a partir de maio 2011

quinta-feira, 5 de abril de 2012

OS INSTRUTORES DA CODIFICAÇÃO E O ESPÍRITO DE VERDADE



As grandes forças que auxiliaram Kardec.

  Pôr a descoberto a excelência da proteção dispensada aos trabalhos de Allan Kardec é fundamental à compreensão e preservação da verdadeira identidade do Espiritismo. Isto leva o adepto sincero e devotado a poderosos meios de reflexão para que conclua pela singularidade insubstituível da Obra Kardeciana, cuja margem de segurança garantiu a confiabilidade dos conteúdos obtidos e lhe confere a situação de não haver sido superada por qualquer outra a que se atribua o adjetivo "espírita".

  Nomes como São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O Espírito de Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Swedenborg - para citar apenas os que se identificam nos Prolegômenos de O Livro dos Espíritos - fizeram das obras de Allan Kardec o que a respeito delas assegurou J. Herculano Pires: "[...] foi trabalho inspirado e orientado pelas mais elevadas forças espirituais que o nosso mundo já teve a oportunidade de conhecer". (O Espírito e o Tempo. Ruptura do arcabouço literal.)

  A despeito de uma tal equipe, que contou também com São Paulo, Erasto, Hahnemann, Rousseau, Pascal, Chateaubrian, Lacordaire, Galileu, entre inúmeros outros, o processo de Codificação do Espiritismo teve uma chefia espiritual suprema: O Espírito de Verdade, guia espiritual do Codificador e, segundo A Gênese (1868), I, 41, presidente da regeneração: "O Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo a respeito do Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito de Verdadeque preside ao grande movimento da regeneração, a promessa da sua vinda se acha por essa forma cumprida, porque, de fato, é ele o verdadeiro Consolador".

  Todavia, Kardec afirmara em O Evangelhosegundo o Espiritismo (1864), I, 7: "O Espiritismo vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou e preparar a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra".

  Oras! Se entre 1864 e 1868 não houve mudança na presidência do movimento de regeneração, resta evidente que O Espírito de Verdade, guia de Kardec e presidente dessa obra, era o próprio Cristo Jesus.

  Como nos informara o espírito Chateaubriand: "O próprio Cristo preside aos trabalhos de toda sorte que se acham em via de execução para vos abrirem a era de renovação e de aperfeiçoamento que os vossos guias espirituais vos predizem". (O Livro dos Médiuns, XXXI, II.)

  O Codificador foi certificando-se dessa verdade por detido juízo de comunicados e fatos, verdade com a qual lidou, aliás, muito discretamente; sem privar a posteridade, entretanto, dos preciosos informes que lhe permitem hoje compartilhar de tão consoladora evidência.

  É o que se pode deduzir da nota que acresceu à comunicação datada de 09/04/1856. Na mensagem, O Espírito de Verdade lhe reitera que sua proteção se estende mesmo "às coisas materiais da vida" e lhe confessa ternamente: "[...] não te ajudar a viver, seria não te amar".

  Na nota, escrita anos depois, um Kardec agradecido e admirado assegura: "A proteção desse espírito, do qual estava longe de supor a superioridade, com efeito, jamais me faltou. Sua solicitude, e a dos bons espíritos sob as suas ordens, se estende sobre todas as circunstâncias de minha vida [...]". (Obras Póstumas.)

  Oras! O Codificador diz que veio a se surpreender com a posição de seu guia na escala espírita, posição que não supunha tão elevada, assim como revela que bons espíritos agiam sob as ordens diretas desse guia, de cuja superioridade sequer desconfiou a princípio...

  Parece que chegou, desse modo, a uma convicção: a de que O Espírito de Verdade encarnara, na Terra, a figura de Jesus de Nazaré; razão pela qual assinalou a "ambos" a função de presidir a regeneração. Fora desarrazoado que não se tratasse de um único espírito...

  Tanto assim que, em O Livro dos Médiuns, 48, ao repelir o sistema mono-espírito, Kardec usou como sinônimos os nomes Jesus, Cristo e Espírito da Verdade. Prova irrecusável da sua percepção sobre este assunto.

  Entendimento referendado após décadas pelo instrutor Alexandre, em Missionários da Luz: "Por que audácia incompreensível imaginais a realização sublime sem vos afeiçoardes ao Espírito de Verdade, que é o próprio Senhor". (Chico Xavier/André Luiz. F.E.B., cap. 9, pp. 99 ou 125.)

  Não se diga, pois, que O Espírito de Verdade é um grupo, uma coletividade. Kardec já afiançara: "A qualificação de Espírito de Verdade não pertence senão a um só [...] esse espírito se comunica raramente [...]". (Revista Espírita. Julho de 1866. Qualificação de santo atribuída a certos espíritos.)

  Um espírito comunicou-se na cidade natal do Codificador, e o fez em termos contundentes aos que têm ouvidos:

  "Coragem! O que foi predito pelo Cristo se deve realizar. Nestes tempos de aspiração à verdade, a luz que ilumina todo homem vindo a este mundo brilha de novo sobre vós; [...] aquele que recebeu a missão de vos regenerar retorna, e ele disse: Bem-aventurados aqueles que conhecerem o meu novo nome!". (Revista Espírita. Março de 1868. A Regeneração. Um Espírito. Médium: Sra. B., Lyon, 11 de março de 1867).

  O espírito Erasto, discípulo de São Paulo, foi o responsável pela síntese axiomática do critério kardeciano para a Codificação: "Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea"; assim como se mostrou o mais rigoroso dos instrutores de Kardec, ao disparar:

  "Devem riscar-se, sem piedade, toda palavra, toda frase equívoca e só conservar do ditado [dos espíritos] o que a lógica possa aceitar, ou o que a Doutrina já ensinou. [...] Não admitais senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom-senso reprovarem". (O Livro dos Médiuns, 230.)

  Pois bem! Este mesmo Erasto endereçou aos espíritas lioneses uma epístola que o próprio Kardec leu diante deles. No comunicado, o amigo da Codificação trata O Espírito de Verdade por "nosso bem-amado Mestre", depois, contudo, de haver-se dirigido a Jesus chamando-o de "nosso Cristo bem-amado". (Revista Espírita. Outubro de 1861.)

  O espírito Hahnemann, que fundara a Homeopatia, em mensagem publicada por Kardec, assegura que O Espírito de Verdade"dirige este Globo". (Revista Espírita. Janeiro de 1864. Um caso de possessão.)

  A propósito de O Evangelho segundo o Espiritismo, um comunicado assinado por O Espírito de Verdade diz em termos reveladores: "Um novo livro acaba de aparecer; é uma luz mais brilhante que vem clarear a vossa marcha. Há dezoito séculos vim, por ordem de meu Pai [...]". (Revista Espírita. Dezembro de 1864. Comunicação Espírita.)

  Kardec acresce a isto nota sobre as mensagens mediúnicas que lhe eram enviadas de todas as partes e assinadas por Jesus ou por O Espírito de Verdade. Não hesita em aduzir que, salvo as evidentemente apócrifas, "posto obtidas por médiuns diferentes e em épocas diversas, nota-se entre elas uma analogia marcante de tom, de estilo e de pensamentos, que acusa uma origem única". E sentencia sobre a que se lê acima: "Para nós, dizemos que pode ser do Espírito de Verdade, porque é digna dele".

  Seria lícito resistir a uma realidade tão francamente indicada pelo Codificador do Espiritismo? Seremos hoje mais ponderados e instruídos em Doutrina Espírita do que ele terá sido no século 19?

  Dizem alguns que Jesus não poderia manifestar-se nem encarnar entre nós, porque espíritos puros não têm perispírito... Oras! Não é o que leciona o Codificador: "[...] os espíritos da categoria mais elevada podem manifestar-se aos habitantes da Terra ou encarnar em missão entre estes". (A Gênese, XIV, 9.)

  Consequentemente, não há que falar em ausência de perispírito nos seres que chegaram à perfeição. O Espiritismo sempre ensinou que, sim, há mundos em que os espíritos apenas têm por envoltório o perispírito, sendo exatamente esta a condição dos espíritos puros. (Cf. O Livro dos Espíritos, 186).

  Kardec confirmou este conceito ao dizer: "Qualquer que seja o grau em que se encontre, o espírito está sempre revestido de um envoltório, ou perispírito, cuja natureza se eteriza, à medida que ele se depura e eleva na hierarquia espiritual". (O Livro dos Médiuns, 55.)

  S. Luís disse-o igualmente: "O perispírito passa por transformações sucessivas. Torna-se cada vez mais etéreo, até à depuração completa, que é a condição dos puros espíritos". (O Evangelho segundo o Espiritismo, IV, 24.)

  Não se confunda, pois, depuração com desaparição.

  Não há que duvidar também de que Jesus, para o Espiritismo, seja um espírito puro. Kardec o proclama desde a sua cautelosa nota à dissertação IX do capítulo XXXI de O Livro dos Médiuns, em que o diferencia dos "espíritos verdadeiramente superiores", pela razão de ser o Cristo ainda mais elevado: "o espírito puro por excelência".

  Este precioso conceito, por fim, é sustentado em A Gênese, XV, 2, em que o Codificador, subentendendo que todo espírito puro é necessariamente superior mas nem todo espírito superior já é puro, afirma que Jesus dominava de modo absoluto a matéria; não era passível das fraquezas da vida corporal; não precisava de assistência; não agia como médium de outros espíritos; mais do que um profeta, era um messias divino, um espírito puro, e que, por isso, se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir, motivo pelo qual Kardec aceitou a definição que um espírito dera de Jesus: "médium de Deus".

  Estranho é que alguns médiuns, perquiridos sobre a posição de Jesus na escala espírita, nunca recomendem, a conselho de seus idolatrados guias, a verdade da Codificação Kardeciana, preferindo retóricas de muito duvidosa humildade, que os leva a praticamente nada esclarecerem sobre o tema.

  A Obra de Allan Kardec sobreleva em importância qualquer outra supostamente complementar, ou subsidiária, não só pela margem de segurança cultivada pelo mestre para constituí-la, mas pela excelência da inspiração com que pôde contar desde sempre. Mais do que respeitá-la, deve o espírita sincero e devotado observá-la; é ao próprio Cristo retornado que o fará!

Sergio Aleixo

Nenhum comentário:

Postar um comentário