“Nascer, crescer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”.
Não é raro ouvirmos de oradores e expositores espíritas que Kardec é o autor dessa célebre frase. Tentamos descobrir com alguns deles qual seria a fonte onde se basearam para passar essa informação ao público, mas nunca logramos êxito. Então, o recurso foi fazermos minuciosa pesquisa em todas as obras do Codificador para ver se nelas encontrávamos algo; porém, nada encontramos sobre o assunto. E já não tínhamos esperança de que um dia fôssemos desvendar isso.
Bem disse Jesus que “não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não existe nada de oculto que não venha a ser conhecido” (Mt 10,26; Lc 12,2), hoje, a luz se fez, e acabamos encontrando uma obra que fala dessa frase. Trata-se do livro Allan Kardec: o educador e o codificador, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, uma publicação da Federação Espírita Brasileira. Como achamos que o que consta dessa obra pode, certamente, esclarecer o assunto e, consequentemente, apontar a sua origem, resolvemos por bem transcrever o seguinte trecho:
Não acreditamos, porém, em plágio de quem quer que seja. A frase em foco andava no ar, não é de Kardec, como pretendem alguns, e pode ser encontrada, com algumas variantes, em citações bem anteriores à desencarnação de Kardec, como, por exemplo, na obra “Clê de la Víe”, de Louis Michel, organizada por C. Sardou e L. Pradel, editores, Rue du Hassard, 9, Paris, datada de 1º de agosto de 1857, p. 570:
“Saturées de l'aimant divin, de l'amour divin, des provisions divines de toute nature, les âmes solaires, par cet aimant, par cel amour, par tous ces divers agents cêlestes. font naître, vivre, circuler, évolutionner, mûrir, se transformer, monter au chemin ascendant, leurs soleils et leurs planètes, et, par les âmes de ces dernières, font jouir des mêmes avantages la plus obscure image de Dieu elle-même, l'homme, restê, encore, en dehors de l'unité; dès qu'il consent à s'y prêter un peu”.
Em discurso pronunciado na presença de Kardec, no dia 14 de outubro de 1861, na Reunião Geral dos Espíritas de Bordéus, o Sr. Sabó disse textualmente:
“...pour aller à lui, il faut naître, mourir et renaître jusqu'à ce qu'on soit arrivé aux limites de la perfection...” (“Revue Spirite", 1861, p. 331.)
Vejamos também estas duas frases:
"Tout, tout, dan cette grande unité de la création, existe, naît, vit, fonctionne et meurt et renaît pour l'harmonie universelle".
“(...) il faut naître, mourir et renaître jusqu'à ce que l'on soit parvenu aux limites de la perfecion”.
Estão elas em “Les Quatre Évangiles”, J.-B. Roustaing, Tome Premier, Paris, Librairie Centrale, 24, Boulevard des Italiens, 1866, às páginas 191 e 227, respectivamente.
Notemos que a frase é substancialmente a mesma, sob várias formas, sempre, porém, com o mesmo sentido, em 1857, 1861, 1866 e finalmente em 1870, quando foi esculpida no frontispício do dólmen de Kardec, em três linhas:
NAÎRE, MOURIR, RENAÎTRE ENCORE
ET PROGRESSER SANS CESSE
TELLE EST LA LOI
Terá sido por tudo isso que o Espírito Emmanuel a atribui não a um ser humano em particular, mas sim ao Espiritismo? Com efeito, diz ele, na página intitulada “Problema conosco”, inserta no livro “Justiça Divina” (F. C. Xavier, 3ª edição FEB, 1974, p. 84):
“E o Espiritismo acentua: “Nascer, viver, morrer, renascer de novo e progredir continuamente, tal é a lei”. (os grifos são nossos [dos autores]).
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(39) “Discours prononcés pour l'anniversaire de la mort de Allan Kardec. Inauguration du monument”, Paris, à la Librairie Spirite, 1870, pp. 7/8. Neste opúsculo fui anexada uma estampa (vue) do dólmen de Kardec, “executada (executée) com o maior cuidado e a mais rigorosa exatidão pelo Sr. Pégard, gravador, conforme desenho feito pelo Sr. Sebille" (pp. 11 e 12).
Pégard, gravador em madeira, da Escola francesa, fez as gravuras do "Dictionnaire d'architccture" de Viollet-le-Duc e as da “Histoire populaire, anecdotique et pittoresque de Napoléon”. (Apud E. Bénézit: “Dictionnaire des Peintres, Sculpteurs, Dessinateurs et Graveurs”, nouvelle édition, tome sixième, Librairie Gründ, 1996, p. 571.)
(40) Jean Vartier: “ALLAN KARDEC, la naissance de spiritisme”, Paris, Libraire Hachette, 1971, pp. 150/151.
(WANTUIL, Z. e THIESEN, F. Allan Kardec: o educador e o codificador. Vol. II. Rio de Janeiro: FEB, 2004, p. 285-288) (grifo nosso).
http://kardeconline.com.br/
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