a partir de maio 2011

sexta-feira, 25 de maio de 2012

MEDIUNIDADE DE CHICO XAVIER


ARTIGO: Crônicas do jornal “Mundo Espírita”, sob o título “Na Hora da Consulta”
FONTE: Mundo Espírita – Carlos Imbassahy – 20 de julho de 1946


            Recebemos, de mão amiga, uns recortes de jornal com artigos que Leopoldo Aires escrevera em1944, no jornal de S. Paulo “ A Manhã “, a propósito da Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
           
Não os conhecia. Leopoldo Aires é intransigente e acérrimo adversário do Espiritismo. Por isto mesmo vale a pena transcrever alguns tópicos que demonstram a honestidade do escritor, embora não reconheça ele o fenômeno na sua interpretação espirítica. Assim diz ele:
           
“ As mesmas acusações se fazem de novo, a Chico Xavier, de que é um pastichador...

Parece-me, de todo, inconsistente, a acusação de que ele faz tudo aquilo conscientemente, porque conscientemente ninguém o faria, muito menos seus acusadores. É preciso folhear toda a produção mediúnica de Chico Xavier para que qualquer pessoa de bom senso veja não ser possível escrever, diante de numerosas testemunhas, páginas inteiras, com velocidade a que não estão habilitados os mais destros manejadores do lápis ou da caneta.

Para que Chico Xavier reproduzisse em público o que tivesse ensaiado às escondidas, necessitaria uma prodigiosa memória, incapaz de qualquer colapso (ele escreve sem pausa ou interrupção). Se eu disser que o que escreve, elabora no momento, isso é atribuir-lhe dotes excepcionais de escritor, porquanto não é possível escrever sem nenhuma pausa o que se está elaborando”.

Valia a pena registrar a opinião e, provavelmente, o testemunho do culto professor e apreciado homem de letras, que é o Sr. Leopoldo Aires. É de crer, pelo que diz, que tenha presenciado a escrita do psicógrafo, e destarte, o seu parecer, antagonista como é, será de grande valor para destruir as hipóteses e as afirmativas dos que nada viram e dos que nada sabem.

Infelizmente, não podemos acompanhar as pegadas do distintos escritor nos alvitres que oferece para explicar o fenômeno, e um deles é esse subconsciente, palavra mágica que parece talhada para tirar de dificuldades os nossos opositores.

Antes de chegar a essa hipótese salvadora, cumpre tratar de um caso por que passou nosso digno patrício, quando responde a Lino Telles, que é o da mediunidade de Helena Schmith, descrita por Flournoy, na obras Des  Indes à la planète Mars.

A passagem do articulista é curta. Diz ele, apenas: “ O livro de Flournoy é terrivelmente decisivo para o caso de Helena e outros semelhantes. O de Chico é mais simples que aquele. Há pirâmides de provas em contrário que Flournoy não examinou, , diz o Sr. Telles. Mas não há nessas pirâmides nenhum caso que fosse estudado com rigor e objetividade científica do psicólogo suíço”.

Não é verdade, mas deixemos passar.

Sobre Helena e Flournoy foi só. Dir-se-ia que estava apressado no assunto, a fim de não ter por ali algum contratempo. Porque o caso não é tão terrivelmente decisivo. Nem eu vi decisão nenhuma, a menos que sejam decisões as hipóteses vagas e indemonstráveis do filósofo de Genebra. Nem vi que houvesse em todos os pontos o rigor científico a que alude o prof. Aires, antes, nos casos verdadeiramente espíritas, o autor da obra ou disfarçava ou declarava a sua incompetência ou a falência dos seus processos, isto não obstante o brilho inegável do seu talento.

Como o espaço não nos permite delongas, passemos um rápida vista d’olhos sobre um caso, apenas, o  ciclo hindu.
Helena diz-se a reencarnação da princesa Simandini, levada à fogueira por ordem de seu marido, o príncipe Sivrouka-Nayaka. Viveram no século XV, em 1401, na cidade hindu deTchadraguiri, no Kanara, nas Montanhas da Lua. Descreve várias cenas dessa existência, com um colorido impressionante e inimitável, com os pormenores sobre o castelo em que morou, o local em que ficava, os objetos que a rodeavam, os animais com que brincava.

Era tal a vivacidade e a naturalidade da reprodução, que o eminente professor genebrino perguntava “ donde viria a essa filha das margens do Lemano uma perfeição de cena que só poderia esperar de um artista, ao preço de estudos prolongados e de uma estada nas margens do Ganges “.

Flournoy recorre aos seus dicionários, às suas enciclopédias, e, finalmente, aos geógrafos, sem que estes nem aquelas o pudessem informar da existência daqueles príncipes, nem daqueles fatos, nem daqueles lugares. Que belíssima prova de um romance subliminal!...

Mas... na sua afanosa pesquisa, entrou a escarafunchar numa biblioteca `a fournier dans une bibliotéque e desencravou um História de Merlés, em 6 volumes, e lá a folhas tantas, surgiu aos olhos de Flournoy o fato histórico relatado pela médium: lá estava a princesa Simandini, o príncipe Sivrouka, o Tchadraguiri, o Kanara, as Montanhas da Lua, o episódio, a data...

Interrogados os geógrafos a que recorrera o psicólogo, como é de ver, eles acharam que o Merlés não tinha grande autoridade. Está claro que era necessário justificarem o seu desconhecimento, e preferiram afirmar que o pouco valor era de Merlés a dizer que era deles.

E o psicólogo, apesar de toda a sua psicologia, se conformou com isto.

Mas, fraco ou forte, o Merlés como é que a médium teria sabido daquele fato histórico?

Flournoy não soube sair-se da dificuldade e alvitrou que talvez o livro lhe caísse nas mãos, embora ninguém soubesse como, nem ninguém se lembrasse disso, nem a médium, muito inculta fosse dada a leituras do oriente e negasse de pé firme tal leitura, e embora o próprio autor achasse a idéia extravagante.

E as cenas que só uma afamada atriz, depois de muito estudo, poderia reproduzir.

E aí têm o que para o nosso patrício amigo Leopoldo Aires é terrivelmente decisivo: cenas e atos que não se sabe como foram aprendidos e adquiridos, uma idéia extravagante, uma hipótese inverosímil.

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