“Todas as funções da vida material são resultantes do processo espiritual. No mineral há a vida difusa. No vegetal há sensibilidade e a vida é diferenciada por espécies. No animal há movimento, com a vida diversificada e individualizada. No homem há auto-sustentabilidade e autoconhecimento, inteligência para sustentabilidade.”
Antonio Grimm
Toda vez que nós, Espíritas ou não, deparamo-nos com a frase “O Espírito dorme na pedra, respira nas plantas, move-se nos animais e pensa no homem.”,revela-se um misto de incompreensão, conjugada com uma não aceitação, provavelmente pelo fato da segunda hipótese ser decorrente da primeira.
Dessa forma, primeiramente faz-se necessário lembrarmo-nos que no século XIII frase semelhante foi pronunciada pelo teólogo, jurista e poeta muçulmano Jalāl ad-Din Muhammad Rumi(1207-1273), que assim se pronunciou:
“Morri mineral, converti-me em planta. Morri planta e nasci animal. Morri animal e me converti em homem.”
Mais tarde, já no início do século XX, Léon Denis (1846-1927) a pronunciou de forma um pouco diferente, conforme registrado na página 123 do seu livro O Problema do Ser, do Destino e da Dor:
“Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente.”
Contextualizadamente, em 1.999, o Espírito Antonio Grimm[1],em suas manifestações através do Médium Maury Rodrigues da Cruz(1940- ), em Curitiba, conforme registrado na página 44 dos Cadernos de Psicofonias de 1.999, assim a pronunciou:
“É sempre bom lembrar que para a Doutrina dos Espíritos não há metempsicose[2]. Portanto, o pensamento crítico evolucionário é de que o Espírito dorme na pedra, respira nas plantas, move-se nos animais e pensa no homem, sem nunca retroceder.”
Assim, para que se possa melhor compreender o verdadeiro sentido dessa frase, melhor seria iniciarmos esta pequena reflexão pelas questões 27 e 79 de O Livro dos Espíritos:
“Há dois elementos gerais no Universo: matéria e Espírito”. “Os Espíritos são a individualização do princípio inteligente, como os corpos são a individualização do princípio material”.
Todos nós, como Espíritos que somos[3], fomos creados[4]simples e ignorantes, ou seja, sem conhecimento (q.115) e, embora sejamos distinto da matéria, precisamos da união com ela para manifestarmos a nossa inteligência(q.25).
Nesse sentido, o Princípio Inteligente(q.23), no seu processo evolutivo, em experiências anteriores ao Ser Inteligente(q.76), não são Espíritos, mas sim uma composição de filigranas proto-espiríticas, mantenedoras da vida no sentido da forma material. Um só inseto, uma só formiga não constituem um proto[5]-espírito, mas a totalidade do formigueiro possui uma forma proto-espirítica...(CRUZ, 2008, P.37)[6]
Dessa forma, pela expressão “O Espírito dorme na pedra, respira nas plantas, move-se nos animais...”, pode-se inferir que Ele está compondo, como Princípio Inteligente, o seu processo de evolução paulatina, da bactéria ao ser humano. (CRUZ, 2008, P.36)
Sequencialmente, embora a inteligência do homem e dos animais tenha origem em um mesmo princípio único (q.540 e 606-a), o Espírito, agora como Ser Inteligente(q.76), ao encarnar no corpo do homem, portador do seu livre-arbítrio, traz consigo o princípio moral e intelectual que o torna superior aos animais.
É nesta fase, em que o Espírito “pensando no homem”, reencarna tantas vezes quantas necessárias para construir, pelo uso pleno do livre-arbítrio, a sua evolução moral e intelectual[7], passando de Espírito Imperfeito[8] para Bom[9] e de Bom para Puro[10].
Finalmente, é importante ter-se presente que não há vida[11]sem o Espírito, nem o Espírito sem Deus, pois o Espírito é o responsável não só por toda a organização dos organismos vivos, mas também pela interação entre eles e os sistemas vivos. Portanto, não há vida sem o processo espiritual. (CRUZ, 2001, p.53 e 62), podendo-se concluir, por isso, pela coerência lógica e didática da frase abordada no texto.
Oduvaldo Mansani de Mello é Teólogo Espírita formado pela
Faculdade Dr. Leocádio José Correia, Curitiba, Paraná
[1]Antonio Grimm, que em uma de suas encarnações foi Jakob Grimm(1785-1863), filólogo, jurista e folclorista alemão, que juntamente com o seu irmão Wilhelm(Irmãos Grimm) publicou os Contos de Fadas para Crianças, vem manifestando-se espiritualmente em Curitiba, desde 1.953, através do Médium Maury Rodrigues da Cruz(1940- ), na SBEE-Sociedade Brasileira de Estudos Espírita, em Curitiba(PR). Todas as suas manifestações estão registradas e disponíveis ao público em livros denominados
Cadernos de Psicofonias.
[2]Movimento cíclico por meio do qual um mesmo espírito, após a morte do antigo corpo em que habitava, retorna à existência material, animando sucessivamente a estrutura física de vegetais, animais ou seres humanos; D. Houaiss.
Nos termos de questão 222 e 612, do Livro dos Espíritos, é a transmigração da alma do homem da alma do homem para os animais e vice-versa que a Doutrina Espírita rejeita.
[3] Nós homens, Espíritos encarnados, devemos sempre afirmar que somos um Espírito e não que temos um Espírito.
[4] Crear é a manifestação da Essência em forma de existência. (ROHDEN, 2006, p.11). Gerar do nada. (HOUAISS, 2001, p.867).
[5] Primeiro; o que está à frente. D. Houaiss
[6] CRUZ, Maury, Rodrigues da. ANTOPOLOGIA ESPÍRITA. Curitiba: SBEE, 2008
[7] (KARDEC, O Livro dos Espíritos, questões 112, 170, 192, 365, 751, 776, 780, 780-a, 780-b, 785, 791, 792-a, 793 e 898)
[8] Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem. Alguns não fazem o mal, nem o bem. Outros praticam o mal e se comprazem nele. Pondere-se aqui também a questão 540 de O Livro dos Espíritos.
[9] Predominância do Espírito sobre a matéria. São felizes pelo bem que fazem e pelo mal que evitam.
[10] Não sofrem mais influência da matéria. Por já se encontrarem livres do orgulho e do egoísmo, não estão mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis. (questões 113 e 170 de o Livro dos Espíritos)
[11] No mineral há vida difusa; no vegetal há sensibilidade e vida diferenciada por espécies; no animal há vida diversificada e individualizada, com movimento; e no homem há inteligência, auto-sensibilidade e autoconhecimento; (CRUZ, 2001, p. 53).
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