a partir de maio 2011

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

DESENCARNAÇÃO; PROCESSO DE TRANSIÇÃO.

                                                  Fernando A. Moreira
                                                  fermorei@uol.com.br


Morte é a cessação da vida orgânica; desencarnação é a libertação do Espírito imortal, período de transição, na sua mudança de plano. “A morte é hereditária” (1) e quando o corpo morre, o Espírito está pronto para livrar-se, porque “não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta é que determina a partida do Espírito;” (2) mas este, nem sempre está em condições de fazê-lo. Neste caso, a morte biológica acontece mas, o Espírito não se desprende, não se liberta, fica preso ao corpo físico, isto é, continua encarnado, porque “nem todos os que morrem desencarnam.” (3)
 
“Disse-nos, certa vez, um suicida: ‘Não estou morto.’ E acrescentava: ‘No entanto sinto os vermes a me roerem.’ Ora indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. (...) Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade.” (4)
 
A reencarnação não é um processo punitivo, mas educativo, pois aqui “é escola, é prisão, é hospital”; para atingir a perfeição, a felicidade e a plenitude, é necessário renovar-se na experiência da matéria densa.. Tendo escolhido o caminho do progresso, evoluído, e assim realizado a sua reforma íntima, ou, ao contrário estagnado, com a ressalva que, por mínimo que seja, sempre se evolui alguma cousa, inexoravelmente sobrevem a morte  (Fig. 1) , que é a fatalidade do corpo físico, assim como “a evolução é a fatalidade do Espírito” (5), um dos objetivos da reencarnação.(4); o outro é “ trabalhar para o Universo, como o Universo trabalha para nós, tal é o segredo do destino” (6), “é por o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação (...) e concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta.” (4) (FIG. 1); este último é atingido consciente ou inconscientemente pelo Espírito. A reestruturação ou não de seu perispírito, vai depender em ter atingido ambos os objetivos, com influências importantes no seqüenciamento do processo desencarnatório. Quanto mais depurado esteja mais fácil se torna o seu desligamento gradual, porque “os laços se desatam, não se quebram.” (4)
 
Dois fatores são seqüenciais à morte (Fig. 1), ocorrendo paralelamente e vinculados às suas circunstâncias e ao grau evolutivo do Espírito desencarnante: 
desprendimento do corpo físico        
a  perturbação do Espírito.
Léon Denis assinala que deveríamos chorar na hora da reencarnação, que é um momento de intenso sofrimento para o Espírito, e rirmos na hora da morte, quando o Espírito se liberta, já que encarnação é seu encarceramento fluídico e a desencarnação a sua libertação; isto, é importante frisar, se o Espírito cumpriu os objetivos da encarnação, porque se não o fez, serão dois choros, um ao encarnar e o outro ao desencarnar, tal a influência que esta sua conduta projetará na desencarnação.
 
O desprendimento.
 
Ao reencarnar o Espírito se liga ao corpo, através de seu perispírito, que a ele se une, molécula a molécula, átomo a átomo e ao desencarnar, inversamente se desprende, também, átomo a átomo, molécula a molécula.
 
O princípio vital  é “o interruptor da vida”,(7) enquanto que o fluido vital é a eletricidade que carrega nossas baterias, o fluido cósmico animalizado; ao ser desligado aquele, a vida se esvai, cessa e sobrevem a morte (morte natural), que se dá por esgotamento do fluido vital ou embora com sua presença, por falência orgânica súbita (morte violenta), ficando ele impotente para transmitir o movimento da vida. (8) Esta fuga energética do corpo físico e do perispírito, que se encontravam dela impregnados, desde o primeiro instante da concepção, realiza-se de forma suave ou abrupta,(Fig. 1) de acordo com a sua distribuição, que é peculiar a cada ser, a cada órgão, a cada célula; há nos centros vitais ou de força, maior atividade vital e pontos de ligação com maior densidade entre o Espírito-perispírito e o corpo físico; destes o que tem mais forte esta união com o Espírito, via perispírito, é o centro coronário ou regente que, pelo fato mesmo, é o último que se desliga, desfazendo-se as conexões Espírito-perispírito-glândula pineal, a “glândula da vida espiritual”. O rompimento destes laços fluídico-magnéticos que compõe o cordão fluídico ou de prata, representa o selo da desencarnação, iniciando-se pelas extremidades e terminando, como dissemos, no cérebro.
 
A natureza das demais ligações dos centros vitais, variam de acordo com cada ser, dependentes da evolução do Espírito, modulador e estruturador do perispírito e portanto de suas ligações com a matéria densa, através dos centros vitais controladores e seus órgãos súditos e que  serviço prestou ao comandante de suas ações - o Espírito. Assim quem usou desregradamente o sexo, ou praticou aborto, por exemplo, terá suas ligações com o centro vital genésico difíceis de serem desligadas; quem foi tabagista inveterado, igualmente terá fortes ligações fluídico-magnéticas com o centro cardíaco, a retardar o processo desencarnatório, e daí por diante.
 
Assim o desprendimento acontece de forma lenta (envelhecimento natural, doenças crônicas, etc.) por esgotamento do fluido vital, ou de forma abrupta (morte violenta: acidentes, desastres, assassinatos, suicídios) por injúria grave, determinando a incapacidade funcional orgânica definitiva.(FIG. 1); nos primeiros, o desligamento já vinha se fazendo quando ocorreu a morte e nos últimos, a morte corresponde ao início do processo desencarnatório; equivale a dizer que o período morte-libertação, genericamente, é maior nestes.  Com os Espíritos evoluídos ocorre que o momento da morte corresponde ao da libertação, mas, ao contrário, certos Espíritos que têm seu perispírito ainda muito densificado, ficam presos ainda ao corpo, após a morte.
 
“O Espiritismo, pelos fatos cuja observação ele faculta, dá a conhecer os fenômenos que acompanham esta separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do Espírito, e pode durar meses inteiros”, (2)  e  até anos.
 
A perturbação.
 
A consciência é do Espírito e após a morte corporal, ele passa por um período variável de perturbação, de acordo com o estado moral da alma, “fruto das suas construções mentais, emocionais e volitivas” (9) e o gênero ou circunstâncias da morte, para voltar a readquiri-la.
 
O Espírito purificado se desvencilha dos tênues laços que o prendiam ao corpo físico, tomando então consciência de si mesmo, da sua volta ao mundo espiritual e da memória do passado, que é também do Espírito e aos poucos vai retornando do inconsciente, sediado no perispírito (8); este“livro misterioso, fechado a nossa vista, durante a vida terrena, abre-se no espaço. O espírito adiantado percorre-lhe à vontade as páginas (...).” (6) Nestes casos a sensação é de alívio, como quem acordou de uma intervenção cirúrgica e obteve alta, curado; não é pois, nem penosa, nem duradoura; é um despertamento, pois a “vida na carne é o sono da alma; é o sonho triste ou alegre.” (6)
 
Naqueles Espíritos que não aproveitaram o retorno à vida corporal, para sua evolução, estagnados na escala do progresso, o desencarne será um processo extremamente doloroso,“tétrico, aterrador, ansioso (...) qual horrendo pesadelo” (10), demorado e a perturbação espiritual que se seguirá, será muito intensa e prolongada; muitas vezes, mal se lembram até da última encarnação e muito menos das outras, em mais uma concessão da bondade e da misericórdia divina, mas um dia o farão, pois terão que “entrar no conhecimento do seu estado, antes de serem levadas para o meio cósmico adequado ao seu grau de luz e densidade. “ (6)
 
Na morte violenta, situação não esperada na maioria das vezes pelo Espírito, sua conscientização da morte e conseqüente passagem à vida espiritual é difícil  e demorada, tanto mais prolongada quanto menor a evolução espiritual.
 
Na Espiritualidade.
 
A espiritualidade não está parada, nem contemplativa, ao contrário, trabalha incessantemente e“Espíritos evoluídos, com fortes vínculos com a caridade”, (11) se incumbem da tarefa da desencarnação, ajudando nos desligamentos dos laços que unem o Espírito ao corpo físico, sob influxo do pensamento divino. Espíritos amigos e familiares, já desencarnados, colaboram nesta tarefa. Esta mesma atuação, pode ser prejudicada por Espíritos inimigos, obsessores até, que têm a finalidade de tornar o desligamento mais penoso, contribuindo também para maior perturbação do Espírito desencarnante, seu desafeto.
 
Destino dos componentes do homem. 
 
Após a morte, o corpo físico desintegra-se, seguindo as leis físico-químicas, que também são divinas, nunca mais voltando a recompor-se, ou destinar-se à ressurreição, que seria desprovida de qualquer finalidade.
 
O fluido vital volta ao seu lugar de origem - o fluido cósmico ou universal.
 
O perispírito poderá apresentar modificações em relação à sua densidade; não se segmenta e não se sedimenta; se depura, tornando-se tanto mais sutil quanto maior for o progresso espiritual.
 
O Espírito pode apresentar modificações em relação ao seu estado moral reencarnatório, porque o “Espírito evolui, tudo o mais se transforma”, por menor que seja esta mesma evolução, às vezes mínima, o que não pode nunca acontecer, é retrogradar.
 
Conclusão
 
Um dia, depois da morte corporal, nós teremos um decisivo encontro marcado com nós mesmos, nos recônditos da nossa consciência, apanágio do Espírito, onde foram impressas por Deus as suas leis morais (4); aí serão julgados por ela, todos os nossos atos da senda reencarnatória, no uso do nosso livre arbítrio e comparados com os nossos propósitos ao reencarnar, escolhidos ou impostos pela justiça divina, sempre de acordo com as aptidões de cada um; depende de nós, e só de nós, se este será o “dia mais feliz de nossa existência”, momento de puro êxtase ou, “ao contrário, o pior deles”, o seu momento mais fatídico.
 
“Cremos que a educação para o desencarne implica na educação para a vida”. (9), para que consigamos a morte de que nos fala Hernani Santanna: (12)
 
“A morte (...) é a liberdade !
É o vôo augusto para a luz divina,
sob as bênçãos da paz da eternidade!
É bem começo de uma nova idade,
antemanhã formosa e peregrina,
da nossa vera e grã felicidade.”
 
BIBLIOGRAFIA
1 _ FORMIGA, Luiz Carlos D. “Dores, Valores, Tabus e Preconceitos”, CELD Ed., maio/96, pg.89-102.
2 _ KARDEC, Allan. “A Gênese”. 22ª ed. Trad. Guillon Ribeiro. 1980, pg. 215.
3 _ RIBEIRO, Gêmison. “Nem todos que morrem desencarnam.” Revista Internacional de Espiritismo, Dez/1999, pg. 504.
4 _ KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 68ª ed.: FEB, 1987. perg. 132, 155, 257, 621.
5 _ SANTOS, Edson Ribeiro dos. Comunicação pessoal.
6 _ DENIS, Léon. “O Problema do Ser, do Destino e da Dor.” 4ª ed. 1936: FEB, pg. 167, 261, 323.
7 _ MELO, Jacob. “O Passe”. 8ª ed.: FEB,1992, pg 60.
8 _ MOREIRA, Fernando Augusto. “Fisiologia da Alma”. Revista Inter-nacional  de Espiritismo, Out/2000, pg.399.
9 _ JERRI, Roberto. “A Fisiologia do Desencarne” A Reencarnação. Nº 414, ano XIII, 1º semestre, 1997, pg. 39 e 42.
10 _ KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37ª ed. Trad. Manuel J. Quintão: FEB, 1991, pg. 169.
11 _ CARNEIRO, Oscar F. “Reflexões”. Ozon Editor, 1960, pg. 15.
12 _ SANTANNA, Hernani. “Canção do Alvorecer”. 2ª ed,: FEB, 1983, pg. 46. 
 
(Trabalho publicado na Revista. Internacional de Espiritismo - Maio 2001



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