a partir de maio 2011

sábado, 28 de janeiro de 2012

Kardec é Razão:Wilson Garcia

                 Wilson Garcia

(Os mais belos pensamentos de Herculano Pires, reunidos e interpretados livremente)
O centro espírita não é templo nem laboratório—é, para usarmos a expressão espírita de Victor Hugo: point d'optique do movimento doutrinário, ou seja, o seu ponto visual de convergência
O professor ensina que o centro espírita tem muito mais importância que qualquer outra instituição criada sob a inspiração da doutrina de Kardec. O "ponto visual de convergência" é expressão máxima dessa importância. O Centro resume em si todas as aspirações doutrinárias; nele começam e terminam as ações que visam levar o Espiritismo para a sociedade. Tudo o que se pretender em Espiritismo, a qualidade que se desejar ter no seu ensino e na sua divulgação, no atendimento do ser humano, na prática dos seus postulados mediúnicos e assistências, tudo há de levar em consideração a expressão "point d'optique" que Herculano tomou emprestado de Victor Hugo. Quando afirma que o Centro não é templo nem laboratório, o professor reforça aquilo que ele de fato é e as atenções que sobre ele devem recair. A qualidade com que o conhecimento da Doutrina chega à sociedade depende implicitamente do centro espírita. A qualidade dos adeptos - e não sua condição de espírita - está fundamentalmente nas mãos do Centro. Toda essa gama de características vai levar o professor a afirmar:
Se os espíritas soubessem o que é o centro espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra
Assim, para o professor, o Centro é o agente de um movimento cultural e espiritual, mas não um simples e ocasional movimento; o "mais importante" de quantos aqui já ocorreram. É cultural porque trata, de fato, do saber humano e objetiva o Ser no Mundo. Há, na mente do professor, uma clara noção de que boa parte dos próprio s espíritas desconhecem essa importância do Centro, porque, desconhecem, também, o que de fato é o centro espírita. Entre defensores e críticos, por muito tempo se postulou no movimento espírita três condições para 0 Centro: templo, pronto socorro e escola. Herculano, no entanto, deixa de lado as três para defender a que mais se assenta aos seus olhos de filósofo: "ponto visual de convergência". E como não se contentasse com 0 ficar aí, nesta cômoda posição, ele mesmo vai, mais tarde, trabalhar o conceito do centro espírita na direção da casa de prestação de serviços. O destaque, porém, é, neste instante, para o fato dessa ignorância do valor e da importância do Centro, que funcionam como diques contrários ao seu próprio crescimento e sua proliferação, ocasionando, também, uma prática muitas vezes desvirtuada dos preceitos doutrinários. Herculano, no entanto, está voltado para a seguinte realidade:
O centro espírita significa, assim, a fortaleza espiritual da grande batalha para o restabelecimento da verdade cristã na Terra
Surge, então, e aumenta consideravelmente, a importância do centro espírita bem organizado e dirigido, onde esses problemas são estudados e tratados sem nenhum tabu, sem preconceito de qualquer espécie. O professor fala de uma "fortaleza espiritual" em que o centro espírita deve se transformar. A imagem é importante pelo fato da existência de uma "grande batalha para o restabelecimento da verdade". Isto significa que o estabelecimento do conhecimento novo não vai encontrar um terreno fácil. Eis porque o centro espírita precisa estar preparado. Contra os novos conhecimentos se opõem as superstições, os interesses sociais e culturais e os grupos dominadores. Dessa forma, é conveniente encontrar um conceito para o centro espírita que o livre de qualquer ligação com a mentalidade obsoleta, especialmente no campo religioso, e que melhor o defina em sua atuação no campo social. Afinal, sua finalidade, nunca é demais lembrar, é o Ser no Mundo. Herculano atinge, assim, o momento propício para colocar que,
No desempenho de sua função, o centro espírita é, sobretudo, um centro de serviços ao próximo, no plano propriamente humano e no plano espiritual.
O conceito de prestador de serviços é atual e deve ser visto como plenamente ajustável às funções do Centro, estando de acordo com sua realidade evolutiva. O centro espírita dos nossos dias tem uma face totalmente modificada em relação àquela que lhe deu origem um dia: a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada por Kardec e seus companheiros. Isso é compreensível. Até a denominação - "centro espírita"- deve ser vista como ajustada à cultura brasileira, uma vez que não surgiu de uma atitude deliberada de Kardec, mas do aparecimento da Doutrina em nosso País. As funções e os objetivos da Sociedade diferem, profundamente, das funções e objetivos do Centro atual, que incorporou várias atividades ao longo deste quase século e meio que medeia a criação da Sociedade e a atualidade. O professor compreende essa realidade, ao vê-la compatível com a Doutrina, uma vez que esta deve ser vista no seu aspecto interpretativo, com a própria interpretação, pessoal ou coletiva, também evoluindo e se adaptando ao momento em que é feita. Assim, nem templo, nem laboratório, nem pronto socorro, nem escola; por outra, é tudo isso, ao mesmo tempo, mas sob nova feição: a da razão espírita. O Centro é, portanto, uma Casa de Serviços e Cultura Espírita.
A prestação de serviços não implica em cobrança por eles. O que regula o seu valor e a forma como são oferecidos os serviços, é o sentido profundo da caridade, segundo o "dai de graça o que de graça recebestes". O ensino do Espiritismo se prende à parte cultural, que se completa com a prática. É preciso ver, contudo, que.
No centro espírita não se podem restringir as atividades apenas ao aspecto religioso e assistencial. Além dos cursos que devem ser dados sobre a Doutrina, com método e insistência, é necessário que em todas as sessões sejam pronunciadas breves palestras elucidadoras, seguidas de diálogos da assistência com o expositor. Sem o constante e livre estudo da Doutrina—dirigido sem pretensões, mas também sem o receio de abordagem dos pontos mais difíceis da Doutrina, não conseguiremos superar o estágio embrionário em que ainda permanece grande parcela do movimento doutrinário.
O professor, coerente com sua função de pedagogo, prega, sempre, a necessidade de liberdade. Fala ele em "livre estudo", mas, também, em "método e insistência", "palestras elucidadoras" e "diálogo". Reforça a vantagem do "estudo dirigido sem pretensões", referindo-se, aí, à necessidade de desprendimento, seja do expositor, seja por parte dos estudantes, a fim de dar ao ambiente um conteúdo favorável aos objetivos, impedindo o aparecimento de fatores prejudiciais, como o orgulho e a vaidade. Mas é preciso, ainda, levar em consideração a necessidade de abordagem dos pontos mais difíceis", para superar o "estágio embrionário" em que está considerável parcela do movimento espírita. É o mesmo que afirmar ser preciso abandonar a superficialidade e esforçar-se para penetrar com decisão nos objetivos do Espiritismo, a fim de melhor aproveitar a doutrina. Um dos fatores que favorece esse aprofundamento é o diálogo, muitas vezes desprezado nos cursos doutrinários, por razões que deveriam ser removidas, mas que permanecem em virtude do descaso e da teimosia dos dirigentes. Apresenta-se, às vezes, um absurdo temor pelo diálogo, e esse temor é resultado, não raro, do despreparo cultural, doutrinário e até mesmo psicológico dos expositores e dirigentes. Mas está precisamente no diálogo o clímax, o ponto mais alto de qualquer estudo ou palestra. A sua supressão acarreta enormes prejuízos para o estudo. Dirigentes e expositores, em lugar de temê-lo, deveriam perceber que não é desonra não poder, eventualmente, responder com precisão a todas as questões, mesmo porque não devem considerar-se posicionados em pedestal mais elevado que os alunos, afinal
Nada mais triste do que um centro espírita em que alguns se julgam mestres dos outros, quando na verdade ninguém sabe nada e todos deviam colocar-se na posição exata de aprendizes.
O professor, como professor verdadeiro, põe-se no nível dos alunos e faz-se, de fato, um deles. O que o difere, no momento do estudo, dos alunos, é a responsabilidade que lhe pesa nos ombros. Mas sabe-se, sempre, aprendiz, segundo a sábia orientação socrática: "só sei que nada sei". A experiência do professor é também outra das suas diferenças para os alunos. A sabedoria, porém, o leva a usar essas vantagens com discrição e humildade, sem as falsidades comportamentais comuns aos orgulhosos e vaidosos

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