Ed. EME, 2011). Ou seja, é a confirmação de uma lei muito conhecida pelos espíritas: ação e reação ou, mais apropriadamente, de causa e efeito.
E da mesma forma que Natureza reage a cada investida positiva ou infeliz do homem, o planeta possui uma espécie de atmosfera psíquica ou espiritual constituída pelo conjunto de pensamentos, emoções, sentimentos, vibrações dos atos individuais e coletivos. Dentro dela vivemos, respiramos e nutrimos nossas almas de energias salutares ou malsãs.
Somos ao mesmo tempo agentes ativos e passivos, numa interatividade total, embora a distância física ou a magnitude, em geral, diminuta aos nossos olhos, possam dar a impressão em contrário. O fato é que somos responsáveis por tudo o que acontece no mundo e tudo o que acontece repercute, de algum modo, sobre todos – reforçando -, incluindo cada um de nós.
O livre-arbítrio é um dos conceitos mais valorizados pelos espíritas. Sem filigranas filosóficas, livre-arbítrio é o direito de autodeterminação individual permitido pelo uso da liberdade. As questões 833 e 835 de O Livro dos Espíritos esclarecem que liberdade absoluta só é possível no ato de pensar e no uso da consciência que lhe é conseqüente.
Todos nossos atos são regulados por leis e regras sociais que estabelecem limites e punem seus transgressores. Certos hábitos e condutas não se enquadram na legislação ou esta é facilmente burlada. Por exemplo, “Posso dirigir a 150 Km/h” ou “Uso drogas e ninguém tem nada com isso”. Nestes casos provavelmente haverá reações claras por parte de pessoas sensatas, especialmente as mais próximas, preocupadas com a segurança e o bem-estar dos envolvidos, às vezes eles próprios.
Mas em outras circunstâncias podemos preferir por não interferir. Julgamos que o fato não nos afeta, aceitamos a acomodação da indiferença ou entendemos que os outros têm o direito ao uso pleno de seu livre-arbítrio.
No meio espírita há muita gente que, digamos, bem intencionadamente, se preocupa demais com a vida alheia. Querem impor os princípios morais emanados da Doutrina espírita e abraçados voluntariamente por eles por Tê-los como os melhores, necessários, completos e perfeitos. Mas esquecem do respeito devido ao direito alheio de escolha.
Julgam que o que é bom para eles deve ser copiado pelos outros. Desconsideram o estágio evolutivo particular de cada um, suas diferenças sociais, culturais, de instrução, suas necessidades e valores. Porém, outro grande contingente age de modo completamente oposto: silencia, omite-se, lava as mãos, tudo em nome do livre-arbítrio alheio.
Assim, vê um parente ou amigo fundando em dívidas por descontrole ou excessos consumistas ou prejudicando a saúde por alimentação inadequada e nada diz, nada faz. O filho adulto não quer trabalhar e os pais se conformam – e dão-lhe sustento. O vizinho manifesta depressão, mas como não lhe pediu ajuda explicitamente, não oferece apoio. O colega de trabalho negligencia as próprias tarefas, mas é melhor fechar os olhos, pois ele não é do seu setor.
Estamos vendo as pessoas à beira do abismo e em nome de seu livre-arbítrio permanecemos espectadores, esquecidos que, por nossa vez, estamos abdicando de usar positivamente o nosso livre-arbítrio. É um equívoco pensar que simplesmente o outro depois arque com as consequências de seus atos.
Não devemos decidir pelos outros ou forçar decisões. Mas não podemos cruzar os braços. Em nível individual devemos esclarecer, orientar, educar, demonstrar valores alternativos. No plano coletivo, divulgar, oferecer as propostas de vida do Espiritismo, informar princípios, convidar à mudança e, principalmente, exemplificar. Somos responsáveis não só pelo ml que praticarmos, mas por todo o bem que deixarmos de praticar.
Cuidado, pois, com o bater de asas da sua borboleta!
http://www.adepr.org.br
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