a partir de maio 2011

terça-feira, 10 de abril de 2012

Reencarnação no Velho Testamento


Cláudio Fajardo
  
Muito se tem escrito sobre o tema da reencarnação na Bíblia. Alguns livros já foram, assim, editados.

Entretanto, o tema nos parece inesgotável; novos pontos surgem cada vez que nos debruçamos sobre este importante livro, a estudá-lo, com intuito de, dele retirar subsídios para o nosso processo reeducativo.

Importante considerar que as reflexões que fazemos a seguir é uma tentativa de análise psicológica da narrativa visto que os primeiros personagens citados no livro sagrado não existiram do ponto de vista histórico. Todavia nem por isto os acontecimentos deixam de ser de grande significação para nós na caminhada evolutiva que realizamos.

Cremos, com muita segurança, que os autores espirituais desta literatura, rica em ensinamentos, deixaram guardados nestes apontamentos toda nossa história de quedas e ascensões, do Espírito à matéria, e desta ao Espírito novamente, em perfeição; cabendo a cada um refletir com seriedade e aprender sempre.

Veja aquele que tiver olhos para ver.

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Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e vagabundo na terra, e será que todo aquele que me achar, me matará. (Gênesis, 4: 14)

Eis que hoje me lanças da face da terra - Caim está fora da terra; sugere-nos o texto estar desencarnado.

“Eis que hoje”, no presente, representando a importância do momento atual para realizações futuras. São reflexões que necessariamente têm de ser feitas.

“Me lanças”; ação da Lei, imposição, ato compulsório. Há um momento que chega o fim de um ciclo, cessam nossas possibilidades de criação e passamos a receber os efeitos das que realizamos.

“Da face da terra”; vejamos os versículos anteriores:

E agora maldito és tu desde a terra[1],isto é, quando encarnado. Foi lá o assassinato do irmão Abel.

Quando lavrares a terra…[2]expressando volta, retorno. Quando reencarnares…

Portanto Caim está desencarnado; num momento de ajuste consciencial daquele que errou na face da terra.

Podendo significar também aquele instante em que, mesmo no corpo físico, nos afastamos mentalmente da situação e reconhecemos nossas imprudências.

E da tua face me esconderei. – Que face é essa?

Podemos aí ver a face de Deus num plano de consciência mais profundo. Deus tudo sabe, não há como esconder nada Dele. Então, este “esconder” é em termos de consciência, representa o esquecimento do Espírito, o que se dá com a prisão deste na matéria; é o reencarnar-se novamente.

Vejamos que o verbo está no futuro, esconderei, ou seja, ele ainda estava desencarnado e iria voltar ao corpo. Na reencarnação estamos escondidos de nosso passado, o esquecemos. Nossos familiares anteriores, quem são? Nossos inimigos, onde estão? Temos tendências, ora ao poder, ora ao dinheiro, ora ao conhecimento, ora ao sexo, de onde veio isso? O que gerou este momento presente nosso? Não sabemos; tudo nos está escondido. Portanto, este esquecimento representa a reencarnação de Caim.

Entretanto, percebamos, há um esquecimento do Espírito, mas não uma anulação do que se fez e de suas consequências. As tendências negativas ou positivas permanecem, são as conquistas realizadas no passado. E nosso próprio aparelho físico reflete essas realizações anteriores. Vejamos o que diz Emmanuel sobre o assunto:

Na câmara uterina, o reflexo dominante de nossa individualidade impressiona a chapa fetal ou o conjunto de princípios germinativos que nos forjam os alicerces do novo instrumento físico, selando-nos a destinação para as tarefas que somos chamados a executar no mundo, em certa quota de tempo.[3]

E serei fugitivo e vagabundo na terra – No versículo doze deste mesmo capítulo vamos ter a mesma colocação de forma diferente. Lá é como se a determinação viesse de fora para dentro, era a necessidade criada, a semeadura realizada que em determinado momento iria acontecer. Aqui já é a própria criatura se expressando num nível de consciência maior a lei de causa e efeito; serei, ou seja, ele já sabe disso.

Tal transformação se dá lentamente no plano da evolução. Hoje nós sabemos que, se não nos alimentarmos bem teremos complicações com a saúde, isso já é claro para o biótipo humano. Como se deu esta consciência? Foi trabalhada durante os milênios pelo princípio inteligente nos reinos inferiores da criação.

Hoje estamos construindo uma nova consciência. Se prejudicarmos qualquer criatura receberemos em nós os efeitos e seremos os maiores prejudicados. Por enquanto isto é trabalhado por alguns de nós como disciplina, com o tempo, do mesmo modo que a consciência em relação à alimentação se fez, o mesmo se dará em relação ao prejuízo causado a nós se assim fizermos ao semelhante, e espontaneamente não mais faremos mal a quem quer que seja.

Sobre fugitivo e vagabundo já comentamos em pontos anteriores deste estudo; entretanto, podemos caminhar um pouco mais e ver na palavra “fugitivo” a expressão daquele sentimento íntimo que temos de que algo de menos agradável pode nos ocorrer se não agirmos de forma positiva, hoje reencarnados, isto é, na terra. Expliquemos melhor.
Quando agimos em descordo com a Lei maior da criação que é amor, geramos desajuste desajustando-nos em primeiro lugar. A perfeição da Lei faz com que criemos em nós, imediatamente, a necessidade de reajuste o que se efetivará no tempo propício de acordo com o nosso amadurecimento. Fica em nós, entretanto, uma mancha consciencial, e à medida que vamos amadurecendo vai surgindo uma intuição de que temos algo a fazer naquela área em que lesamos a consciência. Como há em nós, na maioria das vezes, um complexo de culpa, prevemos ou tememos um sofrimento que possa surgir. E a esta possibilidade tentamos eliminar até de nossa onda mental como um fuga das necessidades que ainda temos.

A presença do Cristo e de seu Evangelho desativa este complexo negativo através de uma proposta de recomposição pela vivência do amor. Ou seja, se na base desrespeitamos a Lei numa atitude contrária ao amor, amemos, e assim realizaremos nossa redenção.

Este é o conteúdo significativo presente na máxima:

O amor cobrirá a multidão de pecados.[4]

E será que todo aquele que me achar, me matará. – Este versículo nos fala com clareza da lei da reencarnação e das necessidades que temos de através dela quitarmos as pendências com a própria consciência.

Caim tinha assassinado seu irmão num momento que podemos situar numa encarnação anterior. Sabia disso. Agora depois de uma reflexão feita no plano espiritual, sobre o ocorrido, reconhece a necessidade de vir novamente à matéria para uma recomposição consciencial. Entretanto, sua culpa leva-o a temer que o mesmo possa ocorrer com ele, isto é, que seja também assassinado.

E passa a ver em todos um desejo de matá-lo. Não é o que acontece conosco quando do mesmo modo estamos em desacordo com nossa consciência?

Quando roubamos achamos que todos querem nos roubar.

Quando mentimos que todos mentem para nós.

Quando traímos que vamos ser traídos a qualquer momento.

Aprendemos assim, que a conclusão chegada por Kardec de que fora da caridade não há salvação, é não só de grande atualidade, mas também uma verdade fundamental para o Espírito em evolução; pois só se desativarmos a culpa na base, através de uma atitude nova capaz de reconciliar-nos com nossa consciência, conseguiremos o equilíbrio necessário para gerarmos em nós saúde, paz e felicidade.

E assim cumprirmos o objetivo da reencarnação do Espírito.

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