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terça-feira, 12 de junho de 2012

Uma análise do discurso de Kardec, em resposta ao questionamento: O Espiritismo é Religião?


(Sessão Anual comemorativa do dia dos Mortos - Sociedade de Paris, 1º de novembro de 1868)

 
 
Por Maria das Graças Cabral e Fátima Abreu

 
 
Para a análise do discurso de Kardec a respeito do questionamento se espiritismo é religião, faz-se por oportuno observar que este inicia falando da comunhão de pensamentos. De forma enfática assevera o Codificador, que ainda não apreendemos o alcance real do que seja esse mecanismo em sua plenitude.

 
Segundo Kardec: “Comunhão de pensamento quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de desejo, de aspiração. Ninguém pode desconhecer que o pensamento é uma força”. Não uma força puramente abstrata, sendo necessário conhecer suas propriedades “e a ação dos elementos que constituem nossa essência espiritual, e é o Espiritismo que no-las ensina“.

 
Na realidade Kardec inicia a sua exposição sobre o tema, abordando a comunhão de pensamentos, por entender que a força da doutrina espírita, está justamente nesta união que conduzirá à evolução da humanidade terrestre, desenvolvendo toda a moralidade necessária ao bem comum. Ou seja, o pensamento sempre antecede à ação. Assevera Kardec que “é pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido. Mas, se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve ser essa força sobre os elementos fluídicos que nos rodeiam!”

 
Em seguida, encaixando a importância da união de pensamentos em uma assembléia, estabelece que “se todas (assembléias) forem benéficas os assistentes experimentarão um verdadeiro bem estar, e se sentirão à vontade; mas se se misturarem alguns pensamentos maus, produzirão o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido”. Isto porque, para que as reuniões sejam benéficas e produtivas, os pensamentos devem estar harmonizados em um mesmo objetivo.

 
O mesmo ocorre com os grupos de estudos, necessários para o entendimento da Doutrina Espírita. Não olvidando da importância fundamental de um mergulho profundo na análise também de quem estuda. Porque para o Codificador “concebe-se que nas relações que se estabelecem entre os homens e os espíritos, haja, numa reunião onde reine perfeita comunhão de pensamentos, uma força atrativa ou repulsiva, que nem sempre possui o indivíduo isolado.”

 
Ainda a respeito da comunhão de pensamentos, nos alerta Kardec sobre a reciprocidade do bem comum como objetivo. Ou seja, o desejo do benefício comum neutraliza “a ação dos Espíritos maus”, advertindo ser uma tática para levar o homem ao isolamento, pois sozinho pode sucumbir ao passo, que se sua vontade for corroborada por outras vontades, poderá resistir, conforme o axioma: a união faz a força, axioma verdadeiro, tanto do ponto de vista moral, quanto do físico.”

 
Na realidade, o Mestre busca demonstrar que todas as religiões embora fundadas na comunhão de pensamentos, objetivam através da “forma” estarem “quites com Deus e com os homens.” Acrescenta que “cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, por sua própria conta, e, na maioria das vezes, sem nenhum sentimento de confraternidade em relação aos outros assistentes; fica isolado em meio a multidão e só pensa no céu para si mesmo.”

 
Decepcionadas com essa realidade há pessoas que negam a utilidade das assembléias religiosas e, em conseqüência de seus templos, ou locais construídos para este fim. Não obstante, Kardec assevera que “falar assim é desconhecer a fonte e os benefícios da comunhão de pensamentos que deve ser a essência das assembléias religiosas; é ignorar as causas que a provocam.”

 
Diante de tais pensamentos, entende o Mestre que “o isolamento religioso assim como o isolamento social, conduz ao egoísmo.” E questiona: - “Qual o homem que poderá dizer-se bastante esclarecido para nada ter a aprender no tocante aos seus interesses futuros? Bastante perfeito para abrir mão dos conselhos da vida presente? Será sempre capaz de instruir-se por si mesmo? Não; a maioria necessita de ensinamentos diretos em matéria de religião e de moral, como em matéria de ciência.”

 
Kardec então nos estimula por meio do seu discurso, que independente do objetivo, o laço estabelecido por uma religião é essencialmente moral. “O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como conseqüência de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.”

 
Então com tais argumentos, o Mestre justifica a resposta do questionamento em tela: - O Espiritismo é uma religião? Oportuno lembrar quando da Introdução de O Livro dos Espíritos, Kardec se reporta à questão da pobreza do nosso vocabulário, quando uma mesma palavra é utilizada para exprimir idéias diferentes. O mesmo problema é atribuído à questão da palavra religião, que segundo o Codificador é inseparável da de culto, despertando uma idéia de “forma” que o espiritismo não tem.

 
Diante de tantos equívocos que permeiam a Doutrina Espírita, o uso de uma palavra que representa mais de uma idéia, no caso, a palavra religião, viria segundo Kardec a transformá-la em um culto místico. “Não tendo o espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis porque simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral.”

 
Daí, disserta o Codificador de como devem ser as reuniões espíritas, ressaltando que mesmo diante do recolhimento e das preces, estas não configuram assembléias religiosas. Esclarecendo: “Não se pense que isto seja um jogo de palavras; a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão não provém senão da falta de uma palavra para cada idéia.”

 
Diante do exposto, o texto em questão é mais uma colaboração para o resgate do estudo das Obras Fundamentais da Doutrina Espírita, espelho do nosso entendimento como espíritos necessitados de uma melhor compreensão sobre o nosso processo evolutivo, que nos conduzirá certamente para a aceitação das diversidades.

 
Realmente, podemos concluir que Allan Kardec teve todo o cuidado de estabelecer para a doutrina espírita, o seu caráter de doutrina filosófica e moral, diferenciando dos conceitos usuais de religião. Como assevera o Codificador, a pobreza de vocabulário é que nos leva a tantas confusões interpretativas.


 
Concluindo:


1 - Kardec deixa claro da importância das assembléias de estudo observando-se a comunhão de pensamentos entre encarnados e desencarnados, buscando-se a unidade de objetivos e propósitos;


2 - Ressalta que a Doutrina Espírita não é religião por não adequar-se aos caracteres de uma religião, sendo considerada pelo Codificador como uma doutrina filosófica e moral.

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