a partir de maio 2011

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O Isolamento dos Centros Espíritas




 

*Por Éder Fávaro

Para entrarmos no assunto proposto para exposição e debate sobre o tema "O isolamento dos Centros Espíritas", antes de tudo, há a necessidade de nos reportarmos ao documento "Carta aos Centros Espíritas" que, no meu entender, enfoca em suas considerações aspectos importantíssimos relativos à conceituação de um Centro Espírita e a sua adequação para melhor atendimento de suas finalidades.

Estas considerações nasceram de um consenso decorrente de pesquisas, troca de experiências, opiniões de centenas de dirigentes de Centros Espíritas do nosso estado, elaboradas com o intuito de sugerir a todos os responsáveis pela direção de casas espíritas norteamentos seguros de forma a possibilitar um trabalho homogêneo - não padronizado - dos seus núcleos.

A referida carta alerta a todos que estão investidos da importante tarefa de dirigir centros quanto aos seus objetivos e metas, apontando as suas atividades básicas, compreendendo prioritariamente o estudo metódico e regular da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, e os meios para desenvolver suas atividades como escolas de formação moral e espiritual, como núcleo de propagação de idéias espíritas, oficinas de aprendizado da consciência cristã e do aperfeiçoamento da fraternidade, de burilamento das almas, bem como o engajamento às atividades de unificação.

É evidente que sendo a Casa Espírita um núcleo para onde convergem pessoas dos mais variados graus de cultura e entendimento, haverá sempre, em qualquer atividade, entre dirigentes e colaboradores, uma forma diferenciada de ver e conceber as coisas, o que é muito natural. É necessário que as idéias e opiniões sejam colocadas e discutidas em clima de respeito, em nível compatível com a proposta espírita e de maneira a convergir no interesse da própria causa, que é a Doutrina. Da troca de idéias, das discussões amplas e elevadas, surgem sempre diretrizes renovadoras para a adequação da Casa Espírita que servimos às necessidades dos seus serviços em favor do homem e da sociedade. As casas espíritas, na atualidade, precisam estar aparelhadas para o atendimento ao público, pois o Espiritismo é o Consolador prometido que traz para a humanidade as bases leais de sua espiritualização para que ela possa viver de maneira voluntária e consciente, dentro dos princípios do Trabalho, da Justiça e do Amor.

Até a crítica, bem dirigida e metodicamente trabalhada, oferece material riquíssimo para o crescimento nos núcleos espíritas. Mas, para que isso aconteça, é importante que os seus participantes trabalhem também no sentido de derrubar a ação desagregadora dos melindres, compreendendo que cada um que pisa nessa valiosa área de renovação tem seus valores, que bem dimensionados somam recursos para a melhoria do conjunto e levam ao aperfeiçoamento dos instrumentos de ação da Doutrina em favor da coletividade.

Precisamos de uma vez por todas aprender a distinguir a Doutrina Espírita do Movimento Espírita. O Movimento é a estrutura humana e material, o meio para a difusão e a operacionalização do conhecimento dos fundamentos e ensinamentos doutrinários. A Doutrina, fim, é o conhecimento doutrinário na sua essência, imutável, sólido e monolítico: o primeiro sofre, por ser feito e dirigido por homens, influências, erros, acertos, que são naturais, compreensíveis e ao mesmo tempo úteis, quando trabalhados no sentido de atingir o fundamental, que é a proposta da Doutrina. Podemos divergir em tudo o que se relaciona aos detalhes decorrentes da aplicação da doutrina espírita nas nossas áreas de atividade na Casa Espírita, mas não devemos transigir ou dissentir em relação aos fundamentos da Doutrina. Devemos ser fiéis aos seus postulados, colocando-nos como colaboradores decididos em contribuições úteis. Isso é necessário para que as instituições espíritas superem suas deficiências e cheguem a níveis mais elevados, compatíveis com a sua filosofia.

Com relação à ortodoxia (sistema fechado de idéias), julgamos que ela seja decorrência de uma visão absolutista da verdade, da falta de capacidade do entendimento da universalidade e de atualização dos conhecimentos propostos pela doutrina espírita. Aliás, diga-se de passagem, o dirigente de mente aberta, estudioso de Kardec, metódico e regular, participante do movimento espírita, faz do Espiritismo vida. Torna-se útil, gerador de progresso no núcleo onde serve, em favor do próprio movimento. O isolamento do dirigente do Centro significa estagnação e, por mais que ele se julgue progressista, está parado no tempo, juntamente com sua casa. Segundo a parábola evangélica, o talento é fornecido para gerar riquezas e não para ser enterrado, escondido, pois isso contraria frontalmente a proposta do Espiritismo.

A ortodoxia firma o espírito do sistema fechado. Cria intransigências e corta todos os canais de comunicação entre as pessoas, idéias e grupos, estabelecendo um processo de isolamento, obscurantista, totalmente contrário à proposta doutrinária, que é dinâmica e progressista.

O Centro Espírita é a unidade fundamental do Movimento Espírita e deve manter um clima de entendimento e fraternidade em relação às demais casas espíritas, procurando unir-se a todas com o propósito de confraternizar, permutar experiências, aprimorar as próprias atividades e promover realizações comuns. Convém que o centro se situe no movimento doutrinário não como o melhor, o único, mas como mais um elemento da imensa malha de núcleos espíritas para a divulgação das idéias da libertadora Doutrina dos Espíritos em favor da criatura humana.
 
Você já parou para observar o público do Centro Espírita? Já refletiu sobre seu comportamento?

Experimente utilizar dinâmicas de grupo (nos estudos e mesmo nas palestras) que estimulem a participação. Haverá grande surpresa ao constatar o quanto o público gosta de participar e reage aos estímulos.

O expositor espírita deve fugir daqueles ares de distanciamento do público. O incentivo da integração sempre deve estar presente. Pequenos fatos do cotidiano, aliado às lições, tornam o estudo ou a palestra extremamente agradável. Esta integração favorece o aprendizado, prende a atenção durante todo o tempo e aproxima o orador/expositor do público presente.

Uma palestra ou estudo jamais deve ser cansativo. Há que ter um perfil que conquiste a atenção, seja pela profundidade da abordagem ou pela descontração com que é apresentado. Considere-se que profundidade não é sinônimo de mesmice ou cansaço. Os participantes ou ouvintes devem sentir vontade de voltar sempre. Ficar aquela pontinha de expectativa sobre qual será a forma com que o coordenador ou palestrante prenderá a atenção do público…

Portanto, a este, o expositor ou coordenador de estudos fica o compromisso de apresentar o melhor que possa de seus esforços. Aí entra sua criatividade e interesse em mostrar a beleza que a Doutrina Espírita possui em seus fundamentos. Podemos extrair muito dos ensinamentos espíritas, mas tudo depende da forma como fazemos isso. Qualquer tema pode ser estudado ou apresentado com profundidade, sem perder-se com o desinteresse do público. Basta observar como apresentá-lo. Aí está o segredo: a dinâmica a ser utilizada. E isto pode ser usado, sem desvirtuamentos, desde que estejamos compromissados com o objetivo maior: o estudo e a divulgação da Doutrina Espírita.

Quando coordeno reuniões de estudo, ouço ou faço palestras, fico sempre a observar o público. Ele sempre reage aos estímulos. Há muito já se foi o tempo em que um lia lá na frente do salão, e o público… dormia …

Hoje, um expositor ou coordenador de grupos de estudos que procura interagir com o público, alcança muito mais resultados, atingindo o raciocínio e o coração do ouvinte. Há vários exemplos de companheiros do movimento que utilizando dessa integração com o público, realizam excelente trabalho de estudo e divulgação espírita.

Observe que uma estória bem contada, com argumentação doutrinária, facilita o raciocínio do ouvinte.

A experiência dos expositores dá-lhes a visão do tipo de estímulo que cada público recebe, nas casas a que estão vinculados. Em algumas casas, as situações mais engraçadas ou emocionantes não provocam nenhuma reação, como a demonstrar que se trata de um público sem hábitos com esta interação expositor/ouvinte, indiferente mesmo, que ali está como cumprindo penosa obrigação. Em outras localidades, percebe-se claramente a descontração do público, participativo, atento, bebendo as palavras, em vivo testemunho das práticas didáticas da Casa.

Tudo isso é algo pra pensar, indicando-nos caminhos que melhorem as casas espíritas, para que elas valorizem seu público, ofereçam-lhes o melhor, ao invés de ficarmos apenas como se a obrigação de quem tem que abrir o centro, realizar as atividades em entusiasmo para ir embora e esperar a hora de recomeçar tudo de novo.

Contanto com que a Doutrina tem a oferecer, como conciliar a mesmice com a dinâmica de nosso tempo? Mera perda de oportunidade.

* Éder Fávaro é membro da ADE SP, articulista, orador, produtor e apresentador dos programas da Rede Boa Nova de Rádio, Ação 2000, Diálogos Espíritas e Conversa Amiga com Você

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