a partir de maio 2011

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terça-feira, 6 de março de 2012

O Espírito e a Matéria – Nós estamos dentro de um corpo? Quais as causas do Homossexualismo? O Espírito tem sexo?Revisado


Peço a todos os amigos que desejam ler este artigo que antes “larguem as pedras” e façam uma leitura despretensiosa e imparcial. Somente assim poderá obter com clareza o conteúdo deste estudo que tem por base única e exclusivamente Allan Kardec. Vale comentar que, pelo bom desenvolvimento de ideias, não foi possível escrever um artigo curto, e que necessitamos de muitas palavras para suprir em nós nossa dificuldade de expressão.
Este artigo foi revisado, pois constatamos no primeiro a presença de ideias equivocadas, perante a Codificação. Como não confiamos em nossas próprias luzes, recorrendo a Allan Kardec, não nos foi difícil reconhecer alguns enganos cometidos e reescrevemos grande parte do artigo, na intenção de sanar os deslizes cometidos. Com isso, contamos gentilmente com sua nova apreciação, se assim julgar necessário.
O erro foi o de argumentar contra a teoria de que os Espíritos, ao desencarnar, conservariam seus hábitos sexuais (masculino/feminino) até o momento em que se dissipasse a perturbação, o que não o é, pelo menos não de maneira exclusiva. Por isso, pedimos aos amigos sinceras desculpas e que desconsideram nosso engano.
Espero que gostem e principalmente, debatam.

O ESPÍRITO E A MATÉRIA

Allan Kardec pergunta, em O Livro dos Espíritos:
(141) Há alguma verdade na opinião dos que pensam que a alma é exterior e envolve o corpo?
– A alma não está aprisionada no corpo como um pássaro numa gaiola. Irradiante, ela brilha e se manifesta ao redor dele como a luz através de um globo de vidro ou como o som ao redor de um centro sonoro. É desse modo que se pode dizer que é exterior, mas não é o envoltório do corpo. A alma tem dois envoltórios ou corpos: um sutil e leve, que é o primeiro, chamado perispírito; o outro, grosseiro, material e pesado, que é o corpo carnal. A alma é o centro de todos esses envoltórios, como o germe o é numa semente, como já dissemos.
Esta questão nos leva a algumas reflexões.
Se “a alma não está aprisionada no corpo” e “brilha e se manifesta ao redor dele como a luz através de um globo de vidro” equivale dizer que, de certa forma, jamais deixamos o mundo dos Espíritos e que nossa manifestação no mundo físico é uma manifestação indireta, como afirmam os Espíritos – “É desse modo que se pode dizer que é exterior”.
O Espírito irradia ao redor do corpo, emitindo a este uma vontade constante que o faz obedecer as suas ordens através de um liame condutor que é o perispírito, assim como um homem manipula a sua marionete, dando-lhe a impressão de vida, embora ele não seja a marionete e nem tampouco a marionete seja dotada de vida.

ESTAMOS DENTRO OU FORA DO CORPO?

Sabe-se que o corpo, embora composto de matéria orgânica, é destituído de vida, assim como o perispírito que é fluido (ver em O Livro dos Espíritos, 257, Ensaio Teórico sobre a Sensação nos Espíritos); que a vida em si tem como único princípio o Espírito, que é o ser inteligente e dotado de vontade; que uma vez desligado do Espírito, o corpo deixa de funcionar e dá-se o fenômeno da morte.
Durante sua ligação, o Espírito entretém a vida do corpo pelo seu perispírito que é formado ao mesmo tempo de fluidos ambientais, fluido elétrico, magnético, nervoso e também de fluido vital (Ver O Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, tópico II, Alma, Princípio Vital e Fluido Vital). É esse elemento – o perispírito – que dá vida ao corpo, ou, melhor dizendo, vitalidade, permitindo assim ao Espírito exercer sobre ele sua ação. Ora, se nós, Espíritos, somente podemos agir sobre o corpo físico através de uma ponte, que é o perispírito, compreende-se daí que nossa ação sobre a matéria é indireta e que de certo modo, não tocamos nela. Vejamos mais sobre isso em O Livro dos Espíritos:
(27) Haveria, assim, dois elementos gerais do universo: a matéria e o Espírito?
 – Sim, e acima de tudo Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas. Deus, Espírito e matéria são o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material é preciso acrescentar o fluido universal, que faz o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, muito grosseira para que o Espírito possa ter uma ação sobre ela (…).
Como se vê, a matéria propriamente dita é “muito grosseira para que o Espírito possa ter uma ação sobre ela”, confirmando o fato de que nós, Espíritos, só agimos sobre ela de forma indireta, segundo o que nos ensinam os Espíritos na pergunta 141, acima citada. Assim, podemos crer que, de certa forma, nunca deixamos o mundo dos Espíritos e que só podemos nos expressar no mundo físico graças ao corpo perispiritual. A imagem de um garoto soltando pipa dá uma visão a respeito de nossa ação externa sobre o corpo. O garoto é o Espírito, a linha que sai do garoto à pipa é o perispírito e a pipa é o corpo que obedece a vontade do Espírito, transmitida pela linha. A pipa não é o garoto e o garoto não está dentro da pipa.
Outro exemplo que pode nos ajudar a compreender esta questão: no filme Avatar o personagem principal era um jovem que ao entrar em uma máquina era de certa forma transportado à nova realidade, assumindo o corpo do seu avatar e o manipulando como se fosse o seu, impondo-lhe direção e vontade. No entanto, o jovem que era o verdadeiro ser por detrás daquele avatar, não estava dentro do seu avatar, mas o manipulava de fora (se você não viu o filme, aí vai uma excelente sugestão).
Em resumo, nós, Espíritos encarnados na Terra, sofremos uma forte impressão das relações da vida física através do perispírito que nos mantém ligado ao corpo. Todas as impressões que o corpo sofre, são transmitidas ao Espírito através deste condutor e essa impressão é tão forte que cria em nós a ilusão de que estamos encerrados dentro de um corpo e muitas vezes que somos o próprio corpo. Daí a expressão inúmeras vezes falada e ouvida “o meu Espírito”.
Sobre isso, vejamos o que nos ensina Allan Kardec em O Livro dos Espíritos:
(22 a) Que definição podeis dar da matéria?– A matéria é o laço que prende o Espírito; é o instrumento de que ele se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.
“De acordo com essa ideia, pode-se dizer que a matéria é o agente, o intermediário, com a ajuda do qual, e sobre o qual, atua o Espírito.”
A ligação entre Espírito e corpo é por vezes tão forte que gera uma verdadeira inversão de valores, fazendo com que muitos Espíritos, quando encarnados, acreditem que a matéria é tudo o que existe e que após a morte, virá o nada. Alguns, ao desencarnar, percebem quase de imediato o erro no qual mergulharam durante a vida, mas há aqueles que, mesmo depois da morte, conservam a impressão deixada pelo corpo e mantêm-se materialistas, mesmo no mundo dos Espíritos. Essa perturbação dura um tempo maior ou menor, de acordo com o maior ou menor apego que o Espírito possui em torno das questões materiais (ver questões 163 em diante de O Livro dos Espíritos).

SEXO NOS ESPÍRITOS, HOMOSSEXUALIDADE

Vamos agora debater outra teoria com base na pergunta 141, a respeito de nossa sexualidade, enquanto na Terra. Para isso, mais uma vez recorremos a O Livro dos Espíritos:
(200) Os Espíritos têm sexo?
– Não como o entendeis, porque o sexo depende do organismo físico. Existe entre eles amor e simpatia, mas fundados naidentidade dos sentimentos.
(201) O Espírito que animou o corpo de um homem pode, em uma nova existência, animar o de uma mulher e vice-versa?
– Sim, são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres.
(202) Quando está na erraticidade, o Espírito prefere encarnar no corpo de um homem ou de uma mulher?
– Isso pouco importa ao Espírito. Depende das provas que deve suportar.
“Os Espíritos encarnam como homens ou mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo,cada sexo, assim como cada posição social, lhes oferece provas, deveres especiais e a ocasião de adquirir experiência. Aquele que encarnasse sempre como homem apenas saberia o que sabem os homens.”
Onde queremos chegar?
É comum ouvirmos a seguinte explicação para os casos de homossexualidade: um Espírito viveu inúmeras vezes como mulher. Ao reencarnar como homem, conserva o psiquismo feminino devido às inúmeras experiências de outrora e por isso, pouco adaptado à nova realidade masculina, despeja por assim dizer sobre o corpo masculino o psiquismo feminino conservado e torna-se homossexual. A nosso ver, essa teoria, caso seja admitida como regra geral e absoluta, pode dar a impressão de que se o Espírito viver várias existências como homem ou mulher, será “por isso” homossexual.

INSTRUÇÕES DE ALLAN KARDEC

Allan Kardec, na Revista Espírita, Janeiro de 1866, confirma a teoria acima no artigo “As mulheres têm Alma?” e desse modo, apresentamo-la como um dos motivos que podem levar ao homossexualismo. O erro ocorre quando a usamos como absolutismo ou quando tentamos justificar o homossexualismo por meio de ideias punitivas, atreladas invariavelmente a deslizes do passado, o que geralmente caracteriza preconceito. Abaixo, colamos parte das explicações de Kardec a respeito e a fonte, para aqueles que desejam aprofundar o estudo:
“Numa nova encarnação, ele trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito; se for avançado, fará um homem avançado; se for atrasado, fará um homem atrasado. Mudando de sexo,poderá, pois, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres” (RE, Jan. 1866).
Vemos aí que o Espírito pode conservar traços das experiências passadas e apresenta-los na vida atual. Desse modo, um Espírito que tenha vivido como mulher, pode conservar os traços femininos e ao encarnar em um corpo masculino, despejar sobre o mesmo “as tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar”. Em decorrência disso, o corpo que é o instrumento do Espírito, ao receber tais impressões, passa a assumir comportamentos opostos ao seu gênero sexual, podendo ainda sofrer alterações químicas hormonais devido ao psiquismo do Espírito sobre ele.
Como vimos nas perguntas 200 em diante, os Espíritos afirmam que o sexo “pouco importa” aos Espíritos, tendo em vista que os Espíritos “não tem sexo”. Se o Espírito não tem sexo, equivale dizer que, mesmo tendo encarnado inúmeras vezes como mulher, não irá conversar disso senão experiências ou aparências.
Allan Kardec, no mesmo artigo da Revista Espírita, diz:
“Não existe, pois, diferença entre o homem e a mulher senão no organismo material que se aniquila na morte do corpo; mas quanto ao Espírito, à alma, ao ser essencial, imperecível, ela não existe uma vez que não há duas espécies de alma; assim o quis Deus, em sua justiça, para todas as suas criaturas”.
Quando falamos a respeito do homossexualismo, é imprescindível deixarmos de lado nossos conceitos e preconceitos, a fim de evitarmos deslizes injustos contra nossos semelhantes. Somos todos iguais perante Deus. Como afirma Allan Kardec, só há diferença quando no organismo material, pois para o Espírito, esta não existe.
Ainda no mesmo artigo, Kardec afirma:
“O Espírito encarnado sofrendo a influência do organismo, seu caráter se modifica segundo as circunstâncias e se dobra às necessidades e aos cuidados que lhe impõem esse mesmo organismo”.
Como a Alma irradia ao redor do corpo, podemos supor que:
a)      De certo modo preserva sua assexualidade, mesmo quando encarnada (falamos aqui quanto “ao ser essencial, imperecível” para o qual o sexo “não existe uma vez que não há duas espécies de alma”), pois que isso depende do organismo (“O Espírito encarnado sofrendo a influência do organismo, seu caráter se modifica segundo as circunstâncias e se dobra às necessidades e aos cuidados que lhe impõem esse mesmo organismo”).
b)      Que sua ligação com o corpo a faz sentir, pela transmissão fluídica, as sensações da matéria, imprimindo-lhe comportamentos masculinos ou femininos inerentes ao gênero sexual físico.
c)       Que o sexo estando no corpo e não no Espírito (“ser essencial”), uma vez liberto do corpo, o Espírito com isso não tem mais nenhuma relação.
d)      Que o psiquismo não estando no corpo, independente de quantas experiências o Espírito (“ser essencial”) tenha vivido neste ou naquele sexo, conserva disso tão somente aprendizados.
e)      Que pela sua ligação com as questões materiais, pode conservar hábitos, gostos e tendências do gênero sexual que tenha habitado e pelo pensamento, conservar em seu corpo perispiritual a forma e trejeitos impressionados pelo corpo físico, podendo carregar essas tendências para existências futuras.
f)       Enfim, que depois de desencarnado, pode conservar uma impressão maior ou menor da vida física, mantendo traços masculinos ou femininos, mas esses traços existem apenas nas aparências e somente estão presentes em Espíritos cuja tendência material ainda é marcante (“Não é senão o que ocorre a um certo grau de adiantamento e de desmaterialização que a influência da matéria se apaga completamente, e com ela o caráter dos sexos – R.E. Jan/1866.”).
Observamos que, mesmo o Espírito podendo conservar hábitos referentes a esse ou aquele sexo, ainda assim essa questão não é para ele primordial (“para o Espírito o sexo pouco importa” – ver questão 202). Se  fosse,sendo homem na última existência, desejaria manter-se homem nas próximas, preocupando-se não com as provas que o podem fazer avançar, mas somente em manter aparências, o que faria prevalecer nele o sentimento de desigualdade.

APARÊNCIA E REALIDADE

Outro ponto a considerar é que mesmo o Espírito conservando sua forma sexual, ainda aí há apenas uma aparência temporária, pois que ele em si mesmo “não tem sexo” e que é pela “desmaterialização que a influência da matéria se apaga completamente, e com ela o caráter dos sexos”. Se um homem tira o seu chapéu no fim do dia, é comum que ainda sinta a presença do chapéu por algum tempo. Entretanto, embora sinta o chapéu, não equivale a dizer que está com ele, ou seja, não podemos comparar ilusão com realidade. É o que ensina Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, 257 “É preciso precaução para não confundir as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo: podemos tomar essas sensações apenas como comparação, e não como analogia”, e é justamente neste ponto que muitas vezes nos apegamos para tentar explicar o mundo dos Espíritos, ou seja, o da analogia.
O fato de o Espírito conservar impressão não quer dizer que conserve em si definições que fazem parte exclusiva do corpo carnal. Uma vez fora do corpo, não tem sexo, mesmo que acredite no contrário; se assim o fizer, esta crença será a sua em particular, não podendo ser levada como regra geral; as necessidades físicas desaparecem com a morte e o Espírito que delas conserva a impressão age como o homem que sente ainda a presença do chapéu ou outro que sente dor no membro amputado.
Outro fato que precisamos considerar é que as definições “Masculino/Feminino” não tem relação com “Macho/Fêmea”. Macho/Fêmea são atributos do corpo; Masculino/Feminino são experiências do Espírito. Assim, um homem homossexual é um Macho/Feminino e uma mulher, uma Fêmea/Masculina. Masculino/Feminino estão presentes no psiquismo do Espírito, mas em forma de experiências vividas e não em forma de definição sexual, podendo o Espírito viver como Macho ou Fêmea, sem que isso venha a interferir em suas existências futuras. Quando Allan Kardec afirma que “Mudando de sexo, poderá, pois, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar”, não se pode ignorar o uso da palavra poderá, que é empregada, o que demonstra que nem sempre é o que ocorre, removendo o princípio de uma regra absoluta e geral. Além disso, à medida que o Espírito evolui, tais tendências comportamentais desaparecem até chegar à purificação, onde o Espírito torna-se integral.
Não é pelo fato de ter vivo homem ou mulher (macho/fêmea) que o Espírito carregará consigo um psiquismo masculino ou feminino, mas pelo que ele experimentou durante sua existência precedente e perante o que ele deseja experimentar nas futuras. Para o Espírito, a questão do sexo sendo de somenos importância, sua visão de vida está muito além das restrições encontradas quando na vida física e com isso ele pode solicitar uma experiência em um corpo homossexual para aprender com essa experiência o que talvez não aprendesse nem como homem, nem como mulher e isso independente de punição, mas tão somente como oportunidade de aprendizado (“é no mesmo objetivo que os Espíritos se encarnam nos diferentes sexos; tal que foi homem poderá renascer mulher, e tal que foi mulher poderá renascer homem, afim de cumprir os deveres de cada uma dessas posições, e delas suportar as provas.” R.E., Jan/1866).
Além do mais, conforme o Espírito evolui, torna-se dócil e delicado e se encarnado em um corpo de homem, releva os traços desta sensibilidade, gerando em torno de si a ideia de um homem afeminado, o que desperta preconceitos. Vemos a grandeza de Chico Xavier, por exemplo, que revela delicadeza em seus atos e expressões, embora isso não tenha absolutamente nenhuma relação com preferências sexuais. O mesmo deve ter sido em relação ao Cristo.
No caso de desvios sexuais como pornografia, prostituição, depravação, etc., sabe-se que isso não é por ser homo, bi, trans ou heterossexual, mas porque o Espírito traz em si tendências que se projetam em tais comportamentos. Não é a preferência sexual que causa o distúrbio, mas o Espírito que nem sempre consegue controlar suas más inclinações e se desequilibra.
Quando no corpo, sofremos necessidades e condições que são exclusivas da vida física e que não geram mais nenhuma impressão para o Espírito quando liberto. Assim, no mundo dos Espíritos não existem homens ou mulheres propriamente falando, mas simplesmente Espíritos ou Almas errantes ou perfeitas, contribuindo para a obra Universal. Podem conservar aparências, mas tais aparências servem como identificação e não como definição, como ocorre aqui na Terra. Imagine que ao desencarnar, um Espírito reencontre aquele que foi seu pai na Terra. À medida que a perturbação se dissipa, o Espírito começa a recordar existências anteriores e com isso, percebe que “seu pai” foi sua esposa em outra vida. E agora? Quem é esse Espírito, pai ou esposa? Nem um, nem outro, apenas um Espírito em evolução. Os laços sentimentais se conservam e mesmo se intensificam, mas as aparências são somente formas de identificação que desaparecem com o tempo (Ver em O Livro dos Espíritos, perg. 284).
Ao nascer, uma criança é definida como sendo menino ou menina, de acordo com seus órgãos genitais; ao morrer, não possuindo mais órgãos genitais, pois que tais pertencem ao corpo e não ao Espírito, o mesmo deixa de se definir sexualmente por esse sentido, embora possa manter a aparência de homem ou de mulher, de acordo com a última existência. Mas ainda essa aparência já não é mais estática quanto na Terra, pois se o Espírito de uma mulher for evocado em uma reunião mediúnica, por exemplo, como o personagem masculino de outra vida, assume então esta aparência masculina, desaparecendo, pelo menos momentaneamente, a aparência feminina de sua última encarnação. Aqui, o que devemos é saber separar aparências – que são simples formas fluídicas moldadas pelo pensamento e pela vontade do Espírito – com definições Masculino/Feminino, o que inevitavelmente dará ao Espírito uma posição sexual, o que fere os ensinamentos Doutrinários contidos na Codificação.
Outro ponto que devemos levar sempre em consideração, quando se trata de um Espírito encarnado, é naturalmente a presença de um corpo, que emite ao Espírito necessidades e condições que fazem parte exclusiva da matéria, como é o sexo, a fome, a sede, o sono ou a menstruação, por exemplo, necessidades essas que são do corpo e não do Espírito, pois que o Espírito não menstrua. Vemos relatos de Espíritos que sentem fome, sede e necessidade de praticar o sexo no mundo espírita, mas ter necessidades não é o mesmo que poder saciá-las. Possivelmente você já deve ter sonhado que estava com sede, ou com vontade de ir ao banheiro. Pois bem, quando nesses sonhos, por mais que tomemos água, nunca nos sentimos saciados e a sede continua; mesmo indo ao banheiro (no sonho) a necessidade prossegue, de modo a gerar uma perturbação, pois bebemos água e não saciamos a sede, vamos ao banheiro, mas continuamos com a necessidade. Tal é a realidade dos Espíritos quando mantem as sensações de sede, fome ou quaisquer outras que dizem respeito somente à vida física: o sofrimento que terão é o de ter sensações que jamais poderão ser saciadas, o que se torna para eles uma provação.
Assim, quando no corpo, supõe-se que podemos receber impressões sexuais que sejam opostas ao gênero físico no qual habitamos, pela natureza própria do corpo, independente de existências passadas. Um exemplo são os animais homossexuais. Sendo os animais princípios inteligentes ainda não desenvolvidos como o são os Espíritos humanos, eles não possuem o livre-arbítrio e não podem escolher provas para sua existência. Assim, se são homossexuais (se é que podemos lhes dar essa definição, pois que “homo” refere-se a humano), não pode se tratar de uma punição ou porque nasceram muito como macho ou fêmea ou porque pediram tal experiência. Simplesmente trata-se de uma condição física a qual se submetem. Sendo o nosso corpo semelhante ao dos animais, nada impede que essa mesma condição faça parte dos seres humanos, levando o Espírito a experiências homossexuais por motivos orgânicos.
Conhecemos a história de uma criança que sofria abusos; pelo medo de sofrer violências ou ser acusado, não contou para os pais e cresceu com um complexo muito forte por causa deste problema. Como fora abusado durante muitos anos, desenvolveu comportamento homossexual, embora não tenha nascido com essa predisposição. Esse comportamento não estava no seu psiquismo e ele não aceitava sua condição, sofrendo muito com isso, a ponto de desejar a própria morte (Aliás, quantas pessoas são homossexuais sem que haja aceitação por parte delas? Como querer que essa condição esteja no psiquismo, uma vez que procuram de todos os modos combater essas tendências?). Embora tenha se tornado homossexual, não era essa a sua preferência e ele afirmava como sendo algo além de suas forças. Não vemos aí uma presença forte do corpo, agindo até mesmo contra a vontade do Espírito? Naturalmente que ele não pediu para ser violentado quando criança; não deve ter solicitado isso como provação, pois isso daria a entender que outro Espírito (o que o abusou) teria reencarnado com esse fim ou então que o abuso seria inevitável, pois faria parte de um planejamento. Se assim fosse, teríamos que por na lista, não somente abusos sexuais (estupros), mas suicídios, homicídios etc. Esses atos não fazem parte de nenhum planejamento, mas da mente perturbada de algumas pessoas. Ninguém nasce para ser estuprado ou para se suicidar ou para matar alguém. Essas não são imposições. Desse modo, o corpo, sofrendo alterações hormonais pode alterar o comportamento do Espírito nele encarnado, impondo-lhe impressões que são independentes de sua vontade (“O Espírito encarnado sofrendo a influência do organismo, seu caráter se modifica segundo as circunstâncias e se dobra às necessidades e aos cuidados que lhe impõem esse mesmo organismo.”).
Uma mulher, por exemplo, que é dedicada, boa mãe, boa amiga, caridosa e sensível, pode virar uma megera quando estiver sob o efeito da TPM. Não é o Espírito que se irrita, pois que ela é uma pessoa naturalmente calma; não é obsessão que ocorre uma vez por mês; é o corpo que, pela sua alteração química, impõe ao Espírito mudanças comportamentais e mesmo emocionais. É assim que um Espírito que não tem sexo, ao entrar em conexão com um corpo masculino, age como homem: o corpo o afeta de forma masculina, mesmo que ele tenha sido mulher na encarnação anterior. É questão de hormônios. O mesmo deve ocorrer em relação ao homossexualismo.
Os Espíritos como vimos possuem uma visão mais abrangente a respeito da vida e escolhem suas provas de acordo com aquilo que os deve fazer avançar, não lhes importando seja como homem, como mulher ou mesmo como homossexual.
Existem casos onde o homossexual vive tal condição por motivos de desequilíbrios do passado? Possivelmente, mas ainda uma vez, não há nisso punição, mas escolha do próprio Espírito. Se ele, por exemplo, agiu de forma preconceituosa no passado, atacando outros que foram homossexuais, os desprezando e julgando-lhes de forma humilhante, pode solicitar que, na próxima existência, habite um corpo com tais tendências a fim de sofrer, de certo modo, a pena de talião (olho por olho, dente por dente), aprendendo assim a respeitar e criar empatia com seus semelhantes.
Quando lemos O Livro dos Espíritos, no livro III das Leis Morais, no catálogo destas Leis, não encontramos a Lei da Dor, ou a Lei da Punição, ou a Lei do Sofrimento. A Lei é de amor, trabalho, igualdade, justiça, solidariedade…
Diferente do preconceito, o homossexualismo não é doença; está na Natureza e nós, como Espíritas e Espíritos, temos o dever moral de estudar e compreender a fundo as causas possíveis que podem levar a tais experiências, evitando o julgamento preconceituoso. É o orgulho das pessoas que na maior parte das vezes lhes turva a vista, fazendo surgir teorias complexas que podem ser explicadas de maneira mais simples e fácil de entender, quando observadas sem preconceitos e achismos pessoais.
Mais uma vez, podemos encontrar no Espiritismo a chave para essas e outras questões do nosso convívio social e de nossas relações com a vida

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