a partir de maio 2011

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Paulo de Tarso numa Perspectiva Espírita - Jesus é Deus?



 
Continuando nossos estudos afirmávamos da necessidade do conhecimento dos princípios fundamentais da Doutrina Espírita como forma de auxiliar no entendimento da teologia paulina.

Temas como Deus, Jesus (Cristo), Espírito, Perispírito, Evolução, Mediunidade, Imortalidade da Alma, Livre Arbítrio, entre outros, são essenciais para verdadeiramente entendermos o que quis dizer ao mundo este Bandeirante do Evangelho.
Só para termos uma breve ideia da importância dos conhecimentos destes princípios doutrinários para o melhor entendimento da proposta paulina vamos destacar neste momento apenas três destes princípios: Deus, Espírito e Jesus.

Deus
Para a doutrina espírita, o entendimento de Deus é como na Bíblia em seus primeiros movimentos, Deus é o Criador do Universo.
Na primeira questão de O Livro dos Espíritostemos: Deus é a Inteligência Suprema e Causa Primária de todas as coisas.
Deus é Espírito, é imaterial, onipotente, onipresente, onisciente, imanente e transcendente. Segundo os Espíritos Ele não atua diretamente na matéria1, para isto tem agentes dedicadosque O auxiliam.

Espírito
O Espírito é o princípio inteligente do Universo2, os Espíritos são os seres inteligentes da criação3.
Eles estão em constante evolução, o que fazem através das diversas reencarnações. Quando atingem o cume da escala evolutiva, tornam-se Espíritos Perfeitos, Espíritos Puros, Cristos4...

Jesus
Jesus é para a doutrina espírita um Espírito criado, não é Criador, é criatura.
Porém é um Espírito especial, não porque tenha sido criado de forma diferente dos demais, mas porque se fez especial. Percorreu toda escala evolutiva em mundos que já nem existem mais, e tornou-se Perfeito, um Espírito Puro. É assim, um Cristo. Daí, Jesus-Cristo, onde Cristo não é sobrenome, mas condição espiritual, estado evolutivo.
Podemos assim dizer que ele é um dos Agentes Dedicados5que auxiliam Deus na governança de Sua criação.
Ele não é Criador, é Construtor; é conforme orientação do Espírito André Luiz, um Co-criador em Plano Maior.6
Para o nosso planeta, Jesus é o Construtor dele, é o Mentor Espiritual; os Espíritos o definem como Governador Espiritual da Terra.
Não compreendendo tudo isto e sentindo a Sua superioridade muitos pensam ser Jesus o próprio Deus Criador. Só o Espiritismo através das revelações dos Espíritos Superiores pôde elucidar esta questão, e assim nos dar mais uma ferramenta para compreendermos Paulo, e porque não dizer todo o Evangelho, que é a Boa Nova de Deus.
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Dito isto faz-se necessário buscar Alguns textos de Paulo e os interpretarmos dentro desta nova ótica proposta. Lembrando que por ser o Evangelho a Mensagem do Cristo trazida aos homens através da inspiração do Espírito de Verdade, outras interpretações além das aqui propostas poderão haver sem contradição. Neste passo não vamos nos preocupar com as minúcias, mas com o que achamos mais importante para o objetivo deste estudo.

Jesus é Deus?
agora, nestes dias que são os últimos, [Deus] falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e pelo qual fez os séculos. É ele o resplendor de sua glória e a expressão de seu ser; sustenta o universo com o poder de sua palavra… (Hebreus, 1: 2 e 3)1

Como dissemos no início deste texto para compreendermos Paulo e a essência de sua mensagem é preciso nos descondicionarmos em relação às interpretações das escrituras que até então fizemos levando em conta as teologias cristãs tradicionais. Dentro da ótica antiga, a primeira ideia que vem ao lermos estes versículos é que Jesus é Deus. Porém não é o que pensava o autor de Hebreus. Além de ser inconcebível para um judeu como ele o pensamento de que Deus pudesse encarnar, a tradição judaica nunca disse ser o Messias igual a Deus.
Temos no texto em epígrafe a afirmativa do apóstolo de que Jesus é Filho. Como sabemos, Deus é Pai, portanto, não é a mesma coisa. Entretanto a teologia cristã posterior disse que o Filho faz parte da Trindade e que seria uma pessoa de Deus. Teríamos assim, Deus Pai, Deus Filho, e Deus Espírito Santo.
Não é objetivo deste estudo, devido a sua singeleza, aprofundar-se nestas questões teológicas, mas temos, entretanto, de manifestarmo-nos de alguma forma.
A teoria do Deus trino e da trindade não tem claramente um respaldo bíblico, pode-se ver a mesma expressa nas entrelinhas de alguns textos, entretanto trata-se de opinião pessoal e liberdade de interpretação daqueles detentores desta forma de pensar.
Temos nestes versículos a afirmação do autor sagrado de que Jesus fez os séculos. Num primeiro instante podemos pensar que Jesus fez o “tempo” já que séculos expressa uma noção de tempo. Como o Criador do tempoé Deus, supõe-se através de uma leitura rápida que Jesus é Deus.
Todavia o que o texto expressa que é Deus quem fez por meio do Filho, o que é diferente. Outra questão a ser compreendida é que a expressão grega aion também pode ser vista como uma tradução de uma expressão idiomática hebraica que dizer mundo, universo.
Assim, o autor de Hebreus quer dizer que Jesus fez o mundo. Dentro da teologia tradicional caímos na mesma dificuldade, pois quem criou o mundo foi Deus.
É aqui que a doutrina espírita entra fazendo a diferença. Mundo ou Universo aqui expressam os Universos físicos, isto é materiais. O mesmo se dá com séculosque é uma medida de tempo. Só existe tempo quando falamos de dimensões materiais.
Como vimos anteriormente Deus não opera diretamente na matéria, isto ele faz por meio dos Espíritos, e no caso da construção dos Universos Ele faz por meio dos Espíritos Puros que são os Cristos ou os Messias.
Assim, o autor de Hebreus inspirado pelo Espírito de Verdade está correto e coerente com o ensino que os Espíritos nos deram a partir da Codificação Kardequiana. Deus por intermédio de Jesus que é um Cristo fez o mundo em que vivemos que é o planeta Terra
Na sequência do versículo ele ainda diz que Jesus é a expressão de seu ser, isto é a expressão de Deus.
Está corretíssimo; Jesus é a expressão exata de Deus, a expressa imagem Dele. Como sabemos os Espíritos Puros já se reintegraram na Unidade Divina2. Todavia é preciso convir, a expressão de uma coisa não é a coisa em si por mais perfeita que ela seja. Uma imagem de uma pessoa num espelho é a cópia fiel desta, porém não é a pessoa, o mesmo podemos dizer de uma poema, ele pode expressar com perfeição um evento, mas não se trata do próprio; o mapa não é o território, e assim por diante.
Jesus é a expressão exata de Deus, daí ser confundido com Ele, porém não é a Divindade por excelência.

1Aqui é preciso considerar que os eruditos modernos não têm Paulo como autor da carta aos Hebreus. Neste texto não vamos entrar nesta questão, vamos apenas considerar, como Emmanuel através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, que foi Paulo quem escreveu esta valiosa carta.
2Cf. (KARDEC 1980), Q. 1009

1(KARDEC, O Livro dos Espíritos. 50ª ed. 1980). Q. 536 item b
2Idem, Q. 23
3Id. Ib., Q. 76
4 Do grego Christosque significa “ungido”. Tanto os reis quanto os sacerdotes eram investidos de sua autoridade numa cerimônia com óleo de oliva. Deste modo Cristo é aquele que recebe a autoridade diretamente de Deus, e neste caso é autoridade moral e espiritual que só é dada àquele que chegou ao cume da escala evolucional.
5(KARDEC 1980), Q. 536 item b
6 XAVIER, Francisco C./ Waldo Vieira/André Luiz (Espírito). Evolução em Dois Mundos, 13a Ed.Rio de Janeiro: FEB, 1993.

Autor: Claudio Fajardo de Castro (Juiz de Fora/MG)
Cláudio Fajardo é bancário, escritor desde 1997, dedica-se ao estudo do Novo Testamento à luz da Doutrina. Coordenou curso de Espiritismo no Centro Espírita Amor e Caridade em Goiânia – GO, denominado de Curso de Espiritismo e Evangelho. A partir daí surgiram seus livros: O Sermão do Monte, Jesus Terapeuta I e II, O Sermão Profético e O Sermão do Cenáculo, todos publicados pela Editora Itapuã.

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