a partir de maio 2011

terça-feira, 17 de abril de 2012

O ESPIRITISMO E A LIBERDADE DE PENSAR


DIÁLOGO COM O PADRE
Allan Kardec in O QUE È O ESPIRITISMO
 
Um abade – Permiti-me, senhor, dirigir-vos, a meu turno, algumas questões?
 
Allan Kardec – De bom grado, senhor, mas, antes de responder-vos, creio ser útil fazer-vos conhecer o terreno sobre o qual tenciono me colocar convosco.
 
Primeiramente, devo declarar-vos que não procurarei, de nenhum modo, converter-vos à nossas idéias. Se desejais conhecê-las detalhadamente, as encontrareis nos livros onde elas estão expostas. Lá podereis estudá-las com vagar e estareis livre para aceitá-las ou rejeitá-las.
 
O Espiritismo tem por objetivo combater a incredulidade e suas funestas conseqüências, dando provas patentes da existência da alma e da vida futura. ELE SE DIRIGE, pois, Àqueles Que Não Crêem Em Nada, Ou QueDuvidam, e o número deles é grande, como o sabeis. Aqueles que têm um fé religiosa, e aos quais essa fé basta, dele não têm necessidade; àquele que diz: "eu creio na autoridade da Igreja, e me atenho ao que ela ensina, sem nada procurar além dela", o Espiritismo responde que ele não se impõe a ninguém e não vem forçar nenhuma convicção.
 
A LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA É UMA CONSEQÜÊNCIA DA LIBERDADE DE PENSAR, que é um dos atributos do homem; O ESPIRITISMO ESTARIA EM CONTRADIÇÃO COM SEUS PRINCÍPIOS DE CARIDADE E DE TOLERÂNCIA, SE ELE NÃO A RESPEITASSE. Aos seus olhos, toda crença, quando sincera e não conduz o seu próximo ao erro, é respeitável, mesmo que ela fosse errônea. SE ALGUÉM TIVER SUA CONSCIÊNCIA EMPENHADA EM CRER, POR EXEMPLO, QUE É O SOL QUE GIRA, NÓS LHE DIREMOS: CREDE SE ISSO VOS SATISFAZ, porque não impedirá a Terra de girar; mas, da mesma forma que não procuramos violentar vossa consciência, não procurai violentar a dos outros. Se de uma crença, inocente em si mesma, fazeis um instrumento de perseguição, ela torna-se nociva e pode ser combatida.
 
Tal é, senhor abade, a linha de conduta que tive com os ministros de diversos cultos que a mim se dirigiram. Quando me questionaram sobre alguns pontos da doutrina, lhes dei as explicações necessárias, abstendo-me de discutir certos dogmas com os quais o Espiritismo não tem preocupações, cada um estando livre em sua apreciação; mas jamais fui procurá-los no desejo de abalar sua fé mediante uma pressão qualquer. AQUELE QUE VEM A NÓS COMO UM IRMÃO, COMO TAL O ACOLHEMOS; AQUELE QUE NOS RECUSA, NÓS O DEIXAMOS EM PAZ. É o conselho que não cesso de dar aos espíritas, porque nunca aprovei aqueles que se atribuem a missão de converter o clero. Sempre lhes disse: semeai no campo dos incrédulos, porque lá está uma ampla colheita a fazer.
 
O ESPIRITISMO NÃO SE IMPÕE PORQUE, como eu o disse, ELE RESPEITA A LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA e sabe que toda crença imposta é superficial e não dá senão as aparências da fé, mas não a fé sincera. Ele expõe seus princípios aos olhos de todos, de maneira a que cada um possa formar sua opinião com conhecimento de causa. Aqueles que o aceitam, padres ou laicos, o fazem livremente e porque os acham racionais; mas não nos zangamos de nenhum modo com aqueles que não são da nossa opinião. Se hoje há luta entre a Igreja e o Espiritismo, temos a consciência tranqüila de não tê-la provocado.
 
(...)
 
O ESPIRITISMO COMO DOUTRINA MORAL, IMPÕE APENAS UMA COISA: A NECESSIDADE DE FAZER O BEM E NÃO PRATICAR NENHUM MAL.
 
* * *
 
HISTÓRICO DO ESPIRITISMO
Allan Kardec in O ESPIRITISMO EM SUA EXPRESSÃO MAIS SIMPLES
 
Do ponto de vista religioso, o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras; mas é independente de qualquer culto particular. Seu propósito é provar, aos que negam ou duvidam que A ALMA EXISTE, QUE ELA SOBREVIVE AO CORPO, QUE ELA SOFRE DEPOIS DA MORTE AS CONSEQÜÊNCIAS AO BEM E DO MAL QUE FEZ DURANTE A VIDA CORPÓREA; ora, isto é de todas as religiões.
 
Como crença nos espíritos, também não se afasta de qualquer religião, ou de qualquer povo, porque em todo lugar onde há homens há almas ou espíritos; que as manifestações são de todos os tempos, e o relato delas acha-se em todas as religiões, sem exceção. PODE-SE, portanto, SER CATÓLICO, GREGO OU ROMANO, PROTESTANTE, JUDEU OU MUÇULMANO, E ACREDITAR NAS MANIFESTAÇÕES DOS ESPÍRITOS, E CONSEQÜENTEMENTE SER ESPÍRITA; a prova é que o Espiritismo tem aderentes em todas as seitas.
 
Como moral, ele é essencialmente cristão, porque a doutrina que ensina é tão-somente o desenvolvimento e a aplicação da do Cristo, a mais pura de todas, cuja superioridade não é contestada por ninguém, prova evidente de que é a lei de Deus; ora, a moral está a serviço de todo mundo.
 
O ESPIRITISMO, SENDO INDEPENDENTE DE QUALQUER FORMA DE CULTO, NÃO PRESCREVENDO NENHUM DELES, NÃO SE OCUPANDO DE DOGMAS PARTICULARES, NÃO É UMA RELIGIÃO ESPECIAL, pois não tem nem seus padres nem seus templos. Aos que indagam se fazem bem em seguir esta ou aquela prática, ele responde: Se sua consciência pede para fazê-lo, faça-o; Deus sempre leva em conta a intenção. Em resumo, ELE NÃO SE IMPÕE A NINGUÉM; NÃO SE DESTINA ÀQUELES QUE TÊM FÉ OU ÀQUELES A QUEM ESSA FÉ BASTA, mas à numerosa categoria dos inseguros e dos incrédulos; ele não os tira da Igreja, visto que eles se separaram dela moralmente em tudo, ou em parte; ele os faz percorrer os três quartos do caminho para entrar nela; cabe a ela fazer o resto.
 
O Espiritismo combate, é verdade, certas crenças como a eternidade das penas, o fogo material do inferno, a personalidade do diabo, etc.; mas não é certo que essas crenças, impostas como absolutas, sempre fizeram incrédulos e continuam a fazê-los? Se o Espiritismo, dando desses dogmas e de alguns outras uma interpretação racional, devolve à fé aqueles que dela desertaram não está prestando serviço à religião? Assim, um venerável eclesiástico dizia a esse respeito: “O ESPIRITISMO FAZ ACREDITAR EM ALGUMA COISA; ORA, É MELHOR ACREDITAR EM ALGUMA COISA QUE NÃO ACREDITAR EM ABSOLUTAMENTE NADA.”
 
Os Espíritos não sendo senão almas, não se pode negar os Espíritos sem negar a alma. Sendo admitidas as almas ou Espíritos, a questão reduzida à sua mais simples expressão é esta:  As almas dos que morreram podem comunicar-se com os vivos? O Espiritismo prova a afirmativa pelos fatos materiais; que prova se pode dar de que isso não é possível? Se assim é, todas as negações do mundo não impedirão que assim seja, pois não se trata nem de um sistema, nem de uma teoria, mas de uma lei da natureza; ora, contra as leis da natureza, a vontade do homem é impotente; é preciso, querendo ou não, aceitar suas conseqüências, e adequar suas crenças e seus hábitos.
 
* * *
 

 SOBRE O USO DE PRÁTICAS EXTERIORES DE CULTOS NOS GRUPOS.

 Allan Kardec in VIAGEM ESPÍRITA EM 1862.
 
Freqüentes vezes me tem sido indagado se é útil começar as sessões com preces e atos exteriores de culto religioso. A resposta não é apenas minha, mas também dos Espíritos que trataram desse assunto.
 
É, sem dúvida, não apenas útil, porém necessário rogar, através de uma invocação especial, por uma espécie de prece, o concurso dos bons Espíritos. Essa prática predispõe ao recolhimento, condição especial a toda reunião séria. O mesmo não se dá quanto às práticas exteriores de culto, através das quais certos grupos crêem dever abrir suas sessões e que têm mais de um inconveniente, apesar da boa intenção com que são sugeridas.
 
Tudo nas reuniões espíritas deve se passar religiosamente, isto é, com gravidade, respeito e recolhimento. Mas é preciso não esquecer que O ESPIRITISMO SE DIRIGE A TODOS OS CULTOS. POR CONSEGUINTE, ELE NÃO DEVE ADOTAR AS FORMALIDADES DE NENHUM EM PARTICULAR. Seus inimigos já foram muito longe, tentando apresentá-lo como uma seita nova, buscando um pretexto para combatê-lo. É preciso, pois, não fortalecer essa opinião pelo emprego de rituais dos quais não deixariam de tirar partido, para dizer que as assembléias espíritas são reuniões de protestantes, de cismáticos, etc.. Seria uma leviandade supor que essas fórmulas são de natureza a acomodar certos antagonistas. O ESPIRITISMO, CHAMANDO A SI OS HOMENS DE TODAS AS CRENÇAS, PARA UNI-LOS SOB O MANTO DA CARIDADE E DA FRATERNIDADE, HABITUANDO-OS A SE OLHAREM COMO IRMÃOS, QUALQUER QUE SEJA SUA MANEIRA DE ADORAR A DEUS, não deve melindrar as convicções de ninguém pelo emprego de sinais exteriores de qualquer culto.
 
São poucas as reuniões espíritas, por menores que sejam os grupos, que, sobretudo na França, não tenham membros ou assistentes pertencentes a diferentes religiões. Se o Espiritismo se colocasse abertamente na área de uma delas, afastaria as outras. Ora, como há espíritas em todas, assistiríamos à formação de grupos católicos, judeus ou protestantes, assim perpetuando o antagonismo religioso que é missão do Espiritismo abolir.
 
Essa é, também, uma das razões pelas quais deve-se abster, nas reuniões, de discutir dogmas particulares, o que, necessariamente, melindraria certas consciências. As questões morais, entretanto, são de todas as religiões e de todos os países. O ESPIRITISMO É UM TERRENO NEUTRO SOBRE O QUAL TODAS AS OPINIÕES RELIGIOSAS SE PODEM ENCONTRAR E DAR-SE AS MÃOS. Ora, a desunião poderia nascer da controvérsia. Não esqueçais de que a desunião é um dos meios através dos quais os inimigos do Espiritismo buscam atacá-lo. É com esse fim que eles induzem certos grupos a se ocuparem de questões irritantes ou comprometedoras, sob o pretexto astucioso de que não se deve colocar a luz sob o alqueire. Não vos deixeis prender nessa armadilha! Sejam os dirigentes de grupos firmes na recusa de todas as sugestões desse gênero, se não quiserem passar por cúmplices dessas maquinações.
 
O emprego dos aparatos exteriores do culto teria idêntico resultado: uma cisão entre os adeptos. Uns terminariam por achar que não são devidamente empregados, outros, pelo contrário, que o são em excesso. para evitar esse inconveniente, tão grave, ACONSELHAMOS A ABSTENÇÃO DE QUALQUER PRECE LITÚRGICA, sem exceção mesmo da oração dominical, (1) por mais bela que seja. Como, PARA FAZER PARTE DE UM GRUPO ESPÍRITA, NÃO SE EXIGE QUE NINGUÉM ABJURE SUA RELIGIÃO, permita-se que cada um faça a seu bel prazer e mentalmente, a prece que julgar a propósito. O importante é que não haja nada de ostensivo e, sobretudo, nada de oficial. O mesmo se pode dizer com relação ao sinal da cruz, ao hábito de se colocar de joelhos, etc.. Sem essa linha de conduta neutra não se poderia impedir, por exemplo, que um muçulmano, integrante de um grupo espírita, se prosterne e coloque a face contra a terra, recitando em voz alta sua fórmula sacramental: “Só há um Deus e Maomé é o seu profeta!”
 
O INCONVENIENTE NÃO EXISTE QUANDO AS PRECES, FEITAS EM INTENÇÃO DE QUALQUER PESSOA, SÃO INDEPENDENTES DE TODO E QUALQUER CULTO PARTICULAR. Dito tudo isso, creio supérfluo salientar o quanto haveria de ridículo em fazer-se toda uma assistência repetir em coro uma prece ou fórmula qualquer, como alguém me afirmou já ter visto ser praticado.
 
DEVE FICAR BEM ENTENDIDO que o que acaba de ser dito não se aplica senão aos grupos e sociedades constituídos de pessoas estranhas umas às outras, porém NUNCA ÀS REUNIÕES ÍNTIMAS DE FAMÍLIA, NAS QUAIS, NATURALMENTE, CADA PESSOA É LIVRE DE AGIR COMO BEM ENTENDER, uma vez que, em tal ambiente, não se corre o risco de melindrar a ninguém.
 
[1]    O critério de Kardec faz recordar publicações feitas após o último Congresso Internacional de Espiritismo, realizado em Copenhague, no qual representantes do Oriente indagavam por que se faziam menções tão constantes ao Cristo, relegando ao esquecimento as figuras de seus líderes religiosos, tais como Buda, Maomé, etc. (N.T.).

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