a partir de maio 2011

sábado, 25 de fevereiro de 2012

PUREZA E IMPUREZA – MODIFICAÇÕES NO CONCEITO DE PURO E IMPURO - A NOVA VISÃO DA REVELAÇÃO ESPÍRITA


 Comentários inspirados no livro Evolução Espiritual do Homem de Herculano Pires
        
     Maria Eny Rossetini Paiva       

    Em  nosso estudo sobre a idéia de pureza e impureza vimos,  que o conceito natural e sensorial da pureza,  que considera puro o que nos dá prazer e vida e impuro o que é desagradável e nos leva a morte, é substituído a princípio pela experiência e análise racional. Por exemplo, um remédio pode ser desagradável, mas nos cura e assim, não pode ser impuro.  Posteriormente com a interferência do poder religioso, desde as tribos, em mitos e tabus,  que exigiam ritos de purificação, as idéias de puro e impuro são alteradas e passam a ser obstáculos à nossa liberdade e progresso. Seu objetivo principal torna-se manter o poder constituído, nos grandes impérios do passado  e enriquecer a casta sacerdotal. Essa nas primeiras civilizações era a detentora das terras, dos bens e do conhecimento, mantido secreto, para uso exclusivo das elites.
    Assim, no antigo Egito, os sacerdotes tinham domínio da economia, eram donos das terras férteis,  conheciam a ciência oculta e eram muito ricos.  Exigiam rigorosas iniciações  dos novatos para ensinar a ciência oculta, criaram os mitos e deuses, para manter o povo na ignorância, alegando não poder ensinar isso ao povo, porque  não poderiam conhecer a ciência e a verdade, tendo em vista o  atraso e ignorância  da gentalha. O próprio faraó, era dominado pelos sacerdotes e seus ritos.  Obedecendo os mitos criados por eles mesmos, que consideravam que as mulheres só  podiam conceber filhos superiores e semi deuses, quando fecundadas por deuses os sacerdotes ensinavam  que a rainha  concebia o herdeiro do trono, fecundada pelos raios de Amon Ra, o deus Sol, por processo divino. A criança, nascendo tinha seu crânio alongado por tiras, para deformá-lo mostrando que o faraó era  diferente dos mortais comuns. O faraó sempre olhava para cima, nas cerimônias públicas e nunca encarava um ser “comum” nos olhos.
    Os mitos egípcios da criação o mundo por Isis, que fez bonecos de barro, ( sete, um número mágico) e depois aproximou deles o sinal da vida,  fazendo-os respirar, foram a base de Moisés, para na Gênese, estabelecer o Deus oleiro, que molda Adão do barro,   adaptando o mito à idéia de um só Deus. Emmanuel nos esclarece que o Levítico  mosaico é um repositório desses conhecimentos secretos,  escritos em linguagem cifrada, cuja chave se perdeu no tempo. Moisés, por ser um filho adotivo da princesa, tivera acesso em sua educação à essa Ciência oculta, daí o seu poder ser capaz de enfrentar o poder sacerdotal.
   O mito da virgindade e da impureza da mulher que tinha vida sexual,  permeia  toda a Antiguidade. O cristianismo durante séculos, oscila entre essa idéia da virgem mãe,  que não era questão de fé obrigatória na Igreja,  até que na época do romantismo, em que Vitor Hugo, principia a resgatar a mulher em sua dignidade, fazendo-a ainda que inferior, mas pedestal e companheira do homem, a Igreja para manter a mulher “em seu devido lugar”, proclama o dogma da virgindade de Maria e sua ascensão em corpo e espírito ao Paraíso. Com isso, apenas ela, a Virgem Mãe, a mulher Santíssima, era digna e todas as demais permaneciam indignas ou  “menos dignas.” A castidade é finalmente condição obrigatória da espiritualidade e o prazer sexual, animalesco e inferior, coloca o homem e a mulher casados sempre em desvantagens por ceder aos instintos inferiores, ao invés de superar a matéria.
    Na época de Jesus os sacerdotes judeus, chegavam ao requinte da exploração e da dominação: a  mulher que paria, com isso se tornava impura. Era necessário que entregasse no Templo, dois pombos para serem sacrificados à Javé, comprando dos vendilhões aqueles que tinham sido “sagrados”  pelos sacerdotes. A mulher não podia entrar no Templo. Não era digna. Assim, chegava apenas até o átrio do Templo de Jerusalém, entregava os pombos para o sacrifício e só depois, poderia  reassumir sua vida sexual. Claro,  que não serviam pombos criados por você, em casa, a preço mais barato. Só os pombos sagrados em rituais, eram vendidos no Templo e locais de culto, comprados com dinheiro do Templo. Os fariseus e sacerdotes, haviam conseguido que o dominador romano, permitisse o câmbio das moedas de César, que eram as válidas fora do Templo. Com isso as famílias dos que viviam do sacerdócio enriqueciam e o dinheiro parco do povo empobrecido pelos altos impostos que os romanos cobravam dos povos dominados para manter o luxo de Roma, era entregue para ser trocado em mesas de cambistas, de forma desonesta e exploradora que mais os empobrecia.  Daí porque Jesus, expulsa os vendilhões ( de animais sagrados), solta os animais e vira as mesas dos cambistas.Era a indignação do Justo, diante dos que faziam do Templo um antro de ladrões. Era um ato simbólico, sem violência contra pessoas, para ensinar ao povo e aos exploradores que havia quem não concordava com tais conceitos de impureza e rituais e purificação. Claro que no dia seguinte, o comércio continuou mas, Jesus, na ocasião exprobou a hipocrisia dos escribas e fariseus que deviam defender o povo e mostrou-lhes o que se reservava aos que traíam assim sua tarefa que deveria ser esclarecedora.
    Esse ato de Jesus, foi um dos que inspirou Gandhi, em sua gigantesca tarefa de libertar a Índia do domínio inglês, usando a não violência da tradição hindu. Gandhi em várias ocasiões ensinou a desobediência civil às leis absurdas e com o povo, caminhou  pela ruas em marchas diversas, onde os objetos de exploração do colonizador foram destruídos e substituídos por objetos simples e confecções caseiras. 
     Esses fatos relembrados em parte, por Herculano Pires no estudo referido, nunca são explicados por nossos estudiosos, exceção feita a Herculano. Nossos escritores e estudiosos espíritas ainda vivem engolfados pela cultura tradicional religiosa do Brasil. Assim, consideram  o ato sexual como uma inferioridade necessária ao nosso estágio evolutivo e que é superada pelos espíritos superiores. Nem mesmo procuram “consagrar o conúbio sexual, entre almas afins, unidas há muitos séculos pelo amor conjugal”. Sempre está implícito que é preciso ceder ao sexo, porque não temos ainda condições do amor espiritual.
   No mediúnico, há uma única exceção. André Luiz, no livro Evolução em dois mundos, foge da visão de “impureza” do ato sexual e o chama o ato sexual de alimento espiritual necessário  ao progresso.  Colocação clara e revolucionária.
         A cultura e a vivência de Herculano Pires, nos esclarecem  que no Espiritismo:
“ Os conceitos relativos a pureza e impureza romperam suas ligações umbilicais com o passado e abriram-se em novas dimensões de uma realidade surpreendente”. Refere-se Herculano as novas dimensões da vida espiritual  que o Espiritismo nos traz. “A pureza deixou de ser um tabu para se transformar num conceito real, de bases científicas. Passou-se a entenderpor pureza a naturalidade das coisas, e consequentemente  por impureza as deformações das realidades sistemáticas imaginárias dos clérigos, dos teólogos e também dos positivistas e materialistas,todos eles mais amigos de Platão do que da verdade (negritamos). Kardec mudava o sentido dos conceitos fundamentais do bem e do mal, mostrando através de suas pesquisas psicológicas, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, que mal e bem são conceitos relativos ao processo universal da evolução. O mal é a estagnação, o atraso, a ignorância e o bem é o progresso, o fluxo das coisas e dos seres, a transcendência.”.
    Quanta sabedoria.! Apenas para compreender e explicar esse parágrafo, precisaríamos  escrever muitos artigos. No entanto, as mudanças da década de 1960, o movimento pela liberdade sexual no mundo, pela dignidade da mulher, da criança,  formulam as novas leis que se aproximam mais da igualdade e caminham para maior Justiça e Amor. Os  filósofos modernos  tem desmitificado Platão mostrando-nos que as idéias do Absoluto, nos fazem escorregar para mentiras e autoritarismos. Já o Racionalismo relativo, esposado pelo Espiritismo desde sua Codificação, faz da pureza e da verdade,conceitos relativos, e isso  nos deve dar uma postura humilde, pela compreensão de  que  a verdade é evolutiva.

Maria Eny Rossetini Paiva é professora, pedagoga e oradora espírita em Lins/SP

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